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Brasil e Japão: encontro empresarial busca fortalecer trocas e construir acordo

Organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em conjunto com Japan External Trade Organization (JETRO), Federação das Empresas do Japão (Keidanren), ApexBrasil e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o Fórum Econômico Brasil-Japão reúne autoridades governamentais e empresariais de ambos os países neste sábado (04) para discutir o fortalecimento da parceria comercial.

Hoje os números são consideráveis, mas há potencial para crescimento:

Em 2023, o Japão foi o 9° parceiro comercial do Brasil. Naquele ano, a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 11,7 bilhões.
Foram US$ 6,6 bilhões em exportações brasileiras para o Japão no ano passado, sendo 46% da indústria de transformação e US$ 5,1 bilhões em importações, com quase 100% também da indústria de transformação.
O Japão foi o 7º investidor direto do Brasil em 2023.
Na indústria brasileira, os setores automotivo, equipamentos industriais, aparelhos médicos e de borracha foram os que mais receberam anúncios de investimentos do Japão no Brasil entre 2019 e 2023, com destaque para as empresas japonesas Toyota Motor, Hitachi, Nipro, Bridgestone e Komatsu.
Na economia japonesa, os setores de químicos e de serviços empresariais foram os com mais investimentos brasileiros, com destaque para a Novonor e a Pinheiro Neto Advogados.

Os dados são elaborados pela CNI com base em estatísticas do Banco Mundial, ComexStat, Banco Central, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e FDI Markets.

Acordo entre Mercosul e Japão

Um dos temas prioritários no fórum é a retomada da negociação do Acordo de Parceria Econômica entre o Mercosul, bloco do qual o Brasil faz parte, e o país asiático. O tratado é considerado fundamental para o incremento comercial entre os dois países e para a diversificação da pauta exportadora brasileira.

A intenção é que o acordo contenha estímulos como regras aduaneiras para aumentar a celeridade do comércio, abertura do mercado de compras governamentais, aumento dos investimentos bilaterais e do comércio bilateral de serviços e estímulo à cooperação e ao intercâmbio de tecnologia entre Brasil e Japão.

O Japão é a quarta maior economia do mundo, fonte de significativos Investimentos Estrangeiros Direitos (IEDs) em diferentes regiões do mundo e um parceiro comercial e de investimentos relevante para o Brasil. 

O Mercosul, por sua vez, é umas das maiores economias em desenvolvimento, composto por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e mais recentemente, Bolívia, além de um potencial significativo de mercado para o Japão.

 

Desde 2015, os setores empresariais de ambos os países têm trabalhado em conjunto em prol do acordo de parceria comercial. Em 2018, a CNI lançou um roadmap com sugestões de pontos que deveriam ser abrangidos pelo documento. 

Fonte: CNI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 06/05/2024

 

Agrishow 2024 movimenta R$ 13,6 bilhões em negócios

Os organizadores da Agrishow divulgaram os resultados da 29ª edição, que se encerra nesta sexta-feira, 3 de maio, em Ribeirão Preto (SP). De acordo com comunicado à imprensa, a feira alcançou o volume recorde de R$ 13,6 bilhões em intenções de negócios, especialmente relacionados a máquinas e implementos agrícolas.

O crescimento foi de 2,4% em relação à edição de 2023, que registrou um volume de R$ 13,3 bilhões. Quanto aos visitantes, a organização afirmou que o número permaneceu equivalente ao do ano anterior, com aproximadamente 195 mil pessoas. A feira recebeu produtores rurais de pequenas, médias e grandes propriedades de todas as regiões do país, além de participantes internacionais.

“A mobilidade e a infraestrutura da feira foram alguns dos destaques, que permitiram aos visitantes uma melhor experiência, principalmente para aqueles que compõem a agricultura familiar – público ao qual se atribuiu grande parte do crescimento da Agrishow 2024”, disse João Marchesan, presidente da Agrishow.

Ainda que o cenário não fosse o mais favorável para o setor, com as adversidades do clima, os juros altos e a falta de recursos controlados, as expectativas da feira foram superadas.

“Mantivemos os visitantes e aumentamos as intenções de negócios. E esperamos que, para o próximo ano, o agronegócio brasileiro possa estar ainda mais forte e pujante”, conclui Marchesan. Em 2025, a Agrishow acontece entre 28 de abril e 2 de maio.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 06/05/2024

 

Chuvas no RS paralisam abates e deixam lavouras embaixo d’água

As fortes chuvas registradas no Rio Grande do Sul, que já deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados, devem elevar os preços de produtos agropecuários, além de afetar diversos setores da economia, do turismo à siderurgia.

Entre os mais afetados pelas chuvas, segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, devem estar os criadores de suínos e de aves, além da pecuária leiteira, com forte presença na região norte do estado, na zona rural de municípios como Santa Rosa, Passo Fundo e Erechim. O escoamento da produção e o recebimento de suprimentos, conta Pereira, está prejudicado.

“O produtor de leite não consegue levar o produto para a indústria, e os criadores de suínos e frangos não conseguem receber a ração por conta das pontes que caíram. Além disso, tem a falta de energia elétrica, é uma situação catastrófica”, diz Pereira.

O agronegócio é responsável por cerca de 40% do PIB do estado, segundo a Farsul. Em 2022 a produção agropecuária gaúcha, de acordo com o governo do estado, atingiu valor bruto de R$ 98,6 bilhões, sendo os dois principais produtos a soja e o arroz. O Rio Grande do Sul é responsável por 68% da produção nacional de arroz.

“Já colhemos, até o momento, cerca de 60% da nossa safra de soja e 70% da safra de arroz. Precisamos descobrir ainda o quanto perdemos do que faltava colher. Nós vamos ter problemas adiante no mercado nacional (de arroz). Por enquanto, o país está abastecido, mas, mais para frente, pode ocorrer um aumento nos preços”, diz Pereira.

Para o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Eugênio Zanetti, o impacto será devastador:

“Para o setor de agro como um todo, os estragos são incalculáveis. Recebi relatos de produtores com 50% da soja ainda para ser colhida. Para folhagens, legumes e verduras, é quase perda total, assim como para os produtores de arroz, que ainda não colheram”.

O economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), calcula que deve haver alguma influência dessas perdas na inflação dos alimentos, mas não avalia que será algo expressivo. Mercados em que o estado tem maior protagonismo, como de arroz e produtos in natura, porém, sofrerão algum aumento de preços.

Braz explica que, no caso dos produtos in natura, a inflação deve ocorrer mais na região da tragédia, já que esses itens costumam ser consumidos em localidades próximas à produção.

— Pode haver comprometimento de safra de ciclos mais longos, no plantio e na colheita, que ficam impedidos. Quanto mais esse fenômeno durar, pior o impacto. Mas é mais um complemento na inflação local do que um impacto nacional — afirma o economista.

Vinhedos

Já na indústria gaúcha de vinhos, um dos setores em que o estado tem destaque nacional, os danos devem ser moderados, devido à época em que a tragédia ocorreu.

“Ainda não é possível mensurar o impacto das enchentes na produção, mas os vinhedos estão atualmente em período de dormência, o que deve diminuir os problemas causados pela chuva”, diz o presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis/RS), Luciano Rebellatto.

Impacto indústria

No setor industrial, apesar da paralisação em diversas unidades, os prejuízos devem ser contidos. A siderúrgica Gerdau informou ter suspendido as atividades nas usinas de Charqueadas e Sapucaia do Sul até domingo. A empresa disse que a medida não vai impactar as entregas e que nenhuma das unidades foi danificada pelos temporais.

A Braskem, por sua vez, informou que as chuvas têm impactado o fornecimento de insumos e interrompeu preventivamente algumas das plantas situadas no Polo Petroquímico de Triunfo. A empresa vai acionar um sistema de segurança que pode tornar as fábricas mais luminosas nos próximos dias.

Fonte: O Sul
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 06/05/2024

 

Como será o imposto na construção, venda e aluguel de imóveis na Reforma Tributária

A proposta de regulamentação da reforma tributária apresentada pelo governo trouxe como principal novidade para o setor da construção a progressividade no pagamento dos novos tributos sobre bens e serviços: a contribuição federal CBS e o imposto de estados e municípios IBS.

As incorporadoras terão desconto de 20% na alíquota dos novos tributos, cuja média é estimada em 26,5% para soma de CBS e IBS.

Nesse cenário, o imposto a ser pago seria de 21,2% sobre o valor da venda de imóveis novos, o equivalente a 80% da alíquota cheia.

A progressividade —quanto maior o valor do imóvel, maior o tributo em termos proporcionais— foi definida pelo Ministério da Fazenda com a criação de um “redutor social”, estipulado em R$ 100 mil.

Com isso, os imóveis novos de alto padrão serão mais tributados que os populares, o que deve baratear especialmente aqueles construídos no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida.

Nas contas do governo, um apartamento novo de baixo padrão no valor de R$ 200 mil pode ficar isento de imposto, considerando o redutor social e também o desconto do custo do terreno e a dedução de tributos incidentes sobre etapas da construção.

No sistema atual, as companhias recolhem impostos, mas não recuperam os créditos da tributação de insumos.

Não haverá incidência na venda de imóveis entre pessoas físicas. Exceto se ficar constatado que o contribuinte efetua operações de compra e venda de imóveis com recorrência, caracterizando atividade econômica no ramo imobiliário.

ALUGUEL E AIRBNB

A pessoa física que alugar um imóvel também não pagará os novos tributos.

A proposta enviada ao Congresso sugere a criação de um “fator de reajuste” para a dedução do valor de imóveis alugados por empresas.

Na locação ou arrendamento, a base de cálculo será reduzida, a cada mês, em montante equivalente a 1/360 (um trezentos e sessenta avos) do valor do redutor de ajuste a partir de 1° de janeiro de 2027.

Os bens imóveis urbanos e rurais deverão ser registrados na plataforma CIB (Cadastro Imobiliário Brasileiro).

O texto prevê também a cobrança de imposto igual ao do setor hoteleiro sobre locações por temporada inferior a 90 dias, quando realizadas por uma empresa. Segundo a Secretaria de Reforma Tributária, um Airbnb, por exemplo, vai pagar sobre sua margem de lucro. A pessoa que está alugando por meio da plataforma não será tributada.

A criação de um sistema específico para o setor foi uma demanda das construtoras e tem como base modelos internacionais que também fazem essa diferenciação.

A reforma tributária começa a ser implantada em 2026, com uma transição dos antigos para os novos tributos até 2032.

PROPOSTA DO GOVERNO PARA TRIBUTAÇÃO DE IMÓVEIS

- A venda, compra ou locação de imóvel por empresas pagará 80% da alíquota de CBS e IBS
- Não haverá incidência na venda e aluguel de imóveis entre pessoas físicas
- Redutor social: isenção sobre o valor de R$ 100 mil para todos os imóveis novos
- Desconto do valor da aquisição de terreno
- Recuperação de tributos sobre insumos

Fonte: CBIC
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 06/05/2024

 

Veja posição da indústria brasileira em ranking global

A posição da indústria manufatureira do Brasil entre 117 países melhorou no fim de 2023, mas não deixou de ser intermediária. O Brasil ainda está longe de figurar entre os países com melhor desempenho.

As conclusões fazem parte de um levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que constrói o ranking a partir de dados da United Nations Industrial Development Organization (Unido). O estudo considera informações apenas do segmento manufatureiro, ou seja, não inclui, por exemplo, a indústria extrativa.

Com alta de 0,1% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, o Brasil estava na 57ª posição do ranking no fim do ano passado, oito colocações acima do observado no terceiro trimestre de 2023 e nove posições à frente do quarto trimestre de 2022. Assim, o Brasil se posicionou melhor do que alguns de seus vizinhos latino-americanos, como México (71º), Argentina (100º) e Colômbia (101º), todos registrando queda de suas produções industriais no período.

Em 2023 como um todo, o Brasil ficou na 64ª posição. Embora tenha continuado na metade inferior do ranking, essa foi a melhor colocação obtida pelo Brasil desde a pandemia - em 2021, ficou em 89º e, em 2022, em 96º.

Na América Latina, o resultado industrial do Brasil superou o de Argentina (70º), Colômbia (97º) e Peru (104º), mas ficou atrás de Equador (4º), México (45º), Bolívia (42º), Uruguai (51º) e Chile (52º).

Considerando países do Brics - Rússia (11º), Índia (17º), China (20º) e África do Sul (50º), todos com crescimento da indústria em 2023 -, o Brasil foi o que se saiu pior no ano passado.

"O que já tinha acontecido em 2022 piorou ainda mais em 2023”
— Rafael Cagnin

Apesar da melhora no fim do ano, a indústria manufatureira do Brasil caminhou em direção oposta à global em 2023, com queda de 0,9% no ano, contra alta de 1,1%. A produção “bastante aquém da evolução do setor no mundo” foi a “marca de 2023”, segundo o Iedi.

“O que já tinha acontecido em 2022 piorou ainda mais em 2023. Foi um ano de perdas, do ponto de vista da produção física. Houve algum suspiro, uma sinalização positiva, no fim do ano, mas, em parte, porque a base de comparação ficou muito baixa”, diz Rafael Cagnin, economista do Iedi.

Há, no entanto, fatores “economicamente mais robustos” para explicar o “suspiro” da indústria brasileira no fim de 2023, como o ciclo monetário mais favorável.

“Depois de uma fase prolongada de redução de juros, isso vai sendo repassado para as taxas de empréstimos. Ainda é modesto e o movimento acaba amortecido pela manutenção de ‘spreads’ elevados, diante de níveis de inadimplência também altos. O passado ainda se faz pesar”, afirma Cagnin.

Boa parte da assimetria entre a queda da indústria brasileira em 2023 e a alta da manufatura global pode ser explicada pelo perfil setorial do dinamismo da indústria mundial no ano passado, aponta o Iedi. Os dados da Unido mostram liderança da indústria de alta e média-alta tecnologia a nível global, com a produção avançando, por exemplo, 3,9% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, mais que o dobro do resultado do setor como um todo, segundo o Iedi.

No Brasil, por outro lado, esses ramos registraram queda de 6,3%, de acordo com dados do IBGE analisados pelo instituto.

 

O Brasil também cresceu abaixo do ritmo mundial na comparação entre o terceiro e o quarto trimestre de 2023: 0,4%, contra 1%. Ainda assim, para a América Latina, o país contribuiu no sentido de atenuar o desempenho da indústria regional no quarto trimestre de 2023, diferentemente de Argentina e México, que geraram um impacto negativo. Na comparação entre trimestres imediatamente anteriores, a produção manufatureira do Brasil não apresentou vigor, observa o Iedi, mas, ao menos, evitou o terreno negativo.

“Saímos da zona negativa, mas também não foi nada efusivo. Ainda assim, fomos melhor do que outros mercados de peso, como México e Colômbia, e conseguimos dar uma contribuição positiva para a América Latina, sendo que, desde a pandemia, quase sempre a performance do Brasil era inferior à do agregado da região”, diz Cagnin.

Ele credita parte desse movimento às fases dissociadas dos ciclos monetários entre o Brasil e seus pares latino-americanos. “Começamos a subir os juros antes, mas a cortar também”, afirma.

Ainda assim, a região da América Latina e Caribe foi a única em que não houve melhora da indústria em nenhum base de comparação: caiu 0,4% no quarto trimestre de 2023, ante o terceiro, chegando a cinco trimestres seguidos sem crescimento, e registrou contração de 1,5% em relação ao quarto trimestre de 2022, o pior resultado trimestral do ano passado.

Por outro lado, o crescimento da China e a melhora no quadro econômico de países de alta renda, sobretudo na Europa, levaram a indústria mundial a apresentar sinais de reaquecimento no fim de 2023, diz o Iedi. O crescimento de 1% da produção manufatureira global no quarto trimestre de 2023, ante o terceiro, foi, segundo o Iedi, o primeiro resultado positivo após uma fase de virtual estagnação que se estendia desde o fim de 2022.

Em comparação ao mesmo período de 2022, o ritmo de expansão da indústria global dobrou do terceiro para o quarto trimestre do ano passado: de 0,7% para 1,5%.

Olhando para 2024, Cagnin diz acreditar que a tendência é o Brasil seguir melhorando no ranking. “Ainda que haja algum ruído e sinalização de que o processo de corte de juros terá uma velocidade um pouco menor, tem repasse a ser feito, as taxas de financiamento ainda não captam muito da redução da Selic no ano passado.”

Na sua avaliação, o grau de incerteza no dia a dia do industrial também deve diminuir em relação a 2023, quando houve troca de governo e votações de novas regras fiscal e tributária - esta última agregando boas perspectivas para os investimentos na indústria, segundo Cagnin.

“É um ano que acho que tende a ser positivo, melhor do que o ano passado, e com uma distribuição do dinamismo maior entre os diferentes ramos da indústria”, afirma.

Além disso, Cagnin cita ações do governo federal com o novo PAC, que deve ajudar a reativar a construção civil, uma grande consumidora de insumos industriais, e o programa Nova Indústria Brasil (NIB), que teria potencial de acelerar o avanço em atividades de maior intensidade tecnológica. “Precisa ir concretizando como as missões da NIB serão, de fato, implementadas”, afirma.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 03/05/2024

Acordo com Mercosul está muito vivo e aguardamos janela política, diz negociador da UE

O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul "está muito vivo" apesar das declarações contrárias de líderes como o presidente da França, Emmanuel Macron, e ao menos 95% de todo o processo está concluído, disse à Folha o negociador-chefe da UE, Rupert Schlegelmilch.

O negociador realiza uma série de reuniões no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai para fazer o que ele chama de "lição de casa": ter as negociações técnicas prontas caso uma janela de oportunidade política se abra e permita avançar com a tramitação do acordo.

"O acordo está muito vivo. O fato é que a Comissão [Europeia, Poder Executivo da UE] continua a negociar. Temos um mandato de todos os estados-membros, inclusive da França, para fazer isso. Quando tivermos concluído as negociações, vamos reportar ao Parlamento e aos estados-membros, que vão opinar. Mas é a Comissão que está negociando e os estados-membros esperam que entreguemos um pacote no final, que então será analisado", afirma.

Um entendimento preliminar foi alcançado em 2019 entre os países do Mercosul e a UE para o estabelecimento do que seria o maior tratado de livre comércio do mundo: abarcando uma área com cerca de 780 milhões de pessoas.

Desde então, a tramitação das etapas necessárias para tirar o tratado do papel tem se arrastado. Primeiro, por preocupações do lado da Europa em relação à política antiambiental do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Depois, por demandas do governo Lula (PT) pela renegociação de determinados aspectos do acordo e pela mudança de governo na Argentina; e, por fim, pela oposição liderada por Macron.

"O acordo está quase concluído. Tivemos um entendimento completo em 2019, estamos apenas negociando alguns temas adicionais. Então, 95% ou mais de todo o processo está finalizado. Mas algumas questões são complicadas, porque envolvem temas como desmatamento. Mas devemos usar nosso tempo para estarmos prontos quando a janela política se abrir de novo. Serei muito honesto: neste momento, diante das eleições [para o Parlamento Europeu] e os produtores rurais nas ruas em vários locais da Europa, simplesmente não é um bom momento. Então precisamos esperar que as eleições [europeias] terminem", diz Schlegelmilch.

"Mas precisamos estar prontos porque, se a janela abrir, o dever de casa precisa estar pronto. A filosofia agora é essa. Ninguém sabe quem será o novo presidente da Comissão [que será formada após as eleições europeias], qual será o resultado das eleições. Mas não queremos estar numa situação em que porventura o acordo seja acelerado após as eleições e nada tenha ocorrido [no nível técnico] nesse meio tempo."

De acordo com o negociador, o governo Lula tem ganhado crédito com os europeus por endereçar a questão ambiental com seriedade. Hoje, diz Schlegelmilch, o maior empecilho são as políticas agrícolas, embora elas muitas vezes sejam usadas como "bode expiatório" e haja "desinformação" no debate.

"[Os produtores rurais europeus] gostariam de ter um pouco mais de proteção porque sabem que o setor agrícola em outras partes do mundo, não só no Brasil, algumas vezes é mais competitivo. O argumento que eles [agricultores] não querem ouvir é que exatamente por isso temos uma política agrícola comum que apoia esse setor massivamente com algo em torno de 40 a 50 bilhões de euros [entre R$ 220 bilhões e R$ 270 bilhões] todos os anos", diz.

"Então, existe um mecanismo que garante que seguiremos competitivos, e a abertura de mercado em todos os nossos acordos, em um setor como o de carne, não chega a 5% do consumo", acrescenta.

O negociador da UE nega que o acordo possa desestabilizar massivamente os mercados europeus e afirma que os potenciais efeitos negativos são pequenos se comparados ao apoio oferecido aos produtores locais. "Até prometemos aos nossos agricultores mais apoio se houver disrupção", afirma.

O europeu também contesta o discurso de que o tratado em negociação entre a UE e o Mercosul não é moderno porque começou a ser discutido há mais de duas décadas. "Nós atualizamos o acordo toda vez. Então, ele está no mais alto padrão, tão bom quanto o acordo com o Canadá que todo mundo ama. Quase todo mundo ama. Até Macron ama", afirma.

Ao se colocar contra o acordo UE-Mercosul, o presidente da França chamou o tratado de "antiquado", "contraditório" e "péssimo".

Ao lado de Lula, em sua visita ao Brasil em março, Macron voltou a demonstrar resistência aos termos do tratado e disse que foram feitas alterações sobre "algo que é muito velho" e que ele precisaria ser reconstruído. "Nós somos loucos de continuar nesta lógica de acordo e, em paralelo, fazer grandes reuniões como G20 e COP para dizer que vamos fazer grandes coisas pelo clima e pela biodiversidade", disse o francês, na ocasião.

Schlegelmilch, por sua vez, rejeita essa linha de argumentação e considera o acordo "muito progressista". "Diria que o acordo é moderno, atualizado [...] É o que temos de mais avançado sobre questões como direitos trabalhistas, proteção ambiental e assim por diante", reforça.

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 03/05/2024