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Metais & Mineração | Direto do Alto-forno: China tentando acender fogueira sem oxigênio

Apresentamos mais uma edição do nosso relatório semanal do setor de Metais & Mineração (Vale, CMIN, Gerdau, CSN e Usiminas), referente à semana 1 do mês de outubro de 2024, baseados em dados realizados ao longo da semana anterior a da publicação, que no caso contempla o período de 21 a 27 de setembro.

Continuamos a atualizar o mercado sobre indicadores importantes para o monitoramento dos fundamentos de oferta e demanda de aço na China e por consequência, do minério de ferro no sistema transoceânico. Destacamos também o capítulo sobre Brasil, mostrando o sentimento de mercado bem como as dinâmicas de prêmio do aço doméstico para as referências de aços longos e planos vs. os preços dos importados.

O formato do relatório está sendo concebido para trechos em texto, com conclusões e seções individuais de “Nossa visão”, e com diversos estímulos  visuais, através de gráficos e tabelas. Nossa intenção é realizar um acompanhamento semanal desses gráficos e tabelas, a depender dos dados disponíveis (há dados que são mensais e não semanais). Para o capítulo de China, separamos as seções em (i) Macroeconomia; (ii) Atualizações políticas e sentimento de mercado; (iii) Mercado imobiliário; (iv) Aço e minério de ferro.

China
Macroeconomia

PMI industrial acima do consenso, mas segue na zona de contração. O PMI oficial do setor industrial, medido pelo Escritório de Estatísticas da China (NBS) aumentou para 49,8pts (+0,7pt. m/m) em setembro, superando o esperado de 49,2. O indicador foi divulgado dia 30 de setembro. Embora tenha superado o consenso, o número continua na zona de contração (abaixo de 50pts). Em contrapartida, o PMI de serviços diminuiu para 50pts (-0,3pt. m/m), alinhando-se às expectativas, e permanecendo no limite para expansão da atividade.

Mesmo não havendo uma reversão do quadro, é notório que houve uma melhora da atividade industrial, ainda puxada pelas exportações, mas com um leve ganho no consumo doméstico de bens, em detrimento de uma queda suave no consumo de serviços. Entretanto, independentemente da queda m/m, o setor de serviços continua se sobressaindo vs. o industrial, mantendo a tendência que comentamos desde o ano passado, sobre a qual a China vem ganhando mais características de países que possuem economias mais maduras. Isso implica em uma perda de tração do PIB industrial e ganho de penetração no PIB de serviços.   

Pacote cheio de flexibilizações. Entre os pontos principais do extenso pacote de flexibilizações anunciado pelo governo central, após a reunião do Politiuro na semana passada, estão: (i) Redução das taxas reversas de 7 dias para recompra de títulos (REPO-7 dias) para 1,5% (-0,2p.p) e MLF de 7 dias para 2% (-0,3p.p),  indicando novo corte nas taxas de LPR-5 anos em 20-25bps pelo PBoC. Ampliando o viés de relaxamento da política de crédito, também foi anunciado (ii) umcorte de -5p.p na taxa de compulsório (RRR), o que resultou em uma liberação de ¥1 trilhão (~US$142b) para oferta de crédito nos bancos comerciais e uma RRR média ponderada reduzida para 6,6% (-0,4p.p). O PBoC observou a possibilidade de um corte adicional de -25-50bps na RRR ainda este ano. Conforme já havíamos adiantado em outros relatórios setoriais antes do anúncio, acreditávamos que havia espaço para 2 cortes na taxa de compulsório (RRR) no 2S24.

Além disso, com enfoque direto no mercado imobiliário, observamos também (iii) a exigência de entrada mínima para a compra da segunda residência sendo reduzida para 15% (vs. 25% anteriormente), equiparando-a aos níveis cobrados para primeiros compradores. Visando a expansão da oferta de crédito e redução do custo nas despesas com juros especialmente nos financiamentos de compra de casas, (iv) o PBoC solicitou aos bancos comerciais que reduzissem as taxas das hipotecas existentes em  -5p.p. até 31 de outubro. Segundo estudos divulgados pelo PBoC, isso teria um impacto de ¥150b  (~US$20b) por ano na redução da carga de juros cobrado das famílias que já adquiriram um imóvel.  Por último, (v) as principais cidades Tier I flexibilizaram as restrições à compra de imóveis, com Guangzhou removendo-as totalmente (sem distinção entre first e second buyers), e Shenzhen permitindo que residentes não registrados (não-hukou) comprem um apartamento.

Um pouco do contexto sobre as flexibilizações. Após o anúncio de um pacote de estímulos na terça-feira da semana passada, diante do Politburo (cúpula do Partido Comunista) formando a reunião mais cedo do que o habitual, observamos uma alteração de discurso. O governo pretende “enfrentar as dificuldades com firmeza” e atingir os objetivos de desenvolvimento deste ano (meta de crescimento do PIB de +5%). Entendemos que esse evento passou a marcar uma mudança decisiva no tom da política monetária, uma vez que, até então, muitos investidores acreditavam que o governo estava pouco mobilizado diante do consumo doméstico fraco. Dessa forma, pela primeira vez desde o estouro da bolha em 2021, o governo central estabeleceu claramente o objetivo de “interromper o declínio e estabilizar o mercado imobiliário”.

Nossa visão: Macroeconomia

Efetividade da expansão na política fiscal é questionável diante dos desafios. A recente reunião do Politburo enfatizou a necessidade de uma “política fiscal contracíclica”. Ainda assim, estimamos que a contração fiscal ampla foi de ~0,5% do PIB no 1S24, contrastando com a expansão de +0,8-1% a/a sugerida em março. Os governos locais reduziram os gastos e possivelmente aumentaram os atrasos devido ao declínio da receita fiscal e aos rigorosos controles de dívida dentro das emissões feitas por meio de LGFVs. Ao final de setembro circulou a notícia de que a China poderia emitir ¥2 trilhões (1,6% do PIB 2023) em títulos adicionais do tesouro para apoiar o consumo e aliviar os problemas fiscais dos governos locais. Se implementado, vemos maiores chances de estabilização do crescimento entre o final de 2024 e no início de 2025. Entretanto, ainda julgamos que os cortes nos impostos corporativos teriam eficácia limitada no atual cenário econômico.

O Pacote de flexibilização vs. nosso corte na projeção de PIB. Considerando as contínuas quedas no mercado imobiliário e o fraco desempenho econômico, já esperávamos que as políticas macroeconômicas se tornassem cada vez mais favoráveis na tentativa de destravar o consumo, com a ampliação do gasto fiscal e redução da política de juros. Portanto, quando alteramos premissas e rebaixamos nossa previsão do PIB, também na semana passada, não houve surpresa em reação ao movimento do governo. Basicamente todas as medidas, de forma isolada, já estavam alinhadas com as nossas expectativas. A única diferença é que o governo central na China anunciou as medidas de forma concomitante. Entendemos que a razão para isso foi o corte da taxa de juros promovida pelo FED nos EUA há duas semanas, que acabou ocorrendo em uma intensidade superior a esperada pelo consenso (-50bps vs. -25bps do consenso).

Embora a reação simultânea das diferentes medidas tenha animado um pouco mais o sentimento de mercado, que estava muito depreciado, ainda assim não vemos como game changer. Isso é um sinal de que, mesmo com as políticas, não acreditamos que a meta de 5% será alcançada. Para relembrar, cortamos a nossa projeção de PIB para 4,5% 24E (vs. 4,8% anteriormente) e 4,2% 25E (vs. 4,6% anteriormente), principalmente devido a uma (i) desaceleração significativa do setor imobiliário (que esperamos que continue),  e ao (ii) fraco consumo doméstico, ofuscando de maneira mais intensa as (iii) resilientes exportações reais.

Poderíamos revisitar a projeção de PIB? Enfatizamos que o tamanho real e a composição do apoio fiscal futuro serão cruciais para a fornecer um upside em relação ao nosso recente corte de projeção de PIB (comentado acima). Entendemos que há pouca margem de manobra para destravar consumo interno ainda em 2024, com o efeito de delay na economia real podendo afetar positivamente mais 2025, caso de fato  exista uma nova tranche emissão de títulos do tesouro em ¥2 trilhões (~US$285b). Dessa forma, se o consumo interno melhorar, haveria uma compensação no ajuste do grau de risco que realizamos em relação a balança comercial. Conforme comentamos no relatório da semana passada, expurgamos parcialmente o efeito das fortes exportações devido ao crescente risco de barreiras tarifárias em produtos chineses, especialmente nos EUA e Europa.  

Atualizações políticas e sentimento do mercado

Flexibilizações anunciadas na semana passada mexeram com o sentimento de mercado. A recente reunião do Politburo indicou uma grande flexibilização coordenada da política econômica após os anúncios do PBoC e dos reguladores financeiros na terça-feira passada, conforme já comentamos nos trechos acima. A reunião enfatizou a necessidade de o governo enfrentar os desafios econômicos, tomar medidas decisivas e atingir as metas de desenvolvimento deste ano. Pela primeira vez, a reunião estabeleceu o objetivo de “interromper o declínio e estabilizar o mercado imobiliário”, ao mesmo tempo em que abordou questões importantes, como o controle do fornecimento de novas moradias para produtos básicos. Além disso, defendeu uma “política fiscal anticíclica”, aumentando as expectativas de um estímulo fiscal significativo, o que foi notavelmente ausente este ano.

Não vemos razão para ânimo, pacote de incentivos muda pouco a delicada situação. De fato, observamos o sentimento de investidores para teses do setor de Metais & Mineração melhorar um pouco nos últimos dias, entretanto, continuamos descrentes em um ganho aparente de performance da economia chinesa, uma vez que as raízes do problema são mais profundas e não cíclicas. Isso quer dizer que, segundo o nosso racional, as dificuldades não serão combatidas reduzindo a RRR e taxa de hipotecas. Nossa análise sugere que o problema central não é falta da oferta de crédito e sim desinteresse em tomar crédito.

Rebaixar o custo dos juros continua não atacando o cerne da questão, que está envolto no início do processo de reversão da pirâmide etária (o que o mercado tem chamado de “crise demográfica”). Sem planejamento sucessório e herdeiros para assumir o patrimônio, diante da taxa de natalidade substancialmente baixa na China, somados ao enorme estoque de imóveis desocupados, entendemos que não há estímulo financeiro suficiente que levante o ímpeto de adquirir mais um imóvel. Então, rebaixar a taxa de entrada para os segundos compradores (15% vs. 25% anteriormente), igualando a mesma taxa cobrada a primeiros compradores, não dará motivações explícitas para aumentar ritmo de vendas e, sobretudo, observarmos uma elevação do número de novos lançamentos de projetos imobiliários, métrica essencial para monitorar a demanda por aço do setor. Na semana de 15 de setembro, apuramos 1.566 unidades de projetos lançados nas 9 maiores cidades, uma redução substancial de -61% s/s, embora a taxa de vendas tenha permanecido estável em ~50%.

Nossa visão: atualizações políticas e sentimento do mercado

Melhora nítida do sentimento de mercado. Ainda que sejamos contrários a um grau muito elevado de efetividade das medidas (explicaremos mais adiante), ainda assim, recebemos de forma positiva os anúncios após a reunião do Politiburo. Acreditamos que o governo está tomando medidas majoritariamente ligadas as condições de política de afrouxamento monetário, voltadas para (i) corte das taxas de compulsório (RRR), (ii) redução de despesas com juros e custos de hipotecas (-0,5p.p) e (iii) taxas de juros básicas da economia (PBoC sinalizou possivelmente futuros cortes da LPR-5 anos e LPR-1ano). Dessa forma, percebemos aumento das expectativas dos investidores em relação às medidas políticas adicionais (para além do grande pacote anunciado semana passada).

Cautela é necessária, reação positiva do mercado deve durar pouco. Seguimos muito cautelosos em relação a ajustes significativos no programa de desestocagem de casas ou ao aumento do suporte de crédito para incorporadoras. As políticas estruturais discutidas nos últimos dias após a reunião do Politiburo incluem o (i) redução da taxa de desemprego e o (ii) apoio às famílias de renda média e baixa, além de (iii) facilitar o desenvolvimento do setor privado e atrair investimentos estrangeiros. Com o corte da taxa dos juros nos EUA promovido pelo FED há 2 semanas atrás e uma taxa de câmbio USD/RMB mais fraca, prevemos que as autoridades chinesas possam flexibilizar ainda mais a política monetária. Tão logo, estamos projetando que o rendimento dos títulos do governo chinês de 10 anos caia para ~2% ou menos até o final de 2024. Em relatórios setoriais anteriores já comentamos sobre a crise no mercado de títulos públicos na china, diante do alto interesse e baixo yield.

Discordamos que as medidas anunciadas possam ser chamadas de anticíclicas. Mesmo o governo chinês sendo o interlocutor da mensagem de que as medidas são “anticíclicas”, ainda assim, entendemos que os anúncios foram focados sobretudo na redução de taxas ligadas ao afrouxamento monetário, como (i) redução da taxa de compulsório (RRR), (ii) taxa de juros de curto prazo (LPR 1 Ano) e (iii) taxa do custo de crédito para hipotecas em -0,5p.p. Por isso, segundo a nosso entendimento, na prática as medidas possuem forte correlação com o ciclo econômico (balanço entre inflação e juros). Ou seja, como a inflação está muito baixa, vivendo basicamente um quadro deflacionário à medida que o consumo doméstico está fraco, há espaço para corte de taxa de juros. Monitorar nível de inflação a alterar a política de juros é algo comum de qualquer mandato de Banco Central mundo a fora. Já estávamos antecipando medidas parecidas desde o início do ano, ao comentarmos que o PBoC tinha mais espaço na política monetária vs. o nível baixo de inflação corrente. Portanto, afrouxar a política monetária era de fato o que o PBoC precisava fazer, mas isso não significa que resolverá o problema de forma célere. Acreditamos que a situação é de difícil resolução e não-cíclica, com raízes estruturais profundas.  

Mercado imobiliário

Queda nas vendas de casas continua. As 100 maiores incorporadoras da China consolidaram uma queda de -30% a/a nas vendas de setembro, impulsionada por um recuo médio de -26% a/a nas vendas de casas novas nas 46 maiores cidades e uma redução ponderada de -5,3% a/a nos preços das casas novas. Destacamos que a base comparativa já era baixa, uma vez que em setembro de 2023, os números de vendas foram influenciados pelo não pagamento do cupom do título em USD da Country Garden, que afetou a confiança dos compradores. Um ano após esse evento, os desafios continuam, em setembro de 2024, adjuntos de meses anteriores com métricas de vendas em queda livre. Em julho e agosto essas mesmas incorporadoras registraram, em conjunto, quedas de -20% a/a e -27% a/a, apesar dos cortes anteriores nas taxas de hipoteca e no índice de entrada desde meados de maio. Nas 30 maiores cidades, a área vendida na última semana ficou em 303 mil m2, com uma queda de -34% a/a na média móvel de 30 dias.

Desaceleração é ampliada mesmo com sazonalidade favorável. As vendas de casas novas nas 46 maiores cidades da China caíram -10% m/m nos primeiros em setembro, levantando preocupações sobre o aprofundamento da crise imobiliária. Em agosto, as 100 maiores incorporadoras registraram vendas contratadas de ¥251b (~US$35b), marcando o terceiro menor valor total mensal desde 2019, significativamente menor do que o aumento médio de +14% m/m normalmente observado em setembro nos últimos 5 anos. Setembro e outubro são tradicionalmente meses de pico para transações de casas novas, o que torna a situação dos números em contração particularmente alarmante.

Para amenizar isso, acreditamos que Pequim seguirá o exemplo de Xangai e Shenzhen, flexibilizando as restrições em áreas suburbanas e reduzindo os índices de entrada para 15% (sem distinção entre primeiros compradores e segundos compradores). Essa medida faz parte do último pacote anunciado pelo governo central na semana passada, dando liberdade para os governos locais relaxarem as restrições anteriores.

Pacote de incentivo ao setor imobiliário e seus desdobramentos. Esperamos que as principais cidades flexibilizem as políticas de compra de casas para impulsionar as vendas da Golden Week (feriado na China de 1-7 de outubro). O compromisso do Politburo (reunião da cúpula principal do Partido Comunista) de “ajustar a política de restrições à compra de casas”, lançando um pacote de estímulo na semana passada, sugere que cidades maiores como Shenzhen, Xangai e Pequim podem remover essas restrições nas regiões periféricas. Guangzhou pode eliminá-las completamente.

Entendemos que cidades Tier I ainda possuem balanços para reduzir ainda mais os requisitos de entrada e as taxas de hipoteca. Dentro da política flexibilização anunciada na semana passada, o PBoC autorizou cidades low tier a reduzirem os índices de entrada para a compra de segunda residência para 15% (vs. 25% anteriormente). Medidas de apoio locais estão previstas para as próximas semanas, com o objetivo de aumentar as transações durante a temporada de pico de vendas da Golden Week e ao longo de outubro. A média móvel de 7 dias nas 30 maiores cidades para residências primárias ficou com uma queda de -50% a/a, ao atingir 211 mil m2 de área vendida na semana passada.

Mesmo onda de flexibilizações os desafios permanecem. Os comentários recentes do Politburo indicam um compromisso significativo para reforçar o setor imobiliário da China, com planos para “cortes vigorosos nas taxas” com o objetivo de estabilizar os preços e as vendas de imóveis. Apesar dessa mudança positiva, entendemos que os desafios permanecem, uma vez que estão atrelados às questões estruturais profundamente enraizadas e barreiras psicológicas entre os compradores de imóveis. O (i)pessimismo em relação aos preços das casas (que continuam contraindo), o (ii) medo de casas inacabadas ou descumprimento de contratos por parte das incorporadoras, as (iii) preocupações com a segurança no emprego e os (iv) problemas de sentimento, com baixa confiança de compradores, representam os principais obstáculos que complicam os esforços para rejuvenescer as vendas de casas após quase 4 anos de crise imobiliária.

Política de incentivo governamental pode não ser eficaz.  A nova oferta de casas no mercado primário (projetos em andamentos ou recém-inaugurados) a preços acessíveis com desconto do governo, combinada com a remoção das restrições de preços, pode levar os proprietários de imóveis na China a oferecer descontos mais altos no mercado secundário (casas já prontas e alugadas). Em agosto, 69 das 70 maiores cidades registraram quedas sequenciais nos preços de imóveis usados, sendo que todas as cidades registraram perdas vs. 2023. Nossa análise sugere que essa situação pode levar os proprietários de várias casas ao ato de vendê-las, com o objetivo de mitigar as perdas e realocar os recursos e renda para investimentos de maior rendimento, como ativos no exterior, títulos, fundos mútuos ou produtos de seguro.

Excesso de oferta de chega a 6,2 milhões de casas apenas no mercado secundário. O mercado imobiliário da China enfrenta um agravamento do excesso de oferta, com 6,2 milhões de casas de segunda mão atualmente listadas em 155 cidades. Os proprietários de casas estão saindo cada vez mais do mercado devido às fracas perspectivas de preços a médio prazo e ao término dos períodos de lock-up para revenda. Notavelmente, Chongqing (cidade Tier II) lidera com 284 mil casas no mercado secundário, seguida por Xangai, com ~238 mil. Outras cidades como Tianjin, Shenyang, Chengdu, Suzhou, Hangzhou, Guangzhou e Nanjing têm, cada uma, entre 150-200 mil unidades disponíveis. Essa oferta crescente ameaça as pré-vendas das incorporadoras, pois as casas existentes no mercado secundário geralmente oferecem descontos maiores e melhores garantias de entrega do que os empreendimentos que atualmente estão em fase de construção.

Distorções nos benefícios práticos para cidades maiores vs. cidades menores. Acreditamos que asrestrições mais brandas à compra de casas nas regiões periféricas de Xangai e Shenzhen, combinadas com requisitos reduzidos de pagamento de entrada pelos imóveis, podem beneficiar mais as cidades maiores do que as menores. Entretanto, é improvável que essas mudanças aumentem significativamente as vendas para a maioria das incorporadoras, já que a Vanke e a Longfor têm apenas 5,8% e 1% de seus bancos de terrenos nessas cidades, respectivamente. De modo geral, uma recuperação ampla ainda está longe, com as cidades de Tier I representando apenas 15% das vendas de casas novas na China.

Euforia do mercado deverá ser passageira. A proposta da China de eliminar as restrições à compra de casas em suas maiores cidades pode não ser eficaz para reverter a atual crise imobiliária. Essa iniciativa tem como alvo as cidades Tier I, que contribuem com apenas 15% das vendas de casas novas. Após 3 anos de crise, os desafios estruturais persistentes, incluindo casas inacabadas, pessimismo com relação aos preços futuros das casas e excesso de oferta significativo, indicam que é improvável que haja uma solução política rápida. Portanto, mesmo ciente das flexibilizações nas hipotecas como também dos mecanismos de política monetária anunciados nos últimos dias, nosso entendimento é de que a euforia do mercado de commodities ligadas a aço e minério de ferro deverá ser passageira.  

Preços das casas e as vendas de imóveis devem continuar caindo. Nossa opinião é de que muito provavelmente o plano da China para reduzir as restrições nas compras de propriedades e arrefecer o custo dos financiamentos imobiliários não interrompa a queda nos preços e nas vendas de imóveis. Apesar das medidas de estímulo do lado da demanda em setembro de 2023 e maio de 2024, como a (i) remoção das restrições à compra de casas, (ii) redução das taxas de entrada e (iii) cortes nas taxas de hipoteca para mínimos históricos, o sentimento do comprador continuou frágil.

Embora esse novo pacote de flexibilizações que ocorreu na semana passada tenha de fato aumentando a intensidade dos estímulos, ainda assim, o histórico desse ano comprova que as flexibilizações anteriores não melhoraram o sentimento do comprador. Em agosto, os preços das casas usadas diminuíram -10% vs. meados de 2023, e os preços das casas novas caíram -6%. Nos primeiros 8M de 2024, as vendas de casas novas caíram -44% a/a nas cidades da banta de cima Tier II, -30% a/a nas bandas de baixo da Tier II e -22% a/a nas cidades Tier I.  

Quais cidades ainda não entraram na flexibilização da última rodada? Pequim, Xangai, Guangzhou, Shenzhen, Tianjin e Hainan, ainda não aderiram de forma integral a última rodada de flexibilizações. Apesar da remoção de tais restrições em Nanjing, Wuhan e Fuzhou desde setembro de 2023, as vendas de casas novas continuam a diminuir drasticamente, com uma queda de -70% nos últimos 9M vs. o pico de 2020 (logo antes do estouro da bolha em 2021). Acreditamos que mesmo que a nova política seja implementada de forma integral pelos governos locais, os compradores qualificados continuarão a preferir casas do mercado secundário, que oferecem descontos maiores e maior garantia de entrega.

Atualmente, estimamos que existam ~48 milhões de casas inacabadas na China, que podem levar até 8 anos para serem concluídas, o que pode minar a confiança do comprador em propriedades pré-vendidas e exacerbar os problemas de liquidez para as incorporadoras em meio a uma queda contínua nas vendas.

Por que as medidas provavelmente não conseguirão endereçar o problema atual? Apesar das taxas de hipoteca no low-histórico, que chegaram a 3% em algumas cidades, a atual desaceleração do mercado imobiliário enfrenta desafios estruturais únicos que diferem dos ciclos anteriores de 2009 e 2015. Os principais problemas incluem o  (i)  declínio significativo nos casamentos e uma (ii) queda na taxa de natalidade, contribuindo para a (iii) redução estrutural da demanda pelo fator demográfico.

Além disso, a (iii) inadimplência generalizada entre as incorporadoras privadas levanta preocupações sobre o modelo de pré-venda de moradias, enquanto um (iv)acúmulo de anos de oferta excessiva, juntamente com uma queda repentina na demanda impulsionada pela mudança de percepção do valor da casa, ameaça um (v)desequilíbrio prolongado entre oferta e demanda, do qual acreditamos que levará anos para se reequilibrar e não se resolver com corte do custo de crédito hipotecário. Em geral, esses fatores indicam que as táticas tradicionais podem ser ineficazes para lidar com os problemas atuais do mercado.

Aço e Minério de Ferro

Aço: os preços dos principais produtos das usinas voltam a subir.  Os preços dos principais produtos siderúrgicos da China retornaram com o movimento de alta, impulsionados pelo sentimento positivo do mercado após o amplo pacote de estímulos feito na semana passada, conforme já comentamos. Além disso, as vendas de aço melhoraram, pois os usuários finais aumentaram o reabastecimento em antecipação ao feriado Golden Week (1-7 de outubro). Na semana de 21-27 de setembro, constatamos que o preço do tarugo de Tangshan atingiu ¥3.200/t ou ~US$454/t (incluindo um IVA de 13%), marcando um aumento significativo de +11,9% s/s.

Insumos: preços de sucata e carvão continuam movimento de recuperação. Os preços da sucata ferrosa na China continuaram a subir durante a semana de 21-27 de setembro, impulsionados pela retomada de produção das usinas. O preço composto da sucata ferrosa atingiu ¥2.456/t (~US$350/t), refletindo um aumento de +1,6% s/s. O aumento nos preços é atribuído ao fato de que mais siderúrgicas de Alto-forno (BF) e de forno elétrico a arco (EAF) aumentaram a produção após a melhora nos lucros das vendas de aço. O preço nacional composto do carvão metalúrgico chegou a ¥1.443/t ou ~US$205/t (+1,2% s/s). A estocagem antes do feriado por parte dos fabricantes de coque e aço para garantir o fornecimento adequado de carvão para o feriado contribuiu significativamente para essa tendência de alta no mercado.

Minério de Ferro: preços se elevam na expectativa de demanda pelo pacote de incentivos. Os preços do minério de ferro na China se fortaleceram significativamente devido a maior procura pelos contratos futuros do minério de ferro na Bolsa de Dalian (DCE). Os contratos para janeiro de 2025 fecharam a semana em US$115/t (+18,6% s/s). Observamos aumentos recordes na referência 62% Fe, já que o sentimento de alta do mercado seguiu o anúncio do PBoC de um amplo estímulo na política monetária.

O preço spot chegou a US$108,6/t (+17,4% s/s) no início dessa semana e fechou semana passada em US$100,3/t, também compondo uma alta expressiva. Não negamos que o mercado tenha reagido de maneira otimista, com os traders operando os contratos futuros diante do sentimento mais positivo que poderia ser destravado na demanda. Entretanto, ainda salientamos os grandes desafios estruturais que discorremos ao longo da parte inicial do relatório. Dessa forma, não vemos fundamentos que justifiquem esse movimento expressivo de alta ser duradouro.

Minério de Ferro: estoques portuários recuam e ajudam a ampliar sentimento de melhora. Em consonância com o aumento de demanda, que ocasionou recuperação parcial nos preços dos principais produtos de aço na semana passada, adjuntos da melhora do sentimento de mercado pelo pacote de estímulos lançados pelo governo central, observamos um recuo pela segunda semana consecutiva dos estoques portuários de minério de ferro. Acreditamos que parte desse movimento de retiradas da pilha de estoques tenha ocorrido pelo reabastecimento das usinas antes do feriado da Golden Week, e não necessariamente por uma mudança forte de fundamentos. Portanto, os estoques de minério de ferro em ~30 portos chineses que monitoramos fecharam a semana passada em 131,7Mt (-2,2% s/s).

É importante também comentar que em 2021 os estoques tiveram uma alta considerável em outubro, principalmente diante do efeito de aumento de embarques sazonal das mineradoras, que aproveitaram o pico histórico de preço do minério de ferro na época,  com a referência 62% Fe próxima de US$180/t, para aumentar consideravelmente os despachos. Dessa forma, embora atualmente os estoques ainda permaneçam no maior nível dos últimos 5 anos, acreditamos ser provável que ao longo desse mês esse quadro se reverta, com a pilha de estoques ficando abaixo do nível de 2021, mas ainda assim, bem acima do nível de estoques portuários do ano passado, por exemplo.

Aço: Os estoques de aço das usinas chinesas diminuíram -5% s/s. Apuramos, através dos dados de mercado que temos acesso, que os estoques de aço no pátio das usinas continuam a abaixar. Verificamos um total de 3,8Mt (-4,8% s/s), marcando o nível mais baixo desde dezembro de 2017. Esse estoque inclui os cinco principais subprodutos de aço (vergalhões, fio-máquina, HRC, bobina laminada a frio e placas). Embora a maioria dos estoques dos principais subprodutos tenha caído, observamos ligeiros aumentos nas reservas de fio-máquina e placas. Já os estoques totais de aço acabado em posse de traders ou distribuidores chegou a um total de 16,3Mt (-2,2% s/s), também culminando na décima semana consecutiva de contração.

Aço: taxa de utilização dos Altos-fornos sobe pela quarta semana consecutiva. Os produtores de aço de alto-forno (BF) da China registraram um aumento na utilização da capacidade pela quarta semana consecutiva, atingindo 84,45% (+0,4p.p s/s). Entretanto, a taxa operacional permaneceu estável em 78,23%. A melhora nas margens de lucro levou várias usinas a retomarem as operações após paradas para manutenção.

Aço: produção de vergalhões atinge maior alta dos últimos 2M.  A nossa análise de dados de mercado indica que a produção de vergalhões continuou subindo na semana de 21-27 de setembro, chegando a 2Mt (+5,8% s/s). Isso marcou a quinta semana consecutiva de aumento, com o equivale a +112,3Kt adicionais. As principais regiões, incluindo o centro, o sul e o nordeste da China, contribuíram para esse crescimento, com algumas usinas retomando as operações após a manutenção e outras mudando a produção de HRC para vergalhões na tentativa de melhorar a lucratividade, conforme já havíamos antecipado no relatório da semana passada.

Aço: rentabilidade da produção de HRC teve elevação na última semana. Os preços da bobina a quente (HRC) registraram um aumento contínuo na semana de 21-27 de setembro, refletindo a melhora no sentimento do mercado, principalmente ligado ao pacote de estímulos anunciado na semana passada. De acordo com a nossa apuração de dados do mercado, o preço do HRC aumentou para US$482/t (+4,3% s/s). As margens migraram de patamar, chegando a +US$36/t (+5,9% s/s). Essa tendência de alta é atribuída a fatores macroeconômicos e sentimento do mercado mudando para um viés mais positivo. Entretanto, suspeitamos do nível de resiliência de aumento de preços, uma vez que a demanda real ainda não obteve um boost significativo para justificar o ânimo do mercado.

Brasil

Aço brasileiro: preço de vergalhões segue estável, com reajustes ainda em discussão. O preço doméstico de vergalhões permaneceu estável na semana passada, com expectativas de um possível aumento de +5% nos preços em outubro. Segundo conversas que tivemos com agentes de mercado nos últimos dias, as negociações seguem travadas. Embora o prêmio esteja em um patamar baixo (menor que a média histórica de 5-8%), a temperatura do setor de construção civil continua amena. Os projetos do programa governamental Minha Casa, Minha Vida (MCMV) não estão puxando demanda de forma suficiente para reaquecer o mercado de aços longos. Já o segmento de empreendimentos de alta-renda segue desacelerando.

Dessa forma, as construtoras estão tentando negociar uma intensidade menor ou postergar o reajuste de preço, considerando que seria o segundo movimento pleiteado pelas usinas nos últimos 3M. Setembro fechou com preços no intervalo de R$3.800-4.300/t, com o ponto central figurando em R$4.050/t, segundo a S&P Platts. O prêmio de paridade ficou em +3,7% vs. o aço importado, uma elevação de +0,7p.p s/s, diante de uma melhora da margem de vergalhões no cenário internacional. O alargamento do prêmio ocorreu uma vez que o preço do  aço importado chegou no Brasil em US$717/t (+0,8% s/s), contrabalanceados com a estabilidade de preço no mercado doméstico.

Aço brasileiro: prêmio do HRC continua descendo após cotas preenchidas.  Os preços da bobina laminada a quente (HRC) no Brasil permaneceram estáveis na última semana, dentro do intervalo de R$4.100-4.300/t, com o ponto central em R$4.200/t, segundo a S&P Platts. Destacamos também que a ArcelorMittal suspendeu, na semana passada, a expansão que estava planejada para a unidade de Longa Monlevade (MG), devido à demanda mais fraca e ao aumento das importações, observando que o setor está enfrentando desafios decorrentes do aumento das importações e do crescimento da demanda abaixo do esperado. Ainda assim, estamos começando a ver sinais de arrefecimento de forma mais ampla no prêmio de paridade, que contraiu para +14,1% vs. o aço importado (-4p.p s/s).

Conforme descrevemos no relatório da semana passada, as cotas deste quadrimestre atingiram a marca de 90% sob o volume licenciado para importação de HRC, o que implica na cobrança da tarifa complementar de 25% (vs. 10,8% anteriormente). Ao conversarmos com participantes do mercado nos últimos dias,  ainda falta clareza se o sistema de cotas implementado pelo Ministério do Comércio (MIDC) irá criar um ambiente de concorrência menos predatória a ponto de devolver poder de barganha para as usinas locais subirem preços. Isso até agora não aconteceu, mesmo com o prêmio baixando de forma substancial nas últimas 2 semanas.

Fonte: Genial Investimentos
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/10/2024

 

Receita líquida total do setor de máquinas e equipamentos cresce 12,4% em agosto ante julho

A receita líquida total decorrente das vendas de máquinas e equipamentos em agosto cresceu 12,4% em relação a julho, com ajuste sazonal, segundo informa nesta terça-feira, 1º de outubro, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Já na comparação de agosto com idêntico mês no ano passado, o faturamento líquido total da indústria brasileira de máquinas e equipamentos registrou uma queda de 6,5%. A Abimaq também registrou quedas da receita líquida do setor nas comparações de janeiro a agosto em relação com o mesmo período no ano passado, de 13,4%, e no acumulado de 12 meses encerrados em agosto, em 14,3%.

O crescimento em agosto comparativamente a julho, de acordo com a entidade, deveu-se à melhora do mercado doméstico, uma vez que as vendas no mercado externo recuaram, devolvendo parte do salto observado em julho. Em julho, as exportações tinham crescido 45%. Já em agosto, elas recuaram 29%.

O consumo aparente do setor de máquinas e equipamentos, uma medida que considera a produção nacional junto às importações, subtraindo as exportações, cresceu 14,7% em agosto ante julho. Nas importações de máquinas e equipamentos houve queda de 3,6% ante o mês de julho e estabilidade em relação a agosto de 2023. No ano, as importações passaram a acumular crescimento de 6,9%. O resultado das importações do mês de agosto foi de US$ 2,6 bilhões.

Nuci

Com o crescimento do setor em agosto comparativamente a julho, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria de máquinas encerrou o mês em análise em 76%. Este valor é 0,2 ponto porcentual abaixo do observado no mês de julho, mas 0,6 ponto porcentual acima do resultado de agosto do ano passado.

Máquinas agrícolas

O segmento de máquinas agrícolas registrou em agosto um crescimento de 8,4% na sua receita líquida total na comparação com julho, considerando os ajustes sazonais, conforme a Abimaq.

Na comparação com agosto do ano passado, a receita líquida vinda das vendas de máquinas agrícolas caiu 15,8%.

As vendas de colheitadeiras no mercado interno em agosto cresceram 4,5% em relação a julho. Já as exportações caíram 36,7% na mesma base de comparação. As vendas internas de colheitadeiras caíram 21,5% em relação a julho, mas as exportações cresceram 2,4%.

Fonte: Mercado & Consumo
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 03/10/2024

 

Canadá imporá sobretaxa de 25% sobre produtos selecionados de aço e alumínio fabricados na China

O Canadá irá impor uma sobretaxa de 25 por cento sobre importações selecionadas de aço e alumínio da China, depois de divulgar a sua lista final de produtos impactados na terça-feira.

A sobretaxa sobre esses produtos entrará em vigor a partir de 22 de outubro.

A intenção da mudança foi anunciada pela primeira vez em agosto e segue-se a um mês de consultas com as partes interessadas. Também segue os Estados Unidos, que estão a impor a sua própria sobretaxa de 25% sobre produtos chineses seleccionados de aço e alumínio a partir de 15 de Outubro.

“Estamos avançando em conjunto com os principais parceiros internacionais para proteger os trabalhadores e empresas canadenses em nossos setores de aço e alumínio da política intencional e estatal de excesso de capacidade e oferta da China, que está minando a capacidade do Canadá de competir nos mercados nacionais e globais, ” Disse a vice-primeira-ministra e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, em comunicado.

A partir de terça-feira, a tarifa de 100 por cento do Canadá sobre todos os veículos elétricos (EVs) fabricados na China, incluindo alguns híbridos, caminhões e ônibus, também entrou em vigor. Essas medidas foram anunciadas pela primeira vez no final de agosto.

O governo federal afirma que revisará as novas medidas um ano após sua entrada em vigor.

Fonte: Wordpress
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 02/10/2024

 

Previsão de preço do minério de ferro: alta pode durar pouco

Os preços do minério de ferro saltaram na segunda-feira, enquanto as principais cidades da China seguiram os passos do governo federal. Após o pacote de estímulo jumbo anunciado na semana passada pelo banco central, as autoridades de três grandes cidades aliviaram as restrições à compra de imóveis. A medida aumentou o otimismo sobre a demanda pelo principal ingrediente da fabricação de aço, mesmo com a persistência das preocupações sobre o setor industrial do país.

Grandes cidades seguem os passos do PBoC

Há uma semana, o preço do minério de ferro caiu para o menor nível desde maio de 2023. No entanto, em reação ao pacote de estímulo anunciado pelo Banco Popular da China (PBoC), o metal industrial subiu desde então em cerca de 25%. No início da segunda-feira, ele subiu mais de 10% para os níveis de meados de julho. Isso segue a decisão de três grandes cidades do país de flexibilizar as regras sobre compras de imóveis.

Na semana passada, os esforços do governo chinês para reforçar o ímpeto do crescimento econômico vieram na forma de um pacote de estímulo jumboanunciado pelo banco central. Isso incluiu a redução das taxas de juros sobre hipotecas existentes em 0,5% e a redução dos pagamentos iniciais mínimos para segundas residências de 25% para 15%.

As principais cidades do país agora seguiram essa tendência ao revelar medidas destinadas a reforçar o sentimento do comprador de imóveis. No domingo, um aviso do governo de Guangzhou indicou que todas as restrições à compra de imóveis serão removidas a partir de segunda-feira. Antes desse anúncio, as famílias migrantes precisam ter seguro social ou pagar impostos por seis meses antes de poderem comprar duas casas. Além disso, uma única pessoa dentro dessa categoria estava limitada a um apartamento.

O governo de Shenzhen também aliviou as restrições à compra de casas; agora permitindo que compradores interessados tenham mais um apartamento em distritos específicos. Anteriormente, famílias locais e indivíduos solteiros só podiam ter duas e uma casa, respectivamente. Além disso, famílias migrantes com pelo menos dois filhos agora podem comprar duas casas, acima do limite anterior de uma.

Da mesma forma, o governo de Xangai anunciou a redução do período de pagamento de impostos necessário de três anos para um. A administração da cidade também reduziu sua taxa de entrada para casas iniciais para 15% e 25% para segundas casas a partir de terça-feira.

Dizem também que o governo da cidade de Pequim está considerando aliviar suas restrições de compra de imóveis em certos distritos. Essas medidas positivas visam impulsionar as vendas de imóveis na região. Posteriormente, os investidores estão otimistas de que o minério de ferro – o ingrediente crucial na fabricação de aço – terá sua demanda aumentada significativamente.

Antes da crise imobiliária de vários anos, o setor contribuía com mais de um quarto do PIB do país. Posteriormente, o índice de minério de ferro SGX TSI atingiu sua máxima histórica em maio de 2021, a US$ 233 por tonelada.

Aumento nos preços das ações

Com o aumento nos preços do minério de ferro, as ações da NMDC subiram mais de 4% na segunda-feira para seu nível mais alto desde 1º de agosto. No momento em que este artigo foi escrito, o preço das ações desta empresa, que é a principal produtora de minério de ferro da Índia, estava em 244,91 rúpias.

Ao mesmo tempo, as ações do grupo BHP foram negociadas no verde pela sexta sessão consecutiva, para níveis registrados pela última vez no final de maio, a 46,19 dólares australianos. O preço das ações da Rio Tinto também subiu para uma alta intradiária de 130,98 AUD, um nível visto pela última vez no final de maio. A Rio Tinto, que é a maior produtora mundial de minério de ferro, teve seu preço de ações subindo mais de 22% desde o início de setembro, quando caiu para uma baixa de um ano.

Análise de preço do minério de ferro

 

O gráfico diário mostra que o preço do minério de ferro atingiu o fundo do poço em US$ 89,80 neste mês, à medida que as preocupações com a economia global continuaram.

Em seguida, ele se recuperou para os atuais US$ 111,15, seu nível mais alto desde 5 de julho. Agora, ele ultrapassou o importante nível de suporte em US$ 98,05, sua menor oscilação em abril deste ano e maio do ano passado.

O minério de ferro também saltou acima das Médias Móveis Exponenciais (MME) de 50 e 100 dias, o que significa que os touros estão no controle por enquanto.

No entanto, o minério de ferro também formou um padrão gráfico de cabeça e ombros, um sinal popular de baixa. Portanto, há uma probabilidade de que essa recuperação seja de curta duração, o que significa que pode retomar a tendência de queda. Se isso acontecer, o próximo ponto a ser observado será em US$ 90, seu ponto mais baixo neste mês.

Fonte: Invezz
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 01/10/2024

 

Futuros de vergalhões de aço saltam para CNY 3.170: medidas de estímulo da China aumentam otimismo do mercado

Em setembro, os contratos futuros de vergalhões de aço tiveram um aumento notável, atingindo CNY 3.170 por tonelada.

Esse pico representou o preço mais alto visto em um mês, em grande parte impulsionado pela resposta do mercado às novas medidas de estímulo fiscal introduzidas pelo governo chinês.

Após uma reunião crucial do Politburo, as autoridades se comprometeram fortemente a revitalizar o setor imobiliário em dificuldades, criando uma perspectiva positiva para a demanda futura.

A ênfase do Politburo na recuperação econômica é particularmente significativa, pois não é comum que tais reuniões priorizem discussões sobre questões econômicas.

O foco em lidar com o fraco mercado imobiliário aumentou as esperanças de aumento na demanda por aço, especialmente nos setores de manufatura.

Ao priorizar um dos setores mais vitais do país, esta iniciativa sugere potencial de crescimento para indústrias associadas, particularmente na produção de aço.

Impactos no setor da construção

O pacote de estímulo fiscal introduzido recentemente sinaliza claramente a intenção do governo chinês de apoiar incorporadores imobiliários altamente endividados, que estão entre os maiores consumidores de vergalhões de aço do mundo.

Ao apoiar essas empresas, o governo pretende evitar um maior declínio econômico e promover a conclusão de projetos, o que é crucial para manter a demanda por aço.

No entanto, esse apoio econômico vem com uma faca de dois gumes.

Embora o estímulo tenha como objetivo rejuvenescer o mercado, os esforços contínuos de Pequim para limitar novas construções a fim de controlar o excesso de oferta de moradias representam um desafio.

À medida que o governo tenta estabilizar o mercado imobiliário superaquecido, podem ocorrer flutuações nos preços futuros de vergalhões de aço, já que as atividades de construção estão sendo rigidamente regulamentadas.

Medidas monetárias para apoiar o crescimento

Juntamente com o estímulo fiscal, o Banco Popular da China (PBoC) introduziu uma ampla iniciativa de política monetária.

Esta semana, o banco central lançou diversas medidas destinadas a injetar liquidez no mercado, incluindo cortes nas taxas de juros, redução do índice de reservas compulsórias e criação de mecanismos inovadores para auxiliar o refinanciamento de hipotecas em condições mais favoráveis.

Essas mudanças na política monetária visam aliviar a pressão financeira sobre consumidores e empresas. Ao reduzir os custos de empréstimos, o PBoC visa estimular a demanda por projetos de habitação e construção, o que, por sua vez, pode indiretamente elevar a demanda por aço.

Essa combinação de políticas fiscais e monetárias destaca um esforço unificado para enfrentar os desafios econômicos causados pela pandemia e as flutuações de mercado resultantes.

Sentimento do mercado e perspectivas futuras

À medida que a indústria siderúrgica considera as implicações desses eventos, o sentimento do mercado permanece misto. Enquanto o otimismo sobre o estímulo fiscal pode levar ao aumento da atividade de compra, as preocupações sobre o potencial excesso de estoque permanecem.

Investidores e especialistas estão monitorando atentamente as declarações do governo para determinar o escopo e o impacto exatos das medidas propostas.

Além disso, os desafios contínuos no mercado imobiliário e as regulamentações governamentais sobre novos projetos podem dificultar o aumento previsto.

As partes interessadas percebem que, embora uma demanda maior seja iminente, mudanças regulatórias podem resultar em uma recuperação mais gradual do que o previsto anteriormente.

O aumento nos preços futuros de vergalhões de aço em setembro reflete a situação econômica geral da China e o plano proativo, porém cauteloso, do governo para promover o crescimento.

Embora o anúncio de medidas fiscais para revitalizar o mercado imobiliário tenha estimulado o otimismo, as dificuldades duplas de gestão da oferta e restrições regulatórias desempenharão um papel fundamental na definição do futuro da indústria siderúrgica nos próximos meses.

À medida que os participantes do setor se adaptam a esse clima de mudança, manter um equilíbrio entre promover o crescimento e regular o excesso de oferta continuará sendo essencial.

As próximas semanas podem fornecer mais informações, mas, por enquanto, toda a atenção está voltada para a China, que navega neste terreno econômico complexo, com a demanda por aço em um potencial ponto de virada.

Fonte: Invezz
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 27/09/2024

Revolução da IA na Mineração e Siderurgia: Desafios e Inovações Fascinantes

Durante a 8ª ABM Week, foram debatidos temas relacionados à transformação digital no setor minero-metalúrgico, em que a Inteligência Artificial se destacou. Com o uso de Inteligência Artificial, foi possível alcançar melhorias notáveis em processos de automação, aumentar a eficiência e garantir maior segurança nas operações, demonstrando um potencial considerável para revolucionar a siderurgia e mineração.

A IA trouxe vantagens evidentes ao setor, otimizando recursos e promovendo práticas mais sustentáveis. Graças à aplicação de tecnologias avançadas como essa, a sustentabilidade tornou-se uma realidade cada vez mais palpável, impactando de forma positiva todo o ecossistema minero-metalúrgico. Esses avanços permitiram não só um aumento na produtividade, mas também uma redução significativa nos riscos ocupacionais.

De acordo com a projeção da ABI Research, os investimentos globais em tecnologias digitais na indústria de mineração devem alcançar U$ 9,3 bilhões até o ano de 2030. Dentro da siderurgia e mineração, a Inteligência Artificial tem sido uma ferramenta crucial, trazendo avanços significativos tanto na exploração quanto na extração de recursos. Isso é possível através do emprego de veículos autônomos, sensores avançados e algoritmos de machine learning. A aplicação frequente da IA tem contribuído para tornar esses processos mais sustentáveis e seguros.

O papel da Inteligência Artificial na siderurgia

No campo da siderurgia, a IA é fundamental para a otimização de processos de produção, além de prever possíveis falhas em equipamentos. O uso da IA também tem melhorado consideravelmente a qualidade dos produtos finais. Reconhecendo a importância dessas inovações tecnológicas, a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) organizou quatro mesas-redondas focadas em Inteligência Artificial para o setor minero-metalúrgico durante seu principal evento anual, a 8ª ABM Week.

Durante a maior semana técnico-científica da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração, especialistas tanto da indústria quanto da academia discutiram as mais recentes inovações e os desafios enfrentados na implementação de IA nesses setores. Embora a IA tenha se expandido rapidamente, questões relacionadas à ética no uso de dados emergem como um dos maiores desafios, especialmente no que se refere às IAs generativas.

Desafios da Inteligência Artificial e ética no uso de dados

De acordo com especialistas participantes do evento, um dos riscos mais mencionados é a importância de manter a transparência e a ética na coleta e no uso dos dados. Além disso, a necessidade de pesquisas aprofundadas para assegurar eficácia e segurança na aplicação da IA, principalmente em contextos educacionais, foi amplamente debatida. Em muitos casos, fatores que são invisíveis aos algoritmos podem obscurecer e distorcer julgamentos e conclusões.

A mesa-redonda ‘IA aplicada ao desenvolvimento de produtos e sustentabilidade nos processos de conformação‘ foi um destaque do segundo dia da ABM Week 2024. Este debate foi parte do 59º Seminário de Laminação e Conformação de Metais, com a participação de palestrantes da ArcelorMittal, Usiminas e VETTA, e coordenadores os consultores José Herbert Dolabela e Júlio César Enge.

IA e sustentabilidade em processos de conformação

Jetson Lemos Ferreira, pesquisador da ArcelorMittal, apresentou exemplos práticos do uso da IA para prever defeitos complexos e desenvolver novos tipos de aço. Giselle Miranda Bento, gerente de Inteligência da Informação da Usiminas, abordou a integração da IA em processos produtivos da empresa, promovendo uma cultura de dados para otimizar operações, como o recozimento.

Lis Nunes Soares, Diretora de Eficiência Energética da VETTA, enfatizou a importância da IA para aumentar a eficiência energética e reduzir emissões. Utilizando tecnologias avançadas para antecipar padrões e evitar excessos de testes práticos, a reconheceu que ‘Quando falamos de energia, olhamos para um retrovisor; o fato já ocorreu. Então, o uso da IA nos ajuda a identificar comportamentos e padrões para fazer as devidas adaptações.’ A inserção da IA dentro dessa cultura de dados solidifica sua importância estratégica para decisões diárias, conforme ressaltou Giselle da Usiminas.

Perspectivas e desafios das IAs generativas

A mesa-redonda ‘Perspectivas e desafios de implementações de IA Generativa na Indústria’ contou com especialistas da Microsoft, Gerdau, EloGroup e Deloitte. Coordenada por Renato Cesar Braga, Coordenador de Engenharia Elétrica e Automação da Vallourec South América, e Leandro Rodrigues Ramos, Especialista de Automação e Controle de Processo da ArcelorMittal, e moderada por Douglas Vieira, Diretor Executivo da Enacom, o debate enfatizou os potenciais e desafios técnicos e éticos da IA na indústria.

Francisco de Almeida, Data & IA Senior Manager da EloGroup, salientou o impacto econômico da IA, que, segundo sua apresentação, pode gerar valores anuais entre 9,5 e 26 trilhões de dólares. Rodrigo Sarkis, Estrategista Técnico de Contas Globais da Microsoft, destacou que a IA pode ser uma ferramenta poderosa para a hiper personalização, aplicação em estratégias de marketing e vendas, e modelos de copiloto para funcionários.

O impacto do ChatGPT e da IA no ambiente de trabalho

Rodrigo mencionou o sucesso do ChatGPT, o chatbot mais utilizado globalmente, que já ultrapassou 200 milhões de usuários por semana, alertando para o uso criterioso da IA: ‘Utilizemos a inteligência humana e a parcimônia no desenvolvimento de interações com aplicações generativas.’

Rafael Guimarães, Gerente Geral de Portfólio Digital da Gerdau, apresentou projetos de IA da empresa: Data4ALL, uma plataforma com mais de 30 cursos e 340 aulas, já atingindo mais de 7 mil inscritos, e um assistente de chat via Copilot para otimizar tarefas diárias. João Zaiden, Head de Ativos Inteligentes da Deloitte, discorreu sobre a questão ética da IA, abordando que a solução deve ser estritamente ligada aos temas de interesse, evitando respostas imprecisas.

A IA na mineração e a transição energética global

A mesa-redonda ‘Inteligência Artificial na Mineração’ discutiu como a IA pode aumentar a competitividade da indústria de mineração brasileira e ajudar na transição energética global. Moderada por Gisele Regina Hwang, especialista em engenharia da Vale, o evento reuniu nomes como Giorgio de Tomi da USP e Marcelo Tavares da COPPE/UFRJ. Eles debateram a otimização das operações de mineração pela IA, sem minimizar a importância do conhecimento técnico acumulado.

Carolina de Piero Bruno da Vale destacou que a expertise humana é indispensável em processos que envolvem segurança. Giorgio de Tomi ressaltou que o Brasil tem uma enorme oportunidade de protagonizar na transição energética global, usando a IA para tornar a indústria de mineração mais competitiva. ‘O mundo está sedento por minerais para a transição energética, e podemos liderar não apenas no fornecimento, mas também na descarbonização’, disse Giorgio.

Uso responsável de IA por estudantes

A Inteligência Artificial também não está longe das universidades. Durante a ABM Week, a mesa-redonda ‘Uso de IA pelos estudantes: Riscos e Oportunidades’ discutiu o uso responsável da IA pelos acadêmicos. Organizada pela Comissão Técnica de Iniciação Científico-Tecnológica, o evento foi moderado por Geraldo Lúcio de Faria, da UFOP, e coordenado por Willy Ank de Morais, da Unisanta.

Participaram do debate talentos emergentes como Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva da USP e Weslei Monteiro Ambros da UFRGS. Eles alertaram que depender exclusivamente da IA para criar materiais do zero pode prejudicar o processo de aprendizado, comprometendo o desenvolvimento de habilidades críticas e a resolução de problemas de forma independente.

O desafio do letramento digital

O letramento digital também foi um ponto crucial discutido, evidenciando que o desafio não está apenas no uso da IA, mas também na falta de acesso à internet e tecnologia. Muitas pessoas ainda têm limitações nesse acesso, saltando etapas essenciais do desenvolvimento tecnológico contínuo.

Sobre a 8ª ABM Week:

Anualmente realizada pela Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), a ABM Week é o principal evento técnico-científico da América Latina, focado em discutir as últimas inovações e desafios enfrentados pela indústria. Na 8ª edição, a ArcelorMittal foi a anfitriã, e o evento contou com patrocinadores importantes como DME Engenharia, Gerdau, Vale, CBMM, entre outros. A conferência reuniu profissionais renomados, pesquisadores e empresas dedicadas a explorar o potencial econômico da IA, automação e controle de processo, e eficiência energética para promover avanços na siderurgia e mineração.

Fonte: Click Petróleo e Gás
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 27/09/2024