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Grandes empresas da siderurgia e da mineração adotam agenda ESG, aponta pesquisa

A maior parte das grandes empresas do setor minerometalúrgico e de materiais dispõe de programas para implementar os parâmetros ESG (ambientais, sociais e de governança) em suas organizações, tendo como prioridade central assegurar o respeito à legislação, reduzir os riscos e melhorar a imagem institucional, mostrou uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração - ABM.

O levantamento foi apresentado no Fórum de Líderes, evento que reuniu dirigentes de algumas das principais companhias do setor para discutir a adoção da agenda ESG no dia 7, como parte da 6ª edição da ABM WEEK. 

A pesquisa foi produzida em abril de 2022 pela Associação e incluiu respostas de nove empresas. A maior parte das perguntas feitas a elas seguiu o modelo de uma investigação feita em setembro de 2021 pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) junto a 79 companhias de diferentes segmentos.

O levantamento da ABM mostrou que 89% das companhias ouvidas têm programas ou ações relacionadas à aplicação dos princípios ESG. A maior parte delas têm uma estrutura formal para trabalhar com o assunto – e 22% delas têm uma equipe específica para monitorar e gerir cada um dos fatores ESG. Na pesquisa da Aberje, o índice foi de 9%, o que aponta que o setor minerometalúrgico e de materiais já avançou mais na implementação da agenda.

Todas as empresas respondentes indicaram como metas prioritárias, no que diz respeito ao aspecto da governança, reduzir os riscos para o negócio (para a Aberje, o índice foi de 62%), assegurar a observância da legislação (54% para a Aberje) e melhorar a reputação da companhia (57% para a Aberje).

O estudo da ABM também demonstrou que boa parte das companhias determinaram métricas e metas relacionadas a reduzir o uso geral de água pela organização (78%, contra 30% dos respondentes à Aberje) e a reduzir as emissões de gases que geram efeito estufa (66%, contra 51% para a Aberje).

Para 66% das companhias do setor, os principais desafios à implementação da agenda ESG são a dificuldade em medir o desempenho e quantificar benefícios e a falta de mecanismos de monitoramento transparentes e eficazes.

As empresas que participaram do Fórum de Líderes têm avançado na adoção dos princípios ESG ao longo dos últimos anos.

Na Gerdau, o processo começou a se intensificar em 2014, conforme explicou Cenira de Moura Nunes, gerente geral de meio ambiente da Gerdau. “Enxergamos uma mudança cultural a partir daquele ano, de modo que a empresa pudesse ser mais diversa, mais inclusiva e mais ágil. Preparamos a nossa empresa para que ela pudesse absorver os conceitos de sustentabilidade, um valor maior que o valor financeiro para a organização”, ela afirmou.

A Novelis, líder mundial em reciclagem, “tem contribuído desde os primórdios com a estrutura de reciclagem no país, por meio dos centros de coleta e com um trabalho muito próximo as cooperativas”, explicou Francisco Pires, presidente da Novelis América do Sul. “Reciclamos 21 milhões de latas por ano. Nossa empresa nasceu nesse modelo de sustentabilidade e ano passado assumimos desafios importantes, como reduzir em 30% emissões até 2026 e totalmente em 2050”.

A ArcelorMittal aderiu a certificações que estabelecem princípios concretos que devem ser seguidos para que suas operações sejam consideradas sustentáveis, explicou Guilherme Correa Abreu, gerente geral de Sustentabilidade da ArcelorMittal. “Sem mensurar ESG, não é possível entendê-lo”.

Ricardo Fonseca de Mendonça Lima, vice-presidente da CBMM, ressaltou o histórico de responsabilidade social na companhia, que instalou operações em Araxá (MG) há 60 anos, investindo na capacitação da comunidade envolvente. “Levamos educação aos filhos dos colaboradores. Com o tempo, foi possível ver a ascensão profissional deles”, declarou.

O conceito de licença social, desenvolvido pela Ternium Brasil, emergiu justamente por causa da necessidade de assegurar a sustentabilidade social do negócio, explicou Titus Friedrich Schaar, COO da empresa. O progresso na implantação dos princípios ESG só será possível se o setor admitir seu atual impacto, ele argumentou. “Nossa indústria responde por mais ou menos 10% das emissões no mundo. Isso é muito. É preciso reconhecer isso antes de tudo”, disse.

A consultora Vânia Lúcia de Lima Andrade, conselheira da ABM e coordenadora do Fórum de Líderes, ressaltou que as empresas do setor – e até mesmo os consumidores – precisam saber se estão “dispostos a pagar mais por um produto produzido corretamente e dentro dos padrões ESG”.

“Precisamos ser coerentes para conseguir a licença social de que precisamos”, ela pontuou.

Vânia questionou os participantes do Fórum sobre qual deveria ser o papel da ABM na promoção da agenda ESG no setor. Eles foram unânimes em afirmar que a Associação deve atuar na difusão de boas práticas e exemplos.

“Somente com o exemplo a gente poderá promover a agenda ESG. A ABM pode desempenhar o papel de difundir bons exemplos de sustentabilidade, já que ela tem um arcabouço imenso de matéria prima [de conhecimento]”, sugeriu Guilherme Abreu, da ArcelorMittal. 

Fonte: CIMM
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/06/2022

Minério de ferro cai após alta de preços pressionar margens de siderúrgicas chinesas

Os contratos futuros de minério de ferro de referência na Ásia caíram nesta quarta-feira, com o sentimento do mercado afetado pela redução da lucratividade nas siderúrgicas chinesas após uma recente alta nos preços dos ingredientes siderúrgicos.

O minério de ferro mais negociado para entrega em setembro na Dalian Commodity Exchange da China encerrou as negociações diurnas em queda de 0,5%, a 926,50 iuanes (138,85 dólares) a tonelada.

Na Bolsa de Cingapura, o contrato de minério de ferro mais ativo de julho caiu 0,2%, para 144,30 dólares a tonelada.

Um rali de preços que começou no final de maio levou o minério de ferro na bolsa de Dalian a uma alta de 10 meses na segunda-feira, enquanto o contrato SGX atingiu seu maior nível em quase cinco semanas na terça-feira, sustentado pelo otimismo renovado em torno da demanda na China, maior produtora de aço do mundo.

Preocupações com a redução dos estoques de minério de ferro importado nos portos chineses adicionaram combustível a esse rali.

Mas o minério de ferro e outros insumos siderúrgicos mais caros significam lucros reduzidos para as siderúrgicas, que ainda não viram uma recuperação significativa da demanda por aço, mesmo com a China aliviando as restrições contra a Covid-19.

O preço spot do minério de ferro para o material de referência com teor de 62% na China atingiu 147,50 dólares a tonelada nesta quarta-feira, segundo a consultoria SteelHome.

Fonte: Reuters
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 08/06/2022

Mercado de aço perde força desde abril e siderúrgicas seguram parte do reajustes de preços

O mercado brasileiro de aço mostra fortes sinais de desaceleração desde abril, e a perspectiva não é muito promissora para os próximos meses. O cenário é de um mercado bastante morno.

As vendas no segmento de distribuição de aços planos — um termômetro importante de avaliação da demanda — tiveram queda de 11,8% em abril, na comparação anual, e de 27,7% contra o mês anterior (março deste ano), segundo números do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).

A previsão para maio das empresas da rede, compiladas pelo Inda, era de retração de 5%, mas esse índice já foi reavaliado para cima no fim do mês. “A projeção é que ficará bem acima de 5%”, disse um executivo do setor. No quadrimestre, as vendas fecharam com uma queda de 1,6%.

Um forte sinal foi o decréscimo de quase 28% nas compras da rede em abril junto às siderúrgicas. Assim, conseguiram estabilizar os estoques em 2,5 meses de vendas, um patamar saudável.

Com esse desaquecimento doméstico, aliado a um recuo dos preços do aço no mercado externo, as siderúrgicas que atuam no país decidiram rever o reajuste de 20% anunciado em abril e aplicado em duas parcelas. As empresas, segundo informação obtida pelo Valor, congelaram a segunda parcela, que era de 5% a 8%.

Os preços cederam muito lá fora, explicou uma fonte, com a placa caindo cerca de US$ 200 a tonelada, para o patamar de US$ 750 a US$ 770 a tonelada. Na China, o valor da bobina a quente (BQ), material de referência, segundo informação da S&P Global Commodity Insights na sexta-feira (dia 27), estava em US$ 743 a tonelada.

Dessa forma, o prêmio do produto brasileiro frente ao importado, já internalizado, vinha variando entre 25% e 30%. No caso especifico da BQ, com o câmbio de R$ 4,74% no dia 27, o cálculo do prêmio atingia 35,2%. Isso favorece as importações, mas há receios com a volatilidade do câmbio no país e com a logística travada na China por causa da covid — o material tem demorado até 180 dias para desembarcar no país.

Os números de todo o setor, divulgados pelo Instituto Aço Brasil, corroboram esse comportamento do mercado. As vendas internas, somando aço plano e longo, registraram recuo de 8,7% em abril, na base anual, e de 15,2% no quadrimestre, ante mesmo período de 2021. Sobre março, a queda foi de 4,9%.

“Houve uma acomodação de demanda depois da euforia vista até julho de 2021. O mercado ficou superabastecido com grande entrada de importações até o início do ano”, disse um executivo da área de aço longo. “Agora, o mercado está encharcado de aço”, afirma.

Conforme o Aço Brasil, o consumo aparente de produtos siderúrgicos em abril — último dado disponível — ficou 5,3% abaixo do verificado em março. Na comparação com abril do ano passado, o recuo foi de 10,4%. E de janeiro a abril, retração de 14,2%.

A desaceleração se verifica tanto em aços planos — usados pela indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, bens eletrodomésticos e bens de capital — quanto em aços longos, que têm grande aplicação nos setores da construção civil e industrial.

Esse cenário de menor demanda interna, somado aos problemas causados globalmente pela guerra da Rússia na Ucrânia e pelos lockdowns da China, levou as empresas locais a intensificar exportações. Os embarques de abril tiveram alta de 58,3% em volume — 1,2 milhão de toneladas de laminados planos e longos mais semiacabados (placas e tarugos).

Por sua vez, as importações recuaram 37,4% em volume no mês. De janeiro a abril, a queda foi de 25,2%.


Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/06/2022

Venda interna de máquinas agrícolas sobe 36,6% até abril

A venda interna de máquinas agrícolas cresceu 35,13% em abril na comparação com igual mês do ano passado, apontam dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), divulgados nesta quinta-feira (2). Em relação a março, a alta foi de 28,42%. Já no acumulado do 1o. quadrimestre, o avanço é de 36,59%.

Segundo o presidente da entidade, José Maurício Andreta Júnior, o segmento se mantém impulsionado pelo crescimento da renda no campo, mas também encontra dificuldades na obtenção de peças e componentes.

“Além disso, o resultado de abril foi influenciado pela espera na liberação de recursos para aquisição de equipamentos agrícolas, de programas governamentais, como o Plano Safra 22.”

A Fenabrave esclarece que por não serem emplacados, tratores e máquinas agrícolas apresentam dados com um mês de defasagem, pois dependem de levantamentos junto aos fabricantes.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Máquinas & Agro
Publicação: 06/06/2022

Indique para um amigo do mercado

PIB do 1º tri fica 1,6% acima do 4º tri de 2019, período pré-pandemia

 Segundo o IBGE, a atividade econômica do Brasil avançou 1% no primeiro trimestre de 2022 sobre o trimestre anterior, mais está 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, no primeiro trimestre de 2014 O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do primeiro trimestre de 2022 ficou 1,6% acima do patamar do quarto trimestre de 2019, ou seja, período anterior à pandemia, que começou em março de 2020, informou, nesta quinta-feira (02), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao quarto trimestre de 2021, houve alta de 1% no PIB. Sobre o acumulado dos três primeiros meses do ano passado, o avanço foi de 1,7%.

O IBGE informou, em comunicado, que mesmo com a alta sobre o período pré-pandemia, a atividade ainda está 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, registrado no primeiro trimestre de 2014. O nível da atividade está próximo do registrado no primeiro trimestre de 2015.

Rebeca Palis, chefe do Departamento de Contas Nacionais do IBGE, informou, no comunicado, que na comparação com o quarto trimestre de 2021, o consumo das famílias cresceu 0,7% no primeiro trimestre de 2022, enquanto o consumo do governo ficou estável (0,1%). “No consumo das famílias, a demanda também está relacionada aos serviços que são principalmente feitos de forma presencial, como as atividades ligadas a viagens”, disse.

Já os investimentos, representados pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caíram 3,5%, na mesma comparação, pontuou ela. “Essa queda foi impactada pela diminuição na produção e importação de bens de capital, apesar de a construção ter crescido no período”, explicou.

No primeiro trimestre, a taxa de investimento foi de 18,7% do PIB, abaixo da registrada no mesmo período do ano passado (19,7%).

A especialista destacou o recuo de 0,9% no PIB da agropecuária no primeiro trimestre, ante o quarto trimestre de 2021. “Essa queda foi impactada principalmente pela estiagem no Sul, que causou a diminuição na estimativa da produção de soja, a maior cultura da lavoura brasileira.”

Já no PIB da indústria, houve estabilidade (0,1%), na mesma comparação. Segundo o IBGE, o maior avanço nas atividades industriais veio de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,6%). A única queda foi das indústrias extrativas (-3,4%).

“Essa atividade puxou o resultado para baixo, e sua queda se deve especialmente à produção de minério de ferro, que caiu bastante. Como a indústria da transformação teve alta [1,4%] e tem bastante peso no grupo, isso equilibrou o resultado da indústria”, explicou a economista, no comunicado.

Pré-crise de 2015-2016

A atividade econômica no primeiro trimestre de 2022 mostra ter se recuperado da retração observada durante os anos de pandemia, iniciada em 2020, mas não superou ainda o patamar anterior à crise observada na economia brasileira nos anos de 2015 e 2016, analisou Rebeca. Ela destacou a economia brasileira encontra-se, de maneira geral, no nível de metade de 2013.

Tanto Rebeca quanto Claudia Dionisio, economista do IBGE, informaram que, no primeiro trimestre, a economia brasileira seguiu avançando acima do patamar pré-pandemia.

No quarto trimestre, o PIB encontrava-se 0,6% acima do patamar registrado em 2019, ou seja, no pré-pandemia, afirmou Claudia.

A recuperação da economia de serviços foi fundamental para esse desempenho, afirmou Rebeca. Ela lembrou que esse setor, esse ano, começou a recuperar perdas ocorridas durante a pandemia, quando as restrições de circulação social afetaram principalmente as atividades presenciais, que existem em sua maioria em serviços - como bares, restaurantes e viagens. "O crescimento [da economia] se deu basicamente por serviços."

Rebeca notou que essa atividade perdeu peso durante a pandemia, mas frisou que ainda representa em torno de 70% do PIB brasileiro. Portanto, qualquer melhora nesse campo, ajuda a elevar a economia, notou ela.

A especialista comentou que o bom momento de serviços foi observado em um período, no primeiro trimestre, de resultados ruins em agropecuária, por exemplo, que terminou os três primeiros meses do ano com saldo negativo, prejudicado por safra ruim afetada por problemas climáticos.

Por outro lado, Claudia informou que, mesmo com recuos, alguns segmentos dentro da economia ainda se posicionam acima de patamar pré-pandemia. É o caso de informação e telecomunicação, cuja atividade caiu 5,3% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre - mas, mesmo assim, ainda está 11,7% acima do patamar observado no quarto trimestre de 2019, informou Claudia.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 03/06/2022

 

Cultura é a base para a transformação verde da construção civil

A transição de um ambiente para um novo, fundado em paradigmas até então desconhecidos, causa o desconforto e a resistência que podem caracterizar o chamado choque cultural. No processo de transformação do setor da construção civil imobiliária rumo a um ecossistema sustentável, não é diferente. O setor é formado por 125 mil empresas registradas na categoria construção civil e, segundo o Secovi, o sindicato da habitação, 85% são de pequeno e médio porte – incluindo aí aquelas de gestão familiar, que podem ser menos permeáveis a novas práticas, capazes de criarem uma cultura ESG na própria companhia.

“Criar cultura é muito difícil. Eu sou diretora fundadora da empresa, conheço cada molécula desta empresa, sei exatamente para onde ir, e o que tenho de fazer para chegar lá. Mas como que eu passo isso para um gerente, que passa para o coordenador, que passa para o supervisor, que passa para todo mundo? Essa é a maior barreira que temos a vencer”, afirma Paula Jansen, diretora de projetos, produtos, inovação e estudos de viabilidade técnica na ADN Construtora e Incorporadora, de São Carlos (SP). Fundada há 10 anos, tem como principal mercado imóveis que se enquadram no programa Casa Verde Amarela. A empresa não tem gestão familiar.

Para enfrentar a questão, a construtora faz campanhas de conscientização e adota medidas, inclusive sociais, procurando mostrar com ações uma mudança cultural interna. "Se a pessoa chega para trabalhar e encontra uma biblioteca com cara de jardim no meio da empresa, isso é muito legal.O impacto é relativamente pequeno, mas ajuda na cultura. Utilizando esses pequenos projetos, ninguém tem de falar, de palestrar, mas a pessoa vai percebendo as mudanças, vai vendo que coisas estão diferentes”, diz Janssen.

A ADN contratou uma consultoria para ter suporte e mais conhecimentos para a jornada ESG, inclusive na questão cultural. Até o meio do ano, terá montado três comitês, ambiental, social e de governança, também criou um time formado por pessoas de diferentes níveis e formações sociais para ajudar a transmitir para os seus 3 mil colaboradores em que ponto está em termos de cultura de sustentabilidade e onde quer chegar.

Um fator de resistência à adesão a práticas ESG por parte de muitos empresários reside na ideia de que a adoção significa um gasto a mais nas planilhas da companhia. “A pessoa pensa que custa muito caro fazer sustentabilidade, mas considero mais caro não ter, porque com ESG a tendência é haver mais produtividade”, diz Roberta Bigucci, diretora administrativa da MBigucci, fundada em 1983 em São Bernardo do Campo. “Quando se começa a reorganizar a empresa, remodelando procedimentos e ações, também está cuidando do G. E isso vai trazer benefícios, inclusive financeiros, e já está indo para o S, pois vai trazer satisfação pessoal para as pessoas da organização, do entorno, da vizinhança”, argumenta.

Bigucci defende que a primeira coisa que uma empresa deve fazer, quando se trata da adoção de práticas ESG, é olhar para dentro, porque muitas vezes a companhia já utiliza alguns métodos que podem ser considerados sustentáveis, da coleta de lixo reciclável, à redução de resíduos e reaproveitamento de material. Claro, ESG é muito mais do que ter alguns processos sustentáveis – requer um projeto fortemente estruturado, com metas e transparência –, mas essa proposta ajuda a quebrar resistências. “Às vezes, alguns procedimentos estão tão enraizados, que não se percebe que eles podem ser um diferencial. Então tem de olhar para dentro”, afirma a diretora.

Ter os líderes na mesma página, puxando a agenda, ao que tudo indica, faz a diferença para criar uma cultura pró-ESG. “Eu não era nem CEO da companhia quando contratamos uma consultoria para falar com todos os executivos para explicar o que precisávamos mudar”, conta Eduardo Fischer, que assumiu como co-presidente da MRV ao lado de Rafael Menin em 2014. “Olhando para trás, percebo que os executivos e os colaboradores estão mais maduros em relação ao tema. Se antes era um tabu discutir se faríamos um trainee intencional para contratar pessoas negras, se isso seria discriminação ou não, hoje já não é. Outros temas assim também discutiremos e serão cada vez mais parte do nosso normal”, pontua.

A dica aqui é mais simples do que parece: “É começar um pé na frente do outro e ir mobilizando mais gente para ter mais pessoas que empurram do que seguram”, diz Fisher. “E vá sem medo, entenda que corrigir rotas faz parte e às vezes terá que voltar alguns passos para trás, sem ficar preocupado demais”, completa Fischer. “Ter um órgão de governança relevante focado nisso ajuda a permear as iniciativas nas companhias, afinal, sem G não temos E e S”, acrescenta o consultor Lincoln Camarini, da Resultante, que acompanha a evolução do ESG em 11 setores, incluindo o construção civil.

No processo de transformação, até mesmo o método construtivo pode entrar em discussão. Atualmente, a construção modular é avaliada como uma forma de reduzir a produção de resíduos e ganhar celeridade nas obras. Por esse processo, as paredes já chegam prontas à construção, com toda a fiação, tomadas, pontos para acender a luz e espaço para instalação de portas, se for o caso, instaladas. É só ‘encaixar’ e fazer as conexões. “É um processo de industrialização da construção civil, boa parte da obra ocorre dentro de um parque fabril”, diz Ricardo Mateus, CEO da Brasil ao Cubo, de Santa Catarina, que adota esse processo em seus projetos.

Matheus Picceli, CFO da empresa, afirma que, por ser um processo controlado, dentro de um ambiente fabril, as rotinas são muito bem definidas. “Não temos o desperdício que existe na obra. Até a questão de retrabalho, de erro do profissional, é extremamente reduzida. Conduíte, fiação, é quase desperdício zero, porque é um time muito especializado que está dentro da fábrica, há controle de qualidade muito forte e também de segurança do trabalhador”, diz.

Esse modelo construtivo, no entanto, enfrenta obstáculos, ainda é caro, de acordo com Paula Janssen, da ADN. “O método off site ainda não é rentável”, afirma a executiva. “O que percebemos que é muito valorizado por nossos clientes são o prazo, a velocidade e a segurança. Ao conseguir entregar uma obra até quatro vezes mais rápido em relação ao método tradicional, os nossos clientes já conseguem usufruir do empreendimento. A geração de receita é expressiva”, declara Picceli. Ele acrescenta que a emissão de carbono de uma obra é aproximadamente 23% menor daquela que adota o que uma obra convencional.

Nesse sentido, a ADN iniciou o inventário de sua pegada de carbono. “Já estamos com esse trabalho, começamos a mapear, estudar formas de compensação. O próprio plantio de árvores já está um para um: cada apartamento feito, plantamos uma árvore”, conta Janssen. Ela diz que até o fim do ano deverá ter os resultados desse processo.

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 03/06/2022