Notícias

Brasil, México e Canadá reagem e montam estratégia contra a invasão do aço chinês

Enquanto as políticas comerciais do presidente americano Donald Trump representam um golpe para os produtores de aço no mundo todo, países como Brasil, México, e Canadá estão reagindo. Mas os Estados Unidos não são o único alvo.

Embora as três nações busquem negociar com o governo Trump a redução das tarifas de até 50% impostas em junho sobre o aço importado pelos EUA, os países também estão focados em impulsionar a demanda local para compensar a queda das exportações.

Isso significa bloquear a crescente enxurrada de aço chinês barato, que ameaça expulsar os produtores locais de seus mercados internos.

O México anunciou um plano neste mês para elevar as tarifas sobre produtos da China, incluindo o aço, em até 50%.

O Canadá também implementou medidas protecionistas.

E, no Brasil, os produtores de aço estão pedindo ao governo que imponha mais barreiras comerciais à oferta estrangeira.

Juntos, os três países foram responsáveis por 38% das importações dos EUA de aço em julho e cerca de metade no ano passado.

“Precisamos de celeridade e efetividade na aplicação de medidas de defesa comercial”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

O aço chinês agora representa cerca de 65% das importações brasileiras do material. “Nossa missão é recuperar esse um terço do mercado que perdemos por conta de importações predatórias.”

As medidas para interromper as importações de aço chinês podem ajudar a posição de negociação dos três países com os EUA.

As tarifas de Trump sobre os vizinhos dos EUA ocorrem no momento em que seu governo trava uma guerra comercial mais ampla contra a segunda maior economia do mundo, com o objetivo, em parte, de conter o fluxo de produtos chineses baratos para países ao redor do mundo.

O aço chinês representou mais da metade do mercado global de aço no ano passado, de acordo com dados da Associação Mundial do Aço.

Um porta-voz do Escritório do Representante Comercial dos EUA não respondeu aos pedidos de comentário.

Volumes de aço para os EUA despencaram

Desde que Trump anunciou as tarifas sobre o aço, os volumes enviados do Canadá e do Brasil para os EUA despencaram. As importações dos EUA destes países caíram 45% e 27%, respectivamente, em julho, em comparação com o ano anterior, mostram dados do Census Bureau dos EUA.

O México ainda não sentiu o impacto total da taxação devido aos estoques, com as exportações de aço aos EUA em alta de 50% em julho.

Ainda assim, os danos às indústrias no México, Canadá e Brasil já se espalharam.

No Brasil, a Gerdau cancelou os planos de investir cerca de US$ 600 milhões em uma nova siderúrgica no México. A Algoma Steel Group, que opera uma grande usina de Ontario, no Canadá, está interrompendo os embarques de aço para os EUA, disse o principal executivo da empresa à Bloomberg News. 

Embora a tarifa de referência sobre o aço seja de 50%, os países enfrentam, na realidade, uma alíquota efetiva mais baixa.

Em julho, a taxa para o ferro e o aço ficou abaixo de 30% para o Canadá, México e Brasil, segundo dados compilados pela Bloomberg, que incluem isenções negociadas.

México e Canadá estão relativamente protegidos graças a uma exceção para o metal que é “fundido e moldado” nos EUA, bem como isenções de outras tarifas sobre o conteúdo não metálico destes produtos, de acordo com a Bloomberg Economics.

Os EUA continuam importando aço e precisarão continuar comprando no estrangeiro, a menos que a indústria nacional se expanda em grande escala. O destino final das tarifas de Trump, por sua vez, permanece incerto, depois que a Suprema Corte concordou em ouvir argumentos sobre a legalidade das tarifas.

Mas, no curto prazo, medidas protecionistas voltadas à China estão proliferando, à medida que as siderúrgicas das Américas sofrem com as tarifas de Trump.

Além dos aumentos de tarifas do México sobre o aço chinês, o governo investiga siderúrgicas fantasmas, operações que existem apenas no papel na Ásia e servem de fachada para importações, já que os proprietários buscam escapar de tarifas ou sanções.

O Canadá aplicou tarifas de 25% ao aço chinês e, em julho, reforçou suas cotas tarifárias — que impõem taxas mais altas sobre quantidades acima de um determinado nível — para limitar ainda mais as importações de países fora dos EUA. O governo também adicionou uma sobretaxa de 25% sobre produtos de aço de qualquer país, exceto os EUA, que contenham aço fundido e moldado na China.

O Brasil, por sua vez, está investigando se são necessárias tarifas antidumping sobre as importações de 25 tipos de produtos com aço da China. O governo implementou um sistema de cotas tarifárias para limitar as importações de alguns produtos e apoiar as siderúrgicas locais — uma medida que a indústria considera ineficaz.

Num discurso no final de julho, Zhao Minge, CEO da Associação Chinesa de Ferro e Aço, alertou sobre potenciais medidas protecionistas de países inundados com aço chinês. A exportação em larga escala de “produtos de aço primário de baixo valor agregado” não se alinha com as políticas de exportação da China, afirmou.

O Brasil está sob pressão significativa, já que as tarifas dos EUA levam a China a redirecionar sua oferta. A multinacional siderúrgica sediada em Luxemburgo ArcelorMittal pode atrasar seus planos para uma nova fábrica no Brasil, de acordo com o presidente da empresa no Brasil, Jorge Oliveira. “É um projeto que corre o risco de adiamento se o nível de importação continuar crescente”, disse ele em entrevista no final do mês passado.

A reorganização comercial global também forçou a ArcelorMittal a interromper as exportações de 400.000 toneladas de placas de aço feitas no Brasil para o Canadá, que agora não pode reexportar para os EUA, disse Oliveira.

Gerdau

Em agosto, durante uma conferência em São Paulo, o presidente do conselho de administração da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, alertou que o setor siderúrgico brasileiro está se aproximando de um ponto de ruptura, com qualquer queda adicional na utilização da capacidade, abaixo dos atuais 66%, provavelmente ameaçando empregos. “O grande debate é onde vão ficar os empregos — na China ou no Brasil?”, afirmou.

Um choque político entre o Brasil e Trump sobre o tratamento dado ao seu aliado Jair Bolsonaro desferiu um golpe na tentativa do Brasil de chegar a um acordo bilateral sobre as tarifas ao aço. Desde que Trump impôs taxas de 50% sobre produtos brasileiros, os canais diplomáticos entre os dois países se silenciaram — e as negociações só serão retomadas quando as tensões diminuírem, disse Lopes, do Instituto Aço Brasil.

No mês passado, Barry Zekelman, CEO da Zekelman Industries, disse que as siderúrgicas canadenses não sobreviverão a menos que as políticas comerciais dos EUA mudem. Sua empresa, fabricante de tubos de aço com sede em Chicago, possui uma fábrica de tubos em Ontário, Canadá. “As usinas canadenses “não conseguem sobreviver com os impostos que estão pagando”, disse. “Elas vão falir se isso continuar.”

 
Fonte: Investnews
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 26/09/2025

 

Indústria se une após conflitos sobre aço importado

A disputa em torno do aço importado entre siderúrgicas e indústrias consumidoras no Brasil ganhou novos contornos. Se antes fabricantes de automóveis e máquinas e equipamentos se posicionavam contra tarifas, interessados em insumos mais baratos, agora esses mesmos setores começam a rever o discurso.

O motivo: o país asiático deixou de exportar apenas insumos básicos e passou a avançar também com produtos de maior valor agregado, competindo diretamente com montadoras, fornecedores de máquinas e equipamentos, entre outras indústrias locais.

A renovação do sistema de cotas de importação de aço, prorrogada até 2026, dividiu o debate sobre a política comercial. De um lado, as siderúrgicas avaliam que as cotas são insuficientes para conter o avanço de importações a preços reduzidos, especialmente da China. De outro, os grandes consumidores de aço sabem que barreiras encarecem a indústria nacional.

Para Antônio Sérgio Martins Mello, diretor de relações institucionais da Stellantis e vice-presidente da Anfavea, entidade que representa as montadoras, o ponto central é a discussão da competitividade e a cadeia produtiva precisa estar unida. “Para que a gente venda o carro a preços competitivos, precisamos ter insumos competitivos. Nesta discussão, não estamos defendendo redução de tarifa de aço. Isso não está nos planos. É o momento de unir forças”, diz.

A declaração, feita durante o congresso Aço Brasil 2025, marca uma inflexão: o setor automotivo, que antes resistia a tarifas sobre o aço importado, hoje evita falar em redução de impostos e defende estabilidade na cadeia produtiva, reflexo da entrada massiva de carros chineses no mercado brasileiro.

Na indústria de máquinas, o dilema é ainda mais evidente. O aço representa cerca de 40% do custo de produção, segundo Claudio Brizon, diretor da CNH Industrial. O setor depende de insumos acessíveis para competir globalmente, mas, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a entrada de equipamentos prontos da China deve superar US$ 10 bilhões em 2025.

José Velloso, presidente da entidade, alerta. “Além disso, temos uma competição desleal com produtos chineses porque a China dá subsídios, financiamento barato, o Estado intervém no câmbio, fazem financiamento a fundo perdido para exportadores”.

A MRV, maior incorporadora do país, traz nuances adicionais. Para o CEO Eduardo Fischer, embora o sistema de cota-tarifa encareça os custos da construção civil, é preciso garantir a sobrevivência da indústria nacional para evitar uma dependência asiática e eventuais problemas futuros. “Temos de equilibrar a equação de como manter a indústria nacional competitiva sem destruí-la e sem que ela cobre além do que deveria”.

A construção civil, um dos maiores consumidores de aços longos, não sofre concorrência direta da China em seus mercados finais, mas teme instabilidade de fornecimento no longo prazo.

O reposicionamento desses setores não é isolado. A China tem excesso de capacidade estrutural na produção de itens ligados à siderurgia, máquinas, automóveis, eletroeletrônicos, energia, entre outros. Com barreiras cada vez mais duras dos Estados Unidos e União Europeia, exportadores redirecionam seu excedente para países mais abertos, como o Brasil.

Esse movimento já provocou um salto das importações: o país pode encerrar o ano com mais de 6,2 milhões de toneladas de aço importadas, o equivalente a 30% das vendas internas de laminados.

No setor automotivo, carros fabricados na China já representam 7,8% do mercado brasileiro, segundo dados de emplacamento de agosto. A BYD ultrapassou a Honda no ranking de marcas mais vendidas em 2025. No setor de máquinas e equipamentos, os importados respondem por quase metade do mercado.

O governo brasileiro tenta administrar interesses contraditórios. Renovou até maio de 2026 o sistema de cotas, aplicando tarifa de 25% sobre o aço importado acima do limite e ampliando de 19 para 23 os produtos abrangidos. Também abriu a maior investigação antidumping da história, cobrindo 25 itens vindos da China.

Mas há freios políticos: a China é o maior parceiro comercial do Brasil, comprando commodities agrícolas e minerais, além de ser aliada no grupo dos Brics. Endurecer contra Pequim poderia gerar retaliações. Ao mesmo tempo, os EUA, um dos principais destinos do aço brasileiro, mantêm tarifas elevadas, obrigando o país a equilibrar seus movimentos diplomáticos.

Para especialistas, o Brasil dispõe de instrumentos para proteger sua indústria sem se indispor diretamente com a China, mas a margem de manobra é estreita. A resposta passa por calibrar medidas defensivas com políticas industriais que mantenham a China como parceira, preservando a sustentabilidade da indústria local.

Para Márcio Sette Fortes, professor de Relações Internacionais do Ibmec RJ, a pressão chinesa é resultado da contração das exportações para os EUA. De um lado, a China elevou o valor agregado de seus produtos. De outro, redirecionou exportações para regiões mais abertas, como América Latina. “Pode-se citar os direitos antidumping e as medidas compensatórias para casos de competição desleal, e as medidas de salvaguarda, quando as importações de um bem aumentaram em volume, comparativamente à produção do similar nacional, a ponto de gerar prejuízo”.

Rodrigo Scolaro, economista da plataforma de inteligência GEP Brasil, lembra que a demanda interna de aço na China não está aquecida, o que leva a maior exportação. Havia perspectiva de corte na produção em um cenário deflacionário, somado ao aumento de barreiras alfandegárias, mas isso ainda não se confirmou.

 

 
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 25/09/2025

Produção mundial de aço tem ligeira alta de 0,3% em agosto

A worldsteel divulgou que a produção mundial de aço bruto alcançou 145,3 milhões de toneladas em agosto de 2025, um aumento de 0,3% em relação ao mesmo mês do último ano. A Ásia e a Oceania produziram 107,7 milhões de toneladas em agosto, 0,4% a mais sobre agosto de 2024. Apenas a China produziu 77,4 milhões de toneladas, um recuo de 0,7% na comparação com agosto do ano passado, enquanto a Índia produziu 14,1 milhões de toneladas no mês, um incremento de 13,2% sobre o mesmo mês do último ano. Japão e Coreia do Sul produziram 6,6 milhões t e 5,2 milhões de toneladas de aço bruto em agosto, respectivamente, com recuos de 3,4% e 6,1% na comparação com o mesmo mês de 2024.

Os países do Bloco Europeu produziram 8,8 milhões de toneladas de aço em agosto de 2023, ou 2,8% a menos que no mesmo mês de 2024. A Alemanha produziu 10,5% a menos e somou 2,6 milhões de toneladas de aço sobre agosto de 2024. Países europeus, como Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Noruega, Sérvia, Turquia e Reino Unido, produziram 3,7 milhões de toneladas e cresceram 2,1%, na comparação com agosto de 2024. A Turquia viu a produção aumentar 7,9%, para 3,4 milhões de toneladas em agosto de 2025. A África – Egito, Líbia e África do Sul – produziu 1,8 milhão de toneladas de aço bruto em agosto, 3,8% inferior na comparação com agosto do último ano. Já os países da CIS produziram 6,7 milhões de toneladas, 4,9% a menos, com destaque para a Rússia, que teve um volume de produção estimado de 5,5 milhões de toneladas, o que representa decréscimo de 4,6% sobre agosto de 2024.

Os países do Oriente Médio - Irã, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos – registraram produção de 3,8 milhões de toneladas de aço bruto e cresceram 21,5% na comparação com agosto de 2024. O Irã produziu 1,6 milhões de toneladas, 17,9% superior no mês.

A produção na América do Norte aumentou 1,6% em agosto de 2025, somando 9,1 milhões de toneladas. Apenas os Estados Unidos produziram 7,2 milhões de toneladas, 3,2% a mais ao volume de agosto de 2024, enquanto a produção na América do Sul alcançou 3,6 milhões de toneladas, 5% a menos do que em agosto de 2024. O Brasil produziu 2,9 milhões de toneladas e registrou 4,6% a menos do que em agosto do último ano. No acumulado do ano até agosto, a produção mundial de aço bruto somou 1,230 bilhão de toneladas, o que representa uma queda de 1,7% em relação ao mesmo período de 2024.

 
Fonte: Brasil Mineral
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 25/09/2025

 

Encontro entre Lula e Trump reforça importância da retomada das negociações, avalia presidente da CNI

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) recebeu com entusiasmo o anúncio do presidente americano Donald Trump, feito na Assembleia Geral da ONU, de que se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana. Para a entidade, a retomada do diálogo em alto nível é fundamental para reaproximar Brasil e Estados Unidos em um momento de tensões comerciais e tarifas elevadas sobre produtos brasileiros.

O presidente da CNI, Ricardo Alban, avalia que a sinalização de Trump abre caminho importante para negociações que podem aliviar o impacto das sobretaxas. “A fala do presidente Trump, sinalizando uma abertura para o diálogo com o presidente Lula, aumenta a esperança para que os dois governos iniciem uma mesa de negociação para rediscutir as pesadas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas temos confiança de que, por meio da conversa e da diplomacia, o Brasil conseguirá reverter esse cenário. Afinal, Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação propositiva de mais de 200 anos, com economias complementares”, destacou.

A importância do comércio bilateral reforça a urgência da aproximação: em 2024, as exportações brasileiras para os EUA alcançaram US$ 40,4 bilhões, alta de 9,4% em relação ao ano anterior, enquanto as importações somaram US$ 40,7 bilhões, crescimento de 7,1%. Mais de 80% das vendas brasileiras aos EUA têm origem na indústria de transformação, especialmente nos segmentos de aço, alumínio, veículos e autopeças — justamente os mais afetados pelas tarifas adicionais.

No início de setembro, a CNI coordenou uma missão empresarial a Washington, reunindo cerca de 130 empresários de diversos setores, além de encontros com autoridades do governo e do parlamento norte-americano. O objetivo foi contribuir para a abertura de canais de negociação e reforçar, com argumentos técnicos, as vantagens mútuas de uma parceria econômica mais equilibrada.

“Essa reunião entre os presidentes pode representar uma oportunidade de reaproximação estratégica, capaz de reduzir barreiras, ampliar a cooperação em áreas de inovação e sustentabilidade e reforçar a segurança jurídica para investimentos de longo prazo. O comércio bilateral é vital para a competitividade da indústria brasileira e só pode avançar com base no diálogo e na construção de soluções negociadas”, concluiu Alban.

Fonte: CNI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 24/09/2025

 

Construção civil não tem incentivos para instalar energia solar em empreendimentos

Mesmo sem incentivos a energia solar avança, porém a população de baixa renda está longe de ter acesso a essa energia limpa, que pode trazer economia para essas famílias. As construtoras até querem investir nas placas fotovoltaicas para os novos empreendimentos, mas há dificuldades como espaço físico, custos e falta de incentivos.

O professor de engenharia elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Edval Delbone, acha necessária a criação de incentivos para os empreendimentos imobiliários, residenciais, comerciais e industriais por parte das prefeituras. “É uma energia limpa, renovável, que ajuda na diminuição do gás carbônico na atmosfera, o grande objetivo mundial, a única ressalva é se o dinheiro para incentivar essa energia solar tiver vindo daquelas pessoas que não podem tê-la, dos impostos dos contribuintes que não podem ter a energia fotovoltaica estarem contribuindo para beneficiar outros segmentos, mas tirando isso acho importante estimular porque temos que ter cidades mais sustentáveis”, observa.

Segundo Delbone, qualquer empreendimento habitacional pode ter placas para a captação da energia solar, mas isso não é viável na maioria dos empreendimentos verticalizados por conta da área menor a ser aproveitada para a instalação das placas fotovoltaicas. O professor diz que os edifícios têm poucas áreas comuns e as garagens ficam no subsolo, com isso a única área comum fica no teto dos edifícios e é uma área muito pequena para comportar placas solares para todos os moradores.

“Estão estudando o uso de placas, como um filme, que fica no vidro das janelas dos prédios comerciais, mas ainda se traz baixa eficiência e preço muito alto. Futuramente isso pode ser alternativa, mas agora ainda não por ter baixa eficiência e ainda um preço elevado”, detalha o engenheiro elétrico da Mauá.

Retorno financeiro não é imediato

Como retorno financeiro, através de watts/hora de energia gerada, Delbone aponta que nos grandes empreendimentos industriais, com grandes telhados, o retorno financeiro do investimento em placas solares não é mais rápido do que o realizado em áreas menores, como se imagina. “O telhado é grande, mas também o investimento é maior, então se investe mais para gerar mais, mas o retorno do investimento acaba sendo em igual período.

O professor do IMT diz que o uso da energia solar se populariza no Brasil, mas ainda as populações de baixa renda ainda vão demorar um bom tempo para ter acesso a essa tecnologia. Conta que quando a energia solar começou a crescer no Brasil, em meados de 2013, havia poucas usinas solares, tinha meio gigawatt, hoje chega a 40 gigawatts, então quando passa a ter mais adesão, os preços começam a baratear as placas, inversores e todos os equipamentos envolvidos na usina solar.

“Esse preço só não caiu mais por causa da cotação do dólar, já que a maioria dos equipamentos são importados. Mesmo com o dólar subindo o preço para o consumidor caiu por causa da produção em grande escala. Hoje a classe média já tem acesso, a classe média baixa alguns já têm acesso, mas o consumidor de baixa renda ainda não tem condições de ter energia solar e acredito que isso vá demorar bastante tempo”, completa.

Potencial construtivo

Para o diretor técnico da construtora MBigucci, Milton Bigucci Júnior, não há entraves para a implantação de sistemas solares nos novos empreendimentos, mas também não há incentivos. “Se há alguma forma de incentivo eu desconheço. Na Capital, existe uma coisa que se chama cota ambiental, são uma série de conceitos que, se a construtora atender, ganha um percentual construtivo maior. Se, por exemplo, eu implantar jardim permeável ou uma caixa coletora de água de chuva, eu posso ganhar mais potencial construtivo, a cada item que a gente incorpora eu fico autorizado a construir mais. O mesmo valeria para a energia solar. Isso poderia ter aqui no ABC também”, sugere.

A MBigucci, que além de condomínios residenciais, construiu dois centros logísticos, em Diadema e Santo André, já implantou placas fotovoltaicas para aproveitar a grande área de telhado destes imóveis. “No MBigucci Business Park de Diadema, a instalação foi concluída há alguns meses, é uma usina solar que já traz retorno, mas a expectativa de retorno do investimento é de três a quatro anos”, diz Bigucci Júnior. A energia gerada por essa usina é levada para a rede da Enel e retorna para o empreendimento como desconto na conta de luz.

O diretor da MBigucci diz que o mercado vê muito bem iniciativas relacionadas ao cuidado com o meio ambiente, mas a conta ainda não fecha para os empreendimentos residenciais. Conta que estudo interno mostrou que implantação nos imóveis residenciais ainda não é interessante, por causa da escassez de áreas para as placas solares, e colocar em uma área reduzida não traria efeito.

“A gente fala de um retorno na conta de energia de uma porcentagem da conta de luz das áreas comuns, o que é pequeno. Esse é um apelo de marketing válido, mas ainda não é tão relevante como a vaga para carro elétrico, que hoje já é uma realidade nos novos empreendimentos”, completa Milton Bigucci Júnior.

Marcus Santaguita, presidente da construtora Jacy e do Grupo Motiró Negócios Imobiliários, considera que a energia solar é uma oportunidade de negócio e um bom atrativo para os novos empreendimentos.

Argumento de venda

Nos últimos anos houve um aumento no número de empreendimentos que estão sendo entregues com o sistema de placas fotovoltaicas para captação de energia solar. Santaguita considera um grande benefício para o futuro condomínio, pois o sistema consegue abastecer parcialmente e, em alguns casos, totalmente o consumo de energia elétrica das áreas comuns. “Inclusive esse é um item usado como argumento de venda tendo uma ótima aceitação do público por ser sustentável e por trazer economia. Pode ser um item que leve o consumidor a optar entre um empreendimento que tenha o sistema em detrimento de outro que não tenha”, aponta.

Santaguita cita as dificuldades que ainda emperram o uso maior dos sistemas de energia solar pelos empreendimentos. O sistema normalmente é instalado no topo dos prédios, fica limitado à área de laje ou de telhado existente. A depender da área de laje, o sistema pode suprir a totalidade do consumo das áreas comuns, embora seja normal que atenda parcialmente.

“O que vejo como dificultador para instalação é o custo do sistema, que dependendo do padrão do empreendimento pode não ser viável a implantação. Em muitos casos em que isso ocorre, as construtoras deixam toda a infraestrutura pronta para futura instalação do sistema pelo condomínio”, diz.

Tributação invés de estímulo

Apesar de acreditar na energia solar como item de valor nos novos empreendimentos, Santaguita lamenta a falta de incentivo dos governos. “Em se falando de poder público, o incentivo é zero, aliás pelo contrário existem projetos de lei para tributar a energia gerada. Isso é um absurdo, pois ao invés de o governo incentivar o tipo de iniciativa ele acaba inibindo com eventual tributação”, completa.

Julio Diaz Cabricano, que dirige a Suporte Engenharia e preside a Acigabc (Associação das Construtoras e Imobiliárias do Grande ABC), também considera que a prática de compensações para quem investir em itens sustentáveis nas obras, adotada na Capital, é positiva e poderia também ocorrer no ABC.

“Só São Bernardo ficou de apresentar isso no Plano Diretor, mas ainda nada foi feito. Eu vejo isso como uma necessidade, não quer dizer que todas as construtoras vão implantar porque ainda é um custo elevado, mas muitas já o fazem e em alguns casos não instalam, mas já deixam toda a infraestrutura pronta para que, se o condomínio quiser fazer, já uma grande parte já está pronta”, diz o presidente da Acigabc.

Da mesma forma que a discussão sobre as vagas para carros elétricos em condomínios, o que hoje já é uma realidade em muitos empreendimentos e cuja regulamentação ainda está em discussão, o uso da energia solar também é uma tendência, segundo a avaliação de Cabricano. “É uma realidade e vejo como uma necessidade, um importante item de marketing para a obra. Vejo que já está acontecendo nos empreendimentos mais luxuosos, nos mais populares é mais difícil acontecer. Eu avalio que, mesmo que se implante em áreas pequenas, tudo o que puder contribuir para diminuir a conta de energia será positivo”, completa.

Prefeituras

As prefeituras da região não informaram sobre programas de incentivo para as construtoras entregarem os novos empreendimentos já com com as placas solares, mas relataram o uso já em empreendimentos populares, caso de São Bernardo, e em equipamentos públicos.

São Bernardo iniciou a utilização de tecnologia de energia fotovoltaica em empreendimentos habitacionais. O primeiro projeto a incluir sistema de iluminação com esta tecnologia é o Condomínio Silvina Audi. O sistema atenderá áreas comuns do condomínio, que possui dois prédios e um total de 196 apartamentos, segundo relata o município.

Ainda de acordo com a administração, São Bernardo foi contemplado em projeto de eficiência energética da Enel para modernizar o Hospital de Clínicas Municipal José Alencar, no Grande Alvarenga. Em notas, diz que iniciativa, com investimento de R$ 4,49 milhões totalmente financiado pela concessionária, prevê a troca dos chillers (sistema de refrigeração) por equipamentos de alta eficiência e a implantação de sistema de microgeração solar fotovoltaica de 62,7 kWp, gerando economia de cerca de 30% no consumo atual, equivalente a 2.061.400 kWh por ano.

Santo André tem quatro usinas

Santo André apostou na energia solar ao instalar usinas em terrenos e em um prédio público. O município informa que realizou a implantação de quatro usinas fotovoltaicas (uma no Jardim Las Vegas, uma na avenida dos Estados e duas no bairro Cidade São Jorge), todas em operação no momento, sendo a mais recente (UPES IV) entregue em 6 de setembro de 2025. Ao total, foram instalados 8.820 painéis solares, investimento de aproximadamente R$ 41.812.483,68. Além da implantação das quatro usinas, a Prefeitura conta com um equipamento da Educação (o Cesa Parque Erasmo Assunção) e um outro em fase de aprovação dentro do programa Procel de conservação energética. A ampliação de investimento é estudada, devido ao alto valor a ser investido, disponibilidade de área para implantação e demanda para as compensações, completa a nota.

Santo André informa, ainda, que só um equipamento público municipal já conta com energia fotovoltaica, mas não especifica qual imóvel é esse. Esse equipamento possui o sistema de geração de energia por meio de placas solares, onde a energia é disponibilizada na rede no sistema “on grid” e compensada na própria unidade. A média de produção mensal é de 2.313 kwh/mês.

O plano de governo em Rio Grande da Serra já prevê o uso das placas solares com a instalação de sistemas solares em prédios públicos e a criação de programas e incentivos para que a população e novos empreendimentos também adotem essa tecnologia. Além disso, estão em andamento estudos de viabilidade para a aquisição de energia de fazendas solares, medida que pode resultar em até 20% de redução nas despesas com energia elétrica, sem necessidade de investimentos diretos, beneficiando o município, os empreendedores e os cofres públicos. Essas iniciativas encontram-se em fase de planejamento e de estabelecimento de parcerias, integrando as prioridades da administração e com previsão de implantação até o final do mandato, informa o município em nota.

A Prefeitura de Diadema, por outro lado, não tem apostado ainda nessa tecnologia. São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires não responderam.

 
Fonte: Repórter Diário
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 22/09/2025

 

Empresas afetadas por tarifaço podem pedir crédito do Brasil Soberano

Empresas exportadoras afetadas pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já podem se habilitar a receber recursos do plano Brasil Soberano, que chegam a R$ 40 bilhões.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (18) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco de fomento ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Ao todo, exportadoras que sofrem com a barreira comercial imposta pelos Estados Unidos terão acesso a R$ 40 bilhões com juros subsidiados:

R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE)
R$ 10 bilhões de recursos do próprio BNDES.
Os recursos são para financiamentos de capital de giro (contas do dia a dia, como salário e pagamento de fornecedores), investimentos em adaptação da atividade produtiva, compra de máquinas e equipamentos e busca de novos mercados.
Ajuda a exportadores

O plano Brasil Soberano foi lançado em 13 de agosto e consiste em ajuda do governo, com empréstimos para empresas que exportam para os Estados Unidos produtos que entraram na lista de taxação de até 50%.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, frisa que a concessão do crédito é condicionada à manutenção de empregos por parte dos empresários.

“O BNDES vai socorrer todas as empresas, e a contrapartida é manter os empregos para a economia continuar crescendo, e o país não ser prejudicado por essas medidas autoritárias, unilaterais e injustificadas.”

O movimento de ajuda é semelhante ao que o banco de fomento operou em 2024, após os temporais que alagaram grande parte do Rio Grande do Sul. Na ocasião, o banco contribuiu com R$ 29 bilhões. 

Quem pode acessar

Poderão acessar a parte dos R$ 30 bilhões empresas de todos os portes e com pelo menos 5% do faturamento bruto total, no período de julho de 2024 a julho de 2025, composto por produto na lista de tarifação.

Já os R$ 10 bilhões em recursos do BNDES podem ser acessados por empresas com qualquer nível de impacto no faturamento bruto.

Como acessar

O primeiro passo para acessar os recursos é consultar se a empresa é elegível para o plano de socorro. A consulta pode ser feita no site do BNDES.

Os interessados precisarão se autenticar utilizando a plataforma GOV.BR, exclusivamente por meio do certificado digital da empresa.

Caso o sistema indique que a empresa é apta ao crédito, a recomendação é entrar em contato com o banco com o qual já tem relacionamento. Grandes empresas podem procurar diretamente o BNDES.

Efeitos do tarifaço

Um levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), entidade sem fins lucrativos que representa empresas que atuam no comércio entre os dois países, estima que as exportações de produtos afetados pelo tarifaço americano caíram 22,4% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2024. 

Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para a China.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o tarifaço de 50% incide em cerca de um terço (35,9%) das exportações brasileiras para os Estados Unidos.

O governo de Donald Trump assinou uma ordem executiva que estipulou a cobrança de taxas de até 50% a partir de 6 de agosto, mas deixou cerca de 700 produtos em uma lista de exceções. Entre eles estão suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo motores, peças e componentes. Também ficaram de fora produtos como polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.

Trump alega que os americanos têm déficit comercial (compram mais do que vendem) com o Brasil – o que é desmentido por números oficiais de ambos os países.

O presidente americano usou como justificativa o tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que considera ser perseguido. Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, em julgamento que terminou na semana passada. 

 
Fonte: Agência Brasil
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 19/09/2025