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Após 20 meses, atividade da indústria da construção fica positiva, aponta CNI

Empresários da indústria da construção registraram estabilidade na atividade industrial e no número de empregados na passagem de junho para julho, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os indicadores da Sondagem Indústria da Construção mostram que o nível de atividade saiu de 49,9 pontos para 50,1 pontos. Com o avanço, o índice cruzou a linha divisória dos 50 pontos, e interrompeu uma sequência de 20 meses registrando valores abaixo dessa linha. Já o índice de número de empregados passou de 48,8 pontos para 49,8 pontos. 

“Tanto para o nível de atividade, quanto para o número de empregados o desempenho pode ser considerado positivo, visto que o usual para o período é que ocorram quedas do nível de atividade e do número de empregados”, explica a economista da CNI, Paula Verlangeiro.

 

Com desempenho mais favorável da atividade e do emprego, a avaliação das condições correntes melhorou, mas indicadores referentes aos próximos meses recuaram e mostram confiança e expectativas mais moderadas. O índice de confiança do empresário da indústria da construção, por exemplo, caiu de 51,8 pontos para 51,3 pontos. 

Ao analisar os componentes desse indicador, a CNI entendeu que a percepção dos empresários para as condições atuais da economia e das próprias empresas evoluiu de 45,5 pontos para 47,4 pontos. Já o componente que avalia as perspectivas para os próximos meses recuou de 55 pontos para 53,3 pontos.  

Expectativas e intenção de investimento da indústria da construção

O índice de expectativa em relação ao nível de atividade caiu de 54,6 pontos para 52,4 pontos em agosto - a maior queda dentre os índices de expectativa. O indicador de expectativa de novos empreendimentos e serviços passou de 52,4 pontos para 50,9 pontos. O índice de expectativa de compras de insumos e matérias-primas recuou 1,9 ponto na passagem de julho para agosto, ficando em 51,1 pontos. 

Apenas o índice de expectativa do número de empregados apresentou estabilidade, com variação de 0,1 ponto em agosto, passando para 52,0 pontos.

Consequentemente, o índice de intenção de investimento da indústria da construção apresentou queda de 1,9 ponto, passando de 46,6 pontos para 44,7 pontos. Apesar disso, o índice permaneceu em patamar elevado, já que a média histórica é de 37,6 pontos.

Sobre a Sondagem Indústria da Construção

A Sondagem Indústria da Construção foi lançada em 2010, em parceria com a Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC), seguindo os moldes da Sondagem Industrial, e tem como objetivo conhecer a tendência da atividade e as expectativas dos empresários da indústria da construção. Vale ressaltar que o ICEI e o índice de expectativas da indústria da construção questionam os empresários sobre os próximos seis meses.

Para este levantamento, foram consultadas 318 empresas do ramo de construção entre os dias 1º e 9 de agosto.

Fonte: CNI
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 21/08/2024

 

MDIC inicia investigação sobre dumping em laminados planos de aço da China

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) iniciou investigação sobre dumping nas importações brasileiras da China de laminados planos de aço carbono, ligados ou não ligados, em forma de chapas ou em bobinas, de qualquer largura ou espessura.

"Dadas as sólidas evidências de que as políticas públicas e os programas e planos governamentais chineses corroboram o entendimento de que o setor siderúrgico é considerado estratégico e recebe tratamento diferenciado do governo; há intervenção governamental no setor, sob forma de subsídios financeiros e outros; há incentivos para o desenvolvimento tecnológico e há interferência estatal no suprimento de insumos e utilidades para a cadeia produtiva siderúrgica, de forma que as decisões dos entes privados não parecem refletir as dinâmicas puramente de mercado, mas orientações constantes dos planos estabelecidos pelo governo, considerou-se que não há prevalência de condições de economia de mercado para os fabricantes/produtores chineses de laminados planos a frio", diz o ministério, em circular publicada no Diário Oficial da União (DOU).

O MDIC informou ainda que a análise dos elementos de prova de dumping considerou o período de janeiro a dezembro de 2023, enquanto a análise de dano considerou o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2023.

Fonte: Agência Estado
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 20/08/2024

Descarbonização da siderurgia vai custar US$ 600 bilhões, afirma consultoria

Reunidos em São Paulo, no início de agosto, no Congresso Aço Brasil 2024, CEOs das principais empresas do setor discutiram como cortar as emissões de um setor responsável por entre 7% e 9% da geração de CO2 no mundo — e como pagar a conta. Estimativas apontam para o aumento de até 80% no valor do aço até 2050 para perseguir a descarbonização do setor.

Para zerar as emissões, será preciso ampliar o uso de eletricidade de fontes renováveis. No entanto, a vida útil dos alto-fornos siderúrgicos é de décadas, e cerca de 70% deles, no mundo, são alimentados com carvão coque, calcula o setor. Portanto, a transição energética demandará necessariamente grandes investimentos. “Não há bala de prata. Migrar a este nível requer investimentos monstruosos”, afirma o presidente da Usiminas, Marcelo Chara. “Temos alto-fornos para décadas”, explica.

Chara lembra que o Brasil é grande produtor de etanol, combustível verde que é uma das fontes para a produção do hidrogênio. De acordo com ele, é possível fazer um processo de transição energética nas siderúrgicas, mas para isso é preciso ter custo competitivo. “Quem deve pagar essa conta não é o capital privado. A conta paga o cliente, a sociedade como um todo, com os impostos. Ou seja, tem uma complexidade, que não é pequena, mas sem dúvida o que pode ser feito precisa de um componente enorme e importante de política de Estado”, diz.

O CRU Group estima que a transição para o aço verde — que hoje representa apenas 2% da produção mundial — exigirá um sobrepreço de US$ 600 bilhões por ano a ser absorvido pelo mercado. O custo não é só de capital. A consultoria estima que, até 2050, serão necessárias seis vezes mais eletricidade, 12 vezes mais hidrogênio, duas vezes mais gás natural e 25 vezes mais captura de carbono nos processos para reduzir as emissões.

Fonte: Época
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/08/2024

 

Agronegócio teme que COP no Brasil vire perseguição contra o setor

A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém do Pará, no ano que vem, terá inevitavelmente um tanto de vitrine e outro tanto de tatame. Como vitrine, será oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo os diferenciais de sustentabilidade de sua economia verde; como tatame, corre o risco de descambar para uma briga ideológica desenfreada do ambientalismo militante contra o agronegócio, a produção empresarial de alimentos.

O setor produtivo está apreensivo. Há o temor de que a agenda da COP 30 acabe sequestrada por pautas ambientalistas, indigenistas e quilombolas. E que muito se fale sobre conflitos, queimadas, desmatamentos e moratórias, e pouco espaço seja dado à divulgação dos atributos ambientais do agro brasileiro, que não encontra paralelo entre os concorrentes.

Segundo dados da Embrapa, confirmados pela Nasa, o Brasil tem 66,3% de seu território preservado com vegetação nativa. E de todas as áreas protegidas, 25,6% estão dentro das propriedades rurais. O país também é o que mais utiliza o sistema de plantio direto, que não agride o solo, e adota em escala crescente a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). A prática de ILPF possibilita até três safras numa mesma área e torna a atividade agrícola sequestradora de carbono, em vez de geradora de emissões.

Propaganda negativa do país

A título de comparação, neste ano os agricultores europeus se colocaram em pé de guerra e conseguiram que o bloco eliminasse a exigência para que deixassem 4% das terras em pousio. No Brasil, o percentual mínimo de preservação adotado desde o Código Florestal de 2012 é de 20%, podendo chegar a 80% na Amazônia legal.

Essa realidade ainda é desconhecida em muitos países. Pelo contrário, o que frequentemente chega lá fora é o lobby de ONGs com brasileiros pregando boicote ao próprio país e um "engessamento" ainda maior das áreas agricultáveis, notadamente no Cerrado.

Para evitar que problemas pontuais com desmatamento e reservas indígenas ganhem projeção exagerada na COP 30 devido à contaminação ideológica do debate, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) propõe um pacto nacional entre governo, terceiro setor e iniciativa privada.

Risco de "o rabo abanar o cachorro"

“A prevalecer o ritmo de falta de diálogo entre os ambientalistas e o setor produtivo, e uma inação do governo que não orquestra esse entendimento, nós podemos simplesmente ir para a COP 30 e expor, em alto brado, aquilo que são as diferenças existentes no país. Daí um problema localizado de desmatamento em alguma região adquire tal dimensão que vira o rabo abanando o cachorro”, alerta Jardim.

“Não podemos ficar passivamente esperando uma demonstração pública de problemas. Temos que fazer uma demonstração vigorosa do que o Brasil tem de virtude”, acrescenta.

Jardim lançou a proposta de um pacto nacional em torno dos objetivos da COP 30 durante o 23º Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), que reuniu em São Paulo as principais lideranças políticas e empresariais do setor. Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), diz que o momento exige mais proatividade e que nas próximas semanas serão marcadas reuniões com ministérios para tratar de temas específicos da conferência de Belém.

Conferência pode virar uma "COP contra o agronegócio"

“O desafio é grande, mas estamos bem posicionados. Temos uma capacidade competitiva extraordinária, uma pegada de carbono menor que todos os outros países, não só na produção de alimentos, mas também de biocombustíveis. Estamos abertos para o diálogo com o governo federal, para termos uma agenda programada para a COP30, com mensagens e sinais corretos”, assinala.

A preocupação de que a COP30 acabe descarrilando é compartilhada pela senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro. Ela alerta para o risco de vir aí uma “COP contra o agronegócio”.

“Se você falar só da Amazônia, pode reforçar aquilo que eles pensam lá fora do Brasil, que aqui só tem a Amazônia, e não o Cerrado, onde nós produzimos, e as reservas que o país tem. Precisamos ter muito cuidado sobre como vamos conduzir isso, e não deixar que sejamos conduzidos”, sublinha.

Defensora convicta de que o Brasil pratica o agronegócio mais sustentável do mundo, a senadora admite estar receosa com o enfoque da COP 30. “Como nesse governo tem muito viés ideológico, eu tenho um pouco de medo. Mas não podemos deixar isso solto. Já fiz várias conversas com gente que trabalha na área ambiental, pessoas sensatas e que têm um compromisso com o Brasil e com a agricultura brasileira”, relata.

Desafio de construir visões comuns e positivas sobre o país

Para o empresário Ingo Plöger, vice-presidente da Abag e integrante de conselhos de administração de grandes companhias como Melhoramentos, Sonda, Bosch e VW Caminhões, o momento é de afinar a orquestra e “costurar uma estratégia” para defender a biocompetitividade brasileira. Para tanto, instituições como CNI, CNA, OCB, FGV e Embrapa serão convocadas a contribuir para a pauta da conferência.

“Ficaria feliz se a gente conseguisse construir algumas visões em comum. Projetar o Brasil como deveria ser daqui a cinco ou dez anos. Cada um de nós tem um imaginário, mas se conseguirmos um mínimo denominador comum, a gente consegue marchar, com todas nossas diversidades. O cenário mais arriscado é não conseguirmos nada, então a COP será sobre Amazônia, queimadas e o Cerrado e nada mais. Daí a gente está ferrado”, enfatiza.

O histórico recente de como o governo petista pauta os debates nas conferências do clima justifica o alerta do setor agropecuário. Enquanto o governo Bolsonaro procurava destacar cases de sucesso do agro brasileiro sustentável, Lula prefere estender o tapete para movimentos sociais, como o MST, associações indígenas e ONGs ambientalistas.

Governo petista privilegia pautas ambientalistas

Na COP 28, realizada no ano passado em Dubai, ao discursar para ativistas, Lula reforçou o viés ideológico das ações. “Ou a gente participa ou a extrema direita vai voltar com muita força, não apenas no Brasil, mas em muitos outros países. Significa que vocês, além de agentes reivindicadores, têm que ser agentes formuladores e agentes participativos. É mais que reivindicar, é participar, é ajudar a fazer”, declarou.

Em junho, no Dia Internacional do Meio Ambiente, Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, celebraram a criação de 638 mil km2 em novas reservas em 17 meses do terceiro mandato. O próprio governo propagou que a área é maior do que o estado de Minas Gerais.

Em outra linha de enfrentamento com a agropecuária, o presidente chegou a vetar a Lei 14.701, aprovada pelo Congresso, que reafirma a data da promulgação da Constituição de 1988 como marco temporal para demarcação de terras indígenas. Na lógica de Lula, partidos de esquerda e ambientalistas, não deve haver limite temporal para reivindicações de propriedade da terra pelos índios. O veto do Executivo, contudo, foi derrubado pelo Congresso, numa articulação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

COP pode virar espaço para malhação do agronegócio

Não resta dúvida de que os ambientalistas vão tentar fazer da COP um espaço para malhação do agro. É o que diz o ex-deputado Nilson Leitão, presidente do Instituto Pensar Agro, uma espécie de think tank da FPA. Ele prevê articulações para impor compromissos mais pesados de restrições à produção de alimentos.

“Vão fazer como fazem sempre, como fizeram na última COP, e engessaram mais de 100 mil hectares no Pantanal e não sei quantos mil hectares nas regiões amazônicas. Eles fazem esse compromisso e recebem dinheiro. Cada vez que essas organizações fazem compromisso de aumentar uma reserva ambiental para engessar cidades, elas recebem milhões de dólares de um fundo para aplicar na preservação. Mas nunca preservam nada”, afirma.

Os maiores problemas no setor agropecuário estariam ligados à falta de ação do governo em temas como a regularização fundiária e a necessidade de modernizar o licenciamento ambiental. “Os conflitos existem por causa de uma legislação arcaica, enquanto temos um agro tecnológico de primeiro mundo”, pontua Leitão.

ONGs já permeiam o Estado brasileiro

De 2009 a 2018 as ONGs receberam mais de R$ 1 bilhão do Fundo Amazônia para apoiar indígenas e reduzir emissões decorrentes do desmatamento. “Foi o período que teve maior mortalidade de índios no Brasil, aumentou mais de 170%. Não é problema de terra, não é problema de não ter onde índio ficar. Ao contrário, é um debate desonesto e tem muita gente desonesta, não só intelectualmente, mas também financeiramente envolvida para prejudicar a agropecuária”, diz o ex-deputado.

Essa articulação entre agentes do governo federal e ambientalistas está cada vez mais imbricada nas estruturas do poder. Isso ficou notório nas negociações com os europeus. A diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, relatou que mais de uma vez o setor privado levou “um monte de dados” para demonstrar a sustentabilidade do agro brasileiro, mas acabou sendo desacreditado por compatriotas.

“A gente prova que não é assim, mas daí pessoas do governo vão lá na Europa, falam com os mesmos interlocutores e dizem: veja bem, o agro está desmatando, o agro é inimigo. O representante do governo brasileiro desfaz tudo o que a gente falou como setor privado. Uma coisa é uma ONG falar mal, outra coisa é essa ONG entrar dentro do governo e passar a responder como governo”, sublinha Mori.

Ex-diretor da OMC defende estratégia para lidar com agenda ambiental

Simplesmente ignorar fóruns como a COP 30 já não é uma opção. O ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, avalia que a agenda climática e ambiental não vai desaparecer. Por que já foi incorporada pelas corporações, ainda que com diferentes matizes e cores. "Vamos ter que nos adaptar. Mas temos que ser um pouco mais críticos e não aceitar o que é dito pelo valor de face”, assegura.

Para Azevêdo, o Brasil poderia se articular com outros países produtores de alimentos, inclusive os EUA, para corrigir equívocos de políticas públicas transplantadas do velho continente.

“A agenda climática e ambiental está sendo muito ditada pelo que está acontecendo na Europa, e que outros países, mercados importantes nossos, estão começando a aceitar como uma verdade global. E não é. São políticas próprias da Europa, como estrutura produtiva, tamanho da propriedade e logística, que funcionam para o tamanho da Europa. Não dá para transplantar para produtores de alimentos em larga escala”, afirma.

Contatada pela reportagem, a Secretaria Extraordinária para a COP 30 (Secop), subordinada à Casa Civil da Presidência da República, informou que trata apenas da infraestrutura da conferência. "As demandas a respeito de discussões sobre temas relativos ao conteúdo sobre sustentabilidade na COP30 devem ser encaminhadas para o Ministério das Relações Exteriores e ao Ministério do Meio Ambiente", destacou em nota. A reportagem entrou em contato com os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto para manifestação.

Fonte: Gazeta do Povo
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 19/08/2024

 

Falta de trabalhador especializado afeta construção civil

Em meio ao aquecimento da construção civil e um mercado de trabalho dinâmico, empresas do setor já se queixam da dificuldade de encontrar mão de obra em geral e principalmente trabalhadores qualificados. Segundo os dados recentes da Sondagem da Construção do FGV Ibre, a escassez de mão de obra é apontada por quase 30% das empresas como uma das principais dificuldades enfrentadas no momento.

Segundo executivos do setor, o cenário tende a gerar gargalos, principalmente com o andamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e a solução mais viável é acelerar o processo de industrialização da construção civil.

Um dos pontos que líderes das empresas têm notado é a falta de interesse dos jovens em trabalhar na construção, algo que vem sendo observado também em outras indústrias. “As dez maiores indústrias no mundo, e isso se reflete na mesma proporção aqui no Brasil, hoje sofrem problemas de escassez de mão de obra pela questão geracional”, diz Cristiano dos Anjos, CEO da Kingspan Isoeste, líder global em construtivos isotérmicos, com cinco fábricas no Brasil.

“Tem a questão de a construção civil tradicional ser um serviço fisicamente pesado, e as novas gerações têm evitado esse tipo de trabalho.”

Na construção civil tradicional, explica dos Anjos, a porta de entrada para iniciantes costuma ser a função de servente de pedreiro, mas hoje um jovem consegue ganhos similares trabalhando como motorista ou entregador de aplicativo. “Acaba ganhando igual ou mais que um servente sem precisar fazer trabalho pesado debaixo do sol. Entra no fator do que as pessoas estão almejando para a qualidade de vida delas”, diz.

Segundo José Ricardo Reichert, diretor industrial da Eternit, tradicional fabricante de telhas de fibrocimento, o problema da escassez de mão de obra na construção e na indústria em geral se intensificou após a pandemia, quando muitos profissionais migraram de carreira. Ele diz que a região onde a empresa encontra mais dificuldades hoje é no Centro-Oeste.

“As novas gerações são mais influenciáveis em relação às novas tecnologias, como automação, IA e indústria 4.0. Como a construção civil ainda mantém um viés conservador, a dificuldade que temos pela frente é justamente a de capturar e reter uma mão de obra com este perfil”, conta Reichert.

Para contornar o problema, o diretor industrial da Eternit comenta que a empresa monitora permanentemente o mercado em termos de remuneração e benefícios e tem buscado investir mais em automação.

"Querendo ou não, a falta de qualificação afeta muito o mercado”
— Bruno Cardoso

“Contudo nosso processo não nos ajuda muito, pois já temos poucas pessoas por linha ou turno. Em resumo, o desafio permanece e a Eternit continua na busca de soluções, como todo o setor de construção”, afirma.

Já na Kingspan Isoeste, a estratégia é investir na industrialização do segmento, incluindo a formação de mão de obra qualificada, essencial para a expansão da empresa no país - a fabricante produz material no segmento de paredes e telhas térmicas ainda pouco conhecidos no mercado residencial brasileiro, embora em outros lugares do mundo já esteja bem consolidada.

“Como a mão de obra que precisamos já é mesmo de uma outra característica, temos que fazer os nossos treinamentos constantes e temos empresas parceiras. É uma mão de obra diferente”, diz o CEO da companhia. “O pedreiro que quer se atualizar consegue gerar um valor agregado melhor, constrói mais rápido, o que é muito melhor para o empreiteiro”, complementa Cristiano dos Anjos.

Bruno Cardoso, de 29 anos, hoje proprietário da empresa de médio porte Smart B Serviços e Construções, conta que começou a trabalhar no setor aos 18 anos com métodos construtivos tradicionais e, no meio do caminho, percebeu que precisava se atualizar sobre as inovações para prosseguir no setor. Como técnico de edificações, trabalhou como encarregado e não sofria tanto o desgaste físico da construção de alvenaria tradicional, mas notava muito demora, desperdício e, consequentemente, custos elevados nas obras.

“Antes, numa obra similar usávamos dez trabalhadores. Com o sistema de materiais industrializados utilizamos quatro. Uma atividade para montar telhado com telha de cerâmica levava 90 dias, e hoje consigo fazer em 30 dias. Isso ainda diminui o valor com a mão de obra, os encargos e o transporte”, diz Cardoso.

Cardoso também tem dificuldades de expandir o quadro de funcionários devido à escassez de trabalhadores preparados para atuar com as novas tecnologias de construção mais industrializada. “Querendo ou não, a falta de qualificação afeta muito o mercado. A construção civil ainda é um mercado muito decadente. Mas é um setor que sempre vai existir e precisamos de gente, mesmo que a inovação permita fazer o mesmo com menos pessoas.”

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 16/08/2024

Líder mundial na produção de aço, China alerta para crise ‘grave’

 Queda de 9% da produção chinesa em julho foi mais acentuada do que o esperado, diz analista As siderúrgicas chinesas cortaram a produção de aço em julho, numa reação à fraca demanda pela commodity. A redução foi de 9% tanto na comparação com junho como na base anual. De acordo com dados divulgados na quinta-feira (15) pelo departamento de estatísticas da China, saíram dos altos-fornos no mês passado apenas 82,9 milhões de toneladas, a mais fraca marca deste ano.

"A produção geralmente cai no verão [setentrional], mas a queda de julho foi mais acentuada do que o esperado", disse Xu Xiangchun, analista da Mysteel Global, que espera mais cortes neste mês. “O ânimo do mercado está realmente retraído”, disse. A produção total dos sete primeiros meses atingiu 613,7 milhões de toneladas - um recuo de 2,2% em relação ao ritmo de 2023.

O pessimismo é compartilhado pelo maior produtor de aço do mundo, que soou o alarme sobre uma crise na China que tem o potencial de provocar ondas de choque em todo o mundo e alertou para uma desaceleração mais profunda do setor do que os grandes traumas de 2008 e 2015. O presidente do grupo China Baowu Steel, Hu Wangming, disse a seus funcionários na reunião semestral da empresa que as condições no país asiático são como um “inverno rigoroso”, que será “mais longo, mais frio e mais difícil de suportar do que esperávamos”.

Os investidores internacionais estão focados nas dificuldades da economia da China, embora também cogitem a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, em que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) caminha para cortes nas taxas de juro. No caso das commodities, que incluem o aço, o alerta do Baowu ressalta os riscos para a demanda e os preços, assim como para o que a ArcelorMittal, a segunda maior empresa do setor, chamou de um aumento “agressivo” das exportações da China.

O mercado de aço da China - que é de longe o maior do mundo - tem emitido muitos sinais de alerta, enquanto a retração prolongada do setor imobiliário local não dá indicações de terminar e a atividade fabril se mantém contida. O Baowu sozinho produz cerca de 7% do aço do mundo, e seus comentários são acompanhados com atenção para medir o clima do mercado no país asiático.

A dura mensagem de Hu provavelmente será uma preocupação para rivais por toda a Ásia, a Europa e a América do Norte, enquanto eles lidam com uma nova onda de exportações chinesas, muitas vezes pressionando pela adoção de medidas comerciais. As remessas da China estão no rumo de chegar a cerca de 100 milhões de toneladas este ano, o maior volume desde 2016, enquanto os produtores locais lutam para compensar a desaceleração interna.

No início do mês, a ArcelorMittal informou que o aumento das exportações da China deixou o mercado mundial em condição “insustentável”.

A gigante siderúrgica alemã ThyssenKrupp ressaltou os desafios do setor na quarta-feira (14), ao registrar uma grande queda nos ganhos. Os novos pedidos da companhia recuaram quase 11% no segundo trimestre deste ano, e a siderúrgica informou que a fraca demanda que está pressionando as vendas deverá continuar enquanto clientes dos setores automotivo, de máquinas e de construção perdem impulso. A empresa já reduziu suas perspectivas para o ano três vezes nos últimos meses.

"Os departamentos financeiros devem prestar mais atenção à segurança do custeio da empresa”
— Baowu Steel

A ThyssenKrupp, com prejuízo líquido de € 33 milhões (R$ 198,23 milhões) no último trimestre, avalia que o mercado não deve se estabilizar no curto prazo devido à demanda persistentemente fraca e aos altos custos de energia e planeja cortar 400 vagas em uma unidade de produção na Alemanha. Em abril, a companhia anunciou que planeja reduzir a sua capacidade de produção em cerca de 20%, o que também deve incluir demissões de parte de seus 26 mil empregados naquele país.

Outras companhias do setor também estão fazendo ajustes. A alemã Kloeckner avança em seus planos de cortar 10% de sua força de trabalho na Europa. Segundo a agência Reuters, na quinta-feira (15), o governo britânico decidiu destinar 13,5 milhões de libras (R$ 94,6 milhões) para ajudar trabalhadores da Tata Steel, que havia anunciado a demissão de 2.800 funcionários e o fechamento de fornos em suas operações no Reino Unido.

Os futuros de minério de ferro em Cingapura caíram até 3,4%, para US$ 95,20 (R$ 520) por tonelada, o menor nível desde maio do ano passado. A debandada nos mercados de aço foi ainda mais acentuada: em Xangai, os futuros de vergalhão caíram mais de 4%, para o nível mais barato desde 2017. A BHP, que obtém grande parte de suas receitas com a venda de minério de ferro para a China, teve uma queda de quase 3%.

O setor siderúrgico chinês sofreu quedas devastadoras durante a crise financeira mundial de 2008 e 2009 e de novo no período de 2015 a 2016. Nos dois casos, as crises só foram resolvidas por estímulos maciços - uma perspectiva que parece mais remota em 2024, já que o presidente Xi Jinping tenta reformular a economia.

O Baowu não ofereceu muito em termos de apontar as causas da retração atual, e preferiu se concentrar em como os funcionários devem responder a ela: preservando dinheiro e minimizando riscos.

“Os departamentos financeiros em todos os níveis devem prestar mais atenção à segurança do custeio da empresa”, explica o comunicado do grupo, que aponta a necessidade de fortalecer controles, inclusive sobre pagamentos em atraso e detecção de negociações falsas. “No processo de atravessar o longo e rigoroso inverno, o dinheiro é mais importante do que o lucro.”

Enquanto as usinas passam por dificuldades, os estoques de minério de ferro aumentam, ao mesmo tempo em que as barras de reforço, usadas na construção civil, estão mais baratas do que em qualquer outro momento desde 2017. Fabricar aço é cada vez menos lucrativo, o que põe as siderúrgicas sob pressão para cortar a produção. Enquanto isso, as exportações devem ultrapassar as 100 milhões de toneladas, o maior número desde 2016.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/08/2024