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Agroindústria cresceu 1,6% no 1º trimestre, aponta pesquisa do FGVAgro

A pesquisa sobre agroindústria, do FGVAgro, revela que no primeiro trimestre de 2024, a produção agroindustrial registrou um crescimento de 1,6% frente ao mesmo período do ano passado. O resultado foi puxado, exclusivamente, pelo segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, que acumulou uma alta de 3,9%.

Em contrapartida, Produtos Não-Alimentícios acumulou uma contração de 1,7%, impactado, sobretudo, pelos setores de Insumos Agropecuários e Biocombustíveis.

Atualmente, o FGV Agro projeta um crescimento anual de 2%, em 2024, para a produção agroindustrial, no cenário base. Assim como em 2023, a expansão da agroindústria deverá vir, exclusivamente, por conta do segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, cuja estimativa de crescimento é de 4,2% no ano. Por outro lado, o segmento de Produtos Não-Alimentícios deverá registrar uma leve contração de 0,2% em 2024.

Vale destacar, contudo, que as projeções atuais foram realizadas com dados que ainda não contam com as consequências da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, o qual tem importante relevância na agroindústria nacional.

Dessa forma, explica o FGVAgro, as estimativas certamente serão revistas nas próximas edições do estudo.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 27/05/2024

 

Risco de gargalo e alta de preços são desafios na reconstrução no RS

A reconstrução do Rio Grande do Sul demandará investimentos bilionários nos próximos anos, mas a necessidade de recursos não é o único desafio. Uma das preocupações que já começa a surgir é o risco de gargalos na execução das centenas de obras que serão necessárias em todo o Estado nos próximos anos e que deverão mobilizar construtoras, fornecedores de diversos tipos de insumos, fabricantes de equipamentos, além de mão de obra de forma intensiva. Há um temor tanto de escassez quanto de disparada de preços desses serviços e produtos, segundo pessoas envolvidas no processo e especialistas em infraestrutura.

O tema já está no radar da Secretaria de Reconstrução Gaúcha. “Teremos de tratar de possíveis gargalos na execução do plano. Haverá muitas obras ao mesmo tempo, tem que ter atenção grande à questão de máquinas, matéria-prima, mão de obra, tudo isso vai ser mobilizado em uma intensidade que nunca se viu”, diz o secretário, Pedro Capeluppi.

Na visão de uma fonte que acompanha o processo, que pediu anonimato, o próprio plano de reconstrução terá de considerar esses gargalos na priorização das ações. Porém, a percepção é que será difícil controlar a pressão inflacionária sobre os custos da reconstrução, já que, além da demanda do poder público, a própria população e empresas locais têm obras a fazer.

Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, aponta que a falta de empreiteiros já é uma realidade no país, por exemplo, no setor de linhas de transmissão de energia.

No caso do Sul, diz ele, há um agravante devido à concentração das obras em território e em um curto espaço de tempo. “Se fosse em dez, 15 anos é uma coisa, mas o Rio Grande do Sul não pode correr o risco de estender a reconstrução. Há o risco econômico de o Estado entrar em depressão e o risco demográfico de a população jovem sair do Estado. Então o processo não pode se arrastar, o que traz esse desafio”, afirma.

Para Renato Correia, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), se houver planejamento não haverá escassez, mas o aumento de preço dos insumos e da mão de obra é algo inevitável e que deverá ser considerado na hora da contratação e da fiscalização das obras.

“É óbvio que o aluguel de máquinas estará mais caro, o custo dos materiais vai subir porque o acesso é difícil, muita coisa terá que vir de fora”, afirma. Ele defende que os órgãos de fiscalização, que são rigorosos em relação ao tema, precisam compreender a situação. “O custo precisa ser olhado com o entendimento da calamidade, porque vai ser acima das tabelas do poder público. Os materiais, o cimento, vão chegar, mas o preço não será o padrão. E vamos precisar contratar assim mesmo, pela emergência”, diz.

Para a construtora Tenda, outro gargalo pode ser a liberação de alvarás para obras de habitação, processo que costuma levar até dois anos na região. Segundo Welinton Costa, diretor regional Sul da empresa, é esperada uma “força-tarefa” nas prefeituras para encurtar o prazo para um ano.

Para ele, um encarecimento de materiais ainda não está no “top 5” de preocupações no momento. A lista é liderada pela disponibilidade de mão de obra, de insumos e de complementação de renda para as famílias atingidas.

Costa prevê aumento na demanda por novas habitações no Sul. No segmento econômico, onde a Tenda atua, isso deve ser potencializado por programas municipais, estaduais e federais, que devem elevar a capacidade de compra dos afetados pela enchente.

"Haverá muitas obras ao mesmo tempo, uma mobilização em intensidade que nunca se viu”
— Pedro Capeluppi

Já os fornecedores nacionais negam o risco de gargalos. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), Paulo Camillo Penna, diz não acreditar em uma futura “explosão de consumo” de cimento e afirma que, mesmo se houver alta de demanda, o país tem condição de fornecer o material, que poderia sair de outros Estados. Uma importação da Argentina ou do Uruguai não será necessária, segundo ele, destacando que as cimenteiras brasileiras trabalham com 35% de ociosidade.

A InterCement, que tem duas fábricas no Rio Grande do Sul, diz que as unidades estavam operando com 94% e 95% da capacidade antes da enchente, segundo Livio Kuze, CEO da empresa no Brasil. Ele também não acredita em uma explosão de consumo. “Todo aumento agressivo de demanda gera escassez e inflação. O que sentimos é que está sendo bem planejado, para não ter aumento desenfreado de demanda”, afirmou.

Uma das unidades do grupo no Estado fica em Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre, em um bairro atingido pela enchente. Kuze diz que não houve dano material à planta, que foi usada como abrigo no início das inundações. Depois de duas semanas com operações reduzidas, a empresa já conseguiu retomar 80% das vendas de antes do desastre. Enquanto a produção não voltava, clientes foram buscar cimento na fábrica do grupo em Candiota, 400 km ao sul de Porto Alegre.

A indústria de máquinas também nega que haja risco de escassez ou inflação. “A fabricação dos produtos de linha amarela [de equipamentos usados na construção] está normal, não foi interrompida. As máquinas são vendidas por distribuidores que têm estoque, não vejo problema no fornecimento, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Ele também diz que o setor tem grande capacidade ociosa na produção. No caso de máquinas rodoviárias, dados da Abimaq apontam que, em 2014, a produção mensal chegou a 5.200 equipamentos por mês e hoje o patamar está em torno de 3.300 mensais. Velloso também afirma que não há espaço para alta de preços porque o mercado tem muita concorrência, em especial de importações da Ásia.

A velocidade necessária para a construção de moradias pode incentivar a entrada da construção industrializada no Estado. Não seria a primeira vez que tragédias do tipo são remediadas dessa maneira. O governo paulista contratou a construção de prédios e casas de “wood-frame”, técnica de construção industrializada em madeira, para receber famílias atingidas pelas chuvas e desmoronamentos em São Sebastião (SP) no início de 2023.

A empresa Tecverde foi a responsável pela obra, que entregou 518 moradias em 9 meses. A Tenda tem uma marca de moradia em wood-frame, a Alea, e tem conversado com o poder público gaúcho. A SteelCorp, companhia que constrói em steel-frame, usando aço, está fechando um contrato privado para erguer 600 casas no bairro de Santa Cecília, em Porto Alegre. O custo será de R$ 92,4 mil por moradia, de 42 m2, abaixo do que é praticado normalmente pela empresa.

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 27/05/2024

 

Produção industrial apresenta avanço atípico em abril, segundo CNI

A Sondagem Industrial de abril deste ano mostra movimentos pouco comuns para o período, como o aumento da produção industrial. Na pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice de evolução da produção, que costuma refletir queda no quarto mês do ano, atingiu 51,2 pontos em abril, permanecendo acima da linha divisória de 50 pontos pelo segundo mês consecutivo. Valores acima de 50 indicam aumento na produção frente ao mês anterior. Valores abaixo de 50 pontos indicam queda da produção frente ao mês anterior.

O cenário atípico é resultado do crescimento do índice de evolução da produção das grandes empresas, que ficou em 53,5 pontos, e da estabilidade do indicador das médias, com 50,1 pontos. Por outro lado, o índice para as pequenas empresas mostrou queda na produção, ao ficar em 47,6 pontos.

“Esse avanço está ligado à estabilidade do ajuste dos estoques conforme o planejado pelos industriais, que já acontece há cinco meses. Agora que as indústrias conseguiram se desfazer do excesso de estoques do ano anterior, podem voltar a produzir de olho na demanda do mercado”, explica o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

Confira o comentário completo do economista:

 

O índice de evolução do número de empregados também apresentou comportamento diferente ao ficar estável no mês de abril, com 50,1 pontos. É o terceiro mês seguido em que o índice fica acima, ainda que próximo, da linha divisória dos 50 pontos. O usual é que haja queda no número de empregados no setor em abril.

Ao olhar por porte, os indicadores para médias e grandes indústrias sinalizam que houve expansão no número de empregados em abril. Entretanto, assim como na produção, o número de empregados recuou nas pequenas indústrias.

Estoques estão estáveis há cinco meses

Coincidentemente, em abril o indicador de evolução do nível de estoques e o índice de estoque efetivo em relação ao planejado atingiram a marca de 50 pontos, indicando estabilidade e adequação aos planos dos empresários industriais. Esse é o quinto período consecutivo em que não há excesso de estoques.

Expectativas da indústria em maio

Em maio de 2024, os indicadores de expectativas de demanda, de compras de matérias-primas e de número de empregados na indústria recuaram. Apenas o indicador de expectativa de quantidade exportada avançou. Apesar das variações, todos os índices seguem acima de 50 pontos, revelando expectativas positivas.

Além disso, o indicador de intenção de investimento ficou em 56,9 pontos em maio, indicando que há pretensão de investir. O índice permanece 5 pontos acima da média histórica da série, que é 51,9 pontos.

Sobre a Sondagem Industrial

A pesquisa da CNI é uma sondagem de opinião empresarial mensal, com o objetivo de conhecer a tendência da atividade industrial e as expectativas dos empresários. Elaborada em parceria com 25 Federações de Indústria, a Sondagem Industrial apresenta resultados por porte de empresa, regiões geográficas e setores de atividades das indústrias extrativa e de transformação.

Para esta edição, a pesquisa consultou 1.668 empresas industriais entre os dias 1º e 16 de maio.

Fonte: CNI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 24/05/2024

 

Venda de aços planos cresce 10,3% em abril, para 332,1 mil toneladas

As vendas de aços planos cresceram 10,3% em abril em relação ao mesmo mês de 2023, ficando em 332,1 mil toneladas, segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Na comparação mensal, houve alta de 7,2%, superando as 309,8 mil toneladas vendidas em março deste ano.

Em abril, as compras de aços planos cresceram 8,7%, em base de comparação anual, para 345,7 mil toneladas. Com relação a março de 2024, em que foram compradas 304,9 mil toneladas, as aquisições cresceram 13,4%.

Em número absoluto, o estoque de março obteve alta de 1,5% em relação ao mês anterior, atingindo o montante de 916,7 mil toneladas contra 903 mil. O giro de estoque fechou em 2,8 meses.

As importações totais de aços planos avançaram 50,5% em março em relação ao mesmo período do ano anterior, com volume de 242,3 mil toneladas. Ante o mês anterior, houve queda de 2,7% nos embarques.

Para maio de 2024, a expectativa da rede associada é de que as compras e vendas tenham uma alta de 3,5 em relação a março.

COTAS

O presidente executivo do Instituto, Carlos Jorge Loureiro, disse que a possível estabilidade de preços nas usinas brasileiras é reflexo da criação do imposto de importação de até 25% sobre as compras além do limite. No fim de abril, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu que 11 produtos de aço importados passarão a ser submetidos a cotas de importações. Caso o volume máximo seja superado, eles pagarão 25% de Imposto de Importação para entrarem no país. O imposto atualmente é de 10,8%.

“As usinas estão aguardando para ver qual será o impacto desta medida no volume de aço importado para o país e como isso afetará o preço. Diante disso, não há uma tendência de recuo nos preços do aço no mercado interno no momento”, explicou Loureiro, que destacou ainda que é preciso regulamentar a cota de importação para que a medida entre em vigor efetivamente. A expectativa é que o governo publique a regulamentação no início de junho.

Válida por 12 meses a partir da publicação, a medida tem como objetivo evitar a concorrência desleal com o aço nacional. Em 2023, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o volume de importações dos 11 produtos de aço superou em 30% a média das importações entre 2020 e 2022. Nos últimos meses, as siderúrgicas brasileiras têm afirmado haver uma invasão do aço chinês, que chega ao Brasil mais barato que os produtos nacionais.

Fonte: Agência CMA
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/05/2024

 

Governo sobretaxa misturas no aço usadas para burlar punições

Em mais uma medida para barrar a concorrência desleal de aço importado a preços baixos, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex), da Câmara de Comércio Exterior (Camex), estendeu medidas antidumping para dois tipos de aços laminados a frio vindos da China. O governo identificou que siderúrgicas chinesas estavam reduzindo teores de cobre e de zinco às misturas para burlar a maior tarifa de importação.

De 2013 a 2019, a Camex tinha aplicado sobretaxa de US$ 629,44 por tonelada para esses produtos. A Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex-Mdic), no entanto, constatou o uso de artifícios para burlar a medida.

Quase inexistentes antes da aplicação da tarifa antidumping, as importações das variedades com pequenas reduções no teor de cobre e de zinco aumentaram 500% nos últimos anos.

A investigação da Secex durou seis meses e constatou que as importações dos aços modificados ocorreram somente com o objetivo de frustrar a eficácia da medida antidumping que estava em vigor. Segundo o Mdic, o governo recorreu à legislação de combate à chamada circunvenção – importações de produtos com barreiras comerciais que passam por terceiros países – para estender a esse “novo aço” o antidumping existente.

Tarifa antidumping

Prática autorizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), a tarifa antidumping consiste na sobretaxação de produtos produzidos abaixo do nível de custo. Esse tipo de medida tem como objetivo proteger a indústria nacional de concorrência desleal com produtos importados.

Nos últimos meses, o governo tem tomado diversas medidas para diminuir a ociosidade nas siderúrgicas nacionais. Em fevereiro, a Camex restaurou as tarifas de importação para cinco itens. Em abril, o órgão anunciou cotas de importação por um ano para 11 tipos de produtos de aço e taxação de 25% sobre o que exceder os limites.

Após os anúncios, as siderúrgicas brasileiras divulgaram a intenção de investir R$ 100,2 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos.

Segundo o Instituto Aço Brasil, de janeiro a março, o Brasil importou cerca de 1,3 milhão de toneladas de aço, alta de 25,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos anos, o segmento criticava a concorrência desleal do aço estrangeiro, que impedia o aumento da produção brasileira.

Fonte: Agência Brasil
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/05/2024

 

O Brasil e a pressão sobre minerais críticos

A intensificação da rivalidade geopolítica entre os Estados Unidos e a China transborda para o campo dos minerais essenciais, sem surpresa, e elevará as pressões sobre produtores como o Brasil.

Minerais críticos como terras raras, lítio, cobalto e nióbio são essenciais para muitas tecnologias modernas e para a segurança nacional e econômica. E diferentes países fazem uma corrida para garantir suprimento que assegure suas ambições econômicas e ambientais.

A China domina atualmente o processamento global de minerais essenciais muito procurados para a fabricação de baterias para veículos elétricos e armazenamento de energia renovável. De seu lado, os EUA negociam acordos com mais países para expandir seu acesso a esses minerais importantes.

Com produção nacional limitada, tanto os Estados Unidos quanto a Europa dependem muito das importações, incluindo da China, fornecedora de commodities como grafite, elementos de terras raras e outros minerais para baterias, e da Rússia, que fornece alumínio, níquel e titânio.

Washington e Bruxelas procuram assim atrair países em desenvolvimento para parcerias visando “alinhar’” medidas sobre fornecimento de matérias-primas críticas. Pelo recentemente lançado Fórum de Parceria para Segurança de Minerais, dizem ter nova e potencialmente melhor oferta que criaria mais valor agregado nesses países.

O Brasil é o maior produtor mundial de nióbio, com 92% do total, conforme estudo da UE. O produto serve para aplicações de alta tecnologia (condensadores, supercomputadores etc.). Também produz 13% da bauxita no mundo, para produção de alumínio; 8% do grafite natural, usado para baterias e material para produção de aço; e 9% do tântalo mundial, que serve para superligas e compensadores para dispositivos eletrônicos.

Os EUA têm insistido em obter do Brasil um compromisso de o país não restringir exportações dos minerais críticos. Os americanos negociaram também com a UE, anunciaram acordo com a Índia que ninguém viu o conteúdo e têm um acordo com a Austrália que não inclui não restringir a venda.

Nesse contexto, uma recente declaração da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley, de que os EUA pretendem comprar minerais críticos do país, deflagrou sinal de alerta em círculos do governo em Brasília. A fala foi vista como nada trivial do tipo “queremos minerais críticos”, ou seja, ter simplesmente o acesso. Já o objetivo destacado em Brasília vai na outra direção, de estimular o processamento e agregação de valor dessas commodities no país.

Ou seja, não é só resistência a compromisso de não restringir exportações. Sobretudo, existe a noção de que o tema deve ser tratado de maneira estratégica e preservar espaço de política pública para uma questão ainda está sendo definida.

A União Europeia também busca explorar com o Brasil uma parceria estratégica em matérias-primas críticas para a transição verde e digital. E, conforme relatos, esse foi um dos temas que levaram o governo de Lula 3.0 a rediscutir o acordo Mercosul-UE, com avaliação de que o pacote negociado no governo anterior não era palatável porque proibia qualquer restrição de acesso a esses minerais críticos.

Em termos de investimentos para produção local, até agora as cifras são irrisórias. No fim de 2022, Joe Biden anunciou que uma agência americana faria novo investimento de US$ 30 milhões (R$ 158 milhões) na empresa de mineração TechMet para transformação de minerais estratégicos níquel e cobalto no Brasil.

Estudo da Unctad, agora rebatizada de ONU Comércio e Desenvolvimento, sugere aos países em desenvolvimento focar efetivamente no valor agregado em componentes de energia renovável, para reforçar seus setores industriais, diversificar suas economias e redefinir seu papel na economia global.

Exemplifica com o caso da República Democrática do Congo, no qual a China tem acesso a várias commodities importantes. Com o refino local do cobalto, o país reforçou os ganhos, de US$ 5,6 por quilo na extração para US$ 16,2 após processamento.

Com alta da emergência climática, demanda aumentando para tecnologias renováveis como carros elétricos, placas solares e turbinas eólicas, a agência da ONU projeta que a demanda de lítio aumentará em até 1.500% até 2050, com idêntica alta para níquel, cobalto e cobre.

A oferta não acompanha a demanda e em algum momento haverá uma crise. A Unctad identificou 110 novos projetos de mineração globalmente, no valor de US$ 39 bilhões, com US$ 22 bilhões investidos em 22 projetos em países em desenvolvimento.

No entanto, para alcançar a meta de emissões líquidas zero em 2030, a indústria pode precisar de 80 novas minas de cobre, 70 novas minas de lítio e níquel e outras 30 de cobalto. O investimento necessário entre 2022-2030 varia de US$ 360 bilhões a US$ 450 bilhões, potencialmente resultando um “gap” de até US$ 270 bilhões.

De seu lado, a Organização Mundial do Comércio (OMC) constata que a forte demanda de minerais críticos ligados à energia exerce uma pressão sobre as cadeias de fornecimento. Nos últimos 20 anos, o montante do comércio anual desses minerais ligados à energia pulou de US$ 53 bilhões para US$ 378 bilhões.

Ao mesmo tempo, as restrições à exportação aumentaram, passando de 396 medidas em 2009 para 489 em 2012 e 502 em 2021, com pressões à alta sobre os preços mundiais e inquietações sobre a segurança do fornecimento.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 23/05/2024