Entrevista com Gustavo Gusmão: Investimento privado em infraestrutura deve ganhar força em 2022
O Brasil possui gargalos históricos em infraestrutura e essa situação ainda deve permanecer por algum tempo, já que o país investe menos da metade do que seria necessário para o setor. Segundo estudos realizados na área, o país investe menos de 2% do PIB anual em infraestrutura, enquanto os especialistas afirmam que o ideal seria mais de 4%.
As consequências são sentidas pela população. Em áreas como saneamento, por exemplo, cerca de 11 mil pessoas morrem por ano, em média, por falta do serviço básico, segundo dados do Atlas do Saneamento, elaborado pelo IBGE.
Porém, o ano de 2022 deve ser promissor em áreas como saneamento básico, ferrovias e aeroportos. Além dos marcos regulatórios e leilões realizados pelo setor público em todas as esferas (federal, estaduais e municipais), as concessões e parcerias públicos-privadas (PPPs) devem alavancar os investimentos.
“A perspectiva é que o ano de 2022 seja um marco histórico de investimentos privados”, afirma Gustavo Gusmão, diretor-executivo para Setor Público e Infraestrutura da EY.
Em entrevista, Gusmão traça as perspectivas para a área de infraestrutura neste ano. Confira:
Qual a perspectiva para o setor de infraestrutura este ano?
Com o amadurecimento das concessões e parcerias público-privadas nos últimos anos, o cenário para 2022 é promissor e os investimentos privados em infraestrutura devem seguir uma trajetória de crescimento. Este ano, deveremos ver uma combinação de expansão da carteira de novos projetos bem como iremos testemunhar investimentos e serviços chegando na ponta, que é o usuário. Também é esperado o surgimento de novos entrantes nesse mercado e a diversificação de novos modelos de financiamento. Os projetos em nível municipal devem ganhar tração no próximo ano e há uma tendência de que as entregas de projetos estaduais e federais se concentrem mais no primeiro semestre, em função do calendário eleitoral.
Quais áreas da infraestrutura devem apresentar melhor desempenho este ano? O novo marco do saneamento e a Medida Provisória das ferrovias devem contribuir para aumentar o investimento?
Certamente. Além de investimentos em energia, esses dois setores, ferrovia e saneamento, foram apontados como os mais propensos para receberem investimentos nos próximos anos, segundo o Barômetro da Infraestrutura Brasileira, pesquisa semestral realizada pela EY e a ABDIB. Os marcos legais, com certeza, podem ser apontados como um dos principais direcionadores dessa tendência. Em especial, o saneamento deverá receber um montante de investimentos num ritmo nunca antes observado no histórico do país, que deverá ficar evidente em 2022.
O Brasil investe menos de 2% do PIB em infraestrutura. Os especialistas afirmam que o ideal seria mais de 4%. Quais as consequências dessa defasagem de investimentos para o desenvolvimento do Brasil?
As consequências são diversas. Desde a indisponibilidade de serviços essenciais, passando pela má qualidade na prestação de serviços de interesse público, até os altos custos que comprometem a competitividade do país. O país acaba perdendo o bonde do desenvolvimento econômico global e, consequentemente, também reduz sua capacidade para investir em políticas sociais.
Quais as expectativas em relação aos investimentos privados no setor? Que áreas devem receber mais atenção?
Os investimentos privados têm tido um forte protagonismo em relação ao setor de infraestrutura. Os recentes marcos regulatórios, notadamente nos setores de saneamento e ferrovias, abriram um caminho importante para alavancar projetos privados em setores onde havia, até então, uma percepção de alto risco jurídico-regulatório. Nesse contexto, a perspectiva é que este ano seja um marco histórico de investimentos privados. Devem receber montantes expressivos os setores de saneamento, rodovias, portos e aeroportos. Em volume de projetos, o setor de iluminação pública também deve se destacar.
O fato de ser um ano eleitoral pode comprometer os investimentos públicos e privados em infraestrutura?
É possível que alguns investimentos públicos possam sofrer algum tipo de postergação em função do período eleitoral. Mas, no que se refere aos privados, o histórico tem nos mostrado que não há um efeito paralisador em ano eleitoral. Em alguns casos há, inclusive, um esforço maior dos gestores públicos para acelerarem projetos que resultem em novos aportes. No entanto, após o período eleitoral, os primeiros meses das novas gestões podem representar risco de interrupção ou atraso de alguns projetos contratados na administração anterior. Quanto mais colaborativa for a transição entre governos, menor será o risco de descontinuidade em infraestrutura.
Fonte: Diário do Comércio
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 13/01/2022