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Índice de Confiança do Empresário Industrial fica em 57,8 pontos em julho

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) ficou estável na passagem de junho para julho de 2022 e permanece em 57,8 pontos. O indicador da Confederação Nacional da Indústria (CNI) varia entre 0 e 100 pontos, com uma linha de corte em 50 pontos. Dados acima dessa linha indicam confiança e abaixo, falta de confiança. Foram ouvidas 1.571 empresas, das quais 619 de pequeno porte, 584 de médio porte e 368 de grande porte, entre 1º e 7 de julho.

 

Entre os dados que compõem o ICEI, o Índice de Condições Atuais recuou levemente, com uma queda de 0,4 ponto para 51,1 pontos. De acordo com o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, o índice demonstra melhora das condições atuais na comparação com os últimos seis meses, na avaliação da indústria, apensar da ligeira queda. 

O Índice de Expectativas ficou praticamente estável, com uma variação de 0,1 ponto para 61,1 pontos. Ao permanecer significativamente acima da linha divisória de 50 pontos, o índice demonstra a continuidade do otimismo elevado da indústria para os próximos seis meses. “As expectativas de melhora da economia estão bem disseminadas entre os industriais”, avalia o economista.

- Clique aqui para acessar o ICEI de Julho.
Fonte: CNI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 13/07/2022

 

Mercado financeiro prevê inflação de 7,67% para este ano

Pela segunda semana seguida, o mercado financeiro reduz a expectativa de inflação para 2022. De acordo com o Boletim Focus, divulgado hoje (11) pelo Banco Central, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano deverá ficar em 7,67%. Há uma semana, esse percentual estava em 7,96%; e há quatro semanas, em 8,5%.

O Boletim Focus é uma publicação semanal que reúne a projeção de cerca de 100 instituições do mercado para os principais indicadores econômicos do país. Para 2023, a expectativa de inflação subiu de 5,01% (previsão divulgada na semana passada) para 5,09%. É a 14ª alta seguida.

Há quatro semanas o IPCA estava em 4,7%. Já para 2024, a projeção de inflação aumentou, passando de 3,25% para 3,3%. Para 2025, a projeção inflacionária se mantém estável há 52 semanas, em 3%.

PIB

Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e dos serviços produzidos no país), o Boletim Focus desta semana aumentou de 1,51% (projeção divulgada na semana passada) para 1,59% a previsão de crescimento. Há quatro semanas, o cálculo estava em 1,42%.

O PIB estimado para 2023 ficou estável na comparação com a semana passada, 0,5%. Há quatro semanas, estava em 0,55%.

Para 2024, a estimativa apresentada hoje é de 1,8%, ante o 1,81% projetado na semana anterior. Há quatro semanas, o percentual de crescimento era de 2%. Para 2025, a previsão para o PIB se mantém estável em 2% há 35 semanas.

Taxa de juros

O mercado financeiro manteve estável em 13,75% ao ano a estimativa para a taxa básica de juros, a Selic, de 2022. Há quatro semanas, a previsão era de 13,25% ao ano para o fechamento do ano.

Também se manteve estável a previsão da Selic para 2023, na comparação com o número apresentado há uma semana, de 10,5% ao ano. Há quatro semanas, a previsão era de fechar 2023 com uma taxa de 10% ao ano.

Para 2024 a previsão é de uma Selic em 8% ao ano. Na semana passada estava previsto que a taxa fecharia em 7,75% ao ano, em 2023; e há quatro semanas o valor era de 7,5% ao ano - o mesmo percentual previsto para 2025.

Dólar

A estimativa para a cotação do dólar ao final do ano apresentou alta na comparação com a semana passada, passando de R$ 5,09 para R$ 5,13. Há quatro semanas, a previsão era de que a moeda norte-americana fecharia o ano com uma cotação de R$5,01.

De acordo com o Focus, o dólar fechará 2023 cotado a R$ 5,10 – o mesmo valor da semana anterior. Há quatro semanas, a expectativa era de que a moeda apresentaria a cotação de R$ 5,05 ao final do próximo ano.

O boletim projeta, para 2024, uma cotação de R$ 5,06, ante aos R$ 5,07 projetados como cotação há uma semana; e aos R$ 5,03 projetados há quatro semanas para o final daquele ano.

Para 2025, a estimativa é de uma cotação de R$ 5,15 para a moeda norte-americana, mesmo valor visto no boletim da semana passada. Há quatro semanas, a cotação projetada estava em R$ 5,13.

Fonte: Agência Brasil
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 13/07/2022

 

Exportação de sucata ferrosa teve queda de 72% em junho

As exportações de sucata ferrosa, insumo usado na composição de aço pelas usinas siderúrgicas, atingiram apenas 12.830 toneladas em junho, uma queda acentuada de 72% em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando alcançaram 45.641 toneladas. No primeiro semestre, os números das vendas externas de sucata ainda são positivos, com um total de 231.498 toneladas, um aumento de 28% em relação às 180.695 toneladas em janeiro a junho de 2021, conforme dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia.

A retração nas exportações se deve, segundo o Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), entidade que representa os mais de 5,6 mil processadores de recicláveis, a uma oferta maior do insumo no exterior, o que reduziu a demanda pela sucata brasileira.

As empresas de sucata ferrosa tradicionalmente comercializam no mercado interno mais de 90% do volume, só vendendo externamente o excedente não consumido no Brasil, para garantir a sobrevivência do setor em momentos de baixa na demanda local. Após um período de valores artificialmente altos no país, desde junho/julho há um corte de preços pagos pelas usinas siderúrgicas.

De acordo com a (A Associação Latino-americana de Aço) Alacero, em 2021 foram gerados mais de 100 mil empregos na indústria siderúrgica regional, superando o número anterior à pandemia (2019). Esse aumento representa uma alta de 8,3% com relação a 2020, ano em que 93 mil postos de trabalho foram perdidos. Com isso, o setor na América Latina atingiu 1,3 milhão de empregos, um resultado fundamental para a recuperação econômica após a crise sanitária.

“Apesar do grande impacto da pandemia nos níveis de emprego, a nossa indústria demonstrou sua resiliência mais uma vez. No primeiro ano da pandemia, 18 fornos pararam de operar e houve uma perda de mais de 90 mil empregos no nosso setor. Mesmo assim, em 2021 a indústria do aço deu rápidos sinais de melhoria: houve uma recuperação de 9%, acima dos 8,1% do restante da cadeia de valor. Hoje, para cada posto de trabalho na indústria do aço são gerados outros empregos indiretos dentro dessa cadeia”, comenta Alejandro Wagner, diretor-executivo da Alacero.

Ainda segundo a entidade, para cada posto de trabalho na área são gerados em média outros 4,93 empregos indiretos na cadeia de valor. O Brasil foi o país que registrou o maior aumento de empregos diretos em 2021 com relação a 2020, com um total de mais de 16.600 postos, seguido pelo Peru, com 1.900. Já os países com maior indicador de geração de empregos indiretos em 2021 foram Chile (9,67), México (6,50), Equador (5,28), Argentina (4,76) e Brasil (4,44).

De acordo com a Alacero, a pandemia foi o principal vetor da oscilação da economia e do índice de emprego na América Latina. No primeiro ano provocou a perda de 16.300 empregos diretos (-7,4%), porcentagem ligeiramente superior à queda de 7,1% observada nos empregos indiretos, o que representou menos 76.800 postos de trabalho.

Embora a análise do consumo de materiais na América Latina realizado pela Alacero preveja uma redução de 2,1% no consumo de aço este ano, a indústria siderúrgica tem, tal como se revelou acima, uma grande capacidade de resiliência e um papel muito importante na recuperação do mercado de trabalho na América Latina.

Fonte: Monitor Mercantil
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/07/2022

 

Até 2050, 38% do aço terá como fonte sucata ferrosa

 Apesar de gerar menos CO2, quantidade de sucata disponível não é tão abundante e não poderá substituir totalmente a produção de ferro A produção global de aço é responsável por 7% das emissões de gases de efeito estufa. Entre as alternativas existentes, que visam uma manufatura mais sustentável e o alcance de metas Net-Zero, a reciclagem de sucata ferrosa em fornos elétricos a arco (EAF) é um caminho comprovado para descarbonizar a produção da matéria-prima, sem perda de qualidade. Além disso, será responsável por 38% do aço produzido até 2050: é o que aponta o estudo do Boston Consulting Group (BCG) “Greener Steel, Greener Mining”.

O relatório aponta a reciclagem como uma das soluções que ajudaria a indústria da mineração a diminuir as emissões de gases do Escopo 3, que atualmente representam 90% das emissões do setor. Ao expandir sua oferta de metais com baixo teor de carbono, como é o caso da sucata, as mineradoras podem incentivar o início de um “mercado circular” de ferro nas próximas décadas.

Para Arthur Ramos, diretor-executivo e Sócio do BCG Brasil, o reúso de sucata ferrosa traz vantagens que vão além da redução de GEE.

“O aço é uma matéria-prima que pode ser reciclada infinitas vezes. Essa é uma oportunidade para os fornecedores da commodity de expandirem seus portfólios e, ao mesmo tempo, diminuírem suas emissões de carbono – algo que é esperado pelo mercado para atingir as metas globais de Net-Zero”, diz o executivo, ao se referir à cobrança feita pela coalizão de gestores de ativos europeus, o Institutional Investors Group on Climate Change, que em 2021 acusou a indústria siderúrgica de não estabelecer compromissos firmes de redução de poluentes.

Conforme o estudo, é necessária uma compreensão profunda dos subsegmentos da cadeia de valor da sucata ferrosa para desenvolver uma estratégia de utilização rentável e construir um modelo de negócios concreto, passível de investimento. Como a indústria de sucata é bastante fragmentada, ela também pode obter crescimento de valor, aumentando a transparência e abrindo uma nova fonte de receita, ao dar uma nova finalidade para produtos que seriam descartados e gerariam ainda mais poluição.

A pesquisa ressalta que, embora seja promissora, a reciclagem não resolverá todos os problemas da indústria de mineração. Apesar de gerar muito menos CO2, a quantidade de sucata ferrosa disponível não é tão abundante e, por isso, não poderá substituir totalmente a produção de ferro. Outras soluções apontadas pelo BCG são a captura, utilização e armazenagem de carbono, e a transição de altos-fornos para fornos elétricos.

A opção de reutilizar o carbono emitido na produção de aço em processos industriais é bastante discutida globalmente, mas é uma ideia ainda imatura. A armazenagem do CO2 requer formações geológicas específicas e limitadas, que permitam que o gás seja bombeado e retido no subsolo. Além da tecnologia para o procedimento precisar de avanços, o método enfrenta resistência pública em muitas regiões, que não querem permitir as operações em seus territórios.

A substituição dos altos-fornos e fornos básicos de oxigênio (BOFs) de uma siderúrgica para produção de redução direta de ferro (DRI) e fornos elétricos a arco (EAF) é uma opção já amadurecida. As instalações de produção de DRI funcionam com gás natural e, eventualmente, usarão hidrogênio verde, podendo reduzir as emissões de 33 a 55% em comparação com a produção de altos-fornos e BOFs, levando em consideração os Escopos 1, 2 e 3 de GEE. Mais de 100 milhões de toneladas de produção DRI-EAF, com gás natural, já estão em funcionamento em todo o mundo.

Fonte: Monitor Mercantil
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/07/2022

Lítio pode alavancar a economia mineira

Se, por um lado, Minas Gerais tenta diminuir a dependência pelo minério de ferro, que há décadas dita o ritmo econômico do Estado, por outro, devido às suas próprias características geográficas e históricas, encontra na própria mineração alternativas para um futuro rentável e socioambientalmente responsável. Nióbio, grafeno e lítio estão entre as grandes apostas dos chamados minerais industriais, a partir de suas funcionalidades e potenciais relacionados especialmente às energias renováveis e novas tecnologias.

O lítio, por exemplo, insumo estratégico à cadeia de energia limpa, poderá ter sua demanda mundial multiplicada em 40 vezes até 2040, segundo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). O mineral e seus derivados são matéria-prima essencial para a transição energética – pauta urgente e atual em todo o mundo.

Presente nas baterias de veículos elétricos, de produtos eletroeletrônicos, o metal tem sido alvo de investimentos bilionários em importantes projetos que prometem revolucionar e – literalmente – abastecer o mercado nos próximos anos. Na América Latina, onde está a maior parte das reservas mundiais de lítio, Bolívia, Argentina, Chile e, claro, o Brasil vêm se movimentando para deslanchar a exploração e produção do mineral.

A mais recente sinalização nacional neste sentido ocorreu no início do mês, quando o governo brasileiro publicou decreto que flexibiliza as exportações de lítio do Brasil. A decisão tem potencial de viabilizar mais de R$ 15 bilhões em investimentos na produção do minério até 2030, segundo o Ministério de Minas e Energia.

O lítio interessa a vários países que buscam substitutos do petróleo para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Assim, vem ganhando cada vez mais valor no mercado internacional, com preços oscilando abruptamente em poucos meses. Por isso, e não à toa, já foi batizado de petróleo do futuro ou ouro branco.

A Austrália lidera o ranking de produção mundial, ao lado do Chile. No Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), as reservas minerais lavráveis de lítio são da ordem de 48 mil toneladas de óxido de lítio contido, representando 0,33% das reservas mundiais. Enquanto isso, dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) publicados em 2021 colocam o Brasil como detentor da sétima maior reserva de lítio conhecida no mundo: 95 mil toneladas. Já o total de recursos de lítio no País (que soma as reservas ao total ainda inacessível) está estimado em 470 mil toneladas.

Minas Gerais concentra a maior parte das reservas minerais conhecidas para produção do metal no País e deseja participar ativamente desta transformação. O que não pode fazer, segundo especialistas, é repetir o erro de quase um século e novamente se concentrar apenas na exploração, deixando a manufatura e o valor agregado de lado. Se assim o fizer, estará fadado a buscar, no futuro, um novo substituto para sua economia, como faz agora em relação ao minério de ferro.

Produção de lítio em Minas 

O Brasil produz lítio desde 1991, por meio da Companhia Brasileira de Lítio (CBL). Atualmente, apenas duas empresas produzem o mineral no País: a CBL e a AMG Brasil – ambas em Minas Gerais.

A CBL é a única empresa brasileira produtora de carbonato e hidróxido de lítio e conta com uma unidade de mineração em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha) e uma planta de processamento químico em Divisa Alegre (Norte de Minas), além de um escritório em São Paulo. A empresa tem 100% de capital nacional e acaba de passar por um processo de desestatização por parte do governo estadual. A participação do Executivo mineiro no ativo, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), foi arrematada pela Ore Investment por R$ 208 milhões.

Já a AMG Brasil opera um complexo industrial na mina Volta Grande, entre os municípios de Nazareno e São Tiago, na região Central de Minas Gerais, e está investindo na expansão da produção na mina e em uma nova planta química de lítio. Sob aportes de R$ 1,2 bilhão, a unidade de beneficiamento transformará o concentrado em carbonato de lítio, conferindo maior valor agregado ao mineral extraído em terras mineiras. As operações estão previstas para 2026.

Além disso, há várias empresas com projetos de mineração em andamento. Um dos mais promissores também está no Estado e pertence à canadense Sigma Lithium Resources Corporation, que promete produzir 440 mil toneladas de concentrado de lítio grau bateria de alta pureza ao ano no Vale do Jequitinhonha. O empreendimento está sendo implantado em duas etapas, mediante aportes de R$ 2 bilhões. As operações terão início ainda em 2022.

Lítio versus minério de ferro

De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), a expectativa quanto ao mercado de lítio é grande. Técnicos da Pasta chegam a classificá-lo como “bem mineral do momento”. Entretanto, ressaltam que a indústria de baterias veiculares de lítio, maior aposta para o segmento nos próximos anos, tem grandes desafios a serem superados. Entre eles, a implementação de estrutura tecnológica, capacitação da mão de obra, legislação, regulação, PD&I, difusão do uso e desenvolvimento de infraestrutura de postos de recarga, etc.

De toda maneira, a produção estadual do lítio vem apresentando forte crescimento e passou da média de 7,3 mil toneladas em 2006 para 67,6 mil toneladas em 2020. Isso significa um salto de 630% entre os períodos. No mesmo intervalo, o valor total comercializado apresentou uma curva de crescimento ainda maior, passando de R$ 4,10 milhões (2006) para R$ 111,2 milhões em 2020. Elevação superior a 2.600%.

Ainda conforme o governo estadual, levando-se em conta a escala de produção atual de lítio, a projeção de exploração do metal é de 80 anos em Minas Gerais. Porém, essa estimativa poderá ser reduzida devido à crescente demanda. Fazendo um comparativo com o minério de ferro, metal mais utilizado no mundo e altamente presente em Minas Gerais (o Estado detém aproximadamente 77% das reservas nacionais), considerando a escala de produção atual, a projeção de exploração do mineral chega a 177 anos.

“A cadeia produtiva do ferro é uma das mais verticalizadas e consolidadas de Minas Gerais, o que não acontece com o lítio, já que existem grandes desafios a ser superados. Atualmente existem no Estado 306 minas ativas de minério de ferro e apenas duas de lítio. Além disso, o valor da produção mineral beneficiada em terras mineiras foi de R$ 134,3 bilhões em 2021. Deste total, o minério de ferro atingiu um montante de R$ 117,8 bilhões (87,74%) e o lítio, R$ 344,3 milhões (0,26%). No primeiro semestre de 2022, a arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) do minério de ferro em Minas foi de R$ 1,277 bilhão (90,42% do total), e a arrecadação referente a minério de lítio foi de R$ 6,80 milhões (0,48% do total)”, detalhou a Pasta.

Força da cadeia é fundamental para valor agregado

Diante de tamanho potencial e aposta, especialistas alertam para a necessidade de atrair e reter investimentos na cadeia produtiva como um todo, conferindo maior valor agregado ao mineral. A preocupação se ancora no que ocorreu com o minério de ferro há décadas. Para isso, são necessárias ações para além da mineração, abarcando da lavra ao beneficiamento, da concentração à produção dos sais até o desenvolvimento de tecnologia para as peças das baterias ou outros componentes elétricos.

“Todas as empresas que estão entrando nessa área estão voltadas para a exportação da matéria-prima. Vamos repetir o erro? Exportar pedra e importar baterias caríssimas? Perder toda a geração de valor, pagar fretes altíssimos e sucatear mais uma vez nossa indústria?”, questiona o presidente da Associação dos Engenheiros de Minas do Estado de Minas Gerais (Assemg), João Hilário.

Ele pondera que o capital estrangeiro é bem-vindo, porém, são necessárias iniciativas acerca da produção de riqueza para a origem do mineral. “O lítio é uma nova janela de oportunidade que se abre para a mineração, para o Brasil e especialmente para Minas Gerais. Temos uma indústria automobilística forte no País e as bases necessárias para surfar na onda da transição energética. Já temos investimentos anunciados em fábricas de baterias no Estado, como a Bravo Company, em Nova Lima (RMBH). Precisamos deste tipo de articulação com o envolvimento de todos os atores. Com política de Estado, empresarial, científica e social”, alerta.

O professor de lavra da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) José Margarida da Silva completa que a falta de políticas integradas e a competição capitalista podem dificultar esse processo. Entretanto, cita esforços para conduzir esse tipo de atuação, como estudos e cursos de universidades como a própria Ufop trazendo luz à questão e, ao mesmo tempo, formando mão de obra para colocar o movimento em prática.

“Ainda é cedo para traçarmos um cenário. Não se muda uma base econômica e industrial de uma hora para outra. Mas o contexto vai ajudar o Brasil a deslanchar no segmento, pois temos a matéria-prima em abundância a nosso favor. Porém, precisamos de um diferencial competitivo, para deixarmos de ser seguidores de mercado e nos tornarmos influenciadores de mercado. Potencial temos”, afirma.

O professor do Departamento de Engenharia de Minas da Ufop Hernani Mota de Lima pondera, porém, que esse potencial de desenvolvimento depende dos incentivos à indústria de baterias. “Sem isso, seremos novamente meros exportadores”, diz.

Já o assessor especial do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), Cristiano Parreiras, reforça que a expectativa acerca do potencial da cadeia é muito positiva e que já há, inclusive, estudos para associar o lítio ao nióbio (também presente no Estado) para o desenvolvimento de baterias ainda mais duradouras e eficientes.

Por fim, para o consultor de Relações Institucionais e Econômicas da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), Waldir Salvador, a definição dos integrantes desta cadeia é que vai estabelecer o peso da atividade para a economia mineira. “Quando falamos em diminuir a dependência ou substituir uma atividade temos que considerar todos os aspectos. Ainda não conhecemos em profundidade esse setor. Precisamos entender o potencial de produção, mercados de destino, cotação de preços, empregabilidade, entre outros quesitos importantes. Mas dificilmente o lítio conseguirá fazer essa substituição, dada a força e a representatividade do minério de ferro em Minas Gerais”, conclui.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/07/2022

Carro elétrico vai mudar mineração, diz especialista

A mineração vai ser afetada de três maneiras diferentes pelo avanço do mercado de carros elétricos e o maior risco para o crescimento desse tipo de veículo estará na capacidade de suprimento de minerais críticos. A afirmação é de Rohitesh Dhawan, presidente do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM, na sigla em inglês), que visitou no fim do mês passado as operações da Vale no Pará e em Minas Gerais.

“A maior ameaça para o mundo atingir os objetivos de [controle da] mudança climática e [de crescimento dos] veículos elétricos é o suprimento de minerais críticos. Não ter política ou incentivo para o carro elétrico não é risco. O maior risco é não ter minerais críticos”, afirma Dhawan ao Valor. O ICMM, fundado em 2002, é composta por 26 companhias associadas que representam um terço da indústria global de mineração e têm 650 áreas de mineração em mais de 50 países. Como objetivo, o ICMM define padrões para uma “mineração responsável” aplicados a todos os membros.

O executivo citou como exemplo de mudança na demanda global o cobre, cuja produção mundial oscila ao redor de 20 milhões de toneladas por ano, sendo que 4% desse volume é usado pela indústria automobilística. Em 2030, ele destaca, se a taxa de eletrificação de carros crescer como o planejado, 12% do cobre vai ser usado na indústria de veículos elétricos.

Dhawan diz que hoje um carro convencional carrega cerca de 10 quilos de cobre, enquanto um veículo elétrico leva entre 60 e 70 quilos do metal. “Uma forma que vai mudar [a mineração] é mudando a equação de oferta e demanda.”

Ele destaca que outra mudança virá da pressão que empresas automobilísticas deverão exercer por uma mineração mais responsável. “A empresas automobilísticas estão puxando uma demanda por padrões de mineração responsável. BMW, Tesla ou Daimler vão comprar minerais e eles têm que ser produzidos de forma responsável porque o comprador demanda que os carros sejam produzidos sustentavelmente”, frisa. “Nós do ICMM estamos aqui há 20 anos, voluntariamente puxando os padrões. As companhias automobilísticas estão se juntando a nós”, acrescenta.

A terceira forma de mudança virá, na visão de Dhawan, das oportunidades para a integração na indústria, inclusive com parcerias com fabricantes de baterias. O executivo não descarta a possibilidade de haver fusões e aquisições.

Em meio a esse cenário, Dhawan alerta para o comportamento dos preços e frisa que a tendência é que eles subam sempre que houver a preocupação de suprimento insuficiente. Ele lembra o caso do lítio, fundamental para as baterias elétricas, e explica que hoje a produção global anual gira em torno de 500 mil toneladas. Em 2023, a estimativa é que a demanda anual flutue entre 2 milhões e 2,2 milhões de toneladas. “Como resultado, o preço do lítio sobe. De bom, vem o fato de precisarmos descobrir novas formas de produzir lítio”, diz.

Ao falar do comportamento esperado para os preços das commodities, Dhawan também projeta um horizonte de longo prazo saudável para o minério de ferro. Ele ressalta que, se a demanda por aço crescer 2,5% por ano, o consumo do produto vai dobrar até 2050, impulsionando o minério. “[Vejo o] Futuro extremamente saudável, algo que o mercado não aprecia porque está obcecado com o curto prazo”, diz, lembrando que há a necessidade de 100 milhões de toneladas anuais de nova capacidade de minério de ferro apenas para “manter a oferta estável”.

O executivo também destaca que a indústria do minério de ferro ajudará a descarbonizar seus clientes siderúrgicos através de três maneiras principais: fornecendo um minério de maior qualidade, o que reduz entre 20% e 25% as emissões de CO2 na produção de aço; com novos produtos, como o briquete desenvolvido pela Vale, que reduz as emissões das siderúrgicas em 10%; e através do co-investimento com as siderúrgicas em tecnologias inovadoras.

Dhawan também citou as mudanças ocorridas na indústria de mineração depois dos rompimentos das barragens da Samarco, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho. Segundo ele, a indústria tomou para si a responsabilidade coletiva para a segurança das barragens. “Quando Mariana aconteceu, a indústria não respondeu coletivamente da maneira que deveria. Foi visto como uma questão de uma empresa. Agora sabemos que temos que ter cuidado extremo e operar com a maior segurança possível. Esse sentimento coletivo só aconteceu depois de Brumadinho”, afirma.

Dhawan explica que o resultado foi o desenvolvimento do Global Industry Standard in Tailings Management (GISTM), ou Padrão Global da Indústria em Gerenciamento de Barragens, em tradução livre, que mudou o gerenciamento das barragens de uma questão individual para uma responsabilidade coletiva. “O GISTM dá de forma clara e explícita referências como os aspectos sociais devem ser considerados no design e gerenciamento de barragens no futuro.”

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/07/2022