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Brasil bate recorde de importação de máquinas. Foco é aumentar investimento

A importação de bens de capital, como máquinas, equipamentos, caminhões e ônibus, bateu recorde nos 11 primeiros meses do ano, com US$ 32,5 bilhões (R$ 198 bilhões), salto de 21% ante o mesmo período de 2023, mostram os dados mais recentes da balança comercial brasileira. Reflete o crescimento dos investimentos no país apontado pelo IBGE no PIB do terceiro trimestre, na semana passada, mas também dá sinais de substituição de maquinário nacional por importado, com avanço de fabricantes da China.

O fluxo se mantém forte, mesmo com o dólar acima dos R$ 6. A compra de maquinário no exterior é puxada tanto pela retomada de obras de infraestrutura, de rodovias a saneamento, quanto por ciclos de algumas atividades, como comércio eletrônico, mineração, energia solar e eólica, apontam executivos e especialistas.

 

Levantamento da empresa de comércio exterior Comexport, obtido pelo GLOBO, aponta quais máquinas vêm aparecendo mais nessa pauta.

É o caso de empilhadeiras e plataformas usadas na movimentação de mercadorias, na esteira do boom do e-commerce. Em 2024, até outubro, a importação desses itens somou US$ 699 milhões, mais que o dobro de todo 2021.

Ganho de eficiência

Quando iniciou sua operação no Brasil, em 2019, a Amazon tinha um centro de distribuição, em Cajamar (SP). Hoje, tem dez. O de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, conta com 30 empilhadeiras para cobrir seus 30 mil metros quadrados. Para a unidade do Recife, inaugurada este ano, a multinacional comprou cem máquinas para 70 mil metros quadrados.

O maquinário é todo importado, da marca alemã Jungheinrich. A tecnologia dos modelos oferece ganhos em segurança e eficiência à operação com baterias de lítio de rápido carregamento e transmissão de informações sobre localização, tempo de uso e eventuais falhas por telemetria para um sistema centralizado. Essas empilhadeiras são capazes de depositar paletes inteiros carregados de produtos grandes e pesados, de ventiladores a ração de animais, em prateleiras que chegam a dez metros de altura. Depois, levam os operadores até elas para retirar mercadorias pedidas pelos clientes, sem precisar descer todo o conjunto.

Tiago Lopes, líder regional de Segurança do Trabalho na Amazon do Brasil, conta que empilhadeiras ainda mais modernas no centro pernambucano são dotadas de um sistema de VNA (sigla para “corredor muito estreito”, em inglês): elas se locomovem guiadas por um fio magnético no chão, que funciona como um “trilho”. Isso permite reduzir o espaço entre as prateleiras de 3,3 para 2,2 metros e aumentar a capacidade de estoque.

— Essa máquina entra na “rua” justinha e não tem risco de bater em nada, porque só anda guiada. Isso aumenta a produtividade. Aqui (em Meriti), temos 16 “ruas” (entre as prateleiras) e teríamos 24 com essa tecnologia — diz Lopes.

Também se destacam nas importações os chamados caminhões fora de estrada, usados na mineração. As compras no exterior desses veículos gigantes, que podem carregar 240 toneladas de material e cujas rodas chegam a 3 metros, por empresas brasileiras somam US$ 4,1 bilhões até outubro, mais que em todo 2023.

A demanda vem de projetos de expansão de minas, como o P15, da CSN Mineração, que receberá R$ 15,3 bilhões de 2023 a 2028, em Congonhas (MG). Do aporte total, R$ 750 milhões vão para máquinas e equipamentos, informou a mineradora ao GLOBO. Apenas esse projeto acrescentará sete caminhões fora de estrada à frota da empresa, hoje com 64. Até 2034, serão mais 25.

Na construção civil são os caminhões guindaste que estão vindo de fora. Eles são usados na indústria de petróleo e gás e para a manutenção em parques eólicos, permitindo alçar e alcançar peças a mais de cem metros de altura.

Demanda de concessões

A expansão de geração eólica no Brasil nos últimos anos ampliou a demanda por manutenção dos aerogeradores, atraindo empresas especializadas nesse serviço, conta Francisco Silva, diretor técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Os guindastes são comprados por essas prestadoras — como New Wind e Iqony Solutions — ou por locadoras de maquinário.

— Projetos que entraram em operação em 2014 ou 2015, em torno de dez anos, começam agora um processo de retrofit (renovação) — diz Silva.

Também está em alta a importação de perfuratrizes e pavimentadoras de asfalto, usadas em obras de rodovias, e de tratores e escavadeiras, empregados em projetos como os de concessões de saneamento, demandas da iniciativa privada, observa Breno Oliveira, diretor comercial da Comexport, que atende diferentes tipos de importadores.

Nesses setores, chama a atenção o avanço dos fabricantes chineses, como as gigantes XCMG e Sany. A primeira também fabrica caminhões fora da estrada e, em 2021, firmou um memorando com a Vale para o “potencial fornecimento de equipamentos”, segundo nota da mineradora na época. Nesse mercado, ainda prevalecem fabricantes tradicionais, como a americana Caterpillar e as japonesas Komatsu e Hitachi, mas os chinesas avançam rápido com preços e financiamento competitivos.

— Em guindastes, em 2021, tínhamos 40% de europeus ou americanos. Hoje, estão só com 20%. O resto é chinês. O mercado compra mais da China porque eles estão com mais tecnologia — diz Oliveira.

Um executivo de uma construtora nacional que comprou uma perfuratriz da China para obras de saneamento, que pediu para não ser identificado, conta que o equipamento tinha qualidade técnica comparável a outras marcas, mas custou a metade do preço.

'Invasão chinesa'

O aumento dos investimentos é um sinal positivo para a economia, mas os sinais de que máquinas e equipamentos importados estão substituindo os brasileiros deixam um gosto amargo para a indústria nacional de bens de capital. Para José Velloso, presidente da Abimaq, que reúne fabricantes nacionais de equipamentos, há uma “invasão chinesa”, com o país asiático ocupando mais que o espaço de exportadores tradicionais como EUA e Alemanha. A importação de máquinas na China também é recorde no ano: US$ 9,7 bilhões até novembro.

 

Nos indicadores mensais da Abimaq, o “consumo aparente” (a produção nacional mais as importações, menos as exportações) do país registrava queda de 5,3% no acumulado em 12 meses até outubro.

— O Brasil não está investindo mais. A importação cresce só com a China — diz Velloso.

Impacto limitado

Segundo Leonardo Carvalho, pesquisador do Ipea, dados do IBGE apontam que o crescimento da produção doméstica de bens de capital (sem descontar as exportações) tem se concentrado em caminhões e ônibus. A de máquinas e equipamentos está em queda no país. Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), observa que, além do impacto positivo do aumento do investimento, as importações de máquinas trazem novas tecnologias de ponta, que aumentam a produtividade. Mas o círculo virtuoso deveria também passar pela indústria local dessas máquinas, o que geraria mais investimentos e empregos também nesta parte da cadeia.

Além de mais competitivas que as máquinas nacionais, as da China refletem a política industrial de Pequim nos últimos anos, focada na evolução tecnológica, que tem afetado todos os países. Isso é evidente nos painéis solares. Em maio, os EUA elevaram a tarifa de importação de kits chineses.

Segundo Wladimir Janousek, da consultoria JCS, o resultado é fruto de um desenvolvimento de quase 30 anos, com investimentos robustos em tecnologia, estruturada num modelo verticalizado. É algo que o Brasil não conseguiu fazer, apesar de muitos incentivos públicos ao setor.

Fonte: O Globo
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 09/12/2024

 

País tem potencial para mais R$ 100 bi em obras de saneamento

Mais de 90 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à coleta de esgoto e 32 milhões não dispõem de água potável em suas residências.

A informação é de Flávio Unes, diretor titular do Departamento Jurídico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na semana passada, a entidade reuniu especialistas e lideranças para discutir avanços, gargalos e oportunidades gerados pelo novo Marco Legal do Saneamento Básico.

Segundo Unes, desde a aprovação do Marco Legal, foram realizados 45 leilões de concessões de serviços de água e esgoto, mobilizando quase R$ 70 bilhões em novos investimentos.

Há, ainda, potencial para mais R$ 100 bilhões em obras voltadas à universalização do saneamento.

Na avaliação do diretor do Dejur, André Rosilho, o grande objetivo do Marco Legal foi dar novo estímulo para a universalização do serviço de saneamento. Embora tenha havido avanços nesse sentido, ainda existe um grande caminho a ser percorrido.

“Estados e municípios precisam se unir para compartilhar a titularidade do serviço e superar os gargalos existentes. É necessário criar escala e condições técnicas para atendimento da demanda, o que pode ser obtido por meio da articulação entre os entes federativos”, disse Rosilho.

Na avaliação de Eduardo Capobianco, presidente do Conselho Superior da Indústria da Construção (Consic) da Fiesp, a elevada taxa de juros é um entrave significativo para atrair novos investimentos, impactando diretamente os projetos privados.

Presente ao evento, Luciene Ferreira Monteiro Machado, chefe do departamento de Saneamento do BNDES, elencou a ampliação de investimentos e melhorias no serviço como pontos cruciais para que o Marco Legal atinja seus objetivos.

“Hoje, o investimento realizado é apenas metade do necessário para atingir a universalização dos serviços de saneamento”, alertou.

Ela detalhou que o BNDES já realizou 13 leilões com projetos regionalizados e trabalha em outros 15, que podem gerar investimentos estimados em R$ 130 bilhões e beneficiar cerca de 55 milhões de pessoas.

Para o professor Fernando Marcato, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a regionalização dos serviços em municípios operados por autarquias locais ainda representa um dos maiores gargalos. Ele sugeriu maior indução por parte do governo federal e estadual para que prefeitos encontrem soluções que atendam às metas de universalização.

“A fim de mudar os números que temos, deve haver uma indução por parte do governo federal ou estadual, para que os prefeitos encontrem soluções para suas questões de saneamento”, disse.

Fonte: Metrópoles
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 05/12/2024

 

Exportações brasileiras: Projeções põem petróleo como produto líder nas exportações

O petróleo deve se tornar, em 2024, o produto líder da exportação brasileira, desempenho inédito na série histórica da balança comercial brasileira desde 1997. Até a última divulgação com dados parciais de novembro, no dia 25, a exportação de soja somou neste ano US$ 41,923 bilhões, menos de US$ 60 milhões à frente dos US$ 41,867 bilhões em embarques de petróleo. Por esses dados, a fatia da soja no total da exportação foi de 14,62% contra 14,61% do petróleo. Até novembro do ano passado as participações foram de 16,5% e 12,6%, respectivamente.

A expectativa é que o petróleo ultrapasse o grão que, por questões sazonais de safra, tem historicamente embarques mais intensos até setembro. Segundo os dados parciais até o último dia 25, o embarque médio diário da soja em novembro foi de US$ 68,34 milhões, contra US$ 255,76 milhões do petróleo.

O petróleo deve terminar 2024 com nível recorde de exportação. A commodity já tem marca histórica de janeiro até outubro, último dado mensal consolidado divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A exportação de petróleo nesses meses somou US$ 38,29 bilhões, 10,6% a mais que em igual período de 2023. O avanço da participação da commodity energética na pauta de exportação brasileira, porém, também acontece porque houve queda do valor embarcado em soja neste ano. Até outubro, o grão somou US$ 40,97 bilhões em embarques, 15,6% a menos que em 2023, na mesma comparação.

 

O menor valor exportado do grão se deve à safra menor. Segundo os últimos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o volume total de soja colhido na safra 2023/2024 foi estimado em 147,38 milhões de toneladas, redução de 7,23 milhões de toneladas em relação ao período anterior. A queda foi causada principalmente por fatores climáticos, como atraso de chuvas e altas temperaturas. Com safra recorde em 2023, a soja brilhou no ano passado como o produto mais exportado pelo Brasil.

O volume da produção brasileira de petróleo também foi recorde em 2023, e no acumulado até outubro de 2024, segundo os dados mais recentes da Agência Nacional de Petróleo (ANP), está 0,3% maior que no mesmo período do ano passado.

Apesar da alta das exportações, Bruno Cordeiro, analista de mercado da StoneX, explica que a produção de petróleo no Brasil este ano está aquém do esperado e a expectativa é de que encerre 2024 próximo da estabilidade em relação a 2023, com leve queda.

“Ao longo do segundo semestre do ano passado observamos uma produção em ascensão que refletiu novos investimentos, abertura de poços e elevação de produtividade de poços já em operação. Já no primeiro semestre de 2024, porém, houve uma desaceleração de produção”, diz. Além de uma quantidade importante de poços já maduros, que contribuem para uma tendência de declínio natural da oferta, explica, houve atrasos na esperada abertura de novos poços.

O nível de exportação de petróleo chegou a desacelerar no decorrer do ano, observa Bruno, mas nos últimos três meses houve um excedente exportável maior de petróleo bruto. “Isso aconteceu porque houve redução do processamento de petróleo pelas refinarias brasileiras, que vêm buscando a produção de derivados de maior valor agregado. Isso permitiu uma exportação em volume ainda maior do que no ano passado.”

Segundo dados da Secex, desde 2017 o petróleo está, ao lado da soja e do minério de ferro, no trio dos itens mais embarcados pelo Brasil. “Mas o petróleo como líder nas exportações é algo inédito. A rivalidade pelo topo do ranking ficava historicamente entre minério de ferro e soja”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

O Brasil aumentou sua produção de petróleo nos últimos anos, mas em 2024 a evolução de preços também fez diferença, lembra Castro. “Tanto soja quanto petróleo tiveram queda de preço, mas a cotação da soja caiu mais.” Segundo a Secex, de janeiro a outubro o preço médio de exportação da soja caiu 16,8% contra iguais meses do ano passado enquanto o de petróleo recuou 2,9%.

A evolução das cotações internacionais está no radar para o desempenho da commodity no cruto prazo. “Estamos observando uma pressão para baixo no preço do petróleo, principalmente desde agosto. No início do ano o petróleo operava em torno de US$ 90 o barril. Hoje opera entre US$ 70 a US$ 75. O principal fator para isso está relacionado à demanda global nos próximos anos para a commodity”, diz Cordeiro. Entre os principais fatores que contribuem para isso, diz o analista da StoneX, está o possível acirramento do conflito comercial entre Estados Unidos e China, resultando em tendência de desaceleração da economia global, com redução de demanda por petróleo e derivados.

Para o analista, a política protecionista prometida pelo presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, pode fazer com que a exportação de petróleo fique ainda mais concentrada na China. Hoje, diz, 57% do petróleo brasileira embarcado vai para a Ásia, sendo cerca de 45% para a China.

"Transição energética pode mudar a rota dos investimentos"
— Bruno Cordeiro

Para o economista Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), há outras questões que podem influenciar a destinação do petróleo brasileiro. “Trump já disse que quer aumentar a produção doméstica americana de petróleo. E aí você começa a criar alguma confusão, com canais diretos e indiretos. Há também uma questão entre blocos. Será que a China pode comprar menos petróleo brasileiro, porque estamos mais ligado aos Estados Unidos, e comprar mais petróleo russo? Essa também é uma possibilidade, ainda que seja muito indireta. O canal primordial deveria ser um ajuste de preço, por causa das políticas americanas. Isso pode levar a uma redução da rentabilidade, mas não do volume da produção brasileira de petróleo.”

Segundo dados da Secex, a China é hoje o maior destino da exportação brasileira de petróleo, com fatia de 45,8%. Os Estados Unidos vêm em segundo, com 12,6%, seguido da Espanha, com 10,4%. Na soja, o país asiático é mais representativo. Os chineses absorvem 73,1% de toda a soja embarcada pelo Brasil, seguida pela Espanha, com 4,4%.

Segundo os dados do governo chinês, o Brasil é fornecedor importante das commodities. Entre os desembarques chineses, o Brasil é a principal origem de soja, a segunda de minério de ferro e a sexta em petróleo. A compra dos chineses de petróleo, porém, tem origem mais pulverizada. A fatia brasileira na importação chinesa de soja é de 73,8% enquanto na de petróleo é de 6,8%.

Para Castro, da AEB, há muita incerteza em relação ao comércio global a partir de 2025. Além disso, diz, as cotações de petróleo estão muito sujeitas a oscilações que podem acontecer com eventuais novos conflitos ou com as decisões de produção dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

No curto prazo, diz Cordeiro, o Brasil deve manter excedentes para exportação, caso a produção cresça, conforme os planos estratégicos da Petrobras e considerando também a baixa capacidade ociosa de refino no Brasil.

A longo prazo, diz ele, há outro fator que deve ser considerado: a entrada de biocombustíveis de forma mais intensa no mercado. “A pauta de exploração de petróleo começa a disputar espaço com outras, principalmente as relacionadas à transição energética. Há, por exemplo, a provável entrada da Petrobras no mercado de etanol. E observamos empresas do mercado de petróleo, olhando mais para o gás natural e soluções de baixo carbono em geral”, aponta Cordeiro. “Enquanto as expectativas de curto prazo estão ligadas a questões econômicas e geopolíticas, no horizonte mais longo, de cerca de cinco anos, deve vir um efeito maior da transição energética, que pode aumentar o nível de produção brasileira e mudar a rota dos investimentos.”

Atualmente, destaca Cordeiro, o Brasil está entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo, com condição de oferta importante no mercado global. Mesmo fechando este ano com leve queda de produção em relação a 2023, a produção de petróleo de 2024 deverá ser a segunda maior na série histórica.

O aumento da produção, diz Welber Barral, sócio da BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior, foi possibilitada pela exploração do petróleo do pré-sal, que hoje representa quase 80% da produção brasileira. “Apesar dos altos custos relativos nessa exploração, o Brasil aumentou muito a eficiência no pré-sal, o que propiciou aumento de produção.” “Mas o desafio é a agregação de valor, mesmo com aumento de produção do petróleo. Hoje o Brasil exporta muito petróleo cru e importa derivados.”

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 05/12/2024

 

Dólar alto e medidas de Trump devem dar tom do mercado brasileiro de aço em 2025, apontam analistas

O dólar alto e a possibilidade de uma economia mais “morna” no ano que vem podem contribuir para limitar as importações de aço no Brasil, segundo analistas. Esses fatores, somados à imposição pelo governo brasileiro das cotas tarifárias sobre o aço, em junho, deverão contrapor outras tendências globais para o produto.

Na contramão, o esperado aumento de tarifas pelo governo norte-americano deve contribuir para que a China redistribua a já criticada sobre-oferta de aço para exportação. São essas duas forças que ilustram o cenário para a commodity no Brasil em 2025.

As principais empresas de aço que atuam no Brasil têm condenado os altos volumes de importação do produto no país neste ano. Segundo o Citi, as importações aumentaram 41% em outubro, na comparação com igual período de 2023.

“As vendas domésticas estão subindo 17% na comparação anual e 9% desde o início de 2024 até outubro, mas a pressão das importações limita um aumento de preço”, diz o banco, em relatório datado de 21 de novembro. “Os preços para aços longos mostraram alguma melhora nos últimos meses, enquanto os preços dos planos permanecem limitados pelas importações.”

O fundador e presidente-executivo do conselho de administração doGrupo ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, disse no dia 13 de novembro, ao visitar a expansão da fábrica do grupo em Santa Catarina, que a quantidade de aço importado no Brasil tem gerado uma concorrência injusta. Mittal afirmou que os investimentos do grupo têm sido executados, apesar das dificuldades do mercado doméstico.

“Novos investimentos no Brasil foram executados, apesar da concorrência injusta de produtos importados, que afetam oportunidades de crescimento de novos negócios”, disse. Em sua visita ao Brasil, o executivo indiano se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que o governo brasileiro está aberto ao diálogo.

O presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou, por ocasião da divulgação de resultados da companhia, em novembro, que é necessário que o governo eleve as tarifas para os produtos importados, que têm aumentado sua entrada por Manaus, desviando-se dos impostos. “Tarifa de importação de aço no Brasil deveria subir de 25% para 35%. Traria mais equilíbrio.”

Segundo o executivo, a produção elevada da indústria chinesa tem aumentado a entrada dos produtos no Brasil: “A China é a grande perturbadora do mercado global de aço.”

A produção de aço na China aumentou 3% em outubro, em comparação com igual mês de 2023, para 81,9 milhões de toneladas, sendo o maior produtor global da commodity, de acordo com dados da World Steel Association. Em segundo lugar, fica a Índia, com 12,5 milhões de toneladas. O Brasil produziu, em outubro, 3,1 milhões de toneladas, 16,2% a mais que em outubro do ano passado.

Na visão de Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, o próximo ano vai ser desafiador para o setor: “De um lado, temos a desaceleração da atividade, um ambiente mais complicado, e de outro um câmbio mais depreciado. Isso deve gerar uma menor competição pelo produto importado.” Para Sasson, o dólar mais caro deve afastar a compra do produto importado, o que pode abrir espaço para aumento do preço do aço no Brasil.

O analista também afirma que a tarifa imposta pelo governo brasileiro não teve o resultado desejado de coibir as importações em 2024, o que permitiu que o produto estrangeiro ganhasse espaço neste ano. O aço plano importado representa 30% do consumo do produto no país, segundo Sasson, enquanto o aço longo importado tem 20%.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que o preço do aço longo no Brasil deve ter um aumento de 5% em 2025, passando dos US$ 705 por tonelada, conforme cotado na sexta-feira (29), para US$ 740 por tonelada.

Conforme Arbetman, essa variação pode depender da demanda interna da China e dos Estados Unidos, o que será determinado pelo ritmo econômico dos países. O analista também destaca as medidas mais restritivas ao produto estrangeiro esperadas pelo novo governo Trump, além de subsídios que o presidente americano eleito pode definir para o mercado interno.

“O aço chinês tomou conta do mundo, o que também inclui os Estados Unidos. Precisamos ver como Trump vai querer se defender. Como a economia por lá também está morna, há um excedente para os demais países compradores.”

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/12/2024

 

Siderúrgicas americanas pedem: ‘Queremos mais tarifas’

Algumas siderúrgicas dos EUA estão apoiando os planos do presidente eleito Donald Trump de impor tarifas sobre as importações mexicanas e chinesas. Elas também querem que ele vá ainda mais longe.

A Associação de Fabricantes de Aço dos EUA quer que Trump retome as tarifas sobre o aço do Reino Unido, da União Europeia e do Japão. Esses países foram incluídos nas tarifas de Trump em 2018, mas o presidente Biden mais tarde permitiu uma cota de importação sem impostos. Entre os membros da associação estão a Steel Dynamics e a Nucor, a maior produtora de aço dos EUA.

O pedido de tarifas adicionais faz parte de uma proposta comercial que o grupo de siderúrgicas divulgou nesta segunda-feira (2). O grupo afirma que as novas tarifas impulsionariam o mercado doméstico do aço e ajudariam a lidar com as práticas de distorção comercial que – segundo eles – outros países estão adotando.

Executivos de empresas siderúrgicas dos EUA apoiaram entusiasticamente as tarifas de 2018. As empresas disseram que as tarifas ajudaram a elevar os preços do aço nos EUA, aumentar os lucros e expandir as folhas de pagamento. Nos últimos anos, elas abriram novas usinas e expandiram outras, adicionando milhões de toneladas de aço à capacidade produtiva.

Trump prometeu fazer das tarifas uma parte crucial de sua política econômica para incentivar a indústria doméstica. Na semana passada, o presidente eleito disse que imporia tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México, a menos que os países intensifiquem os esforços para conter o fluxo de narcóticos e migrantes para os EUA. Ele também pediu tarifas mais altas sobre as importações da China.

Economistas disseram que um uso agressivo de tarifas aumentaria os preços dos itens de consumo nos EUA. Os preços de bens duráveis com uso significativo de aço — como eletrodomésticos, automóveis e tratores — já estão mais altos como resultado de gargalos na cadeia de suprimentos de materiais e componentes após a pandemia de Covid-19. Tarifas adicionais sobre as importações dariam às siderúrgicas domésticas mais facilidade para aumentar seus preços, dado o aumento dos preços dos produtos de seus concorrentes estrangeiros.

“Somos sempre ameaçados por economias não mercantis que fogem de nossas leis comerciais e despejam aço barato e fortemente subsidiado e outros produtos no mercado americano”, disse Philip Bell, presidente da Associação de Siderúrgicas.

As empresas representadas pelo grupo fabricam aço principalmente a partir de sucata derretida. Cerca de 70% do aço produzido nos EUA é feito de sucata.

As tarifas de Trump sobre o aço em 2018 originalmente incluíam 25% sobre o aço do Canadá e do México, mas foram suspensas em 2019 como parte da revisão do tratado de livre comércio entre os EUA, México e Canadá.

Os EUA atualmente têm alguns dos preços de aço mais altos do mundo. Mas os preços ficaram estagnados nos últimos meses em meio à menor demanda de um setor enfraquecido, particularmente, da indústria automobilística.

Alguns executivos de siderúrgicas reclamaram que o mercado dos EUA está sendo prejudicado por importações de baixo custo da China, que estão contornando as tarifas existentes ao serem comercializadas pelo México.

Biden impôs tarifas sobre as importações mexicanas que usam aço chinês, mas alguns executivos do setor siderúrgico disseram que analisar o aço da China e do México é difícil, e que basicamente isso depende do monitoramento vigilante das autoridades mexicanas.
O México foi responsável por 4,2 milhões de toneladas do aço importado pelos EUA no ano passado, perdendo apenas para o Canadá.

O grupo de siderúrgicas disse que as importações do Canadá devem ser “monitoradas de perto”, mas não chegou a pedir uma tarifa, sugerindo a aplicação mais rígida de uma exigência de que o aço seja derretido e moldado no Canadá para ser isento das tarifas americanas.

As siderúrgicas também propuseram que outra tarifa de 2018, sobre produtos acabados da China, seja aumentada para 60% para produtos que utilizam muito aço.

Essa taxa, disseram eles, deve ser estendida às operações de fabricação periféricas no Vietnã, na Tailândia e em outros países do Sudeste Asiático, que foram estabelecidas para evitar as tarifas.

Fonte: The Wall Street Journal Americas
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/12/2024

 

Sob Milei, Argentina reduz em 22% importação de autopeças do Brasil

As reformas econômicas radicais do presidente Javier Milei na Argentina estão atingindo a indústria brasileira. O assunto deve ser pauta da cúpula de chefes de estado do Mercosul na sexta-feira (6/12), no Uruguai.

O cenário é particularmente preocupante na indústria de autopeças. A Argentina é o principal comprador de peças de carro do Brasil.

As exportações acumuladas no ano registraram uma queda de 22,2%, quando se compara os números consolidados de 2024 com o mesmo período de 2023, segundo dados organizados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

“A nossa indústria automotiva está bem preocupada de uma maneira geral”, avalia o professor de Engenharia Automotiva da UnB, Evandro Teixeira, que conhece de perto o setor.

Empresas fornecedoras são responsáveis pela produção de itens como amortecedores, pneus e bancos, que são vendidos para as montadoras de veículos argentinas.

“Quando falamos em crise na indústria automotiva, isso se refere não apenas às montadoras, mas também às empresas fornecedoras que orbitam esse setor”, afirma o professor.

Impacto Milei

A embaixadora Gisele Padovan, que é secretária de América Latina e Caribe, destacou essa questão no setor automotivo durante uma conversa com a imprensa no Palácio do Itamaraty esta semana.

Ela avalia que a eleição de Milei é a única explicação para uma queda no total de exportações do Brasil para a Argentina no período de um ano.

“O que mudou este ano? Entrou um novo governo argentino que quis promover um ajuste bastante forte. Então, isso tem implicações, infelizmente, negativas para nós”, conclui a embaixadora.

Gisele pontua que existe um aumento da pobreza e do desemprego na Argentina, o que implica na queda nas vendas. “O impacto é enorme. Tenho certeza que as pequenas montadoras do ABC estão sofrendo com essa queda, repito, de quase 20% nas nossas exportações para a Argentina”.

Desafios do Mercosul

Apesar de ser uma das áreas mais importantes na relação Brasil-Argentina, a cadeia automotiva ainda não está dentro do Mercosul formalmente. Isso significa que ainda não existem acordos entre os países do bloco econômico especificamente para a área automotiva.

Lula deve chegar ao Uruguai na quinta-feira (5/12) e voltar na sexta-feira (6/12). A principal expectativa é a ratificação do acordo comercial entre o bloco latino-americano e a União Europeia (UE), em tratativa há mais de duas décadas.

Durante o evento será transferida do Uruguai para a Argentina a presidência rotativa do Mercosul para os próximos seis meses.

Fonte: Metrópoles
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 04/12/2024