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Guerra manterá commodities valorizadas

Os preços do petróleo, metais e minério de ferro iniciaram um movimento de forte alta desde quinta-feira passada, quando teve início a ofensiva da Rússia contra a Ucrânia, o que influenciou o fechamento do mês de fevereiro das commodities e se manteve no primeiro dia de março. O preço do barril de petróleo do tipo Brent, referência global, fechou o mês próximo aos US$ 100. A alta continuou ontem, com o barril fechando com crescimento de 7,14%, a US$ 104,97 - patamar que o mercado internacional não registrava desde 2014. Hoje, o preço da commodity chegou à marca de US$ 110.

O minério de ferro ficou negativo no mês passado, mas se recuperou nos últimos dias (ver reportagem China tenta segurar minério, mas conflito traz incertezas). Já os metais terminaram fevereiro apresentando cotações recordes. Todos mantiveram ritmo de alta ontem.

Segundo o Commerzbank, “a comunidade internacional está tentando impedir o aumento nos preços, analisando uma liberação de reserva estratégica”. Ontem, a Agência Internacional de Energia (AIE) confirmou que irá liberar 60 milhões de barris da reserva de seus países membros.

As atenções agora se voltam à reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) hoje. Se a entidade decidir liberar mais barris no mercado para compensar qualquer interrupção russa, é possível algum alívio ao rali dos preços.

Um corte completo dos embarques de petróleo russo seria dificilmente compensado pela oferta de outros produtores

A expectativa para os próximos meses, portanto, é de que o mercado se manterá apertado. Com a escalada do conflito na Ucrânia, o Goldman Sachs aumentou, de US$ 95 para US$ 115, a previsão de curto prazo do preço do Brent. A consultoria norueguesa Rystad Energy, por sua vez, estima que os preços do petróleo bruto podem atingir US$ 130 o barril, “espremendo” os consumidores.

“Salvo um avanço nas negociações de paz, acreditamos que os preços das commodities tendem a subir acentuadamente à medida que vemos a destruição da demanda, agora, como o único mecanismo de equilíbrio remanescente significativo [do mercado], sendo a Rússia um importante exportador da maioria das commodities que já enfrentavam níveis de estoque excepcionalmente apertados e baixas capacidade de produção sobressalente”, citou o Goldman.

A invasão da Ucrânia lança um peso a mais no balanço entre oferta e demanda do mercado de petróleo - que, antes da eclosão do conflito, já convivia com incertezas sobre a capacidade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados de acompanhar a alta da demanda global.

Em fevereiro, o Brent foi negociado, em média, a US$ 91,96 o barril. A valorização acumulada no mês foi de 9,7%. A escalada das tensões geopolíticas deu o tom no mercado e culminou, no fim do mês, na invasão de fato da Ucrânia pela Rússia. Após o início da investida militar russa, o Brent chegou a tocar a máxima de US$ 105 durante o pregão do dia 24, antes de os preços cederem, no mesmo dia, à sinalização dos EUA de que podem liberar reservas de óleo para conter o avanço da commodity. O mês de fevereiro encerrou no dia 28, com o barril cotado a US$ 97,97.

Compradores já enfrentam dificuldades para encontrar navios para transportar o petróleo da Rússia

O receio no mercado é que as sanções do Ocidente à Rússia se acentuem e haja cortes na compra de petróleo daquele país. O vice-presidente da IHS Markit e ex-embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia, Carlos Pascual, afirma que a redução das exportações russas seria um problema para o equilíbrio do mercado. Ao todo, a Rússia exportou, em média, 7,5 milhões de barris por dia de óleo e derivados em 2021. “Se tirarmos isso do mercado, estaremos entrando em um território desconhecido a respeito dos impactos”, disse.

Um corte completo dos embarques de petróleo russo, segundo a IHS, seria dificilmente compensado pelo aumento da oferta de outros produtores. Atualmente, a consultoria estima um potencial para um aumento de produção é de 3,5 milhões de barris/dia por outros países, principalmente Arábia Saudita e Emirados Árabes.

O chefe de pesquisa de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, diz que, por mais duras que possam ser, as sanções não devem tirar o petróleo russo do mercado de forma significativa, como foi feito em bloqueios ao Irã e Venezuela. Ele prevê, no entanto, que, dada as incertezas, o barril deve se estabilizar em US$ 100.

O mercado acompanha com atenção os desdobramentos das punições econômicas contra a Rússia. Num primeiro momento, as potências ocidentais evitam sanções às exportações russas no setor de óleo e gás. Indiretamente, contudo, a decisão dos EUA e da União Europeia de retirarem bancos russos do sistema internacional de pagamentos Swift pode impactar nos fluxos de petróleo.

Compradores do petróleo russo, por exemplo, já enfrentam dificuldades para obter garantias nos bancos ocidentais ou para encontrar navios para transportar o petróleo da Rússia. Segundo a Rystad, o conflito no Leste Europeu põe em risco, imediatamente, até 1 milhão de barris/dia que transitam pela Ucrânia e pelo Mar Negro.

O analista sênior de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle, conta que muitas tradings já se anteciparam e cortaram compras da Rússia, temendo as sanções. Como as compras muitas vezes são feitas com meses de antecedência, é possível que a atual desaceleração das exportações russas deixe o mercado ainda mais apertado a partir de maio - às vésperas do verão no Hemisfério Norte, quando o consumo tende a subir. Segundo ele, se não houver outro grande pico de covid-19, de forma a limitar a recuperação da demanda, os próximos meses tendem a ser estressantes no mercado.

“A única coisa dada com uma guerra dessa é que ela pode impactar o transporte de bens e energias entre fronteiras”, disse.

Embora os países poupem o petróleo das sanções diretas à Rússia, gigantes do setor acenam para saída do mercado russo. A BP anunciou que deixará de ser acionista da russa Rosneft - ainda que a britânica não tenha deixado claro se buscará vender sua participação. A Shell, por sua vez, revelou a intenção de sair de joint ventures com a Gazprom, enquanto a norueguesa Equinor anunciou que está abandonando suas joint ventures na Rússia e que deixará de realizar novos investimentos no país.

Os metais também subiram com as preocupações com o fornecimento, principalmente paládio, alumínio e níquel, uma vez que a produção russa responde por quotas de mercado global de 40%, 6% e 7%, respectivamente. A produtora de alumínio Rusal interrompeu a produção em sua refinaria de alumina Nikolaev na Ucrânia, citando desafios logísticos. O fornecimento de alumínio e zinco, que consomem muita energia, pode ser reduzido ainda mais, se as fundições europeias decidirem que os custos para manter as fundições funcionando estão muito altos.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 02/03/2022

 

Governo reduz IPI até 25%; Guedes diz que medida é início de processo gradual

Governo publicou decreto reduzindo imposto de forma linear, com exceção da indústria de tabaco; renúncia fiscal é estimada em R$ 20 bilhões ao ano.

 Governo federal publicou nesta sexta-feira (25) decreto que altera a tabela do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). A alíquota pode ser reduzida até 25% para a grande maioria dos produtos, de acordo com nota do Ministério da Economia.

Já para alguns veículos, as alíquotas serão reduzidas em 18,5%. A medida começa a valer a partir desta sexta-feira.

O tributo incide sobre a atividade industrial e é uma tentativa do governo federal de estimular a economia. O corte não é válido para produtos que contenham tabaco.

A redução do IPI em 25% deve beneficiar mais de 300 mil empresas, sobretudo a indústria de transformação. O impacto da medida é de R$ 19,6 bilhões. Do valor total, metade deve ficar a cargo do governo federal e, a outra metade, de gestões estaduais.

ministro da Economia, Paulo Guedes, explicou que a redução linear de 25% do IPI é o início de um processo gradual de diminuição do tributo.

Em conversa com um grupo de jornalistas, o ministro explicou que o processo, no entanto, será feito com responsabilidade para não prejudicar a Zona Franca de Manaus, que hoje se beneficia pela isenção do imposto.

O ministro ressaltou que o Ministério da Economia chegou a avaliar uma redução linear de 50%, mas que optou neste momento por um percentual menor em respeito à região produtiva da região Norte.

“A redução de 25% do IPI é o marco de reindustrialização brasileira depois de quatro décadas de desindustrialização”, afirmou. “Daqui para a frente, é redução. Mas tem de ter a responsabilidade com a Zona Franca de Manaus”, acrescentou.

A expectativa do governo federal é de que, para preservar os benefícios fiscais para a Zona França de Manaus, não sejam feitas novas reduções nem em 2022 nem em 2023.

O ministro defendeu que a medida é o início de uma transição na Zona Franca de Manaus em direção ao mercado de crédito de carbono.

“A diminuição proporcional das alíquotas do IPI possibilita o aumento da produtividade, menor assimetria tributária intersetorial e mais eficiência na utilização dos recursos produtivos. Essa redução tributária ocorre após a elevação da arrecadação dos tributos federais observada ao longo do ano passado, e não afetará a solvência da dívida pública e o compromisso do governo federal com a consolidação fiscal”, informa a nota do ministério.

Na terça-feira (22), o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou sobre a redução do IPI como uma das iniciativas que deverão ser presentadas pelo governo até o fim de 2022 como estímulo para o crescimento econômico. Outra medida citada por Guedes é a liberação de recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Fonte:  CNN Brasil Noticias 
25/02/2022 às 18:34 | Atualizado 25/02/2022 às 19:34

Conflito adiciona novo problema no mercado de metais e aço

O conflito geopolítico envolvendo Rússia e Ucrânia, dois grandes produtores de metais, petróleo, gás, carvão e produtos da cadeia do aço, adiciona um novo problema no cenário global do mercado de commodities. Essa é a avaliação do consultor José Carlos Martins, da Neelix Consulting - Mining & Metals e que foi diretor executivo da Vale por dez anos, até 2014 - ele foi responsável pelo segmento de metais ferrosos.

Segundo o executivo, Rússia e Ucrânia colocam no mercado mais de 100 milhões de toneladas de bens que são matéria-prima e insumos industriais. Esse volume inclui minério de ferro (75 milhões de toneladas), aço, sucata metálica, gusa, alumínio e níquel, entre outros. “O desequilíbrio na oferta das commodities só vai agravar”.

A companhia russa Rusal é uma gigante global do alumínio, enquanto a Norilsk está logo atrás da Vale na liderança de níquel.

“Vamos ver impactos nos preços desses produtos no curto e médio prazo, até que o cenário dessa questão geopolítica fique mais claro. E isso vai encarecer os preços dos produtos, que já estão elevados, em razão das dificuldades nas cadeias produtivas”, destaca o consultor da Neelix.

Um dos pontos, observa, é ver o quanto as sanções de Estados Unidos e países da União Europeia, além de outros, vão atingir a Rússia e sua economia. Martins avalia que a China deverá continuar importando minério de ferro russo - em torno de 45 milhões de toneladas ao ano -, além de outros insumos. “Isso poderá amenizar o impacto”, diz.

A Ucrânia é um grande exportador de placas de aço (semi-acabado para fabricação de chapas) no mercado internacional, assim como a Rússia, que vende excedentes de produtos siderúrgicos. A siderurgia russa é a quinta maior do mundo - atrás de China, Índia, Japão e Estados Unidos. O país tem exportado laminados de aço até para o Brasil.

Segundo Martins, os dois países têm balanças superavitárias de commodities e produtos ligados a elas, como aço. Na sua avaliação, a guerra entre os dois países, como iniciativa russa sobre a Ucrânia, cria uma complicação maior, gerando choque na oferta e lavando os preços para o alto.

Segundo o banco UBS, a Rússia responde por cerca de 5% a 10% da produção global de metais básicos, com destaque para alumínio e níquel. “As sanções dos Estados Unidos à Rusal em 2018 tiveram impacto significativo nos preços do alumínio e na indústria como um todo”, informou o banco em relatório.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 25/02/2022

Descaracterização integral só deve ocorrer após 2030

O governo do Estado e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pactuaram ontem com as mineradoras um novo Termo de Compromisso para que a descaracterização de barragens ocorra com mais agilidade, mas o descomissionamento integral de 41 estruturas não deve ficar pronto nesta década, terminando somente em 2031. 

As empresas que ainda mantêm o funcionamento de barragens a montante em Minas Gerais acordaram uma nova estratégia para a descaracterização das estruturas. A medida foi tomada porque, de acordo com os órgãos envolvidos na assinatura do novo Termo de Compromisso, o descomissionamento demanda, em alguns casos, prazos mais longos para o atendimento ao rigor técnico e de segurança da iniciativa. 

O prazo anteriormente fixado para o descomissionamento terminaria hoje, 25 de fevereiro, o que não aconteceu. Segundo dados oficiais, havia 54 estruturas a montante no Estado anteriormente à obrigatoriedade da descaracterização, sendo que sete delas foram extintas e seis protocolaram a documentação indicativa de encerramento de obra e que passa agora por validação dos órgãos responsáveis. 

Dessa forma, atualmente, existem em todo o território 41 barragens de modelo semelhante àquelas que se romperam em Brumadinho e Mariana. Nos episódios, 289 pessoas foram vitimadas, e outras centenas ainda vivem longe de suas casas devido aos riscos das estruturas a montante ainda existentes. 

O termo

Com a assinatura do Termo de Compromisso, as mineradoras têm, a partir da data do mesmo, 15 dias para contratar equipe técnica especializada e independente para prestar apoio à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e à Agência Nacional de Mineração durante o acompanhamento dos trabalhos de extinção das barragens, entidades essas que também participaram junto ao governo do Estado e MPMG da construção do termo. 

De acordo com o procurador-geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, a solução representa uma busca de aplicar a lei de forma mais inteligente para que o desenvolvimento do Estado de Minas Gerais ocorra.

“O novo termo não significa prorrogação ou anistia. Não é isso. As empresas são obrigadas a indenizar o Estado pelo não cumprimento. Nós buscamos que a sociedade seja compensada e queremos que parte desses recursos sejam revertidos para os atingidos. Nós precisamos olhar para as pessoas que ainda estão vivendo perdas e aflições nessas áreas”, afirmou Jarbas. 

Indenização ao Estado 

A indenização por parte das empresas que não cumpriram o primeiro prazo fixado pode chegar a R$ 500 milhões. No entanto, na tarde de ontem, dez empresas, que representam 19 barragens a montante, assinaram o Termo de Compromisso, sendo que as autoridades presentes acreditam que as demais devem optar pela assinatura em detrimento de caminhos judicializados. 

Pouco antes do anúncio, em coletiva de imprensa, participaram da assinatura do Termo de Compromisso as empresas com atividades de mineração Alcoa, CSN, Gerdau, Itaminas, Minerita, Morro do Ipê, SAFM, Usiminas, Musa e Herculano. Juntas, as empresas devem pagar ao Estado uma indenização de R$ 60 milhões, que representam multas por dano coletivo. 

Segundo a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Marília Melo, essa é uma medida de convergência para manter a capacidade de operação das empresas e, dessa forma, garantir o processo de descaracterização. “A paralisação das empresas poderia gerar um ônus para o Estado, como por exemplo a não capacidade de descaracterização dessas barragens”, afirmou. 

Carlos Eduardo Ferreira, promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais, avalia que esse é um marco de exaltação da Lei Estadual “Mar de Lama Nunca Mais”. Isso porque, segundo ele, o instrumento tem em seu núcleo a proibição de um método de armazenamento de resíduos que provocou os dois maiores desastres ambientais da história mineira. 

Ainda conforme explicou Ferreira, o acordo prevê que as mineradoras façam o descomissionamento no menor prazo técnico possível e com a utilização da melhor alternativa técnica existente. “O nosso Estado não pode conviver com o caos judicial. Em nenhum momento trabalhamos com prorrogação geral e irrestrita do prazo fixado na lei. Nós individualizamos todas as estruturas (barragens) de modo a trabalhar o prazo factível. É preciso reconhecer que tecnicamente existiam prazos inviáveis de serem executados”, ressaltou o promotor. 

Nesse sentido, Marília Melo afirmou que diante dos ofícios enviados às mineradoras com a cobrança dos prazos finais de descomissionamento, o que ocorreu antes mesmo do termo recém-assinado, o prazo mais longo registrado foi o de 2031. Dessa forma, os representantes de órgãos públicos reconheceram, ainda, que esse pode ser um processo moroso por questões técnicas e que, de fato, há a possibilidade de que o Estado só alcance o descomissionamento de todas as barragens em 2031. 


Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 25/02/2022

Produção mundial de aço cai 6,1% em janeiro

A produção de aço bruto no mundo registrou uma queda de 6,1 % no mês de janeiro de 2022 em comparação ao mesmo período de 2021, segundo dados da World Steel Association. Foram produzidos 155 milhões de toneladas (mt) de aço durante o primeiro mês do ano. 

O resultado negativo foi puxado pelo mal desempenho da indústria do aço na Ásia, que registrou queda de -8,2% com uma produção de 111,7 mt. Além do continente asiático, a América do Sul também fechou o mês com saldo negativo, pois registrou uma queda de  -3,3% com uma produção de 3,7 mt.

Entre os países que são os maiores produtores de aço do mundo, a China, líder no ranking, registrou queda de -11,2%. O país produziu 81,7 mt de aço em janeiro. Já a Índia, segundo maior produtor de aço do planeta, teve um aumento na produção de 4,7% e produziu 10,8 mt de aço. Os Estados Unidos também fecharam o primeiro mês de 2022 com saldo positivo. A maior economia do mundo registrou alta de 4,2% na produção de aço com 7,3 mt.  E o Brasil, nono no ranking de maiores produtores de aço do mundo, registrou uma queda de -4,8% e produziu no período 2,9 mt de aço.

Fonte: ABM Notícias
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/02/2022

Entenda por que a inflação continua alta, mesmo com aumento dos juros e o dólar em queda

A taxa de juros já está acima dos dois dígitos, o dólar acumula uma queda de quase 10% neste ano e a economia anda em marcha lenta. Mesmo assim, a inflaçãobrasileira não dá sinais de trégua. A cada dia surgem novas projeções para o IPCA, o índice oficial de inflação do País, este ano - e as revisões são sempre para cima. 

Na terça-feira, 22, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou sua previsão para a inflação em 2022 de 4,9% para 5,6%. No último Relatório Focus, divulgado na segunda-feira, 21, pelo BC, a projeção para o IPCA avançou pela sexta semana consecutiva, para 5,56%, ante uma estimativa de 5,15% há apenas um mês. A meta do BC para este ano é de 3,5%, com intervalo tolerância entre 2% e 5%. No ano passado, o IPCA avançou 10,06%, ante uma meta de 3,75%, chegando quase ao dobro do teto de tolerância, de 5,25%. 

Segundo analistas, essas previsões têm como base as altas recentes nos preços de commodities (como petróleo e minério de ferro), dos bens de consumo industriais e dos alimentos, que mantêm a inflação pressionada. Mas os números podem ser ainda piores, uma vez que ainda não consideram os riscos decorrentes dos rumos da política fiscal durante um ano eleitoral e do agravamento das tensões entre Rússia e Ucrânia. Um eventual conflito poderia pressionar mais o valor de produtos como o petróleo, com reflexo sobre a gasolina, segundo economistas.

“Havendo uma guerra, provavelmente isso vai ter uma repercussão negativa no preço do barril (de petróleo), que já vem avançando, já está na casa de US$ 100, e que pode pressionar mais ainda por reajuste doméstico. Ainda que o real tenha se valorizado, e não foi uma valorização qualquer, isso não vai impedir reajuste nos preços dos derivados do petróleo, porque ele avançou muito mais”, apontou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

“Nós começamos o ano com projeção de 5,5% para o IPCA, agora está em 6%. Uma das coisas é a pressão de custos que vêm do atacado e que podem chegar ao varejo. Por exemplo, a gente teve uma surpresa com relação ao cenário de petróleo, mais pesado do que se imaginava. A perspectiva de um conflito entre Rússia e Ucrânia, tomara que não ocorra, mas evidentemente o petróleo subiria ainda mais. Não estou colocando no cenário, mas é um risco. Petróleo já ficou mais pesado do começo do ano pra cá do que se imaginava, o mesmo vale para minério de ferro, que agora está perdendo um pouco de força em dólar, mas mostrou recomposição importante”, disse Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Os números das altas de preços divulgados neste início de ano pelo IBGE mostram que esse é um problema importante. O IPCA-15, prévia da inflação de fevereiro, divulgado nesta quarta-feira, 23, ficou em 0,99%, acima das previsões do mercado. Em janeiro, o IPCA ficou em 0,54%, a maior elevação para o mês desde 2016. A taxa acumulada em 12 meses até janeiro acelerou a 10,38%.

“Meu número para a inflação deste ano é de 5,8%, e não acho que minha revisão vá parar por aí. Vai depender da condução de algumas tarifas públicas, para as quais não temos muita previsibilidade para o futuro. A primeira delas é a energia, que provavelmente vai ter uma bandeira tarifária menos onerosa a partir de maio, mas não sei qual bandeira vai finalizar o ano, se amarela ou vermelha patamar 1, e isso faz toda diferença”, apontou André Braz, acrescentando também ter dúvidas sobre os reajustes que serão aplicados nas passagens de ônibus e na gasolina.

O Ipea lembra que o cenário atual no País combina pressões persistentes de commodities, cadeias produtivas desreguladas ainda como reflexo da pandemia de covid-19 e problemas climáticos afetando o cultivo de alimentos e o custo da energia. Segundo Maria Andréia Parente Lameiras, uma das autoras da Carta de Conjuntura publicada pelo Ipea na terça-feira, caso haja um agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia, a projeção para a inflação de 2022 deve aumentar. “Essa convergência da inflação para o centro da meta só vai acontecer lá para 2023 mesmo”, previu.

Efeito do dólar em queda 

A valorização recente do real em relação ao dólar pode ajudar a conter uma piora nas projeções para a inflação, segundo o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito. Ele projeta um IPCA de 5,7% este ano, seguido de alta de 4% em 2023. Ele também crê que o temor de economistas sobre a situação fiscal do País tenda a arrefecer, qualquer que seja o vencedor do próximo pleito à Presidência da República, incluindo os possíveis candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja, embora o cenário seja de elevadas incertezas, Perfeito vê possíveis contribuições de baixa ao longo do ano.

“O dólar está caindo, isso pode ajudar a atenuar movimento de alta de commodities, atenuar outros problemas no setor de bens industriais. Vejo a inflação ainda preocupante. O Banco Central não vai conseguir cumprir a meta este ano mais uma vez, mas acho que, ao longo das próximas semanas, os economistas talvez tendam a revisar não para baixo, mas vai parar de piorar (de subir projeção de inflação)”, avaliou Perfeito.

Analistas do mercado financeiro estimam que a taxa básica de juros, hoje em 10,75%, ainda suba a 12,25% ao ano, conforme a mediana obtida pelo último Boletim Focus. Economistas lembram, porém, que a política monetária tem efeito limitado sobre o cenário inflacionário do momento, uma vez que os aumentos persistentes de preços decorrem mais de choques de oferta do que de demanda.

“Quando você tem um cenário inflacionário em que grande parte é choque de oferta, a potência da política monetária fica mais reduzida. Neste momento, o aumento na taxa de juros serve muito mais para ancorar expectativas futuras do que para resolver o problema atual. Porque não adianta mexer em juros se você tem o barril de petróleo crescendo sem parar, se você tem pressão de commodities. Agora, (o aperto monetário) serve no sentido de que você consegue atrair mais dólares, mais investimentos, então isso ajuda a sua taxa de câmbio, e serve para ancorar expectativas”, concluiu Lameiras, do Ipea.

Fonte: Estadão
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 24/02/2022