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Porque desmontar e reciclar carros será a nova aposta das montadoras?

O avanço da economia circular no setor automobilístico está ganhando destaque na América do Sul, com um foco particular no Brasil. Em um movimento inovador, a Stellantis inaugurou em Osasco (SP) o Circular Autopeças, o primeiro centro de desmontagem e reciclagem veicular da montadora na região. Este empreendimento tem um papel crucial na estratégia da empresa de colocar a sustentabilidade no centro de suas operações. A presença de executivos de alto escalão, como Emanuele Cappellano, sinaliza a importância deste novo passo para a companhia na região.

A economia circular ainda é uma novidade no setor automobilístico sul-americano. De acordo com Laurence Hansen, vice-presidente sênior global de Economia Circular da Stellantis, a América do Sul está atrasada nesse quesito. No Brasil, por exemplo, apenas 1,5% dos veículos que chegam ao fim de sua vida útil têm seus componentes reciclados de alguma forma. Esse número contrasta bastante com países como o Japão, que já reciclam mais de 8% dos componentes de seus veículos. Na Europa, a meta é que, até o final da década, 85% das partes dos veículos inutilizados sejam recicladas.

O Potencial do Mercado Brasileiro

Há um grande incentivo para que a indústria automobilística no Brasil avance em direção à sustentabilidade. Laurence Hansen destacou que o mercado brasileiro tem um potencial significativo, não apenas do ponto de vista ambiental, mas também como oportunidade de negócios. Estima-se que esse movimento possa gerar um mercado de bilhões de reais. A Stellantis não está sozinha nessa iniciativa; outras grandes montadoras, como a Toyota e a Volvo, também manifestaram interesse em investir em centros de reciclagem no país. Esse movimento é impulsionado, em parte, pelo Programa Mover do governo federal, que incentiva a reciclabilidade como critério para subsídios fiscais.

Quais são os Quatro Erres da Stellantis?

A estratégia da Stellantis se baseia em quatro pilares de sustentabilidade, conhecidos como os “quatro erres”: Reparar, Reciclar, Reutilizar e Remanufaturar. Nos mercados da Europa e Estados Unidos, a empresa já alcançou um estágio avançado no desenvolvimento dessas áreas. No Brasil, o foco inicial será na reciclagem e na remanufatura. A escolha do mercado brasileiro neste momento se deve ao seu potencial de crescimento e à rentabilidade que a economia circular pode oferecer, como enfatizou Hansen.

Impacto das Iniciativas de Reciclagem no Setor Automobilístico

Além dos benefícios ambientais evidentes, as iniciativas de reciclagem no setor automobilístico brasileiro podem trazer diversos impactos positivos. Os investimentos em infraestrutura para reciclagem e remanufatura não apenas atendem a uma demanda crescente por práticas sustentáveis, mas também criam empregos e estimulam a economia local. O enfoque em sustentabilidade também poderá haver um reflexo positivo na reputação das empresas envolvidas, aumentando seu apelo aos consumidores cada vez mais conscientes sobre questões ambientais.

Desafios e Perspectivas Futuras

A transição para um modelo de economia circular no Brasil enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de desenvolver uma infraestrutura adequada e superar a resistência cultural a práticas de reciclagem. No entanto, com o apoio do governo e o engajamento de grandes indústrias, há uma perspectiva otimista para o futuro. O sucesso dessas iniciativas pode posicionar o Brasil como um líder regional em práticas sustentáveis no setor automobilístico, incentivando outras indústrias a adotarem abordagens similares.

 
Fonte: BM&C News
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 18/09/2025

 

Importações de aço laminado sobem 29,7% entre janeiro e agosto

As importações de aço laminado em agosto deste ano totalizaram 393 mil toneladas, marcando um recuo de 20,3% em relação a igual período do último ano, de acordo com dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Apesar da redução, no acumulado de 2025 desde janeiro, os desembarques do produto siderúrgico cresceram 29,7%, para 4,1 milhões de toneladas.

Quanto ao total de aço importado, o que inclui semiacabados para vendas, o volume chegou a 491 mil toneladas no mês, representando uma queda anual de 24%. Novamente, a despeito da baixa, o montante no ano subiu 16,5%, atingindo 4,6 milhões de toneladas – a China, acusada pelo setor siderúrgico de concorrência desleal, respondeu por 61,3% dos envios.

Há cerca de três semanas, o Aço Brasil revisou as estimativas para 2025. Em novembro de 2024, a previsão era de que as importações de aço laminado cresceriam 11,5%, totalizando 5,3 milhões de toneladas. No entanto, as compras se intensificaram desde então, e o instituto agora projeta uma alta de 32,2%, para o patamar de 6,3 milhões de toneladas.

É válido lembrar que a invasão de aço, sobretudo de origem chinesa, tem gerado, já há algum tempo, consequências negativas, como paralisação de operações, demissões e postergação de investimentos. Em razão da crise duradoura, o governo brasileiro implementou uma medida de defesa comercial em junho do ano passado, que foi renovada em junho deste ano com algumas melhorias, porém, os efeitos não surtiram como previstos.

Diante do cenário desafiador, grandes players do setor tem se movimentado. A Gerdau, por exemplo, demitiu mais de 1.500 pessoas e decidiu reduzir o nível de aportes no Brasil a partir de 2026. A ArcelorMittal, por sua vez, diz que não fez movimento direto de desligamentos, mas condicionou o valor de novas inversões no País à evolução das políticas de defesa comercial. Enquanto isso, a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) não descartou diminuir o quadro de funcionários e já ameaçou fazer cortes nos investimentos.

Nesse sentido, um levantamento do Aço Brasil indicou que se nada melhorar e a capacidade instalada da siderurgia brasileira cair dos atuais 66%, para 40%, mais de 37 mil colaboradores podem perder os empregos. A entidade também disse que, devido à situação crítica, a indústria do aço vai revisar para baixo a projeção de investimentos para o Brasil para o período de 2025-2029, antes estimada em cerca de R$ 100 bilhões para 2024-2029.

Produção de aço bruto diminui no Brasil e em Minas Gerais

Outro dado negativo da siderurgia nacional foi o volume de aço bruto produzido. Conforme os dados do instituto, no oitavo mês de 2025, foram fabricadas 2,9 milhões de toneladas no Brasil inteiro, queda de 4,6% ante igual período de 2024. No acumulado do ano, o montante chegou a 22,2 milhões de toneladas, o que representa um decréscimo anual de 1,5%.

Em Minas Gerais, principal produtor siderúrgico do País, a produção atingiu 870 mil toneladas em agosto, totalizando 6,7 milhões de toneladas nos primeiros oito meses do ano. Os volumes produzidos no Estado representam baixas de 5,8% e 0,8%, respectivamente.

Vendas internas, exportações e consumo aparente

Ainda segundo o Aço Brasil, as vendas internas de aço caíram 6,9% em agosto frente a igual intervalo do último ano, para 1,8 milhão de toneladas, mas subiu 0,6% no acumulado anual, para 14,2 milhões de toneladas. Enquanto isso, as exportações cresceram 4% no mês, para 861 mil toneladas, e 1,9% no ano, para 7,1 milhões de toneladas.

Já o consumo aparente recuou 11,3% na primeira base de comparação, para 2,2 milhões de toneladas, e aumentou 5,3% na segunda, para 18,2 milhões de toneladas – impulsionado pelas importações. A entidade não disponibiliza o recorte estadual desses dados.


Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/09/2025

Produção brasileira de aço cai 1,5% entre janeiro e agosto de 2025, mostra Aço Brasil

A produção brasileira de aço bruto entre janeiro e agosto de 2025 totalizou 22,2 milhões de toneladas, uma queda de 1,5% frente a igual período de 2024, quando foram produzidas 22,5 milhões de toneladas. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (15) pelo Instituto Aço Brasil.

Na mesma comparação, as importações de aço cresceram 16,5%, para 4,6 milhões de toneladas, contra 3,9 milhões nos oito primeiros meses do ano passado.

O Aço Brasil informou ainda que as vendas internas atingiram 14,2 milhões de toneladas, com leve alta de 0,6% frente às 14 milhões de toneladas do período janeiro-agosto do ano passado. As exportações avançaram 1,9% na mesma comparação, totalizando 7,1 milhões de toneladas.

Na comparação de agosto de 2025 com agosto de 2024, a produção de aço bruto foi de 2,9 milhões de toneladas, queda de 4,6%; as vendas internas somaram 1,8 milhão de toneladas, recuo de 6,9%; as importações caíram 24%, fechando em 491 mil toneladas; e as exportações foram de 861 mil toneladas, crescimento de 4%.

 
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/09/2025

 

Brasil perde 1,2 milhão de caminhoneiros em 10 anos

 

O número de motoristas profissionais no Brasil, aqueles que tem a Carteira Nacional de Habilitação nas categorias C, D ou E, tem caído significativamente ao longo dos anos.

De acordo com um levantamento feito pela Ilos com base em dados do Senatran, em 2015 o número de motoristas profissionais no Brasil era de 5,6 milhões. Em 2025, esse número está em 4,4 milhões de motoristas. Levando em consideração a queda total no período, a redução é de 22%, ou 1,2 milhão de profissionais.

Para a Ilos, “A redução do número de motoristas de caminhão disponíveis pode ter impacto na oferta de serviços de transporte rodoviário de carga, que está diretamente relacionada à quantidade de veículos e à disponibilidade de condutores. Para as indústrias, a restrição na oferta de transportes pode resultar no aumento dos preços dos fretes e impactar a eficiência da cadeia logística.”

A explicação para esse movimento se dá por alguns fatores como envelhecimento da mão de obra, com idade média em cerca de 45 anos. Isso mostra que existem mais trabalhadores do setor próximos de se aposentar do que novatos começando na profissão.

Além disso, as conhecidas dificuldades da profissão, como tempo longe de casa, falta de infraestrutura nas rodovias, locais de descanso e alimentação adequada, fazem com que muitos profissionais procurem outras profissões, abandonando o volante e desistindo da CNH profissional.

Apesar da queda, o número total de motoristas profissionais ainda é maior do que a frota circulante de caminhões no país.

O painel RNTRC em Números, uma divulgação mensal dos dados relativos a transportadores e seus veículos cadastrados no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mostra que a frota total de caminhões no país é de 2,76 milhões de veículos. Ou seja, existem 1,59 motoristas para cada caminhão que atua no transporte de cargas.

Porém, os dados mostram uma tendência perigosa. Em muitos países, o número de motoristas profissionais disponíveis está cada vez mais próximo do número de caminhões circulando, e isso leva a grandes problemas de escassez de profissionais, com impactos diretos à cadeia logística, aumento os custos de produtos e serviços, que, direta ou indiretamente, dependem do transporte rodoviário de cargas para funcionarem.

 
Fonte: Grandes Construções
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 15/09/2025

 

Geopolítica em choque pressiona indústria do aço

Em meio a um mundo cada vez mais geopoliticamente incerto, a siderurgia brasileira tenta encontrar saídas para se manter como uma gigante global. A palavra da vez é “policrise” e tem tantas frentes que transformou o mundo e o comércio mundial como o conhecíamos. Os Estados Unidos deflagraram uma guerra comercial com o mundo, a Europa enfrenta a guerra entre Rússia e Ucrânia, a China acaba de dar demonstrações de seu poderio militar e a América do Sul, historicamente apenas palco de golpes de Estado, vê os americanos estacionarem tropas e navios ao longo da costa da Venezuela.

A situação mundial foi um dos temas mais discutidos no Congresso Aço Brasil deste ano, que aconteceu em agosto, em São Paulo.

“O mundo ingressa numa fase de incerteza”, resumiu Armando Monteiro, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na abertura do encontro. “Toda aquela arquitetura do pós-guerra, que forjou instituições e definiu regras que, de alguma maneira, permitiram que o comércio internacional experimentasse um grande crescimento em décadas, está sendo, neste momento, desmontada”, continuou. “E há uma prevalência da geopolítica naquilo que às vezes aflora de pior, que é a prevalência de certas idiossincrasias - tudo isso em prejuízo do comércio.”

O resultado do tarifaço de Trump já é visível na siderurgia. Em agosto, quando as sobretaxas começaram a valer, as exportações brasileiras de semiacabados de ferro e aço para os EUA caíram 23,4%. No sentido contrário, o setor calcula que o volume de importações de aço laminado deve atingir o triplo da média histórica em 2025, com previsão de 6,3 milhões de toneladas, em função do produto barato vindo do Oriente.

“O maior desafio do nosso setor é a defesa comercial - e aí a China é o grande ponto. Praticamente 70% das importações que chegam ao Brasil vêm da China. É uma competição desleal”, disse André Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração da Gerdau, em entrevista ao Valor, durante o congresso. “Com essa guerra comercial existe desvio de comércio. Os Estados Unidos estão aplicando taxas muito altas e esse aço vai procurar outros mercados. Um dos principais é o Brasil”, explicou.

O panorama geral é de menos regra e mais fricção. A conciliação que por décadas alinhou normas gerais e acordos regionais dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC) perdeu fôlego e abriu espaço para um “processo de erosão muito acelerado”, afirmou Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty e sherpa do Brasil no Brics.


"O maior desafio do nosso setor é a defesa comercial”
— André Gerdau Johannpeter

Ele disse ainda nunca ter visto um período tão crítico para o comércio internacional. “Há um primeiro sintoma disso na OMC: o começo de erosão do sistema de solução de controvérsias em duas instâncias, pela não indicação [pelos EUA] de juízes ao Órgão de Apelação desde 2016, culminando em 2019 com a sua paralisação.”

Lyrio lembrou que, do pós-guerra aos anos 2010, o comércio avançou mais rápido que o PIB, mas perdeu fôlego nas últimas décadas diante de iniciativas protecionistas. O ponto mais preocupante, para ele, é a erosão das normas: a lógica de que a nação mais favorecida cede concessões para um parceiro específico, como nos acordos recentes dos EUA com países do Sudeste Asiático.

A estratégia do governo Lula, segundo o secretário, combina defesa do multilateralismo com uma ofensiva negociadora via Mercosul, preservando espaço de política pública. “Há orientação clara para retomar, com maior velocidade, os acordos. Em 2023 fechamos [acordo com] Cingapura. Em 2024, concluímos as negociações com a União Europeia. Avançamos com a Efta [Associação Europeia de Comércio Livre, na sigla em inglês]. Estamos retomando negociações com Canadá, Japão e, provavelmente, Reino Unido”, disse.

A escalada tarifária já pressiona custos e, ao mesmo tempo, abre margem para recuos pontuais. Para Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group, o nível tarifário que os EUA impõem sobre produtos importados chegou ao pico e há uma fresta tática no curto prazo, com a possibilidade de ajustes em setores sensíveis. “Podemos ver os EUA cedendo em algumas exceções nos próximos 6 a 12 meses”, avaliou.

Para o Brasil, Garman recomenda execução disciplinada e presença onde as decisões são tomadas, com casos técnicos bem instruídos e diversificação de mercados enquanto se negociam exceções no eixo americano. “Investir em presença lá fora vira essencial para o setor privado brasileiro”, disse.

Marcos Troyjo ampliou o quadro ao descrever o fim da lógica centro-periferia e a convivência de vários polos de decisão. “Desde o final da Segunda Guerra Mundial, você não tem tanta multipolaridade no mundo econômico. Não é como se você tivesse centro e periferia - você tem vários centros. Tem um arquipélago de epicentros”, afirmou. Para ele, esse rearranjo pode jogar a favor do Brasil ao permitir que novos mercados sejam abertos. “Foi só o presidente Trump ganhar as eleições do ano passado que, rapidamente, os europeus tiraram o acordo [com o Mercosul] da gaveta e falaram: ‘Isso é o que a gente tem para hoje, vamos embora’.”

 

 
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 12/09/2025

 

Veja em gráficos como importação de aço da China prejudica siderúrgicas brasileiras

Desde junho, o aço produzido no Brasil é taxado em 50% quando entra nos Estados Unidos. A situação é preocupante principalmente para aquelas siderúrgicas que dependem do mercado americano, mas outro fator tem incomodado ainda mais as empresas brasileiras do setor: a crescente importação de aço chinês.

O desconforto é tão grande que há algumas semanas o presidente da maior siderúrgica brasileira, a Gerdau, disse em público que a empresareduziria os investimentos no país diante do que chamou de falta de medidas de defesa comercial pelo governo federal. Segundo Gustavo Werneck, a empresa demitiu 1.500 trabalhadores no país, desde o início do ano, diante da pressão de aço importado.

Para dimensionar o tamanho do impacto que essas importações têm gerado às empresas brasileiras, a Folha comparou em gráficos as dinâmicas da crescente compra de aço pelo mercado nacional com as dos lucros, rentabilidade e produção das siderúrgicas instaladas no país. Todos os valores monetários foram corrigidos pela inflação.

Dados compilados pelo Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas no país, apontam que as importações de aço pelo mercado brasileiro saltaram de 2,3 milhões de toneladas em 2017 para quase 6 milhões de toneladas em 2024. E o crescimento do mercado brasileiro não acompanhou com a mesma proporção: em 2017, as importações representavam 12% do consumo aparente de aço no Brasil; já no ano passado, 23%.

O salto das importações do mercado brasileiro começou em 2021, quando o setor imobiliário da China, líder na produção de aço, entrou em crise e passou a comprar menos das siderúrgicas chinesas –o que abriu espaço para maiores exportações, incluindo para o Brasil. Desde então, houve queda das importações em 2022 e constante crescimento em 2023 e 2024 –os dados são anuais e, por isso, ainda não foram fechados em 2025.

 

Ainda que tenha preenchido parte de uma fatia do mercado brasileiro que não existia nos últimos anos, o aço chinês freou a ampliação da produção de aço pelas empresas brasileiras. O Instituto Aço Brasil calcula que as indústrias do país têm hoje 34% de capacidade ociosa, como é chamada a quantidade de aço não produzida por falta de mercado –e não por falta de equipamentos.

Nessa lógica, não faltaria aço para o mercado brasileiro se as importações não tivessem crescido consideravelmente nos últimos quatro anos. Nos cálculos do Instituto Aço Brasil, as empresas brasileiras poderiam fabricar mais 17 milhões de toneladas de aço, o que superaria quase três vezes a quantidade de aço importado (a conta não faz distinção entre os diferentes tipos de aço existentes no mercado).

Os dados, compilados pelo instituto a partir das próprias empresas, mostram que a produção de aço –sobretudo laminado— não teve grandes variações nos últimos anos, o que aponta que o crescimento do mercado brasileiro nos últimos anos não está sendo atendido pelas empresas locais. É esse os tipos de aço mais importado da China.

O aço semiacabado, produzido no Brasil em grande maioria pelas estrangeiras ArcelorMittal e Ternium, são geralmente voltados para o mercado internacional, principalmente americano e mexicano, e por isso estão menos expostos às importações de aço da China. Por outro lado, são os mais afetados pelas tarifas de Donald Trump.

 
 
 

Daniel Sasson, analista de commodities do Itaú BBA, aponta que a importação de aço da China prejudica as siderúrgicas brasileiras não só devido ao volume importado, mas também ao preço que essas mercadorias chegam ao país.

"Houve um crescimento do mercado pós-Covid que acabou sendo servido pelo aço chinês. Mas isso é complicado, porque se quem está preenchendo esse espaço tem um custo mais baixo que o seu, ele acaba impactando o preço do mercado inteiro e da rentabilidade como um todo", afirma Sasson.

De acordo com um relatório divulgado pelo Santander no final de agosto, a tonelada do aço laminado a quente, por exemplo, é vendido pela China por US$ 400 (R$ 2.163) a US$ 500 (R$ 2.704). Já o preço médio deste produto no mercado brasileiro é próximo de R$ 4.000 –a média nacional é jogada pra baixo justamente devido às importações.

Especialistas apontam que os índices de rentabilidade das empresas são os mais importantes para mensurar o impacto das importações chinesas nas siderúrgicas brasileiras.

Dados compilados pela Folha a partir dos balanços das empresas listadas na B3 –Gerdau, Usiminas e CSN— apontam uma enorme queda da margem Ebitda (principal índice do mercado financeiro para calcular a rentabilidade de um negócio) dessas siderúrgicas em comparação com períodos pré-pandemia.

No segundo trimestre de 2018, por exemplo, a Usiminas tinha uma margem de 16% em sua produção brasileira de aço, enquanto hoje é de 5%. Já a CSN tinha margem de 17%, sendo hoje de 11%, e a Gerdau de quase 20% (hoje é de 12%).

A última não separa em seu balanço seus negócios de siderurgia e mineração, mas como a empresa tende a consumir o minério que ela mesmo extrai, o impacto da mineração no negócio é reduzido. Já as duas primeiras têm negócios fortes de mineração, setor que hoje é responsável por elevar as margens das empresas, sobretudo da CSN.

 
 

A consultoria McKinsey & Company estima que é necessário uma margem de no mínimo 15% para garantir uma sustentabilidade econômica de longo prazo.

Assim, a situação da Usiminas seria bastante preocupante se não fossem os ápices do mercado entre 2021 e 2022, aponta Daniel Sasson, do Itaú BBA. "A empresa está num momento de geração de Ebitda [indicador financeiro que mede o desempenho operacional de uma empresa, mostrando o lucro antes da dedução de despesas financeiras, impostos e despesas não monetárias como depreciação e amortização] muito fraco e isso tem a ver com algumas coisas: a primeira é que a Usiminas tem 70% de custos dolarizados e a segunda é que o preço no Brasil está baixo, o que tem a ver com a competição do importado", afirma. "Eles estão num momento de geração de caixa realmente desafiador."

A Usiminas emprega 13 mil pessoas; Gerdau, 17 mil, e a CSN, 29 mil.

A ArcelorMittal, estrangeira com maior operação no Brasil, emprega 19 mil pessoas. A empresa, no entanto, não divulga dados financeiros de sua operação no Brasil e se limita apenas a informar a receita que recebe com seus produtos vendidos no país. Já a Ternium, que não concorre com o tipo de aço importado da China, mas é dona da Usiminas, tem 8.000 empregados diretos e indiretos.

 

De acordo com Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil, dona da maior produção de aço no país, a importação de aço chinês neste ano deve fazer com que a rentabilidade da empresa caia em comparação com a do ano passado. "Com o preço da China sendo tão baixo, uma das consequências é a queda de preço no mercado interno e a outra é optar não vender", diz.

Segundo ele, a receita da empresa não caiu em comparação com os níveis pré-pandêmicos devido à ampliação da capacidade nos últimos anos, justamente para acompanhar o crescimento esperado do mercado brasileiro. Mas, agora, ao menos R$ 10 bilhões em investimentos da empresa no Brasil estariam sob risco a depender do nível das importações nos próximos meses. "Quanto mais a importação crescer maior é risco é para a capacidade das empresas", afirma.

DIFICULDADES EM AMPLIAR BARREIRAS

Mesmo com a avalanche de importações e seus impactos diretos, o setor tem tido dificuldades em convencer o governo federal a diminuir a quantidade determinada de aço importado que pode entrar no país sem tarifas. Hoje, o Executivo taxa, na maioria dos casos, em 25% apenas aqueles produtos que sobressaíram uma quantidade prestabelecida.

Uma das justificativas para isso, apontam especialistas com quem a Folha conversou, é o receio do governo em se indispor com a China, maior compradora de commodities fundamentais para a balança comercial do Brasil, como soja e minério de ferro. "Além disso, há um lobby de setores que se beneficiam desse momento de produtos importados, como o setor de maquinários", afirma Sasson.

No ano passado, por exemplo, o presidente executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, chamou de chantagem as queixas das siderúrgicas brasileirasjunto ao governo federal. São grandes compradores de aço ainda os setores automotivo e de construção.

 
Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/09/2025