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Cultura é a base para a transformação verde da construção civil

A transição de um ambiente para um novo, fundado em paradigmas até então desconhecidos, causa o desconforto e a resistência que podem caracterizar o chamado choque cultural. No processo de transformação do setor da construção civil imobiliária rumo a um ecossistema sustentável, não é diferente. O setor é formado por 125 mil empresas registradas na categoria construção civil e, segundo o Secovi, o sindicato da habitação, 85% são de pequeno e médio porte – incluindo aí aquelas de gestão familiar, que podem ser menos permeáveis a novas práticas, capazes de criarem uma cultura ESG na própria companhia.

“Criar cultura é muito difícil. Eu sou diretora fundadora da empresa, conheço cada molécula desta empresa, sei exatamente para onde ir, e o que tenho de fazer para chegar lá. Mas como que eu passo isso para um gerente, que passa para o coordenador, que passa para o supervisor, que passa para todo mundo? Essa é a maior barreira que temos a vencer”, afirma Paula Jansen, diretora de projetos, produtos, inovação e estudos de viabilidade técnica na ADN Construtora e Incorporadora, de São Carlos (SP). Fundada há 10 anos, tem como principal mercado imóveis que se enquadram no programa Casa Verde Amarela. A empresa não tem gestão familiar.

Para enfrentar a questão, a construtora faz campanhas de conscientização e adota medidas, inclusive sociais, procurando mostrar com ações uma mudança cultural interna. "Se a pessoa chega para trabalhar e encontra uma biblioteca com cara de jardim no meio da empresa, isso é muito legal.O impacto é relativamente pequeno, mas ajuda na cultura. Utilizando esses pequenos projetos, ninguém tem de falar, de palestrar, mas a pessoa vai percebendo as mudanças, vai vendo que coisas estão diferentes”, diz Janssen.

A ADN contratou uma consultoria para ter suporte e mais conhecimentos para a jornada ESG, inclusive na questão cultural. Até o meio do ano, terá montado três comitês, ambiental, social e de governança, também criou um time formado por pessoas de diferentes níveis e formações sociais para ajudar a transmitir para os seus 3 mil colaboradores em que ponto está em termos de cultura de sustentabilidade e onde quer chegar.

Um fator de resistência à adesão a práticas ESG por parte de muitos empresários reside na ideia de que a adoção significa um gasto a mais nas planilhas da companhia. “A pessoa pensa que custa muito caro fazer sustentabilidade, mas considero mais caro não ter, porque com ESG a tendência é haver mais produtividade”, diz Roberta Bigucci, diretora administrativa da MBigucci, fundada em 1983 em São Bernardo do Campo. “Quando se começa a reorganizar a empresa, remodelando procedimentos e ações, também está cuidando do G. E isso vai trazer benefícios, inclusive financeiros, e já está indo para o S, pois vai trazer satisfação pessoal para as pessoas da organização, do entorno, da vizinhança”, argumenta.

Bigucci defende que a primeira coisa que uma empresa deve fazer, quando se trata da adoção de práticas ESG, é olhar para dentro, porque muitas vezes a companhia já utiliza alguns métodos que podem ser considerados sustentáveis, da coleta de lixo reciclável, à redução de resíduos e reaproveitamento de material. Claro, ESG é muito mais do que ter alguns processos sustentáveis – requer um projeto fortemente estruturado, com metas e transparência –, mas essa proposta ajuda a quebrar resistências. “Às vezes, alguns procedimentos estão tão enraizados, que não se percebe que eles podem ser um diferencial. Então tem de olhar para dentro”, afirma a diretora.

Ter os líderes na mesma página, puxando a agenda, ao que tudo indica, faz a diferença para criar uma cultura pró-ESG. “Eu não era nem CEO da companhia quando contratamos uma consultoria para falar com todos os executivos para explicar o que precisávamos mudar”, conta Eduardo Fischer, que assumiu como co-presidente da MRV ao lado de Rafael Menin em 2014. “Olhando para trás, percebo que os executivos e os colaboradores estão mais maduros em relação ao tema. Se antes era um tabu discutir se faríamos um trainee intencional para contratar pessoas negras, se isso seria discriminação ou não, hoje já não é. Outros temas assim também discutiremos e serão cada vez mais parte do nosso normal”, pontua.

A dica aqui é mais simples do que parece: “É começar um pé na frente do outro e ir mobilizando mais gente para ter mais pessoas que empurram do que seguram”, diz Fisher. “E vá sem medo, entenda que corrigir rotas faz parte e às vezes terá que voltar alguns passos para trás, sem ficar preocupado demais”, completa Fischer. “Ter um órgão de governança relevante focado nisso ajuda a permear as iniciativas nas companhias, afinal, sem G não temos E e S”, acrescenta o consultor Lincoln Camarini, da Resultante, que acompanha a evolução do ESG em 11 setores, incluindo o construção civil.

No processo de transformação, até mesmo o método construtivo pode entrar em discussão. Atualmente, a construção modular é avaliada como uma forma de reduzir a produção de resíduos e ganhar celeridade nas obras. Por esse processo, as paredes já chegam prontas à construção, com toda a fiação, tomadas, pontos para acender a luz e espaço para instalação de portas, se for o caso, instaladas. É só ‘encaixar’ e fazer as conexões. “É um processo de industrialização da construção civil, boa parte da obra ocorre dentro de um parque fabril”, diz Ricardo Mateus, CEO da Brasil ao Cubo, de Santa Catarina, que adota esse processo em seus projetos.

Matheus Picceli, CFO da empresa, afirma que, por ser um processo controlado, dentro de um ambiente fabril, as rotinas são muito bem definidas. “Não temos o desperdício que existe na obra. Até a questão de retrabalho, de erro do profissional, é extremamente reduzida. Conduíte, fiação, é quase desperdício zero, porque é um time muito especializado que está dentro da fábrica, há controle de qualidade muito forte e também de segurança do trabalhador”, diz.

Esse modelo construtivo, no entanto, enfrenta obstáculos, ainda é caro, de acordo com Paula Janssen, da ADN. “O método off site ainda não é rentável”, afirma a executiva. “O que percebemos que é muito valorizado por nossos clientes são o prazo, a velocidade e a segurança. Ao conseguir entregar uma obra até quatro vezes mais rápido em relação ao método tradicional, os nossos clientes já conseguem usufruir do empreendimento. A geração de receita é expressiva”, declara Picceli. Ele acrescenta que a emissão de carbono de uma obra é aproximadamente 23% menor daquela que adota o que uma obra convencional.

Nesse sentido, a ADN iniciou o inventário de sua pegada de carbono. “Já estamos com esse trabalho, começamos a mapear, estudar formas de compensação. O próprio plantio de árvores já está um para um: cada apartamento feito, plantamos uma árvore”, conta Janssen. Ela diz que até o fim do ano deverá ter os resultados desse processo.

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 03/06/2022

Fretes rodoviários crescem 37% no primeiro trimestre de 2022, aponta estudo

 Para economista da USP, alta pode ser explicada pela tendência de digitalização do setor, a valorização de commodities no mercado internacional e o aumento do consumo da população O número de fretes rodoviários no Brasil cresceu 37% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2021, segundo levantamento da plataforma digital FreteBras. O estudo mostra que o volume cresceu de 1,63 milhão em 2021 para 2,24 milhões neste ano. Em 2020, o número foi de 1,06 milhão.

De acordo com o levantamento, o crescimento deste ano foi puxado pelo agronegócio, que representou 37,4% das cargas registradas na plataforma e R$ 6,7 bilhões em fretes distribuídos.

Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, os fretes do agronegócio aumentaram 35,2%. Para o economista da Universidade de São Paulo, Lucas Godoi, o cenário apontado pela pesquisa reflete a valorização das commodities no mercado internacional.

“Um dos fatores que incidem sobre o aumento do volume de fretes é o aumento do preço das commodities no exterior, o que estimulou o aumento da exportação brasileira de minério, de petróleo, de grãos, e principalmente, de alimentos”, avalia o economista.

“E o segundo fator é o aumento da produção agropecuária em si. Em 2021, o agro teve alguns problemas, principalmente no primeiro semestre, de geada, por exemplo, já esse ano vem tendo uma safra recorde e saudável, sem problemas, o que claramente aumenta os fretes em si”, afirma.

Os estados mais significativos para o desempenho do segmento foram Rio Grande do Sul (15,7%), Mato Grosso (12,4%) e São Paulo (11,9%). Os produtos mais transportados foram fertilizantes (23,4%), soja (13,2%) e milho (12,7%).

De acordo com Bruno Hacad, diretor de Operações da plataforma que produziu o estudo, a liderança do transporte de fertilizantes demonstra uma tentativa do mercado interno brasileiro de diminuir a dependência do país em relação à produção internacional, com destaque para a Rússia, que é a fonte de 23% de todos os fertilizantes que chegam ao Brasil.

“Essa independência é importante, porque o fertilizante é matéria-prima essencial para produção agrícola. No cenário atual, ainda não vemos impacto da guerra na Ucrânia na oferta desse insumo, o que observamos é a busca por alternativas para diminuir a dependência, seja com fábricas de fertilizantes no país ou na busca de fontes alternativas, comprando de outros países ou tendo acesso a produtos que substituam o fertilizante convencional”, afirma Hacad.

Digitalização do mercado de fretes

Para o economista Lucas Godoi, o aumento dos fretes contratados na plataforma digital reflete a intensificação do processo de digitalização dos fretes no Brasil.

O diretor de Operações da empresa afirma que as soluções digitais permitem que as transportadoras se preparem para situações adversas, como a da Guerra da Ucrânia e crescimento constante de inflação e juros.

“A contratação das plataformas digitais permite que a empresa tenha acesso a uma gama de caminhoneiros e isso dá maior poder de negociação. Além disso, estimamos que operar com caminhoneiros terceirizados seja 23% mais barato do que trabalhar com frota própria”, afirma Hacad

“Outro fator é que esse modelo aumenta a competitividade, então empresas menores, que tinham dificuldade de ampliar a atuação, agora já não têm mais essa limitação e podem se expandir, inclusive ganhando capacidade de competir com as grandes transportadoras”.

O estudo da FreteBras mostra ainda quais são as rotas no país com maior demanda por fretes digitalizados nos setores do agronegócio, indústria e construção civil. No período pesquisado, a maior movimentação de cargas do agronegócio foi entre São Borja e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com 1.453 fretes.

Já entre os produtos industrializados, a rota mais movimentada foi entre Curitiba, no Paraná, e São Paulo, com 1.072 fretes. No setor de construção civil, a maioria dos fretes (2.514) foi feita entre Arcos, em Minas Gerais, e Piracicaba, em São Paulo.

Crescimento acontece apesar dos preços altos

Segundo o relatório, de janeiro a março de 2022, diversos fatores influenciaram o mercado de fretes, com destaque para guerra na Ucrânia, mas também o aumento do preço do diesel e a inflação no país.

“A inflação afeta toda economia e o desaquecimento afeta todos os setores. Quando tem uma freada na economia, há queda de produção, queda de PIB. Hoje fala-se de um processo de estagflação, ou seja, inflação sem crescimento econômico. Então o relatório mostra um cenário realmente muito bom, mas sabemos que essa não deve ser a realidade dos próximos meses. O próprio preço do frete ainda não aumentou tanto, esses processos demoram para ter impacto, não é imediato”, afirma o diretor de Operações da FreteBras.

A pesquisa destaca que a “alta do combustível impacta profundamente os custos do transporte, já que o preço do diesel teve um aumento de 12,5% de fevereiro a março de 2022”.

A FreteBras, responsável pela pesquisa, tem mais de 695 mil caminhoneiros cadastrados e 18 mil empresas assinantes. Os fretes publicados na plataforma cobrem 95% do território nacional.

Fonte: CNN
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 31/05/2022

 

Consumo aparente de bens industriais avança no País

O Indicador de Consumo Aparente de Bens Industriais, medido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cresceu 1,1% em março deste ano, na comparação com fevereiro. O dado foi divulgado ontem.

De acordo com o indicador do Ipea, a produção brasileira destinada ao consumo nacional cresceu 0,8% em março. Já as importações de bens industriais avançaram 2,7% no mesmo período, após uma sequência de quatro quedas consecutivas.

No acumulado do primeiro trimestre deste ano, o indicador recuou 0,6% na margem, com alta de 0,1% na produção de bens nacionais e redução de 5,4% nas importações de bens industriais.

Na análise das grandes categorias econômicas, o Ipea aponta crescimento generalizado em março, com destaque para os segmentos de bens de capital (bens que servem para produção de outros) e de bens intermediários (produtos para fabricação de máquinas ou equipamentos), que avançaram 3,8% e 1,6%, respectivamente, sobre fevereiro.

Na comparação com março de 2021, todos os segmentos apresentaram queda. “O fraco desempenho observado em janeiro explica o resultado adverso no primeiro trimestre deste ano”, aponta o instituto.

A demanda interna por bens da indústria de transformação avançou 1% sobre fevereiro, mas acumula queda de 1,2% no trimestre encerrado em março deste ano. A extrativa mineral teve alta de 4% em março e acumula aumento de 5,2% no primeiro trimestre de 2022. No acumulado em doze meses, as indústrias extrativas subiram 21,3%.

Na análise setorial, 14 dos 22 segmentos tiveram variação positiva. Os segmentos de outros equipamentos de transporte e de veículos apresentaram os melhores resultados em março, com altas de 7,2% e 5,4%, respectivamente. No primeiro trimestre de 2022, oito segmentos registraram crescimento, com destaque para o consumo aparente de outros equipamentos de transporte, com alta de 5,3%.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 31/05/2022

 

Venda de autopeças para as montadoras cresce 30,4% no trimestre

 Na média, alta foi de 21%, com expansão de 7,4% nas exportações e de 4,1% no mercado de reposição O Sindipeças atualizou o relatório da pesquisa conjuntural com dados do acumulado do primeiro trimestre. A receita da indústria de autopeças teve crescimento nominal de 21% sobre idêntico período de 2021, com destaque para as vendas para as montadoras, ampliadas em 30,4%.

O mercado de reposição registrou alta de 4,1%, enquanto as exportações em dólares expandiram-se em 7,4% e so negócios intrassetoriais, 24,3%. “O comportamento da inflação tem exercido inegável influência nas variações de faturamento do setor”, avalia o Sindipeças. “O IPCA acumulado no primeiro trimestre de 2021, por exemplo, foi de 2,1%, para uma variação acumulada em doze meses de 6,1%. Nesse ano, a variação até março foi de 3,2% e acumulada em doze meses de 11,3%”.

A entidade também destaca que as dificuldades no abastecimento de commodities e outros componentes continuam pressionando o setor, ou seja, impedem desempenho superior ao que se tem conseguido este ano. No comparativo de março com fevereiro, o faturamento do setor cresceu 10,8%, favorecido, em parte, pelo maior número de dias úteis no mês em tela (22 x 20).

A criação de empregos nas autopeças teve alta de 0,6% em março sobre fevereiro e de 3,6% no primeiro trimestre. A ociosidade apresentou variação inferior a 1 ponto porcentual, com um nível de utilização de 76% em março. “Convém notar que, segundo a CNI, a indústria de transformação como um todo apresentou nível de utilização de 80,9%, um dos mais elevados nos últimos ano”, destaca o Sindipeças em seu relatório mensal da pesquisa conjuntural do setor.

Fonte: AutoIndústria
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 31/05/2022

 

Índice de Clima Econômico registra variação positiva

O Índice de Clima Econômico (ICE) registrou variação positiva no início do segundo trimestre deste ano. Com elevação de 2,1 pontos no Brasil, o indicador chegou a 61,7 pontos, em uma escala de 0 a 200 pontos.

A taxa é calculada em dez países da América Latina, e o Brasil apresentou um dos melhores resultados. Ele e o Uruguai, que teve alta de 14,2 pontos, foram as únicas nações a registrar crescimento no início do segundo trimestre, em comparação com o primeiro.

A pesquisa calculou, ainda, uma média para toda a América Latina — que ficou em 11,7 pontos negativos. Os demais países oscilaram entre recuos de 5,5 pontos na Bolívia e 27,9 pontos na Argentina.

Para calcular o ICE, a sondagem realizada pela FGV utiliza de outros dois indicadores, aliados ao PIB de cada país. Assim, para determiná-lo, deve ser realizada uma síntese entre o resultado do Índice de Situação Atual (ISA) e do Índice de Expectativas (IE). Por fim, é calculada uma média geométrica entre o ISA e o IE para constituir o ICE de cada país, com variação de 0 a 200 pontos, sendo a marca de 100 pontos a definição da neutralidade.

No Brasil, a elevação para o período foi impulsionada pelo Índice de Situação Atual, que mede a avaliação sobre o presente. Após alta de 14,6 pontos, o ISA alcançou o patamar de 30 pontos. Já o Índice de Expectativas, responsável por medir as esperanças da população para o futuro, teve declínio de 15,4 pontos. Apesar da queda, ele permanece neutro, no patamar dos 100 pontos.

Ainda que tenha registrado crescimento, o ICE brasileiro (62,7 pontos) permanece abaixo da média da América Latina (67,3 pontos). O indicador brasileiro é também o terceiro mais baixo entre os dez países latino-americanos, superando apenas Argentina (39,1 pontos) e Chile (46 pontos).
Os demais países apresentaram os seguintes resultados:

Peru, 63,4 pontos;
Bolívia, 65,9;
México, 66,2;
Equador, 72,1;
Paraguai, 91,2;
Colômbia, 95,7; e
Uruguai, 149,6.

Fonte: AECWeb
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 27/05/2022

 

China tem nova onda de corte de projeções para o PIB de 2022: quais impactos para Brasil e EUA?

Em meio à política de Covid-zero, as expectativas de desaceleração da economia chinesa ganham ares cada vez mais oficiais.

Na madrugada desta quinta-feira (26), Li Keqiang, primeiro-ministro da China, afirmou que, em alguns pontos, a economia do país está pior do que em 2020, no início da pandemia. As declarações foram vistas como sinal de que o país não deve alcançar a meta de crescimento de 5,5% do PIB neste ano.

Keqiang também apontou maiores esforços para a recuperação economia do gigante asiático neste cenário de atividade mais fraca. “Devemos nos esforçar para assegurar um crescimento econômico razoável no segundo trimestre, reduzir a taxa de desemprego o mais rápido possível e manter as operações econômicas dentro de uma faixa razoável”, disse o premiê segundo a agência oficial de notícias Xinhua.

Por sinal, nos últimos dias, grandes bancos têm reduzido as suas estimativas para o crescimento econômico, prevendo queda na atividade no segundo trimestre na comparação com os primeiros três meses do ano e cortando drasticamente as projeções de crescimento para 2022 como um todo.

Apenas nesta semana, UBS, JPMorgan e Morgan Stanley cortaram as projeções para a economia chinesa, com as projeções mais pessimistas apontando alta de “apenas” 3%, bastante distantes da meta oficial estatal. Nas semanas anteriores, casas como o Goldman Sachs e o Citigroup já haviam reduzido as expectativas por conta da política de Covid zero no país.

O UBS cortou a sua projeção para o crescimento do PIB em 2022 de 4,3% para 3% apontando que, embora seja esperado que a atividade tenha recuperação no segundo semestre deste ano, uma vez que o governo ajuste suas restrições e as interrupções nos segmentos de transporte e cadeia de suprimento diminuam, a flexibilização não deve ser tão rápida quanto em 2020, dada a natureza da variante ômicron.

“As restrições persistentes e a falta de clareza sobre a estratégia de saída da atual política de covid provavelmente diminuirão a confiança das empresas e do consumidor e impedirão a liberação da demanda reprimida”, apontaram os economistas. Também houve menção de como as restrições de covid prejudicaram a economia em abril. Eles destacam que o progresso para a melhora do transporte e da logística tem sido lento. O crescimento deve cai para 1,4% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, apontaram. Já na comparação com os três primeiros meses do ano, a projeção é de uma queda anualizada de 8%.

O Morgan Stanley revisou sua projeção para o PIB do segundo trimestre de queda de 3% frente o primeiro trimestre e alta de 0,5% na comparação anual. Para 2022 como um todo, a revisão passou de avanço de 4,2% para 3,2%.

Os analistas Robin Xing, Jenny Zheng, Zhipeng Cai, Helen Lai, que assinam o relatório do Morgan, citam as falas de Li Keqiang na sequência de outros formuladores de políticas que pressionam por políticas de estímulo. Para o banco americano, apontando que o pior do impacto do bloqueio provavelmente ficou para trás, com o aumento contínuo do afrouxamento e estímulos do governo.

Contudo, as revisões do PIB anual para baixo ocorrem em meio à percepção de recuperação ainda lenta da cadeia de suprimentos em maio. Para os economistas da instituição, após uma queda de crescimento maior do que o esperado em abril, a recuperação em maio continua aquém das expectativas.

“Apesar de menos cidades com restrições de mobilidade (abaixo do pico de 45 em abril para 29 agora), o crescimento do frete de caminhões de carga – um indicador chave para a indicar a retomada aos trilhos da cadeia de suprimentos – apenas reduziu marginalmente o declínio para 19% na comparação anual neste mês (versus queda de 26% em abril) em todo o país, com o crescimento em Xangai movendo-se lateralmente”, avaliam.

Eles ainda destacam que grandes fabricantes de automóveis com operações nos arredores de Xangai, que foram incentivadas a retomar a produção a partir de meados de abril, atingiram apenas 60% de capacidade de utilização.

“Tendo em vista uma recuperação desafiadora com o deslocamento das cadeias de suprimentos e à piora da confiança e dos balanços entre famílias e empresas, continuamos acreditando que o caminho de recuperação provavelmente será superficial e acidentado nos próximos meses”, avaliam, o que motivas as revisões para baixo.

Antes disso, o JPMorgan já havia cortado a sua previsão de crescimento anual da China de 4,3% para 3,7%, avaliando também o impacto da contração profunda no segundo trimestre para o restante do ano em meio às restrições de covid.

“Dada a alta taxa de transmissão da ômicron e a baixa eficácia das vacinas na redução de infecções, a China precisará seguir  com as restrições severas, a menos que tolere a imunidade de rebanho ou introduza vacinas mais eficazes”, apontaram os economistas. A China provavelmente “continuará enfrentando um dilema” de escolher entre o Covid Zero e a disseminação da ômicron, apontaram.

Brasil: entre incertezas de crescimento e esperança com recuperação

Se a China vê as suas projeções para a atividade serem revisadas fortemente para baixo, também é de se esperar que haja um impacto também em outras economias, como a do Brasil, que guarda fortes relações comerciais com o gigante asiático.

Na sequência da revisão dos números da China para baixo, o UBS BB destacou os possíveis impactos para a economia doméstica. Vale ressaltar que, nas últimas semanas, diversas casas de análise revisaram o PIB para 2022 do Brasil para cima, na sequência de dados positivos da atividade principalmente no primeiro trimestre, enquanto a expectativa é de uma desaceleração na segunda metade do ano.

Os economistas do UBS elevaram especificamente as estimativas para o crescimento do PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2022 (1T22) de 0,5% para 1% no trimestre. Eles projetam desaceleração no segundo semestre, mas apontam que os dados podem ficar mais voláteis, elevando as incertezas quanto as projeções. Foi reduzida a projeção de crescimento no segundo trimestre de alta de 0,2% para avanço de 0,1% na comparação trimestral.

Enquanto isso, para o terceiro trimestre, houve um corte de projeção de queda de 0,15% para baixa de 1,3%. “Nossas revisões são quase inteiramente baseadas no desempenho esperado na China no segundo trimestre e a influência cumulativa das altas taxas de juros locais no PIB”, apontam. Por fim, para o quarto trimestre, projetam uma recuperação parcial de 1% no trimestre.

“Apesar de um primeiro trimestre potencialmente melhor, o risco de contração abrupta no curto prazo está nos levando a manter a média de crescimento do PIB de 2022 em 1,1%. Se não fosse o risco do terceiro trimestre, poderíamos ter aumentado nossa estimativa de crescimento anual para cerca de 1,5-1,6%”, apontam os economistas.

Eles ainda esperam um crescimento do PIB brasileiro em 1,5% em 2023. O banco avalia que o crescimento global pode diminuir o ímpeto nos próximos trimestres, mas há fatores domésticos, como políticos, que contribuem para a incerteza, como o pós-eleição.

“Não esperamos mudanças significativas nas principais macropolíticas, incluindo a independência do BC (Banco Central) e algum compromisso de manter a relação dívida pública/PIB sob controle. Ainda assim, os detalhes são importantes, incluindo o futuro gabinete [presidencial] e suas diretrizes políticas, o que significa que provavelmente teremos mais certeza econômica e confiança de previsão apenas no final do 4T22 ou 1T23 ”, afirma o banco.

Enquanto as projeções de muitas casas se mostraram mais incertas com a China, o Bradesco BBI apontou, com o seu olhar voltado para o mercado de ações, que há um forte espaço para recuperação da demanda (e preço) por aço no segundo semestre na China em meio à flexibilização das medidas de restrição mais à frente.

“Nossa análise para a demanda de aço chinesa aponta para um crescimento de 10 a 15% no segundo semestre na demanda por aço e os principais fatores devem ser infraestrutura (+14% no semestre), manufatura (+17%), automotivo (+45%) e imobiliário (+2%)”, avaliam os analistas do BBI.

Ao mesmo tempo, a produção de aço chinesa deve crescer apenas ao redor de 1% no período, pois já vem se recuperando desde março e com o governo chinês mais uma vez visando um crescimento de produção zero ano a ano.

Nesse ambiente, os analistas do BBI projetam que os preços do aço deveriam ter melhor desempenho em relação aos do minério de ferro – projetamos preços das chapas para exportação chinesa em média de US$ 790 a tonelada (contra preço atual de US$ 740) e minério de ferro na casa de US$ 140 a tonelada (contra níveis atuais de US$ 133).

“Após a recente queda nas cotações, acreditamos que as ações da siderúrgicas e das mineradoras estejam prontas para uma recuperação, impulsionadas pela melhora gradual do sentimento em relação à China [no segundo semestre] e preços mais altos de metais no curto prazo. Calculamos que os preços da ações atualmente sugerem uma queda adicional entre 30 e 35% nos preços dos metais já em 2022”, avaliam.

Para o banco, embora seja improvável que as restrições relacionadas ao Covid-19 se dissipem totalmente no curto prazo, o governo chinês deverá adotar uma abordagem mais pragmática para fornecer um crescimento razoável do PIB em 2022. Ou seja, mais de 4%, avaliam, enquanto as projeções de economistas rondam abaixo deste patamar.

“De fato, os índices de transmissão do vírus continuam melhorando na China (em meados de abril, aproximadamente, 50% do PIB da China estava sob severas restrições, contra algo em torno de 20% atualmente), enquanto testes em massa e lockdowns mais direcionados e mais curtos já estão sendo implementados. Além disso, uma onda de medidas de estímulo está se formando e esperamos que infraestrutura, habitação e produção industrial se recuperem no segundo semestre do ano”, destaca o BBI, em tom mais otimista do que as outras casas.

Nesse ambiente, e considerando os níveis de valuation atuais, o BBI espera que as ações das siderúrgicas tenham desempenho melhor – especialmente Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) frente as mineradoras.

EUA ainda começarão a sentir os efeitos das medidas 

Já com relação aos EUA, o Bank of America abordou em relatório os possíveis efeitos das medidas adotadas pela China, algumas com um retardamento maior para a economia, ainda que o gigante asiático esteja em uma fase de maior flexibilização.

“O impacto dos bloqueios chineses na economia dos EUA será sentido principalmente nos dados de comércio e inflação.
A partir de maio, esperamos uma breve pressão de alta sobre os preços dos bens, o que pode desacelerar a queda do núcleo da inflação na comparação anual”, apontam os estrategistas do banco americano.

Pelo lado das “boas notícias”, o banco aponta que a China é o segundo maior consumidor de petróleo do mundo depois dos EUA. Portanto, um lado positivo é que a desaceleração na China parece ter limitado a alta dos preços do petróleo, ainda que os principais contratos estejam negociando acima de US$ 100 o barril.

A outra notícia encorajadora para os EUA, na visão do banco, é que o país não depende da demanda dos consumidores e empresas chinesas. Tanto as exportações dos EUA para a China quanto a exposição dos EUA à demanda final representam menos de 1% do PIB.

Já do lado das más notícias, os estrategistas apontam que os EUA sentirão o efeito dos bloqueios chineses principalmente por meio de interrupções na cadeia de suprimentos e o impacto resultante na inflação. A ata da última reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), por sinal, destaca os lockdowns na China como uma fonte de preocupação.

O Índice de Pressão da Cadeia de Suprimentos Global (GSCPI) do Fed de Nova York subiu novamente em abril, depois de cair acentuadamente nos três meses anteriores. De forma significativa, o maior contribuinte para o aumento do índice foi o “tempo de entrega”, ou seja, o tempo necessário para adquirir insumos, do PMI industrial chinês. A terceira maior contribuição veio dos custos de frete aéreo de saída da Ásia, que provavelmente também estão sendo impulsionados pelos bloqueios na China. Muitos componentes relacionados a outros países, incluindo os EUA, mostraram pouca mudança ou melhora modesta.

O banco também aponta que a China é um importante parceiro comercial da Coreia do Sul. Os dados do país de abril mostraram uma fraqueza significativa no comércio com a China, enquanto o comércio com o resto do mundo se manteve em tendência de melhora.

Avaliando que os efeitos maiores dos bloqueios devam ser sentidos nos próximos dados, de maio, o BofA ainda observa que o fluxo de dados poderia parecer contraintuitivo à primeira vista. “A escassez de mercadorias que chegam da China pode reduzir o congestionamento portuário e as taxas de embarque, dando a impressão de que as interrupções na cadeia de suprimentos estão diminuindo. No entanto, a escassez deve elevar os preços ao consumidor”, reforçam.

Assim, a expectativa é de que os preços de bens subam, mas não esperam uma explosão por um longo período de tempo, também de olho na normalização gradual da atividade em algumas regiões chinesas.

Com relação à política monetária, os lockdowns na China foram vistos como mais uma dor de cabeça para o Fed em sua luta contra a inflação.

Contudo, os estrategistas acham que não deve haver um impacto forte sobre a trajetória da política monetária no momento. Isso porque, apontam, o Fed está essencialmente no ‘piloto automático’ para as próximas duas reuniões, tendo sinalizado claramente um aumento de 50 pontos-base.

“O próximo grande ponto de decisão é setembro, quando o Fed terá que decidir entre mais uma alta na mesma magnitude e uma redução para uma trajetória de alta de 25 pontos-base por reunião. Até então, qualquer impacto sustentado dos bloqueios da China na inflação dos EUA deve estar claro”, avaliam.

Fonte: Infomoney
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 27/05/2022