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Agronegócio: importância para o Brasil e para o mundo

Agronegócio envolve as atividades “antes da porteira” (insumos e máquinas agrícolas), “dentro da porteira” (produção vegetal e animal) e “depois da porteira” (agroindústria e agroserviços). Assim, é muito mais amplo que a produção agropecuária, normalmente entendida como a principal atividade do agro. No Brasil, o “antes da porteira” representa 6% do PIB, “dentro da porteira” 28% do PIB e o “depois da porteira” 66% do PIB do agro.

O agronegócio vem se consolidando, nos últimos 50 anos, como o “motor” da economia brasileira. É responsável por 24% do PIB do Brasil, 27% dos empregos e 49% das nossas exportações. Tem apresentado uma balança comercial positiva, ou seja, exportamos muito mais do que importamos. E exportamos o excedente. O agro tem garantido a redução no valor da cesta básica do brasileiro em mais de 43% nos últimos 50 anos.

Atualmente, somos destaque na produção e exportação de produtos como soja, milho, café, açúcar, etanol, suco de laranja, algodão, carne bovina, frango e suína, produtos florestais e fumo. Os principais destinos das exportações brasileiras do agro são China, outros países asiáticos, União Europeia, Oriente Médio e norte da África, América Latina, EUA/Canadá e África subsaariana. Exportamos para quase todos os países do mundo, mas precisamos ampliar nossos mercados.

O Brasil importa muito pouco produtos do agro. Ainda dependemos dos fertilizantes, produtos de saúde animal, pesticidas, óleos vegetais, trigo e pescados. Em 2024 exportamos cerca de US$ 160 bilhões e importamos US$ 40 bilhões; um saldo positivo na nossa balança comercial de US$ 120 bilhões aproximadamente.

O Agro brasileiro apresenta diversos pontos fortes: disponibilidade de terras cultiváveis, clima favorável, tecnologia tropical, recursos humanos, capacidade gerencial/empreendedorismo, agrocombustíveis, etc., apresentando custo de produção competitivo quando comparado com outras nações importantes do agronegócio mundial, como a China, Índia, União Europeia, EUA, Indonésia, etc. Somos o 3º maior exportador mundial no agronegócio, superado apenas pela União Europeia e EUA. Como importamos pouco, somos o pais com maior balança comercial do agronegócio no mundo e com perspectivas de ampliar esta liderança nos próximos anos.

Entretanto, temos diversos desafios que exigem investimentos e busca por soluções, como infraestrutura e logística, desenvolvimento de biotecnologia, tributação, crédito, seguro rural, marcos regulatórios, questão fundiária e comunicação mais eficiente.

O Brasil deve continuar trabalhando para se consolidar como a grande potência agroambiental no mundo. Isto implica em políticas públicas e investimentos adequados.

 J. O MENTEN - Professor Sênior da ESALQ/USP, Presidente do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) e Membro da ABCA (Academia Brasileira de Ciência Agronômica).

Fonte: Mídia Sudoeste
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 18/03/2025

Ano começa bem para o aço, mas importações e EUA preocupam

O ano de 2025 começou com um cenário mais favorável para a indústria brasileira do aço, beneficiada principalmente pelo aumento do consumo interno, uma tendência recorrente nesse período. No entanto, há novas incertezas no horizonte: além do avanço das importações, que já representam 25% da demanda nacional de produtos siderúrgicos, a guerra tarifária intensificada pelo governo de Donald Trump compromete as perspectivas de exportação e pode levar a um redirecionamento ainda maior do excedente asiático para o Brasil.

O sistema híbrido de cotas e tarifa implementado em junho pelo governo para conter a “invasão” do aço importado, que chega sobretudo da China, e proteger as siderúrgicas locais não surtiu o efeito esperado. E valerá apenas até maio, o que impõe um clima de cautela e apreensão para o segundo semestre - quando, segundo as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), deve haver desaceleração da economia doméstica.

Neste momento, a demanda interna mostra reação, puxada pelos setores de construção civil e automotivo, que voltaram a apresentar sinais de retomada após um período de estagnação. Isso pode trazer algum alívio às siderúrgicas, já que o quarto trimestre, sazonalmente mais fraco para as vendas de aço, foi marcado por margens pressionadas, com exceção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

 

Analista do Itaú BBA, Daniel Sasson nota uma dinâmica um pouco melhor para aços planos, já que os produtores foram capazes de implementar aumentos de preço no começo do ano e a renegociação de contratos com o setor automotivo foi concluída com reajustes na casa de 2% a 3%, o que deve trazer melhora de margem no primeiro trimestre e, potencialmente, no segundo trimestre.

“No segundo semestre, vale dizer que o nível de visibilidade está menor, porque há expectativa de PIB mais fraco, com desaceleração econômica, comparado ao começo do ano”, diz. “Cautela é a melhor palavra para pensar em termos de volumes, de possibilidade de aumento de preço [na segunda metade do ano”.

A decisão dos Estados Unidos de sobretaxar em 25% o aço importado pode levar a uma queda de 11,27% nas exportações brasileiras de metais ferrosos e perda equivalente a US$ 1,5 bilhão em 2025, segundo projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O setor siderúrgico americano, apesar de ser o 4º maior do mundo, é deficitário na oferta de placas às laminadoras independentes. O Instituto Aço Brasil avalia que o desafio do país, agora, é mostrar que o aço brasileiro desempenha um papel complementar na indústria americana, fornecendo as placas que faltam no mercado local.

Com desvalorização de 40,76% acumulada em 2024 na B3, segundo informações do Valor Data, a CSN surpreendeu com um balanço robusto no quarto trimestre, e o mercado reconheceu que os resultados superaram as expectativas devido ao desempenho operacional mais forte em todas as unidades de negócio. Em 2025, até 14 de março, suas ações exibem alta de 10,53%. Por outro lado, a empresa continua pressionada pelo endividamento elevado, com queima de caixa em decorrência de despesas financeiras e desembolsos feitos para diversificar seus negócios.

Os papéis da Gerdau, por sua vez, tiveram recuo de 4,58% em 2024 e seguem em tendência de baixa em 2025. Mas a companhia já observa sinais de melhora em suas operações nos Estados Unidos após o decreto do presidente Donald Trump, impondo tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelo país. Com 30% de capacidade ociosa nos EUA, a siderúrgica brasileira vê espaço para ampliar a produção sem necessidade de novos investimentos.

Por outro lado, a Gerdau pode ser surpreendida com a taxação do governo Trump aos produtos do Canadá e México, onde tem operações. A analistas e investidores, o diretor-presidente Gustavo Werneck disse que a companhia, que havia iniciado estudos para instalar uma nova fábrica no México, está reavaliando os planos. A decisão final deve ser tomada até julho. Nessa mesma linha, Werneck disse que se o governo brasileiro não implementar novas medidas de proteção, a empresa pode reavaliar futuros investimentos no país.

O impacto do “tarifaço” americano será mais sentido na ArcelorMittal, que produz e exporta placas de aço do Brasil para os EUA. A empresa informou, em comunicado, que considera ser cedo para avaliar os impactos da decisão, já que medida semelhante foi anunciada em 2018 e ajustada para o regime de ‘hard quota’ após negociação com o governo brasileiro.

Na Usiminas, a queda das ações chegou a 50,09% em 2024, principalmente por causa da pressão sobre os preços do aço, avanço das importações e desvalorização do real, que reduziram margens de lucro.

Para analistas ouvidos pelo Valor, a importação de aço chinês assusta mais do que as tarifas americanas. Com a falta de medidas antidumping e o fim do sistema de cotas em maio, o setor teme uma entrada maior do produto asiático. Sem economizar no português, o diretor executivo da CSN, Luis Fernando Martinez, disse que o Brasil funciona como “quintal do mundo” para a siderurgia da China mandar seus produtos, prejudicando a competitividade do setor.

O governo brasileiro reconhece o impacto das importações sobre a indústria nacional, mas ainda não indicou se vai endurecer as regras ou adotar tarifas antidumping, em processos de investigação já solicitados pelas usinas locais. O sócio-diretor da A&M Infra, Filipe Bonaldo, alerta para a urgência de medidas que protejam o setor siderúrgico. Ele se diz preocupado com os próximos dois anos, já que as empresas tendem a reduzir custos e adiar investimentos enquanto avaliam os efeitos das novas barreiras comerciais em formação.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/03/2025

Siderúrgicas nos EUA definem Brasil como a “China da América Latina”

Em carta ao chefe do USTR (escritório de representação comercial da Casa Branca), Jamieson Greer, a principal entidade representativa do aço nos Estados Unidos definiu o Brasil como a “China da América Latina” e acusou o governo brasileiro de “subsidiar pesadamente” a indústria siderúrgica local.

O ofício foi encaminhado pelo presidente da Steel Manufacturers Association (SMA), Philip Bell, no âmbito da consulta pública do USTR para “avaliar e identificar qualquer prática comercial injusta ou sem reciprocidade” por parte de outros países.

O presidente Donald Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio de todos os fornecedores para o mercado americano, incluindo o Brasil, que abriu negociações com a Casa Branca.

Bell começa sua carta dizendo que os Estados Unidos tiveram um déficit de 18 milhões de toneladas de aço em 2024. Nos últimos dez anos, segundo, as importações no setor superaram as exportações em 200 milhões de toneladas.

O executivo afirma, citando números da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que o mundo tem um excesso de capacidade de 644 milhões de toneladas em 2025.

De acordo com ele, essa “sobra” está gerando uma oferta de produtos siderúrgicos que caracteriza um surto de importações pelos Estados Unidos, não apenas da China, mas de uma série de outros parceiros comerciais.

Um longo trecho no ofício de 40 páginas, então, é dedicado especificamente ao Brasil.

O país, segundo Bell, tem uma capacidade de produção de 50,9 milhões de toneladas — mas produziu apenas 31,8 milhões de toneladas em 2023.

Apesar da capacidade ociosa, a associação afirma que as siderúrgicas brasileiras anunciaram recentemente um plano de R$ 100 bilhões para expandir sua produção.

As exportações americanas de aço para o Brasil, diz a carta, são dificultadas por uma tarifa média de 12,6% — mas que pode ir para 20% e até 35%, dependendo do produto.

Além disso, argumenta a SMA, o Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) — uma taxa sobre o valor do frete cobrado por companhias de navegação que usam os portos brasileiros — tira a competitividade do aço americano no Brasil.

“O Brasil também subsidia pesadamente sua indústria siderúrgica doméstica. Isso dá aos produtores brasileiros vantagens injustas no comércio global e torna mais difícil para os produtores americanos competir com o Brasil em terceiros mercados”, diz Bell na carta.

Em seguida, o executivo destaca o papel do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na concessão de linhas de crédito subvencionadas.

Ele cita o Finame – Baixo Carbono, uma linha de crédito oferecida pelo BNDES para a compra de sistemas de geração de energia fotovoltaica e eólica, aquecedores solares, ônibus e caminhões elétricos, equipamentos com maiores índices de eficiência energética.

Além do BNDES, o governo brasileiro tem “mais de 120 empresas estatais”, continua a carta, que menciona setores como óleo e gás, eletricidade, transportes e bancos. Ela se refere ao Brasil como “a China da América Latina”.

O aço exportado pelo Brasil aos Estados Unidos é principalmente de produtos semi-acabados, que depois são aproveitados pela própria indústria siderúrgica na confecção de bens finais — como chapas, tubos e fios — para a construção civil, fabricantes de automóveis, gasodutos, torres de transmissão de energia.

De acordo com a carta da SMA, dois dos terços do investimento e dos empregos no setor vêm da produção especificamente de semi-acabados.

Nesse caso, 70% das importações americanas de placas de aço vieram do Brasil. O presidente da associação chama isso de “suprimento desnecessário” no ofício ao USTR.

Fonte: CNN
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/03/2025

 

Acreditamos que Brasil e EUA vão chegar a um acordo sobre sistema de cotas para o aço, diz presidente da ArcelorMittal

O presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula, afirmou que o governo Lula está negociando com os Estados Unidos um novo sistema de cotas para exportação do aço brasileiro diante das taxas impostas pelo presidente Donald Trump.

A ideia é repetir o modelo adotado em 2018, quando os americanos impuseram um limite para a importação de aço brasileiro que ficou fora da tributação de 25%. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os americanos.

"Acreditamos que eles [governos do Brasil e dos EUA] vão chegar a um acordo, porque em 2018 foi a mesma coisa, nós mostramos que os EUA precisam importar aço semiacabado. Das 5,6 milhões de toneladas que eles importaram no ano passado, 3,5 milhões vieram do Brasil", afirmou o executivo nesta sexta-feira (14) em evento de expansão da unidade da empresa em Sabará (MG).

Naquele ano, foram definidas cotas de exportação de até 3 milhões e meio por ano de placas e mais 680 mil toneladas de produtos que ficaram fora da taxação de 25%. Como resultado, as siderúrgicas brasileiras ampliaram as vendas para os Estados Unidos no período.

A ArcelorMittal está entre as empresas nacionais mais impactadas pelas novas tarifas. Parte de suas exportações aos Estados Unidos é feita via envio de aço semiacabado produzido nas usinas da companhia no Espírito Santo e no Ceará para a Calvert, siderúrgica no Alabama de propriedade da própria ArcelorMittal.

"Desde 2018 o Brasil não descumpriu um grama [do limite]. Nós estamos cumprindo o que nós acordamos com o governo americano. Por causa disso, estamos em negociações e acreditamos que vamos acabar chegando a um acordo que seja bom para as duas partes", disse o presidente da companhia no Brasil.

Ele ainda afirmou que tem estado em negociações com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Geraldo Alckmin (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), que teve reuniões com representantes do governo americano.

Questionado sobre o assunto, o governador de Minas, Romeu Zema, que também esteve na cerimônia em Sabará, evitou criticar a medida de Trump, cuja eleição celebrou nas redes sociais.

O governador preferiu reforçar críticas ao governo Lula ao engrossar demanda do setor siderúrgico para a taxação do aço que é importado da China.

"Todos os países tributam o aço subsidiado que vem da Ásia em 25%, aqui no Brasil se paga um Imposto de Importação muito menor", disse Zema.

"Parece que aqui nós estamos querendo reinventar a rota. É muito triste alguém achar que sabe mais do que o resto do mundo. Nós temos aqui, em alguns momentos, um governo que pensa dessa maneira", completou o governador, que tem reforçado nas últimas semanas uma posição de antagonismo ao presidente Lula.

Na cerimônia desta sexta, a ArcelorMittal anunciou investimentos de R$ 144 milhões para aumentar a capacidade em 35% e reforçar seu portfólio de produtos para o setor automotivo e a indústria.

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/03/2025

Para CSN, aço barato da China é ameaça maior ao setor do que tarifas dos EUA

A CSN, um dos principais fabricantes de aço do Brasil, afirma que o fluxo “injusto” de aço chinês barato é um problema maior para o país do que as tarifas dos Estados Unidos.

“O Brasil ainda é o quintal do mundo para a China enviar materiais”, disse o diretor executivo da CSN, Luis Fernando Martinez, na quinta-feira (13), em uma teleconferência de resultados financeiros.

As restrições comerciais dos Estados Unidos ao aço do Brasil são uma preocupação secundária em comparação com o desequilíbrio das importações provenientes da China, acrescentou.

Os comentários da siderúrgica brasileira foram feitos um dia após a entrada em vigor das tarifas de 25% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio do país.

Embora o Brasil tenha sido o segundo maior fornecedor de aço estrangeiro para os Estados Unidos no ano passado, de acordo com dados comerciais dos Estados Unidos, a CSN considera mais significativo o fluxo de matéria-prima chinea para o país.

No ano passado, o Brasil intensificou a proteção de suas siderúrgicas contra uma onda de importações lideradas pela China, impondo um sistema de cotas de importação para 11 tipos de produtos de liga metálica.

A medida foi “inócua” para preservar a competitividade do setor, disse Martinez, criticando a decisão do governo brasileiro de aprofundar as investigações de um caso antidumpingsobre produtos laminados a frio da China, apesar de ter identificado danos à indústria nacional.

O Brasil deveria agora usar as mesmas táticas de outros países, aumentando o imposto sobre o aço chinês, disse Martinez.

"O que cabe ao Brasil agora é fazer ctrl+c, ctrl+v o que o mundo está fazendo", disse ele, acrescentando que outros países asiáticos, como o Vietnã e a Tailândia, aumentaram os impostos sobre as importações de aço chinês.

A CSN vê espaço para negociação entre o Brasil e o governo Trump, inclusive potencialmente por meio de cotas, e disse que tais medidas poderiam trazer oportunidades comerciais, incluindo a venda de chapas metálicas.

Autoridades do Brasil e de outros países latino-americanos produtores de aço já estão em contato com autoridades nos Estados Unidos, de acordo com Ezequiel Tavernelli, chefe da associação latino-americana de aço Alacero.

Embora Tavernelli tenha dito não ter conhecimento em primeira mão do que está sendo discutido, um bom resultado seria a repetição das isenções concedidas aos países latino-americanos durante o primeiro mandato de Trump.

Ele concordou com Martinez que a principal queixa é com relação ao dumping praticado pela China e outras nações asiáticas, pedindo que os Estados Unidos vejam a América Latina como uma aliada devido ao seu aço limpo e de alta qualidade.

"Somos a melhor alternativa para os Estados Unidos substituírem o fornecimento asiático", disse Tavernelli. "Estamos sofrendo o mesmo problema - uma enxurrada de aço chinês a preços subsidiados."

Fonte: Bloomberg News
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/03/2025

 

EUA vão avaliar pedido do Brasil para adiar tarifa sobre aço, mas querem sinalização sobre etanol

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer, vão levar ao presidente Donald Trump o pleito do Brasil para que seja adiada a implementação da sobretaxa sobre o aço importado brasileiro. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, esse foi um dos avisos dados na quinta-feira, 6, ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em reunião por videoconferência que durou quase uma hora com os dois auxiliares do republicano.

Em troca de um eventual adiamento da tarifa, os americanos querem abrir o diálogo sobre temas caros para o governo trumpista, em especial o imposto de importação que o Brasil aplica sobre o etanol comprado dos EUA, considerado muito alto pela administração americana.

De acordo com pessoas a par das conversas, a expectativa é a de que Alckmin, Lutnick e Greer voltem a se falar na próxima semana. Até lá, os governos irão trocar informações técnicas sobre os temas em tratativa. Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, terá uma conversa ainda nesta sexta-feira, às 12h, por telefone com o representante do USTR.

O prazo para a tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos entrar em vigor está se aproximando. A previsão é que a alíquota mais alta já passe a valer na próxima quarta-feira, 12, o que foi reafirmado por Trump na terça, 4. O Brasil, contudo, tenta negociar uma saída com os americanos, como a manutenção das cotas de exportação para os EUA acordadas ainda em 2018, no primeiro mandato do republicano.

Pelo acordo, o Brasil pode exportar anualmente 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de laminados aos EUA, arranjo que evitou a sobretaxa anunciada pelo republicano em seu primeiro mandato. O volume importante de placas de aço exportadas daqui aos Estados Unidos foi uma das informações destacadas na reunião com os auxiliares de Trump. Como o item é complementar à indústria siderúrgica de lá, o Brasil argumenta ser importante que os EUA mantenham a parceria comercial, de modo que a produção interna dos americanos não tenha seus custos elevados.

Números da balança comercial entre o Brasil e os Estados também foram destacados na reunião. Os dois países mantêm uma balança de cerca de US$ 80 bilhões, com um superávit de US$ 200 milhões para os americanos. Além disso, dos dez produtos que o Brasil mais importa dos Estados Unidos, oito a tarifa é zero. A tarifa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais, destacou o Mdic em nota sobre o encontro.

A conversa entre os dois países foi classificada como produtiva por integrantes do governo brasileiro. Já era esperado que os Estados Unidos fizessem alguma cobrança sobre assuntos comerciais que incomodam o país, como é o caso das tarifas sobre o etanol, uma demanda histórica dos americanos.

Há uma pressão antiga dos Estados Unidos para redução do imposto de importação aplicado pelo Brasil sobre o produto norte-americano, de 18% ante 2,5% da tarifa cobrada para o etanol brasileiro que entra nos Estados Unidos. O item já foi citado diretamente por Trump em suas reclamações sobre as tarifas cobradas pelos parceiros comerciais que o republicano considera exageradas.

Fonte: Estadão
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 10/03/2025