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A conta do carbono zero na mineração pode custar US$ 1 tri

A descarbonização e transição energética da cadeia da mineração e siderurgia é um caminho sem volta. A questão é quanto tempo irá levar e quanto esse processo irá custar. 

“A conta é alta. Quando se modela toda a cadeia, a gente está falando em mais de trilhão. Se somar o valor de mercado de todas as siderúrgicas do mundo, não chega a um trilhão”, diz Gustavo Pimenta, vice-presidente de finanças e relações com investidores da Vale.

O assunto foi debatido no evento Fronteiras da Mineração, que foi realizado pelo Brazil Journal e aconteceu no último dia 20 em São Paulo. Além de Pimenta, participaram do painel Luciano Alves, CEO da CBA, e Eduardo Couto, diretor jurídico da Cedro Mineração e presidente da Comissão de Direito Minerário da OAB Nacional. 

Os executivos falaram também sobre como auxiliar clientes e parceiros a descarbonizar seus negócios, as novas tecnologias que vão facilitar a transição energética e as novas regras e as legislações em discussão na esfera federal que impactam o processo.

O evento Fronteiras da Mineração aconteceu no último dia 20, em São Paulo, e reuniu alguns dos principais executivos e especialistas do mercado de mineração.

Fonte: Brazil Journal
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 23/08/2024

 

Importação de aço salta 23% em julho, apesar da imposição de cotas pelo governo

A produção de aço bruto no país ganhou tração em julho e atingiu 3,1 milhões de toneladas, uma alta de 11,6% na comparação anual, segundo levantamento do Instituto Aço Brasil. Contudo, as importações também seguiram em alta e superaram em 22,9% o volume registrado um ano antes, com 592 mil toneladas, apesar da imposição de cotas de importação para nove tipos de aço, pelo governo brasileiro, desde junho.

Conforme o Aço Brasil, as vendas internas fecharam em 1,9 milhão de toneladas no mês passado, variação positiva de 16,5%, e o consumo aparente de produtos siderúrgicos somou 2,3 milhões de toneladas, crescimento de 13,5%, na mesma base de comparação.

Os dados sobre exportações em julho, apontou a entidade, foram pressionados pela contabilização, com atraso, de parte do volume embarcado entre novembro de 2023 e junho deste ano. Isso aconteceu devido à nova dinâmica documental causada por mudança na portaria n°8/23, da Inspetoria da Receita Federal, sobre exportações no Porto de Pecém, que fica na costa do Nordeste.

O atraso foi corrigido em julho, o que elevou artificialmente as exportações para 1,5 milhão de toneladas, distorcendo a variação percentual — frente a julho de 2023, a alta chegou a 81,6%.

Na variação de julho frente a junho, a produção cresceu 7,6% e as vendas internas avançaram 2,3%. Já as importações subiram 38,3% nessa base de comparação e o consumo aparente, 3,5%.

No acumulado de janeiro a julho, a produção de aço bruto no Brasil atingiu 19,4 milhões de toneladas, alta de 3,3% frente a igual período do ano anterior. As vendas internas fecharam em 12,1 milhões de toneladas, avanço de 5,6% na mesma comparação.

Ainda nos mesmos intervalos analisados, as importações registraram 3,3 milhões de toneladas, incremento de 23,7%. As exportações contabilizaram 6,1 milhões de toneladas, com queda de 12,9%.

O consumo aparente de produtos siderúrgicos fechou em 14,7 milhões de toneladas nos sete primeiros meses de 2024, tendo variado 7,4% quando comparado a igual intervalo de 2023.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/08/2024

 

Preço do aço cai na China e preocupa investidores. O que está por trás da queda?

A indústria siderúrgica da China tem lutado para seguir crescendo, mas enfrenta dificuldade pois o setor imobiliário do país continua em crise e não consegue absorver o excesso de oferta. Esse é o quadro que especialistas disseram à CNBC, algo preocupante vindo da segunda maior economia do mundo.

"A demanda chinesa tem sido uma grande decepção para esse ramo da indústria em geral", disse Sabrin Chowdhury, chefe de análise de commodities da BMI.

"Isso se deve principalmente ao fraco setor imobiliário na China. A crise do setor imobiliário deve durar vários anos, e isso definitivamente é um presságio negativo para metais industriais que são necessários em infraestrutura", acrescentou.

A China é o maior produtor mundial de aço, respondendo por mais da metade da produção mundial, com mais de um bilhão de toneladas por ano.

Também é o maior consumidor mundial de aço e minério de ferro, e os preços de ambos os materiais caíram, pois o fornecimento de aço continua inchado em meio à fraca demanda doméstica.

Os preços do aço da China caíram aproximadamente 10% no acumulado do ano, segundo dados do provedor de informações financeiras Wind. Para alguns produtos a queda chegou a 20%. Os preços do minério de ferro da China, o principal material para o aço, caíram mais de 28% até agora neste ano, de acordo com dados do FactSet.

O "inverno" da indústria siderúrgica

O presidente da maior produtora de aço do mundo, a estatal Baowu Steel, disse recentemente que a indústria siderúrgica estava passando por um "inverno", acrescentando que a indústria estava no meio de um período de ajuste de longo prazo.

A indústria siderúrgica chinesa está presa "entre a cruz e a espada", pois as margens dos fabricantes de aço estão sendo cada vez mais comprimidas pela fraca demanda, disse a chefe de materiais básicos da Ásia-Pacífico, pesquisa de petróleo e gás do Bank of America, Matty Zhao. A demanda moderada deve continuar em 2025 devido a um mercado imobiliário chinês "muito fraco", disse ela à CNBC.

Outros sinais também preocupam os investidores.

As vendas de escavadeiras na China devem cair 8% para o ano fiscal de 2024, escreveu o Citi em uma nota de agosto. As vendas de escavadeiras são geralmente vistas como um indicador da atividade de construção e, por extensão, da demanda por metais.

Condições de mercado "insustentáveis"

Além disso, vários países fizeram acusações de dumping contra a China, pois seus produtores tentam aumentar as exportações em meio à desaceleração do mercado interno.

A Tailândia anunciou recentemente a implementação de direitos antidumping sobre bobinas de aço laminadas da China. Em setembro passado, a Índia também impôs políticas antidumping sobre certos aços chineses por cinco anos. O Ministério da Indústria e Comércio do Vietnã também iniciou uma investigação sobre alguns tipos de bobinas laminadas  da China e da Índia. Ou seja, o clima para negócios também não está bom.

Apesar disso, julho registrou 57,1 milhões de toneladas de aço exportadas pela China. Se essa taxa se mantiver pelo resto do ano, 2024 verá um aumento de 17% nas exportações do  país comparado com 2023. O Citi observou que esse crescimento reduziu o espaço para a produção de aço pelo resto do mundo.

A segunda maior produtora de aço do mundo, a ArcelorMittal, disse que o excesso de produção da China tornou as condições do mercado de aço "insustentáveis".

O dumping de aço da China pode levar ao excesso de oferta em seus destinos de exportação, prejudicando os preços das ações dos fabricantes de aço domésticos, disse Zhao do BofA.

Cinco países do Sudeste Asiático, incluindo Vietnã, Tailândia, Filipinas, Indonésia e Malásia absorveram 26% das exportações de aço da China em 2023, seguidos pela Coreia do Sul com 9%, de acordo com as estatísticas do BofA.

Fonte: Exame
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/08/2024

 

ArcelorMittal acredita em êxito das cotas de importação de aço

A siderurgia nacional sofreu nos últimos anos com o considerável crescimento do aço importado no País. Mas as perspectivas são de que a solução implementada pelo governo federal para conter as importações traga resultados nos próximos meses. E, caso o mecanismo de defesa não tenha a eficácia esperada, o Executivo já se comprometeu com o setor a tomar novas medidas. 

Esta foi a avaliação do presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, Jefferson de Paula, durante encontro com jornalistas nesta quarta-feira (21) para detalhar novos investimentos da empresa em geração de energia renovável.

Ele recorda que, entre 2022 e 2023, a importação brasileira de aço subiu 50%. No período, o consumo de aço no País foi de 23 milhões de toneladas, sendo 5 milhões importadas.

Observando os números aumentarem a cada mês, as siderúrgicas começaram a se reunir com o governo para pleitear a adoção de uma “barreira” ao aço do exterior. As reuniões duraram quase um ano e, enquanto nada era feito, as empresas chegaram a adiar investimentos, reduzir a produção e demitir colaboradores.

Ele diz que, no fim das contas, o governo federal não impôs a medida que o setor solicitava, porém, criou um mecanismo, o que representa uma evolução.

O que o Executivo federal fez foi criar cotas de importação para 11 produtos siderúrgicos, com imposto de 25% para os pedidos que ultrapassarem o limite estabelecido. Antes, o imposto dos itens variava de 9% a 14,4%. A medida, que terá validade de 12 meses, entrou em vigor há pouco menos de dois meses e a expectativa é que, em breve, as produtoras nacionais sintam os efeitos. 

Vale dizer que, em julho, já com a medida vigorando, as importações de aço no Brasil aumentaram 22,9% frente a igual mês de 2023. No acumulado do ano, o volume cresceu 23,7%. 

“A nossa estimativa é que o aço importado deva cair uns 10% neste ano. Cresceu 50% em 2023, ou seja, não vai recuperar nem o do ano passado. Mas a medida foi acordada em maio e entrou em vigor em junho, teve esse período de inércia. Então, acreditamos que, de setembro para frente, vai funcionar”, disse Jefferson, nesta quarta-feira (21).

“Caso não funcione, temos o compromisso do governo de que vai agir para funcionar. Estamos otimistas e achamos que vai melhorar”, ponderou o presidente da siderúrgica.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/08/2024

 

Aumento na tarifa de importação de aço pode intensificar as empresas de transporte

O aumento do Imposto de Importação para 11 produtos de aço passará a ser de 25%. A decisão foi aprovada em abril pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior, o Gecex-Camex. Anteriormente, as tarifas variavam de 9% a 12,6%.

A justificativa governamental para a decisão está no crescimento observado da entrada de produtos estrangeiros no Brasil. A nova tarifa será aplicada a produtos que ultrapassarem uma cota de 30% acima da quantidade comprada entre 2020 e 2022. A decisão é válida por 12 meses.

Desde então, um dos setores essenciais para a economia que vem sendo beneficiado por essa nova legislação é o Transporte Rodoviário de Cargas (TRC). Ele é responsável por grande parte da movimentação das mercadorias siderúrgicas no país. Na visão de Franco Gonçalves, gerente administrativo da TKE Logística - transportadora especializada no transporte de aço -, a medida pode impactar o segmento de diversas maneiras.

“Com o aumento da tarifa para a importação, abre-se a possibilidade de crescimento do mercado interno, com aumento de produção e demanda interna e, consequentemente, a possibilidade de aumento nos fretes operados no mercado, visto que a margem das indústrias siderúrgicas poderá aumentar. Muitas transportadoras e autônomos serão direcionados para as indústrias que obtiverem um melhor valor de frete, e o mercado precisará se reorganizar em relação aos valores praticados”, descreve o executivo.

O pedido de aumento das alíquotas partiu das siderúrgicas nacionais, que se sentiam prejudicadas pelo aumento da entrada de produtos importados no país. Para a indústria, faltam investimentos internos e um mercado mais atrativo para os potenciais clientes.

Na visão do TRC, essa medida, além de aumentar a produção interna, automaticamente elevará a demanda de frete na siderurgia. “Temos acompanhado um grande investimento político e financeiro em setores como infraestrutura, automotivo e saneamento, áreas que necessitam de produtos da siderurgia. Além disso, também estamos em ano eleitoral, então os players políticos tentarão fomentar obras, que acarretarão o aumento da demanda”, pondera Franco.

Desde o final de 2023, as siderurgias brasileiras de aço têm pressionado o atual governo por medidas de proteção para frear as importações do produto.

Em contraponto, as empresas que utilizam a compra de aço também se movimentaram para que a decisão fosse revogada. As fabricantes produtoras de aço argumentaram que os preços dos produtos mencionados são considerados elevados no Brasil.

Por outro lado, o TRC entende que o impulsionamento das indústrias nacionais favorecerá a competitividade do mercado. Na TKE, por exemplo, a aposta será no desenvolvimento interno para continuar se destacando no setor.

“Acredito que haverá um aumento na demanda do transporte, mas será necessário um aumento nos valores de frete. Apesar disso, posso dizer que temos um bom relacionamento com nossos embarcadores do setor e procuramos ser um diferencial competitivo para eles. Atualmente, consideramos apenas continuar evoluindo nosso atendimento, ou seja, personalizando de acordo com cada perfil e oferecendo nossos serviços com mais assertividade”, finaliza Franco.

Fonte: Grandes Construções
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 22/08/2024

 

Nova geração de empreendedores do Centro-Oeste combina IA com agronegócio

Campos de soja, milharais, canaviais, rebanhos a perder de vista. A primeira imagem que salta aos olhos na Região Centro-Oesteé a pujança do agronegócio. A força desse setor, que hoje movimenta 23,8% do PIB nacional, passou a ser, também, um dos principais motores das inovações que nascem nesta região. De mudanças genéticas em sementes ao uso de drones capazes de identificar fungos nas folhas de plantas, a alta tecnologia integra, de forma cada vez mais intensa, a cadeia produtiva das principais commodities agrícolas, passando pelas técnicas de plantio, melhoria da qualidade dos alimentos, tratamento do solo e criação de animais.

O impulso tecnológico fica evidente nos dados do mapeamento das startups do setor agro brasileiro, o Radar AgTech Brasil 2023, realizado anualmente pela Embrapa, em parceria com SP Ventures e Homo Ludens, com apoio do Sebrae e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Em 2019, existiam 1.125 agritechs no Brasil. Esse indicador saltou para 1.953 companhias em 2023. Pouquíssimas, no entanto, estão sediadas no Centro-Oeste: apenas 6% dessas empresas de inovação têm origem ali. A maioria – 57% – é oriunda do Sudeste.

O uso intensivo de inteligência artificial e robôs agrícolas autônomos avança em direção a uma nova fase do setor, chamada de Agricultura 5.0. Um dos principais polos de desenvolvimento desses sistemas na região é o Instituto Federal Goiano (IF Goiano), na cidade de Rio Verde. Tavvs Alves, coordenador de projetos de inovação para o agronegócio, afirma que os sistemas de vanguarda desenvolvidos na região estão à frente do que se vê nos principais produtores de agro do planeta. “O Brasil está acima do patamar mundial no desenvolvimento de soluções tecnológicas para o agro”, diz o professor, que abandonou um cargo de pesquisador no Texas, nos Estados Unidos, para coordenar o setor do IF Goiano. “A realidade é que o produtor rural está sedento por inovação. Todas as soluções têm gerado ativos tecnológicos, que são levados para o mercado nacional.”

Ele cita o exemplo de um sistema que acaba de criar com a Xarvio Sistema de Monitoramento Agrícola, spin-off da Basf, que consiste em um algoritmo de IA que interpreta a espécie de planta daninha que brota em determinada região, sinalizando exatamente qual tipo de herbicida deve ser usado, sem ter de esperar que aquilo cresça.

Mas isso não é tudo. Ao combinar produtos inovadores e recursos de inteligência artificial, uma nova geração de empreendedores demonstra que a vocação regional não se limita às cercas do agro.

 

Em Goiás, o celeiro da inovação está no Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), instalado no campus da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia. É nesse ambiente que têm brotado projetos como o de Lucas Assis. Depois de se formar em engenharia da computação e lecionar na universidade, Assis decidiu partir para aquilo que realmente queria: criar robôs. Em 2018, juntou-se a alguns amigos para criar a Synkar Autonomous, startup especializada em robôs autônomos para transporte de mercadorias. Um ano depois, a Synkar já tinha nas mãos o protótipo de um carrinho autônomo. Em 2020, fez um teste com o aplicativo iFood, para entrega de encomendas em ambientes como shopping center, transportando os produtos das praças de alimentação até os locais de retirada dos motoboys. De usuário, o iFood passou a ser um investidor da Synkar e injetou dinheiro na empresa, ainda em sua fase inicial.

Hoje, a startup possui 20 robôs em diferentes empresas do país, como centros logísticos e shoppings. No Canadá, um dos carrinhos autônomos é usado para identificar, por meio de recursos de IA, fraturas nas calçadas, em decorrência de fortes oscilações de temperatura. Assis afirma que, neste momento, há uma fila de pedidos para produção de mais 285 carrinhos autônomos. O próximo passo é entrar com os robôs em condomínios residenciais. “Algumas semanas atrás, colocamos nosso robô dentro do Big Brother Brasil, da TV Globo, numa ação de marketing, para fazer entregas no programa. Temos uma grande incorporadora de condomínios como cliente”, diz Assis. “Estamos trabalhando agora em uma nova habilidade, para que um robô se comunique com outro e atue como uma frota.”

 

Em fase mais embrionária, outro projeto em andamento no Ceia pretende criar um veículo autônomo para o transporte de pessoas, mas em solo brasileiro. O trabalho é feito em parceria com a startup inglesa Street Drone. Lucas Araújo, professor e coordenador do Laboratório dos Veículos Autônomos, lidera o desenvolvimento que envolve alunos, pesquisadores da graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. “Estamos na fase de criação de aplicações com uso de inteligência artificial, o que vai permitir que nosso carro reconheça, a partir de sensores e de nosso sistema, qual é o ambiente exato em que está circulando, distinguindo detalhes de cada situação, como pessoas, plantas, calçadas, semáforos etc., fazendo o transporte seguro”, diz Araújo, que se formou no Instituto de Tecnologia de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), mas voltou para Goiás para se concentrar nas pesquisas. “Não estava satisfeito. Decidi retornar, porque queria ir para a área de inteligência artificial.”

Por trás do avanço de cada projeto está o envolvimento do meio acadêmico com empresas, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e a Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), órgão federal que apoia inovação, com repasse direto de recursos financeiros não reembolsáveis. O Ceia é uma das 94 unidades parceiras da Embrapii em todo o país. “O sucesso do centro de inteligência artificial de Goiânia mostra, na prática, a capacidade de inovação que temos nesta região, que não é feita apenas do agronegócio”, diz Francisco Saboya, presidente da Embrapii. Na prática, a ligação entre setor acadêmico, associações de fomento e empresas transformou o Ceia em um captador de negócios. Hoje, o Centro possui 50 contratos ativos ligados a empresas privadas (três delas estrangeiras) e quatro órgãos públicos.

Suas soluções de inteligência artificial, criadas por pesquisadores e alunos, já renderam R$ 70 milhões em investimentos. Anderson Soares, coordenador de pesquisa do Ceia, conta que, devido à procura crescente de empresas, decidiu criar o primeiro curso de graduação em inteligência artificial, em 2019, para ganhar mais escala ao que, até então, ficava concentrado em cursos de mestrado e doutorado.

A primeira turma começou o curso em 2020, na Universidade Federal de Goiás. No fim do ano passado, os 15 primeiros alunos concluíram a graduação. Juntos eles receberam, durante os quatro anos de graduação, R$ 1,4 milhão, em projetos demandados pela iniciativa privada. Na festa de formatura, os alunos não deixaram de lado os recursos de IA: gravaram as vozes de seus professores e captaram suas frequências. Durante o baile, muitos hits da música brasileira foram tocados com a voz de cada um deles.

Nascida em Ceres, município de 103 mil habitantes, no interior de Goiás, Heloisy Rodrigues foi a única aluna mulher entre os formandos. Ao longo do curso, ela realizou projetos para a Datamétrica, gigante da área de call center sediada em Recife. Dessa aproximação, nasceu uma proposta: tornar-se sócia de uma startup nascida dentro da Datametrica: a Macall. Heloisy e mais quatro amigos da universidade deixaram de ser graduandos e passaram a ser sócios da nova companhia voltada à criação de soluções de inteligência artificial para teleatendimento ao cliente. “Estamos, agora, em fase de captar negócios com outras empresas”, diz.

Na mira de investidores
A trilha aberta pela inteligência artificial já coloca empresas de tecnologia do Centro-Oeste no caminho para atrair investimentos mais robustos. Criada em 2012 por três amigos, em Goiânia, a Cilia Tecnologia nasceu com o propósito de facilitar a vida das seguradoras e de proprietários de veículos acidentados, permitindo a realização de orçamento de carros sem a necessidade de ter um perito no local.

No início, o sistema oferecia um banco de dados gigantesco, abastecido por milhares de fotos e informações sobre modelos de veículos e peças, como forma de acelerar a realização do orçamento, a partir de fotos dos carros tiradas por seus donos. Em 2019, porém, a empresa resolveu dar um passo mais ousado, e começou a buscar recursos de IA que permitissem obter, em minutos, um orçamento detalhado, incluindo os preços de reparos internos e externos dos carros, ao confrontar as fotos recebidas dos clientes. Foi uma revolução.

Atualmente, é possível ver na tela, em tempo real, uma análise virtual do carro batido, com o apontamento, em 3D, de tudo aquilo que precisa ser refeito ou trocado, conforme a gravidade do dano identificado. Diariamente, em segundos, sistemas de inteligência cruzam informações de 63,6 mil modelos diferentes de veículos e 18 milhões de peças para fechar o orçamento de cada caso que recebe. Em seu banco de dados, cerca de 250 fotos são inseridas por minuto, vindas de clientes de seguradoras de todo o país. São aproximadamente 10 mil batidas de carro registradas por dia. “Eu brinco, dizendo que viramos o Instagram dos carros batidos”, diz Douglas Camargo, sócio-fundador e diretor de tecnologia da empresa.

A Cilia presta serviços, atualmente, para todas as grandes seguradoras do país, como Bradesco, Tokio Marine, Allianz e Liberty. Apenas a Porto Seguro não faz parte, ao menos por enquanto, de seu portfólio, porque estaria trabalhando em seu próprio sistema. O potencial do negócio iniciado pelos três amigos numa pequena sala de escritório, 12 anos atrás, atraiu investidores de peso. No ano passado, o fundo de investimento Cloud9 Capital, de São Paulo, injetou R$ 110 milhões na empresa. A companhia, que foi avaliada em R$ 176 milhões, persegue os passos da startup britânica Tractable, companhia que presta o mesmo tipo de serviço e que chegou a ser avaliada em US$ 1 bilhão, patamar que conferiu a ela o título de unicórnio. “Somos donos de uma tecnologia ainda mais avançada que a deles, além de termos uma base sólida de banco de dados, que nos permite prestar um serviço ainda mais detalhado. Percebemos que o mundo não sabia disso, que precisávamos de um investidor. Agora, estamos neste caminho”, afirma Camargo.

 

A próxima onda do agro
Outra frente que avança na região, dentro da seara do agronegócio, é a ligada a biotecnologia. Na Embrapa Agroenergia, em Brasília, as inovações se concentram na produção de insumos mais sustentáveis, seja para produção de bioprodutos ou biocombustíveis. Mônica Damaso, coordenadora da unidade Embrapii da Embrapa Agroenergia, lidera projetos inovadores, como o que utiliza algas marinhas ou de água doce para produção de biofertilizantes, ou até mesmo de corante natural utilizado em cosméticos. “Esses projetos já nascem com uma demanda industrial. O agro nos procura com demandas como, por exemplo, criação de biofertilizantes, bioinoculantes, uma ração de mais fácil digestão, e por aí vai”, afirma Damaso. “Ao fim do projeto, seus resultados podem significar, por exemplo, menos uso de produtos químicos, menos aplicação de antibiótico em animais.”

O uso de drones e sensores também avança e desperta a atenção de pesquisadores locais. No Instituto Federal Goiano, autarquia ligada ao Ministério da Educação, estão em desenvolvimento soluções digitais para monitoramento e manejo de lavouras, por meio de imagens aéreas. A tecnologia detecta nematóides (vermes) e realiza recomendações para o manejo desses parasitas na cultura da soja. Um segundo projeto faz diagnósticos e recomendações nutricionais para a cultura do arroz.

Ambas as iniciativas utilizam drones e câmeras especiais que registram frequências espectrais que não são captadas pela visão humana. Cruzando os dados com amostras coletadas no campo, os projetos permitem desenvolver sensores que detectam os problemas na lavoura. Baseadas em um robusto banco de dados e inteligência artificial, as novas tecnologias fazem recomendações de manejo. Dessa maneira, é possível reduzir os custos de produção, aumentar a produtividade e melhorar a sustentabilidade da agricultura.

Os dados nacionais apontam que, de um total de 2.408 projetos realizados junto à Embrapii entre 2014 e 2023, 14% tinham como destino o aprimoramento da agroindústria. “Esse cenário reflete, de fato, a força do setor do agronegócio na economia, mas também revela a nossa necessidade de ampliar a inovação em indústrias que exijam valor agregado, com inovação embarcada”, avalia Francisco Saboya, presidente da Embrapii. Como se vê nesta reportagem, essa é uma realidade que começa a se estabelecer no Centro-Oeste. As múltiplas aplicações das novas demandas de tecnologia na região começam a irradiar para outros setores e criam uma nova frente de expansão da inovação – dali para o mundo.

O MAPA DA INOVAÇÃO DO CENTRO-OESTE
Os principais polos de desenvolvimento tecnológico da região

 

1- Brasília (DF)
Na capital federal, a Embrapa Agroenergia tem uma unidade especializada em inovações para produção de bioprodutos e biocombustíveis, em uma área de 3 mil metros quadrados.

2- Goiânia (GO)
Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, já atraiu investimento de R$ 70 milhões em projetos de inovação e conta com 380 pesquisadores de IA.

3- Rio Verde (GO)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano), ligado ao Ministério da Educação, desenvolve soluções inteligentes para o agronegócio, em Rio Verde.

4- Três Lagoas (MS)
Instituto Senai de Inovação (ISI) Biomassa, em Três Lagoas (MS), realiza pesquisas para desenvolvimento de produtos e serviços que envolvem a transformação de biomassa, para agregar valor às commodities e biomassa residual.

SOLO FÉRTIL
As tecnologias que geram mais projetos* na região Centro-Oeste

 

DEMANDA LOCAL
Projetos de base tecnológica* oriundos da Região Centro-Oeste nos últimos 10 anos

- 122 projetos apoiados
- 52 projetos concluídos
- R$ 145 milhões investidos

* Projetos realizados com apoio da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação industrial)

 
Fonte: Época
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 22/08/2024