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Por que o titânio não é usado na construção civil no lugar do aço?

Se o titânio é tão forte como mostrado no cinema, por que esse metal não pode ser usado na construção civil para erguer prédios ou construir pontes "inquebráveis"? A reposta é simples: o titânio, apesar de toda sua resistência, é pior que o aço para este tipo de finalidade.

É verdade que algumas ligas de titânio são mais fortes que certos tipos de aço, mas alguns aços especiais — principalmente aqueles amplamente utilizados em projetos de construção civil — são muito mais resistentes, maleáveis e baratos que o melhor pedaço de titânio já encontrado.

"O titânio é 10 vezes mais raro, cinco vezes mais caro e emite cinco vezes mais dióxido de carbono do que o aço convencional. Só esses fatores já são suficientes para explicar porque esse metal não é utilizado na fabricação de vergalhões no lugar do aço", explica o professor do Departamento de Engenharia e Construção Civil da Escola Politécnica da USP Vanderley John.

Metal dos Titãs

O titânio é um metal de transição que agrega valor a ligas metálicas por ser leve e resistente. No entanto, ele não é um bom condutor elétrico ou térmico, o que o torna ideal para aplicações em materiais refratários ou que necessitem de um nível superior de resistência à oxidação.

Esse metal foi descoberto em 1791 pelo mineralogista inglês William Gregor, que extraiu fragmentos do titânio de uma rocha de ilmenita. Quatro anos mais tarde, o mineral também foi encontrado numa rocha de rutilo pelo farmacêutico alemão Martin Heinrich Klaproth, que deu ao material o nome de titânio — uma referência à força dos titãs, personagens da mitologia grega.

O titânio está entre os 10 elementos mais abundantes da crosta terrestre, podendo ser encontrado em minerais e em 97,9% das rochas ígneas (constituídas pela solidificação do magma fundido). Os países com as maiores reservas desse metal são Austrália, África do Sul, Canadá, Noruega e Ucrânia, que, juntos, representam 86% do titânio mundial.

Aço x titânio

Um dos principais fatores que impossibilitam o uso do titânio em vez do aço na construção civil é o preço. Enquanto uma tonelada de titânio custa aproximadamente US$ 7 mil (quase R$ 38 mil na cotação atual), enquanto a mesma quantidade de aço é vendida por US$ 1,5 mil (cerca de R$ 8 mil).

Outra desvantagem do titânio é a resistência. Qualquer titânio tem a metade da rigidez — até que ponto um material vai esticar quando uma tensão é aplicada — de qualquer aço já fabricado. Para comparação, para um aço e uma liga de titânio com a mesma resistência, o titânio sempre dobrará e esticará duas vezes mais que o aço.

"O titânio tem uma elasticidade de 100GPa, ou seja, menos da metade do módulo do aço que é de 210GPa. Na prática, muito do consumo de materiais metálicos é dependente desta propriedade. Além disso, a produção global de titânio anual é de cerca de 8 milhões de toneladas, enquanto a do aço é de quase 2 bilhões de toneladas", acrescenta John.

Quando o titânio é melhor que o aço?

Os aços geralmente são fáceis de soldar, modelar, esculpir e perfurar, enquanto as ligas de titânio geralmente necessitam de processos de soldagem especiais, são difíceis de forjar ou laminar, e precisam passar por técnicas especiais de usinagem e perfuração, devido a sua estrutura pegajosa.

Como é um material caro, as aplicações do titânio se voltam para produtos de alto valor agregado. A maior parte é usada na fabricação de pigmentos e bloqueadores de UV (óxidos para filtro solar, polímeros e tintas). O metal também pode ser usado em implantes biológicos por conta do baixo índice de rejeição.

"Tirando o museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, eu não conheço nenhuma outra construção que utiliza titânio em sua estrutura principal. Uma das poucas vantagens nesse sentido é que esse metal não corrói, mas sua interface sofre incrustações que deixam o produto vermelho. Resumindo, o titânio jamais substituirá o aço na construção civil", encerra o professor Vanderley John.

Fonte: Terra
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 03/10/2022

Brasil importa mais da China com energia solar e insumo agrícola

De carona na expansão da energia solar no Brasil e aproveitando a demanda por insumos agrícolas, as importações chinesas avançam neste ano mais que a média das importações totais brasileiras. De janeiro a agosto deste ano a importação de produtos chineses somou US$ 39,74 bilhões, com alta de 35,1% em relação ao ano passado e de 63,8% em relação a 2019, período pré-pandemia, sempre considerando o acumulado dos oito meses. A média do total das compras externas brasileiras cresceu 32,3% e 44,3%, respectivamente.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME) mostram que as importações de produtos chineses foram puxadas por painéis e equipamentos solares e insumos agrícolas. Juntos, esses dois grupos somaram pelo menos US$ 8 bilhões em compras externas de janeiro a agosto de 2022, o equivalente a 20% dos desembarques made in China do período. Foram US$ 5,12 bilhões a mais em importações desses produtos chineses, o que responde por quase metade do avanço de US$ 10,3 bilhões nas compras originadas do país asiático de janeiro a agosto do ano passado para mesmos meses deste ano.

O primeiro no ranking dos itens chineses mais importados pelo país são equipamentos e dispositivos elétricos e eletrônicos que somam US$ 3,55 bilhões e dos quais 95% são módulos ou painéis solares ou fotovoltaicos. O valor representa 8,9% do total desembarcado da China nos oito primeiros meses deste ano, é mais que o dobro dos US$ 1,43 bilhão importados em igual período do ano passado e cinco vezes os US$ 700 milhões de 2019, sempre considerando de janeiro a agosto.

Mais do que aumentar a exportação, a China é praticamente a única fornecedora externa desses itens, por enquanto. Vendeu ao Brasil 95% do que o país importou de janeiro a agosto em módulos e painéis fotovoltaicos.

Os fornecedores chineses aproveitam um momento de expansão de energias renováveis no Brasil ao mesmo tempo em que o país asiático precisa diversificar sua própria matriz energética, aponta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Com a promessa de tornar-se neutra na emissão de carbono até 2060, a China, aponta Castro, tem na energia solar uma das suas apostas, dentro de um plano que propicia o desenvolvimento de tecnologias na área e viabiliza a diversificação na exportação de produtos ligados a fontes renováveis.

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostram o avanço da energia solar no Brasil. A potência instalada no país nessa fonte saltou de 13,82 GW em 2021 para mais de 19 GW em setembro deste ano. A energia fotovoltaica representa atualmente 9,1% da matriz energética brasileira. Segundo a Aneel, em agosto o Brasil ultrapassou 185 GW na capacidade total de geração de energia elétrica. Dos 650,14 MW de potência agregada no mês, 57% vieram de usinas solares.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), lembra ainda a chamada “taxação do sol”, que deve valer a partir de 2023, trazendo tributação não existente hoje para quem instala painéis solares em casa. Isso, diz, também pode ter acelerado a instalação do sistema fotovoltaico em 2022, não só em razão do benefício tributário previsto para quem adotar a fonte até janeiro do ano que vem como também estimulada pelo alto custo da energia. “É preciso lembrar que a China tem competitividade quase imbatível na produção de painéis solares no mundo”, diz.

Outro grupo que chama a atenção na pauta de importação origem China neste ano é o formado por inseticidas, fungicidas, herbicidas, fertilizantes, adubos e suas matérias-primas. A importação desses insumos agrícolas somou pelo menos US$ 4,46 bilhões de janeiro a agosto deste ano, três vezes o US$ 1,45 bilhão do ano passado e mais de quatro vezes o US$ 1 bilhão de 2019. sempre em iguais meses.

Para Castro, é surpreendente que a China, grande destino da soja brasileira, agora se destaque com o fornecimento de insumos agrícolas para o Brasil. O quadro, diz Cagnin, se explica pela escassez desses produtos no mundo, intensificada pela guerra entre Ucrânia e Rússia, e pela grande dependência brasileira desse itens. Segundo dados do governo, cita o economista do Iedi, 85% da demanda interna por fertilizantes é atendida pelas importações.

A grande entrada de produtos chineses no Brasil fica mais evidente quando se decompõe as inportações por preço e volume. O volume importado do país asiático avançou 13% de janeiro a agosto deste ano contra 2021 e 34,9% contra 2019. Taxas bem maiores que a da importação total brasileira, que aumentou em 3% e 12%, respectivamente, mantendo sempre a comparação em relação ao acumulado até agosto.

A compensação se deu pelos preços, mais contidos nas importações origem China, com alta de cerca de 20% tanto em relação ao ano passado quanto contra 2019, sempre de janeiro a agosto. Sob o mesmo critério, os preços médios da importação total brasileira subiram em torno de 28% também nas duas comparações.

Os dados de preços e volumes foram levantados no âmbito do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

A dinâmica das importações de produtos chineses contrasta com a do fornecimento dos Estados Unidos, segundo país que mais exporta ao Brasil.

O desembarque de produtos americanos somou US$ 34,93 bilhões de janeiro a agosto deste ano, com alta de 48,1%, em relação a iguais meses do ano passado. O desempenho foi puxado por preços, que avançaram 49,3% enquanto o volume caiu 1,2%. Em relação a igual período de 2019, os preços subiram 56,9% e a quantidade caiu 25%.

O movimento diverso, aponta Castro, é explicado pela diferença entre a pauta de importação origem China e a de origem EUA. Enquanto as compras externas originadas do país asiático são mais pulverizadas, há maior concentração na cesta brasileira de compras de produtos americanos. Nas importações de origem EUA, 31,3% dos desembarques são em petróleo bruto e seus óleos combustíveis, incluindo minerais betuminosos, o que explica o avanço de preços, sob influência das altas cotações do barril do Brent no decorrer de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia.


Fonte: Valor
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 03/10/2022

Minério de ferro cai mais e pode chegar a US$ 85 em 2023

Os preços do minério de ferro perderam força nas últimas semanas, em meio ao aumento da oferta global e à tendência de elevação dos estoques nos portos chineses. Sazonalmente, a segunda metade do ano é marcada pela maior disponibilidade da commodity e, após um primeiro semestre de déficit, o ritmo atual sugere que haverá excesso de oferta, na avaliação do UBS BB.

Segundo índice Platts, da S&P Global Commodity Insights, o minério com teor de 62% avançou 3,5% nesta quinta-feira (29) no norte da China, para US$ 98,85 por tonelada, com a aceleração das compras no mercado à vista às vésperas do feriado prolongado do Dia Nacional da China, celebrado em 1º de outubro. Ainda assim, a principal matéria-prima do aço acumulava baixa de 2,1% em setembro e de quase 17% em 2022.

Para os analistas do UBS BB, a elevação dos estoques nos portos chineses e a desvalorização recente do minério ilustram essa reversão na relação entre oferta e demanda, em tendência que deve se manter e levar os preços a US$ 85 por tonelada no fim de 2023, US$ 80 por tonelada em 2024 e US$ 75/tonelada em 2025.

Em relatório, o banco aponta que os embarques de minério a partir do Brasil subiram 19% na última semana, para 8,8 milhões de toneladas - na Vale, as expedições cresceram 2% na semana, para 6 milhões de toneladas, e a percepção é a de que a mineradora está no caminho para cumprir a meta estabelecida para 2022.

Conforme os analistas, saindo do Brasil, as cargas da commodity levam cerca de 45 dias até os portos de destino na China, onde os estoques permaneceram estáveis em 38 dias. “Com a redução sazonal na demanda e na produção de aço típica do segundo semestre, combinada ao aumento da oferta, os estoques voltaram a subir, colocando pressão de baixa nos preços”, escreveram.

Para o principal analista de metais e mineração da S&P Global, Ronnie Cecil, as exportações brasileiras da commodity atingiram um pico de 33,5 milhões de toneladas em agosto, considerando-se os últimos 12 meses. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, contudo, estão 13,6 milhões de toneladas abaixo do visto no mesmo intervalo de 2021, em meio aos cortes na produção de aço na Europa e Nordeste da Ásia e condições climáticas adversas no início do ano. A expectativa é que os embarques sigam crescentes no restante do ano, limitando o declínio nas exportações anuais em 10,7 milhões de toneladas e resultando em projeção de 346,6 milhões de toneladas para as expedições brasileiras no ano.

“As receitas de minério de ferro também estão sob pressão, com a média do preço de referência recuando 20% no acumulado do ano em relação a 2021. Os preços mais fracos são resultado da desaceleração econômica global, que levou a cortes na produção de aço e menor demanda por minério de ferro”, diz em nota o especialista.


Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/09/2022

Gerdau se torna a maior recicladora de sucata ferrosa da América Latina

A Gerdau tornou-se a maior recicladora de sucata ferrosa da América Latina, com 11 milhões de toneladas de sucata transformadas em aço anualmente. Isso representa 71% do aço produzido pela Gerdau, que vem da reciclagem de sucata. O aço é um material infinitamente reciclável e, para cada tonelada de sucata reciclada, se evita a emissão de 1,5 toneladas de CO?e.

Assim, hoje, a empresa possui uma das menores médias mundiais do setor de emissão de gases de efeito estufa (GEEs), de 0,90 t de CO?e por tonelada de aço. Isso representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,89 tonelada de CO?e por tonelada de aço, segundo dados de 2020 da World Steel Association (worldsteel). E a meta é esse número diminuir para 0,83 tonelada de CO?e por tonelada de aço até 2031.

“Desde sua fundação, há 121 anos, a empresa opera com uma matriz produtiva sustentável principalmente à base de reciclagem de sucata e biorredutor, o que sempre a colocou entre as companhias de menor emissão de gases de efeito estufa na indústria do aço globalmente”, afirma Cenira Nunes, gerente-geral de Meio Ambiente da empresa.

A Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço, também é a maior produtora de carvão vegetal do mundo. Possui 254 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais, dos quais 91 mil hectares são áreas destinadas à conservação da biodiversidade. As florestas plantadas são a fonte da matéria-prima renovável para produção do carvão vegetal utilizado como biorredutor na fabricação de ferro-gusa e aço, o que garante um importante diferencial competitivo em relação ao uso do carvão mineral.

O uso de matérias-primas recicladas, a redução das emissões e a conservação de florestas e da biodiversidade são iniciativas da Gerdau alinhadas à estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) rumo a uma economia brasileira de baixo carbono, baseada em quatro pilares.

Metas

No início de fevereiro de 2022, a Gerdau assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de GEEs dos escopos 1 e 2 de seu inventário, para um valor inferior a 50% da média global da indústria do aço.

Para reduzir as emissões de GEEs nos próximos dez anos, ela investirá em iniciativas de eficiência energética e operacional, ampliará o uso de sucata ferrosa como matéria-prima para a produção de aço, expandirá sua área florestal em Minas Gerais, responsável pela produção do carvão vegetal e crescerá no uso de energia renovável, como os parques solares no Brasil e nos Estados Unidos. A empresa também investirá em iniciativas com novas tecnologias e inovação aberta. A empresa também tem como meta buscar a neutralidade de carbono até 2050.

“O aço é um material essencial e insubstituível, infinitamente e 100% reciclável, que está na vida de milhões de pessoas em diversos momentos ou lugares de suas rotinas, nas casas e nos meios de transporte. O aço está presente nas novas tecnologias de produção de energia, como insumo de painéis solares e torres eólicas, e nas novas soluções em infraestrutura, sendo, então, um material crucial para o processo de descarbonização do planeta”, declara a gerente.

Fonte: Exame
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/09/2022

Veja por que o hidrogênio se tornou solução para matriz de baixo carbono

O hidrogênio tem se mostrado uma das principais soluções para a adoção de uma matriz energética de baixo carbono em diversas indústrias, pela flexibilidade de aplicações, seja, como matéria-prima na siderurgia, nos fertilizantes e no refino de petróleo, como combustível, para veículos de passageiros, para frete ferroviário e para navios graneleiros ou como fonte de energia para aquecimento e uso em turbinas, entre outros.

Além disso, o insumo coloca o Brasil em evidência no cenário internacional já que o país tem abundância na geração de energia eólica e solar, e, por isso, é um dos líderes mundiais na produção de hidrogênio verde. O que poucos sabem é que existem diferentes fontes de hidrogênio e que, para cada fonte, o hidrogênio é conhecido por uma cor diferente.

A pedido da Bússola, Luiz Felipe Fustaino, diretor executivo da Unigel, responsável pela primeira fábrica de hidrogênio verde do país e uma das maiores empresas químicas da América Latina e maior fabricante de fertilizantes nitrogenados do Brasil, explica cada tipo de hidrogênio de baixo carbono. Veja abaixo.

Hidrogênio cinza

É o mais comum, produzido a partir do gás natural. No momento de separação das moléculas, o hidrogênio é capturado, e o gás carbônico é lançado na atmosfera. Em geral, são emitidos 10 kg de gás carbônico para cada 1kg de H2 produzido. Quando esse gás carbônico é capturado e armazenado (normalmente reinjetado no solo), o hidrogênio é chamado de azul, com emissão entre 1 e 3 kg de CO2 para cada 1kg de H2;

Hidrogênio musgo

Produzido a partir de biomassa ou biocombustíveis, com substituição do metano (CH4) de origem fóssil por biometano ou por etanol (C2H5OH), com menor emissão de CO2 quando comparado ao hidrogênio cinza.

Hidrogênio verde

É gerado a partir da eletrólise da água. Nesse processo, o hidrogênio e o oxigênio são separados por meio do uso de fonte de energia renovável, seja eólica ou solar. Trata-se de um hidrogênio carbono zero, do início ao fim.

Fonte: Exame
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 30/09/2022

Pandemia e guerra na Ucrânia acendem debates sobre segurança energética global

Os recentes episódios relacionados à invasão da Ucrânia pela Rússia jogaram luz sobre o setor de energia e, consequentemente, acendeu debates em torno da segurança energética em todo o mundo, o que pode abrir espaço para investimentos e oportunidades para outros players, entre eles o Brasil. Por outro lado, a crise sanitária global decorrente da pandemia, além das graves questões de saúde pública que acometeram todo o planeta, também trouxe instabilidade nas relações internacionais, causando uma desorganização das cadeias produtivas, que ainda estão em fase de recuperação.

É o que destacou o embaixador Marcos Caramuru, mediador do debate “Riscos geopolíticos, desafios e oportunidades para o Brasil” nesta quinta-feira (29), durante o último dia da exposição Rio Oil&Gas 2022, no Rio de Janeiro. “A grande herança [econômica] da Covid-19 é a alta inflação. Os países latino-americanos reagiram rapidamente, porque têm vivência passada com a inflação, mas as economias amadurecidas tardaram a reconhecer o impacto inflacionário nesse período”, disse ele.

Segundo o embaixador, está claro o cenário de altas taxas de juros nos Estados Unidos e em países da Europa, seguido por uma recessão econômica em algumas nações. “Com um crescimento muito baixo e taxas de juros elevadas, haverá um impacto sobre os fluxos de capitais internacionais e, com a recessão, um impacto sobre o comércio internacional”, ressaltou Caramuru, citando que, mesmo observando certo alívio na economia da China, ainda prevalece um período de grandes incertezas.

“O consumo ainda não se recuperou e a perspectiva de investimentos em infraestrutura também não está funcionando exatamente em consonância com os incentivos que têm sido dados. O crédito está disponível, mas o setor produtivo está muito relutante de tomar crédito. Portanto, as previsões econômicas sobre o crescimento são baixas e a importância da China no crescimento da economia internacional será menor”, apontou o embaixador.

Ele ainda comentou que, no topo de tudo isso, há a guerra na Ucrânia e o impacto no mercado energético na Europa, que vem trazendo reflexos para o mundo todo e, possivelmente, esse cenário também pode respingar nas negociações e nas ações relacionadas às mudanças climáticas.

“O setor de óleo e gás, que já tinha sofrido o impacto das crises de 20214-2015, sofreu com a recessão causada pela pandemia e agora sofre o impacto das novas realidades e da situação de guerra na Europa”, reforçou o embaixador, comentando que a situação traz efeitos na volatilidade de preços, nas incertezas dos investimentos e no alto grau de previsibilidade nesse mercado.

Convidado para o mesmo debate, Robert Johnston, diretor executivo do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia (EUA), comentou que a demanda diminuiu bastante, talvez por causa da situação da Covid-19 na China e em alguns outros lugares, como os Estados Unidos. “Nós estamos apertados em necessidades dessas fontes [de energia, óleo e gás], mas ainda há vários produtos saindo. De modo geral estamos bem, mas eu acho que a situação poderia voltar [ao normal], mas ninguém está construindo novas refinarias”, disse ele.

Johnston também destacou a questão da eficiência e da demanda de longo prazo para construir refinarias: “Aqui, no Brasil, estão inclusive fechando, de modo que o mercado de produtos finais permaneça irregular. Mas daqui a uns dez anos, talvez o Brasil possa estar exportando petróleo para a China e importando gasolina, por exemplo. Quando pensamos em setor de bioenergia, sempre pensamos no Brasil como um líder”.

Bioenergia
Outra convidada para o mesmo debate, Fernanda Delgado, diretora executiva corporativa do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e professora na Fundação Getúlio Vargas (FGV), relatou que o ambiente internacional para o setor de óleo, gás e energia ainda é bastante incerto. Mas para ela, o Brasil apresenta boas expectativas para a produção de petróleo e seus derivados. A executiva também acredita na perspectiva de aquecimento desses mercados e, no futuro, que o país possa ser mais amplo dentro do mercado de energia.

“O Brasil é o líder da bioenergia. Nós temos esses investimentos em direção ao uso maior de biocombustíveis e das biomassas também nacionais, que podem contribuir para esse setor. Nesse cenário, eu não vejo exatamente riscos, eu falo em oportunidades, pois acredito na abertura de novos mercados, inclusive porque o óleo nacional é de qualidade, é um óleo com baixo teor de enxofre, um óleo leve”, exemplificou.

Na visão de Fernanda, ao tratar do futuro do Brasil nesse cenário global, especialmente o da sustentabilidade, é possível falar em um futuro com menos emissões, de produtos com menores padrões de emissões de gases de efeito estufa, tendo o país como destaque. “A beleza do Brasil é, exatamente, sua matriz energética plural”.

Também presente no debate, Eirik Wærnessm, vice-presidente sênior e economista-chefe da Equinor (grupo responsável pelas análises de macroeconomia, energia e mercado de commodities), disse que há muitas oportunidades no setor de óleo, gás e energia. “O Brasil deveria buscá-las e pensar como parte dessa situação. Com a globalização, países como o Brasil podem se posicionar de maneira diferente em toda essa cadeia de fornecimento, com mais confiança, podendo se tornar um país mais industrializado. E isso é uma oportunidade”, disse ele, salientando que olhar para o Brasil é algo mais que necessário.

Fonte: Portos e Navios
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 30/09/2022