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Taxação de produtos siderúrgicos pelos EUA pode reduzir preço do aço no Brasil

O Brasil será um dos países mais afetados pelas tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio. 

Em 2024, o Brasil vendeu US$ 11,4 bilhões no setor de ferro e aço para o mundo, sendo 48% desse valor apenas para os Estados Unidos, de acordo com a Câmara de Comércio Brasil EUA.

O que aconteceu?

A possível tarifação extra deve diminuir as exportações do Brasil, de acordo com especialistas. "A competitividade do nosso aço dentro do mercado norte-americano pode cair substancialmente, levando a reduções no volume exportado." diz Bruno Lessa Meireles, professor dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Brasil.

Brasil pode ter que buscar novos compradores, ou aumentar a oferta interna. Apesar da grande representativa das exportações de aço brasileiro aos EUA, hoje o setor já exporta para mais de 100 países. Para Meireles, agora seria a chance de o país expandir esse alcance. "Essa diversificação, no entanto, não é imediata ou simples, pois exige readequação logística, prospecção de novos compradores e adaptação às exigências técnicas de outros mercados", explica o professor.

O provável anúncio de Trump acontece em um momento considerado bom para o setor nacional. Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos, com uma média mensal de 312.239,34 toneladas métricas importadas para consumo doméstico.

País ficou atrás apenas do Canadá. O vizinho norte-americano liderou as exportações para os EUA, com 456.271,11 toneladas métricas mensais. Os dados são do International Trade Administration, que reúne dados de comércio em todo o mundo.

Como fica a indústria interna de aço?

O que não for exportado, tende a ficar com os preços estáveis ou mais baixos. "Uma maior oferta interna levará a um ajuste nos valores praticados no mercado doméstico, sobretudo em segmentos como construção civil, linha branca e automobilístico", diz Bruno Lessa Meireles.

O problema é que, em um segundo momento, o dólar pode deixar o aço mais caro. Vendendo pouco metal para o exterior, entram menos dólares no Brasil, o que pode levar a um aumento da cotação da moeda americana. "Se o real se desvalorizar significativamente, as usinas poderiam também enfrentar elevação de custo em insumos dolarizados, compensando eventuais ganhos de disponibilidade de oferta", comenta o especialista.

Compradores e vendedores vão sair perdendo. A professora de economia do Insper Juliana Inhasz acredita que, assim que começarem a ter problemas de caixa, as indústrias de aço reduzirão investimentos e vão empregar menos, prejudicando todo o setor. "Qualquer tipo de tarifa contribui negativamente para todos os lados. Piora a condição lá de quem antes estava comprando, e não necessariamente gera incentivos à indústria doméstica, e dificulta a situação de quem estava vendendo: todo mundo sai perdendo.

Fonte: UOL
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 11/02/2025

 

Trump já tentou taxar aço e alumínio do Brasil no passado; veja histórico

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump impõe tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para o país. A decisão impacta diretamente o Brasil, que é o segundo maior fornecedor de aço aos EUA, com 14,9% do mercado em 2024.

Embora a taxação represente um risco significativo para a indústria siderúrgica brasileira, essa não é a primeira vez que Trump adota medidas protecionistas contra o aço e o alumínio importados. Durante seu primeiro mandato, ele implementou tarifas e cotas que foram sendo ajustadas ao longo dos anos. Relembre as ocasiões.

Primeira investida em 2018

As primeiras restrições à importação de aço ocorreram em março de 2018, quando Trump anunciou tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, sob o argumento de que as importações ameaçavam a segurança nacional americana. A medida gerou forte reação de países exportadores, incluindo o Brasil, que iniciou negociações para amenizar os impactos.

Recuo pouco depois

Ainda em 2018, após pressão do setor industrial e diplomacia brasileira, os EUA excluíram o Brasil das tarifas diretas, mas impuseram um sistema de cotas. Para produtos semiacabados de aço, o Brasil poderia exportar até o volume médio registrado entre 2015 e 2017. Já para produtos acabados, o teto estabelecido foi 30% inferior à média do mesmo período.

Novo embate em 2019

As cotas permaneceram em vigor até dezembro de 2019, quando Trump voltou a acusar o Brasil de desvalorizar sua moeda intencionalmente para favorecer as exportações e ameaçou restaurar as tarifas. O então presidente Jair Bolsonaro interveio, e um acordo foi fechado para que as cotas fossem mantidas.

Endurecimento em 2020

No entanto, em agosto de 2020, Trump endureceu novamente as restrições, reduzindo as cotas de exportação para os produtos brasileiros em 80%. Além disso, em outubro do mesmo ano, elevou as tarifas sobre as chapas de alumínio brasileiras de 15% para 145%, sob alegação de que os preços praticados pelo Brasil prejudicavam a concorrência americana.

Tarifas revogadas em 2022

Somente em julho de 2022, sob o governo de Joe Biden, os EUA revogaram as medidas restritivas que ainda estavam em vigor.

Impacto das tarifas nos EUA

As tentativas de Trump de proteger a indústria siderúrgica americana não tiveram os efeitos esperados no passado. Um estudo citado pelo Council of Foreign Relations aponta que, após a imposição das tarifas em 2018, a indústria do aço criou apenas 1.000 novos empregos nos EUA, enquanto o aumento no custo dos insumos levou à perda de 75.000 vagas em setores que utilizam aço e alumínio, como o de automóveis e construção civil.

Além disso, as tarifas podem levar a retaliações de parceiros comerciais. No passado, países afetados adotaram contramedidas que atingiram especialmente os exportadores agrícolas americanos, setor que tem forte peso político nos EUA.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 11/02/2025

 

Hong Kong apresentará queixa à OMC sobre tarifas dos EUA, diz autoridade

Hong Kong registrará uma queixa sobre as tarifas recentes impostas pelos EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que os EUA ignoraram completamente o status da região como um território alfandegário separado, disse o secretário-chefe Eric Chan nesta terça-feira (11).

“Isso é absolutamente inconsistente com as regras da OMC. Claro, eles desconsideraram totalmente que Hong Kong é um território alfandegário separado”, disse Chan, o segundo funcionário da região governada pela China, aos repórteres.

“Entraremos com uma queixa na OMC sobre esse arranjo irracional”, acrescentou sem dar detalhes.

Chan estava respondendo a uma decisão dos EUA de impor tarifas de 10% sobre produtos do centro financeiro asiático, já que Donald Trump tem como alvo as importações chinesas.

O Serviço Postal dos EUA suspendeu na última semana todas as correspondências e pacotes recebidos da China e Hong Kong, e reverteu essa decisão logo depois.

A decisão de parar de aceitar encomendas da China e de Hong Kong causou caos e confusão entre varejistas e empresas de remessa expressa sobre como lidar com as tarifas dos Estados Unidos.

“Tudo o que posso dizer é que as políticas são inconstantes”, disse Chan.

A decisão de Trump também incluiu o fechamento da isenção de imposto “de minimis” para pacotes avaliados em menos de US$ 800, com o objetivo declarado de interromper o fluxo de fentanil e precursores químicos para os EUA.

Hong Kong é conhecida há muito tempo como um centro comercial livre e aberto, mas a imposição da China de uma lei abrangente de segurança nacional em 2020 atraiu críticas dos EUA e levou-a a encerrar o status especial da ex-colônia britânica sob a lei americana, aumentando as tensões entre a China e Estados Unidos.

Os EUA posteriormente estipularam que os produtos feitos em Hong Kong para exportação precisavam ser rotulados como feitos na China, encerrando uma das vantagens competitivas de longa data de Hong Kong como um centro comercial.

Fonte: CNN
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 11/02/2025

 

Brasil e EUA têm relação comercial antiga que envolve petróleo, aço e avião

O principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos é petróleo bruto, seguido por ferro e aço. Na outra ponta, o Brasil importa dos americanos principalmente motores e máquinas e combustíveis. Esses setores podem ser afetados por uma onda de tarifas de Donald Trump contra o Brasil. O setor privado brasileiro e o governo Lula se preparam para esse cenário. Entenda a relação comercial entre os dois países e o que está em disputa.

Comércio entre Brasil e EUA

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país teve uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,5 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro.

Relação comercial com os EUA cresceu no último ano. Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos tiveram um crescimento expressivo de 9,2%. Já as importações cresceram 6,9%. Os Estados Unidos ficam atrás apenas da China, que é de longe o principal parceiro do Brasil, de onde importamos US$ 94,4 bilhões em 2024.

Brasil está em 18º lugar dentre os exportadores para os Estados Unidos. A importância do Brasil para os Estados Unidos é bem menor. O país foi o nono maior importador de produtos americanos em 2024 (até novembro), segundo dados do governo americano. Entre os exportadores, o Brasil cai para 18º lugar, atrás de países como Singapura, Malásia, Vietnã e Tailândia.

Brasil exporta petróleo bruto e importa máquinas. O principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos é petróleo bruto (14% das exportações em 2024). Seguido por produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café não torrado (4,7%). Na outra ponta, o Brasil importou dos americanos principalmente motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e suas partes (4,9%) e gás natural (4,1%).

Investimentos e turismo

Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro no Brasil. Em 2022, os americanos respondiam por quase 30% do total de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, com um estoque de mais de US$ 228 bilhões. Já em 2023 o número de investimentos de empresas americanas anunciados no Brasil foi 50% maior que o anunciado em 2022, o que mostra que o interesse dos americanos no país vem crescendo. Os principais focos de investimento são tecnologia e economia verde. Os dados são de um estudo da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Brasil é o quinto país que mais envia turistas aos Estados Unidos. O Brasil enviou 1,5 milhão de turistas aos Estados Unidos em 2024 (dados até outubro). Com isso, é o quinto país de outro continente que mais enviou turistas aos EUA, segundo dados do governo americano. A conta não inclui Canadá e México. O Brasil fica atrás de Reino Unido, Índia, Alemanha e Japão.

Estados Unidos são o segundo país que mais envia turistas ao Brasil. Ainda assim, o número absoluto é um terço do número de brasileiros que visitaram os EUA. Até outubro de 2024, cerca de 572 mil americanos visitaram o Brasil, o que coloca o país em segundo lugar dentre os que mais enviaram turistas ao Brasil em 2024. O primeiro lugar fica com a Argentina, que enviou mais de 1,5 milhão de visitantes ao Brasil no ano passado.

Relação antiga

Economia americana é de longe a maior do mundo. O PIB americano é de US$ 28 trilhões, enquanto o brasileiro é de US$ 2 trilhões. O dado evidencia a assimetria existente na relação entre Brasil e Estados Unidos, com maior peso para os americanos.

Brasil é um aliado histórico e tem papel importante para empresas americanas. Ainda que a economia americana seja gigantesca, o Brasil tem papel importante na cadeia de produção de empresas americanas, que fabricam partes de seus produtos aqui. Dentre os setores nos quais o Brasil atua estão a indústria automobilística e a de equipamentos eletrônicos.

Trump já ameaçou taxar produtos estratégicos vindos do Brasil, mas voltou atrás. Em seu primeiro mandato, Trump ameaçou aumentar a taxação do aço e do alumínio vindos do Brasil. Os produtos estão entre os principais itens da relação comercial entre os dois países. Após conversa com o então presidente Bolsonaro, o republicano voltou atrás.

Fonte: UOL
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 10/02/2025

 

Embraer, aço e real fraco: como o Brasil quase zerou o déficit comercial com os EUA

De cada US$ 10 que entram no Brasil como receita de exportação, US$ 4 vêm ou da China ou dos Estados Unidos. Os dois são os nossos maiores parceiros comerciais, e a China lidera com folga:

Mas ambos vivem hoje relações opostas com a nossa balança comercial. Enquanto a receita com as exportações para a China caiu 9,5% em 2024, por causa do preço menor das commodities e do mal momento da economia deles, o valor total vendido para os EUA subiu 9,2%. E isso ajudou o Brasil a registrar o menor déficit com os americanos em uma década.

Ainda é cedo para saber se 2025 vai ser diferente, especialmente num cenário turvado pelas batalhas tarifárias de Donald Trump.

Mas a base de comparação será a seguinte: entre janeiro e dezembro de 2024, importamos R$ 40,6 bilhões dos EUA e exportamos R$ 40,3 bilhões, uma diferença de US$ 253,3 milhões – ínfima para esse padrão de grandeza. Trata-se do menor déficit com eles em 10 anos.

O câmbio ajudou. Dólar alto é ruim para quem importa coisas, mas é bom para quem exporta. Se um exportador vendeu R$ 1 milhão em grãos para os EUA no final de 2023, com o dólar a R$ 4,84, o comprador lá fora pagou, em moeda americana, US$ 207 mil. A mesma venda de R$ 1 milhão um ano depois, com o câmbio a R$ 6,18, custou apenas US$ 162 mil ao cliente gringo – 22% a menos.

Ou seja: quanto mais sobe o dólar, mais competitivos ficam os produtos brasileiros lá fora – sem que o exportador precise baixar o preço em reais. Em 2024, mesmo os exportadores que aumentaram seus preços para acompanhar a inflação brasileira (4,8% no ano), ainda puderam cobrar bem menos em dólar. Ótimo para os negócios.

Esse fator não foi tão importante para o caso da China, já que o consumo arrefeceu por lá. Nos EUA, que mostraram uma economia pujante 2024 adentro, a história foi outra.

Os setores que mais trouxeram dinheiro foram os de petróleo, produtos siderúrgicos (como lingotes e chapas de aço), e aviões (incluindo peças de aeronaves).

Isso mostra uma diferença fundamental entre o comércio do Brasil com os EUA e com a China. E dá uma ideia do quão nocivo seria um tarifaço Trumpiano para nós.

Um conto de dois países

Na quarta-feira (5), a Embraer recebeu a maior encomenda de jatos executivos de sua história: 182 unidades, de três modelos diferentes. O pedido veio da americana Flexjet, uma empresa de fretamento de aeronaves, e inclui contratos de manutenção. No total, o negócio envolve US$ 7 bilhões.

Trata-se de algo emblemático. Apesar de a exportação de matéria prima para os EUA ter um papel relevante, a de produtos de alto valor agregado é bem forte. Com a China, a história é outra.

A agropecuária respondeu por 36% de todos bens vendidos para a China em 2024. Para os EUA, esse setor representou apenas 5,7%. O café é o único produto agro entre as nossas 10 maiores exportações para lá. A indústria de transformação, por outro lado, responde por 78,4% do total:

Com a China, como você vê aqui em cima, são apenas 19,5%. Nosso comércio com o Império do Meio é ao estilo do Brasil do século 16: vender matéria prima e comprar manufaturados. Vale lembrar: apesar do baixo valor agregado, é tanta matéria prima que temos um superávit com a China. Exportamos para eles US$ 30,8 bilhões a mais do que trazemos de lá.

Um caso representativo é o do minério de ferro, a matéria prima do aço. O aço é uma ‘commodity secundária’, que passou por alguma industrialização. O minério de ferro é, claro, o produto cru, menos nobre.

Para a China, mandamos 63% da nossa produção. Para os EUA, só 0,6%. Vai aqui em toneladas de minério de ferro, para visualizarmos melhor, com dados de 2024:

Para a China: 276 milhões de toneladas.

Para os EUA: 2,8 milhões de toneladas

Quando o assunto é aço, o produto semi-acabado, acontece o inverso*:

Para os EUA: 6,6 milhões de toneladas

Para a China: 36 mil toneladas

Isso acontece porque a China é um mamute siderúrgico. Produz um bilhão de toneladas por ano (53% da produção mundial). Os EUA, grosso modo, preferem fazer mais dinheiro com tecnologia de ponta do que com siderurgia. Logo, apesar de ter uma boa produção local, são grandes importadores. Bom para o Brasil, que é um dos três maiores fornecedores desse produto semi-acabado para os EUA – junto com o Canadá e México.

As exportações de aço responderam por US$ 3,5 bilhões de dólares; 8,8% do que exportamos para eles. É o nosso segundo maior produto de exportação para os EUA; atrás do petróleo (US$ 5,7 bi; 14,3%). Ainda assim, é um material básico. O impressionante mesmo é que algo nada básico, aviões e peças de aeronaves, ocupem o terceiro lugar.

Esse setor trouxe US$ 2,6 bilhões; 6,7% do total exportado para os Estados Unidos – por cortesia da Embraer, que tem seu maior mercado lá. Com ela, o Brasil ocupa a quarta posição entre os países que mais exportam aviões e peças aeronáuticas para os EUA – atrás apenas de Canadá, França e Alemanha (três países com fábricas da Airbus, a maior companhia do mundo da aviação).

E trata-se de uma operação em crescimento. De 2023 para 2024 o salto na receita foi de 36%. E os próximos anos prometem um bom voo de cruzeiro. As vendas só entram na conta de exportação quando as aeronaves são efetivamente entregues.

Vão levar uns bons anos até a Embraer finalizar a venda dos 182 jatinhos da Flexjet. E em 2024 ela recebeu um vultuosa encomenda de 90 aviões comerciais (bem mais caros que os executivos), da American Airlines. Uma garantia de bons bilhões de dólares aportando por aqui em 2025, 2026, 2027…

As commodities que nos perdoem, mas produtos de alto valor agregado são fundamentais. Eles dão à luz economias mais complexas, sólidas. Eles geram os melhores empregos, criam demanda por edução de ponta. Um ataque tarifário dos EUA que afetasse essa área, então, seria particularmente doloroso.

*Agradecimento: Roberto Gianetti da Fonseca, economista que ocupou os cargos de diretor internacional da Fiesp e secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do governo federal.

*Dados de 2023 – os dados finais de 2024 não estavam disponíveis para o aço.

Fonte: Investnews
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 07/02/2025

 

Com Trump, aço chinês pode ser direcionado ao mercado brasileiro

As recentes políticas protecionistas adotadas pelo governo do presidente Donald Trump, que incluem a imposição de tarifas adicionais de 10% sobre produtos chineses, têm gerado preocupações no setor siderúrgico brasileiro. Com as restrições ao aço chinês no mercado americano, cresce o receio entre executivos de que o excedente da produção asiática seja redirecionado para outros mercados, incluindo o Brasil.

A entrada do aço chinês nos mercados latino-americanos já é motivo de preocupação - o setor se queixa de que isso estagnou a indústria local e provocou a desindustrialização na região. O setor afirma, ainda, que a ampliação desse fluxo, impulsionada pelas barreiras comerciais dos Estados Unidos, pode intensificar a competição desleal, pressionar os preços e comprometer a sustentabilidade da siderurgia nacional.

A presidente da Aço Verde Brasil, Silvia Nascimento, afirma que a intensificação das tarifas pelos Estados Unidos pode resultar em um desvio significativo do aço chinês para o mercado brasileiro. Segundo a executiva, a China é estratégica e está atenta ao movimento global contra suas exportações.

Para ela, basta observar os investimentos crescentes no Vietnã, na Indonésia e em outros países do Sudeste Asiático - em grande parte, financiados pelo próprio capital chinês. Essa seria uma forma de contornar barreiras comerciais e manter sua influência no mercado global.

“Há uma questão de preço e uma necessidade de exportação. Diante disso, eles [os chineses] reduzem os valores para se tornarem mais competitivos. Como o governo brasileiro nos envolve nessas negociações? Quer dialogar? Quer discutir a descarbonização da indústria nacional? Estamos falando de aproximadamente 10 milhões de toneladas de aço chinês entrando no mercado, considerando tanto o direto quanto o indireto - um dos mais poluentes do mundo. Como é possível exigir padrões ambientais elevados da indústria nacional enquanto se permite a entrada de um aço altamente poluente no Brasil?”, questiona.

"Guerra tarifária desorganiza a corrente de comércio mundial”
— Paulo Hartung

O setor acusa Pequim de “inundar” a região com aço barato por conta do subsídio estatal e da produção em excesso. Em resposta a essas preocupações, o governo brasileiro anunciou a implementação de cotas para importação de aço e o aumento do Imposto de Importação para 25% sobre os volumes que excedam essas cotas. Essa medida visou conter a “invasão” do aço chinês e proteger as siderúrgicas locais.

Mesmo assim, a expectativa é que a escalada do aço chinês entrando no mercado nacional deve se manter firme em 2025, já que as medidas para frear as importações do país asiático ainda não surtiram o efeito desejado pelas siderúrgicas locais, segundo o Instituto Aço Brasil.

Trump também reforçou sua política comercial protecionista ao impor tarifas sobre produtos importados do México e do Canadá. Essas tarifas estão suspensas temporariamente. A União Europeia pode ser o próximo alvo. Em resposta, esses países ameaçam retaliar com a aplicação de tarifas adicionais sobre produtos dos Estados Unidos.

“Com a implementação de barreiras comerciais pelos Estados Unidos e as medidas de defesa adotadas pela Europa, a gente percebe claramente que o excedente de aço chinês acaba sendo redirecionado para outros mercados. A China, com sua capacidade produtiva excedente, busca novos destinos para escoar sua produção. Nesse cenário geopolítico, o Brasil precisa ficar em alerta, disse o presidente da Aperam América do Sul, Frederico Ayres, durante o Forest Leaders Forum, evento promovido pela Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif) que discutiu a siderurgia verde no Brasil.

A China produz mais aço do que o restante do mundo combinado. Diante das barreiras impostas pelo protecionismo dos EUA, o vice-presidente sênior da Vallourec América do Sul, André Lacerda, questiona o destino desse excedente de produção. Ele diz que, embora o Brasil possua alguns mecanismos de proteção para a indústria siderúrgica, eles estão longe de ser plenamente eficazes.

“A gente viu o aumento da importação chinesa no Brasil. Entre 2022 e 2023, o aumento foi superior a 40%, seguido por um acréscimo adicional de 20% entre 2023 e 2024. Esse avanço contínuo tem gerado preocupações no mercado, especialmente sobre até que ponto esse crescimento pode se sustentar e quais serão os impactos para a economia brasileira.

Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), enfatiza que a guerra tarifária desorganiza a corrente de comércio mundial e há a necessidade de aprimorar o sistema de cotas e tarifas para proteger a indústria nacional da concorrência desleal.

Maior fabricante de aço no Brasil, a ArcelorMittal responde por mais de 40% da produção nacional, o que equivale a 15,5 milhões de toneladas de aço bruto. A empresa acompanha o cenário, mas, segundo o CEO ArcelorMittal Aços Longos Brasil, Everton Negresiolo, ainda é difícil prever os desdobramentos, embora seja certo que trará instabilidade ao mercado.

Do ponto de vista ambiental, a saída dos EUA do Acordo de Paris deve reacender debates globais, enquanto a COP30, que será realizada no Brasil, pode destacar as vantagens de uma produção siderúrgica mais sustentável.
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/02/2025