Notícias

Preços do Aço: Estabilidade e perspectivas incertas no mercado doméstico

Os preços do aço no mercado doméstico mantiveram-se praticamente estáveis este ano, com ligeira queda no mercado interno. Fontes consultadas pela Platts expressaram uma visão mais cautelosa em relação à evolução dos preços nas próximas semanas, citando uma demanda estagnada e a contínua chegada de aço importado ao país como fatores influentes.

As opiniões entre os participantes do mercado divergem quanto à dinâmica dos preços nos próximos meses. Enquanto alguns analistas indicam negociações em andamento para potenciais tratativas de aumentos de preços no curto prazo, especialmente por parte da Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3), outros destacam a baixa probabilidade de absorção desses aumentos devido à demanda enfraquecida.

Para Rafael Barcellos do Bradesco BBI e Renato Chanes da Ágora Investimentos, a estabilidade dos preços do aço no mercado doméstico reflete uma perspectiva mais cética por parte dos participantes do mercado, especialmente no segmento de aços longos. No entanto, análises recentes indicam que as condições de demanda no país permanecem relativamente saudáveis, o que pode contrabalançar a pressão de preços.

Além disso, o recente anúncio de um sistema de cotas para importações de aço pode causar um leve abrandamento no ritmo das importações. Com base em modelos de paridade, os preços domésticos dos aços planos mantêm um ágio de 18% em relação às importações, enquanto os aços longos apresentam um ágio de 4%.

Assim, os investidores atentos ao mercado de aço podem considerar ajustes estratégicos em suas carteiras de investimentos, aproveitando a estabilidade atual dos preços e monitorando de perto os desenvolvimentos no mercado doméstico e internacional. A cautela em relação às perspectivas incertas pode oferecer oportunidades para posições estratégicas que se alinhem com as dinâmicas do mercado de aço no Brasil.

 
Fonte: Acionista
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 10/05/2024

 

No RS, infraestrutura, combustível, energia e telefonia não têm previsão de restabelecimento

As fortes enchentes no Rio Grande do Sul (RS) afetam em cheio o abastecimento de combustíveis, serviços de telecomunicações e energia elétrica. Apesar da mobilização conjunta entre empresas e governos, não há previsão para o reestabelecimento dos serviços.

Entre os postos de combustíveis, o cenário é de falta de produto e racionamento em diversos locais. Para João Dal'Aqua, vice-presidente da Fecombustíveis e presidente do Sulpetro, que reúne as empresas do RS, não há previsão de quando a situação será normalizada.

— A dificuldade de logística afeta todo o estado. A Petrobras produz e entrega para as bases de distribuição. Mas há bases debaixo de água e unidades que não têm funcionários para trabalhar porque eles não conseguem chegar. Estamos longe de saber quando o abastecimento vai voltar ao normal. A previsão é de mais chuvas. Em 1941, foram mais de 15 dias para baixar a água. Há uma preocupação com a Região Sul do estado porque há alagamentos ocorrendo lá.

Dal'Aqua lembra que há postos interditados e outros com falta de combustível e baixos estoques:

— Temos uma campanha para priorizar veículos oficiais. A orientação é que os postos tenham estoque mínimo para isso. Para a venda ao consumidor final, a gente sugere uma limitação. Mas isso é uma orientação — diz Dal'Aqua.

Segundo Ernesto Pousada, CEO da Vibra, a companhia está empenhada em manter as suas atividades na Região Sul para garantir o abastecimento e fornecimento de combustíveis. Embora suas bases de distribuição estejam operacionais, há dificuldades logísticas para abastecer o mercado local, devido à inundação, fechamento de rodovias e circulação da frota.

— Nossos colaboradores da Banoas (a base em Canoas) estavam desde a última quinta-feira com dedicação exclusiva, sem sair da base. Sem eles não haveria combustível para as operações de resgate. Hoje (ontem) um time de voluntários de outras bases chegou para assumir a operação. É um processo árduo, o nosso parque de bombas ficou submerso durante algumas horas — disse ele, lembrando que a companhia está doando combustível para suportar as operações de resgates no Rio Grande do Sul.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) disse que “foi identificada ausência de produtos” por causa da falta de acesso. A ANP autorizou a redução das misturas de etanol anidro na gasolina de 27% para 21%; e de 14% para 2% do biodiesel no diesel. A agência explicou que o etanol e o biodiesel chegam ao estado por via rodoviária ou ferroviária.

Telebras cede antenas

No segmento de telefonia, a situação também é caótica. Segundo dados do Ministério das Comunicações, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e operadoras, cinco cidades no estado estão completamente sem serviços de telecomunicações: Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Pouso Novo e Progresso. Fontes do setor afirmam que ainda não há previsão para que o sistema seja totalmente restabelecido no estado.

CHUVAS NO RIO GRANDE DO SUL:

- O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou estado de calamidade pública devido aos municípios impactados pelo temporal no estado.
- Número de mortos em tragédia no RS chega a 95 uma semana após confirmação da primeira vítima
- Os temporais, que começaram em 27 de abril, ganharam força no dia 29 e já afetaram mais de 1,3 milhão de pessoas em território gaúcho, de acordo com o último boletim da Defesa Civil.
- Eduardo Leite fez um alerta na noite deste domingo (5) contra golpistas que aproveitam o momento da tragédia causada pela chuva no estado para tentar ganhar dinheiro.

Segundo fontes do setor, embora algumas localidades já tenham rede, ela ainda é limitada. Para isso, foram disponibilizadas 34 antenas de emergência da Telebras. As operadoras Oi, Algar, Vivo, Claro e TIM, por sua vez, habilitaram suas redes de forma que, onde há apenas uma das redes disponíveis, automaticamente os clientes de qualquer operadora possam acessar a infraestrutura disponível.

A TIM, por exemplo, criou dois grupos de trabalho para lidar com a situação de crise, disse Alberto Griselli, CEO da operadora:

— As equipes estão em campo para garantir a recuperação da infraestrutura e a continuidade dos serviços na região, em condições extremas de inacessibilidade e cortes de energia.

No setor elétrico, a RGE, da CPFL, diz que as chuvas afetaram 381 municípios de sua área de concessão. Como resultado, 212 mil clientes estão sem energia nesse momento. “A maioria está em áreas alagadas ou em locais com impedimento de acesso das equipes”, disse.

A concessionária lembra que, mesmo com bloqueios e alagamentos, que não permitem acesso às redes elétricas para atendimento às ocorrências, as equipes da RGE “seguem mobilizadas para restabelecer o fornecimento de energia no menor prazo possível, respeitando as condições técnicas e de segurança”.

Fonte: O Globo
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 09/05/2024

 

Agro já sente os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul enfrenta a pior tragédia climática de sua história, uma das maiores do país. As enchentes resultantes das fortes chuvas já causaram a morte de 100 pessoas e o desaparecimento de 128. O desastre atingiu 417 municípios, deixando um total de 163.720 cidadãos desalojados, de acordo com boletim mais recente da Defesa Civil estadual.

Segundo um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos totalizam R$ 423,8 milhões na agricultura, tornando este setor o mais afetado, seguido pela pecuária, com perdas de R$ 83 milhões, e pela indústria, que registrou prejuízos de R$ 57,3 milhões. Vale destacar que esses números representam apenas 25 municípios que conseguiram fornecer informações ao sistema do Ministério da Integração.

A CNM alerta que esses valores podem aumentar à medida que as águas recuam e os administradores locais conseguem avaliar os danos com maior precisão. Enquanto os esforços continuam concentrados em preservar vidas e mitigar os impactos imediatos das enchentes, a expectativa é de que os prejuízos totais superem as atuais projeções.

Prejuízos no campo

Além das irreparáveis perdas humanas e materiais nas cidades, no campo, o setor agropecuário está sendo impactado negativamente nas lavouras, na armazenagem e na logística, conforme explica o consultor Raphael Galo, da Mesa Agro da Terra Investimentos.

“Nas lavouras, o impacto das enchentes traz consigo a perda parcial da safra ainda não colhida, possíveis propagações de doenças e incertezas sobre a próxima safra. Na armazenagem, a qualidade do grão pode ser comprometida pelo aumento da umidade. Já na logística, enfrentamos dificuldades no escoamento da produção, transporte de insumos, abastecimento do mercado local e exportação”.

De imediato, devido à redução na oferta de commodities, é esperado um aumento nos preços. “Para compreender os efeitos no longo prazo, será necessário realizar um estudo mais detalhado dos impactos, a fim de avaliar os investimentos mínimos necessários para retomar o patamar produtivo”, avalia Galo.

O Rio Grande do Sul é um estado de grande importância na produção nacional e mundial de commodities, sendo o principal estado na produção de arroz, o segundo maior em produção de soja, além de ter grande relevância na produção de milho, trigo, entre outros.

“As cotações das commodities tiveram uma forte alta nas bolsas de Chicago (CBOT) e do Brasil (B?3;) após o episódio, antecipando o impacto negativo na oferta do estado. Desde o início de maio, os preços na bolsa subiram aproximadamente [até 07/05]: soja (+7,6%), milho (+3,4%) e trigo (+7,45%). Essa elevação nos preços deve impactar a inflação no curto prazo.”

Em relação aos investimentos, os setores que provavelmente serão mais afetados pelos impactos adversos da tragédia são aqueles cujas empresas desempenham operações significativas no estado, tais como bancos, seguradoras, cooperativas, revendedoras, indústrias e logística, entre outros.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima, afirmou que a situação já está causando impactos negativos em toda a cadeia logística. “Temos problemas de toda ordem. Há questões nas estradas e, como consequência, dificuldades na distribuição de peças, por exemplo, além de operações paralisadas. Alguns fabricantes estão com suas operações suspensas, o que acaba gerando um problema na cadeia. Nossa logística é integrada e atualmente estamos enfrentando problemas nas estradas, nos aeroportos e no acesso às fábricas. Portanto, já estamos sentindo um grande impacto”, disse em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 8.

A expectativa, segundo ele, é que a situação possa retornar ao que ele descreve como “quase normalidade” nas operações apenas em um prazo de sete a dez dias.

Impactos na pecuária

As fortes chuvas causaram estragos no setor pecuário da região, afetando milhares de bovinos, suínos e aves. Mesmo em regiões menos afetadas pelas chuvas, milhares de animais enfrentam agora o risco iminente de falta de alimentos e outros problemas decorrentes dos bloqueios nas rodovias, danos à infraestrutura, interrupções no abastecimento de água, falta de funcionários e paralisação das atividades de abate. 

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estimou, em nota, que pelo menos dez unidades produtoras de carne de aves e de suínos estão paralisadas ou com dificuldades extremas de operar pela impossibilidade de processar insumos ou de transportar colaboradores. 

O estado produz 11% da produção de carne de frango e 19,8% da produção de suínos nacional, que são direcionados para consumo nas gôndolas do próprio estado e para a exportação.

“Agropecuária vai ter todo o apoio”

Nesta terça-feira (7), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de uma reunião com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e sindicatos rurais do estado para discutir a adoção de medidas de reconstrução da agropecuária gaúcha.

“A agropecuária vai ter todo o apoio. O Brasil reconhece a importância do Rio Grande do Sul. A preservação do produtor vai ser feita”, ressaltou o ministro.

O economista da Farsul, Antonio da Luz, apresentou um panorama dos impactos no estado, que afetaram todos os setores. Algumas fazendas foram completamente destruídas e, conforme ele observou, apesar da maior parte da safra de arroz já ter sido colhida, os silos que armazenam a produção também foram atingidos pelas enchentes.

“Se não preservarmos o que gera empregos, não conseguiremos salvar nenhum emprego. Para proteger as famílias, precisamos proteger a produção”, afirmou o economista.

De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, o estado possui quantidade suficiente do produto. Ele detalhou ainda que a diretoria da federação está se reunindo diariamente para avaliar os impactos no setor.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul responde por 68% da produção de arroz do país.

Medidas emergenciais

Em reunião ministerial, Fávaro afirmou que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) enviou uma proposta para o Conselho Monetário Nacional (CMN) para a suspensão dos pagamentos das dívidas dos produtores rurais do Rio Grande do Sul por 90 dias, com a possibilidade de prorrogação.

“Foi pedido ao Conselho Monetário Nacional a prorrogação imediata, por 90 dias, de todos os débitos do setor, quer seja custeios ou investimentos, visto que o setor já vinha com problemas de secas nos últimos três anos. Já tinham medidas sendo tomadas, mas agora se agravou com as chuvas”, explicou o ministro. “Depois começa, então, as medidas de reconstrução, investimentos e custeios do setor dos municípios afetados”, completou.

O ministro Fávaro informou ainda que o Governo Federal está preparando uma Medida Provisória (MP) que visa liberar a importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 09/05/2024

 

Por que o petróleo brasileiro está bem posicionado no mercado

O petróleo brasileiro está bem posicionado para enfrentar os efeitos globais da transição energética, avalia Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP).

“A perspectiva é de crescimento dos investimentos no país, em função do aumento da produção de petróleo de baixo teor de carbono. Nosso petróleo é altamente competitivo em termos de preço e emissão de gases de efeito estufa”, disse Ardenghy à BNamericas durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston.

“Quando se olha o processo de transição energética, nota-se que os petróleos que emitem menos gases sobreviverão por mais tempo”, acrescentou.

O IBP representa os principais produtores de petróleo e gás, refinarias e varejistas de combustíveis do Brasil.

De acordo com a Petrobras, o petróleo do pré-sal, que representa quase 80% da produção nacional, tem emissão de CO? equivalente por barril de até 70% menor do que a média mundial.

O presidente do IBP estima que o Brasil demandará cerca de US$ 30 bilhões por ano para desenvolver descobertas já conhecidas até 2032.

Considerando-se os segmentos de mid e downstream, o capex anual pode chegar a US$ 60 bilhões.

As cifras podem ser ainda maiores se o país avançar com a exploração de novas fronteiras, como a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas.

Ardenghy alertou que o país corre o risco de ter de importar petróleo novamente se não fizer novas grandes descobertas até 2032.

Ele ressaltou a importância da commodity, cujas exportações somam, em média, 1,5 MMb/d (milhões de barris por dia), para a economia brasileira.

“Nos primeiros três meses de 2024, o petróleo foi o principal item de exportação na balança comercial brasileira, superando o agronegócio. Ou seja, é um produto importantíssimo até para a saúde das contas externas do país”, destacou.

REFINO

Ardenghy considera positiva a retomada dos investimentos da Petrobras na expansão do refino, assim como o desenvolvimento de projetos privados na área.

“O Brasil não pode ficar extremamente dependente de combustíveis importados. Há momentos, no ano, em que chegamos a importar cerca de 30% do diesel e 18% da gasolina consumidos. São parcelas muito altas”, disse.

Ele destacou que, hoje, há uma tendência, na iniciativa privada, de desenvolvimento de refinarias modulares.

“São plantas pequenas, com capacidade de processamento entre 20.000b/d e 40.000b/d de petróleo para atender a certos mercados de nicho, como QAV ou mesmo diesel”, explicou Ardenghy.


Fonte: BN Americas
Seção: Energia, Hidrogênio, Óleo & Gás
Publicação: 09/05/2024

 

O impacto das chuvas no Rio Grande do Sul na economia pode mudar o rumo da Selic?

A maior tragédia climática do Rio Grande do Sul deve extrapolar o impacto sanitário e social na região e trazer consequências, num segundo momento, para a economia nacional. O estado é um dos principais produtores do setor agropecuário no Brasil, por isso a oferta de itens do dia a dia da mesa do brasileiro está em risco. E isso significa alimentos mais caros chegando às prateleiras dos supermercados por todo o país - se chegarem.

Os efeitos das chuvas torrenciais na produção gaúcha devem exercer pressões inflacionárias relevantes sobre o mercado, o que, em última instância, pode afetar até mesmo o destino da Selic (a taxa básica de juro) neste ano. Isto porque, caso os preços desses alimentos da cesta básica escalem, encarecendo a alimentação do brasileiro, o espaço para corte de juros fica ainda menor.

O foco dos economistas deve se voltar nos próximos meses aos desdobramentos do desastre sobre as culturas regionais para entender em que medida a escassez no sul pode contaminar a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Pela fórmula de reação da política monetária do Banco Central (BC), o IPCA mais alto reduz a margem que a autarquia tem para cortar a Selic neste ano.

Mas cabe uma série de ponderações nesse meio do caminho, inclusive sobre a perenidade e abrangência das consequências desse desastre na economia nacional - perguntas para as quais ninguém tem respostas assertivas ainda.

Mesmo assim, Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e professor do Ibmec-RJ, ressalta que os efeitos da quebra da safra gaúcha não podem ser desprezados. O estado é responsável por 70% de toda a produção de arroz no país, é ainda um importante produtor de trigo e grande criador de frangos e suínos.

O risco de desabastecimento desses grãos e das carnes é alto, conforme mostrou ontem o último relatório da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que estima um prejuízo superior a R$ 967 milhões à agricultura do Rio Grande do Sul.

“O Rio Grande do Sul tem uma participação relevante na economia, então esse desastre terá efeito sobre a inflação, sobre o PIB [Produto Interno Bruto] e sobre o fiscal, mesmo que ainda não seja possível precisar a magnitude desse impacto”, afirma Espírito Santo. “Acredito que o anúncio do Copom [Comitê de Política Monetária do BC] desta quarta não será afetado, porque está muito em cima para dimensionar esse quadro, mas com certeza seus desdobramentos serão discutidos.”

O economista-chefe da Way, que aposta no anúncio de um corte de 0,25 ponto percentual hoje na Selic, diz ainda não ter alterado suas projeções para a inflação ou para a taxa básica de juro no fim deste ano em razão da dificuldade de medir as consequências dessa tragédia. “Só que, em algum momento, certamente precisarei revisar meu cenário para a economia”, acrescenta.

Analistas do Goldman Sachs já esperam que a importância do estado na agricultura, em especial a do arroz, provoque revisões altistas no horizonte do mercado para o IPCA.

Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, acredita que algumas apostas já podem ser ventiladas, mesmo que sejam menos precisas neste momento.

“O mercado ainda está bastante perdido, mas já se fala em alta de 0,1 ponto percentual na inflação, ou seja, o IPCA sairia de uma taxa anualizada de 3,6% para 3,7% no fim de 2024.”

A Tenax Capital entende que a tragédia no Rio Grande do Sul pode fazeruma pressão breve de meio ponto sobre a inflação, mas que adiante será em grande parte dispersada. No fim deste ano, o estresse deste episódio trágico levaria o IPCA possivelmente a um nível 0,1 ponto percentual acima da projeção anterior da casa.

“Antes, nós víamos a inflação anualizada no Brasil em 3,7% em dezembro e agora já estamos inclinados a um IPCA de 3,8% no ano, mas com mais volatilidade”, afirma a economista-chefe da gestora, Débora Nogueira.

Assumidamente mais pessimista que o mercado, Saadia já mudou seu horizonte para IPCA anualizado em 3,9% em dezembro, o que representa uma taxa 0,3 ponto percentual acima da média do mercado.

“A boa notícia no quesito de inflação é que, apesar da alta, trata-se de um tipo de tensão efêmera, que deve se dissipar logo que as cadeias de ofertas se regularizarem. Embora grande parte da colheita de arroz já tenha sido feita, o escoamento será prejudicado, com eventualmente muita mercadoria perdida”, pondera o diretor de investimentos da Nomos.

Para ele, existem outras fontes relevantes de pressão inflacionáriaque não apenas a quebra da produção gaúcha. O desabastecimento de materiais básicos, de bens de primeira necessidade, combustíveis e de energia no estado do Rio Grande do Sul devem reverberar “em outros bens da economia, por isso o impacto [dos desastres na economia nacional] que eu meço é mais pesado do que o resto do mercado espera hoje.”

Pressão fiscal

Um segundo desdobramento econômico do desastre climático que assola o Rio Grande do Sul é o fiscal. “Essa preocupação já começou a transparecer, por isso na última segunda-feira o mercado brasileiro deu uma estressada e o movimento da nossa curva de juros futuros divergiu da curva de juros americana e outros pares”, diz Débora.

O orçamento federal de socorro ao estado, para o qual ainda não há estimativas, deve ser acompanhado de perto. “Entendemos que a destinação entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões para o Rio Grande do Sul este ano estão dentro de um cenário que não assustaria o mercado, porque são gastos já mais ou menos embutidos nesse horizonte [das contas públicas]”, avalia a economista-chefe da Tenax Capital.

A questão central para a gestora é no que esses aumentos de gastos podem respingar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aventou ontem a possibilidade de o Brasil precisar importar arroz e feijão para garantir o abastecimento do mercado e controlar os preços desses alimentos, o que mais tarde se confirmou que de fato irá acontecer.

Todas essas questões em aberto impedem a mensuração mais exata desse impacto fiscal, por isso o mercado ainda não reflete tantos desses fatores em seu cenário para a Selic.

“Ainda não está definido que tipo de ajuda o governo federal dará para a reconstrução de cidades e infraestrutura ou até que ponto. Acredito que os primeiros valores que devem ser liberados para o Rio Grande do Sul devem ser da ordem de R$ 1 bilhão, mas isso pode ser pela transferência direta de recursos ou, eventualmente, por políticas de isenção de impostos”, considera o diretor da Nomos.

Para Espírito Santo, o cerne da discussão é anterior às cifras que serão despendidas no socorro à população.

“Há um efeito mais preocupante sobre a elevação dos gastos federais que é a abertura de precedentes. O governo do Brasil tem um histórico de abrir uma exceção que depois gera outra exceção e isso vai se ‘pendurando’ nas contas públicas”, pondera o economista.

Sem que o socorro emergencial ao estado se transforme numa espiral de novos gastos, portanto, esse impacto fiscal seria limitado, na visão do professor do Ibmec-RJ, com menor efeito sobre a economia.

“Como se trata de um evento emergencial e, assim, pontual, ainda que possa deteriorar o quadro fiscal num momento, não acredito que essas medidas possam gerar mudanças na política monetária por um eventual estresse de gastos”, reflete João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão.

O futuro da Selic

Nenhum dos especialistas ouvidos pelo Valor Investe espera que o desastre climático no Rio Grande do Sul afete diretamente a decisão do BC hoje ou que mude de forma relevante o horizonte da autoridade monetária.

Saadia até acredita que o Copom vá fazer menções ao desastre em seus próximos comunicados e atas de reunião, “mas, para a reunião de hoje, não vejo alteração na decisão sobre os juros”, defende.

Esse horizonte relevante do BC, de um ano e meio a dois anos, suaviza o impacto inflacionário, por isso a autoridade tem tempo para esperar pelos próximos índices de inflação e avaliar a “contaminação” do mercado.

“Apesar de um aumento inflacionário que, de fato, vai acontecer pelo desabastecimento de bens, esses eventos geralmente se corrigem no prazo de menos de um ano, a partir do momento que as cadeias de abastecimento e de oferta se normalizam”, conclui.

Piccioni refuta qualquer impacto das chuvas no Rio Grande do Sul nas próximas decisões do Copom. O gestor de fundos da Empiricus, assim como a maior parte do mercado brasileiro, espera que o BC anuncie corte de 0,25 ponto na Selic hoje, de acordo com oTermômetro do Copom do Valor Investe, que acompanha as probabilidades e apostas do mercado para os juros.

“Na verdade, o cenário do Copom para os juros está muito mais atrelado à política monetária do Federal Reserve [Fed, banco central dos Estados Unidos], que decidiu segurar suas taxas em níveis elevados por mais tempo. Esse cenário afeta a decisão para a Selic por conta da dinâmica cambial. A ideia [do BC] é não deixar o real se desvalorizar muito [ante o dólar], porque isso, sim, teria efeitos inflacionários mais perenes e devastadores na nossa economia”, conclui.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/05/2024

 

Avaliando o impacto das chuvas no RS para os setores e empresas

Nos últimos dias, o estado do Rio Grande do Sul (RS) sofreu intensas chuvas, que geraram graves inundações para a região. A capital Porto Alegre e mais de 300 municípios do estado declararam estado de calamidade pública, com milhares de moradores obrigados a deixar suas casas. Na segunda-feira, 6 de maio, houve algum alívio nas chuvas, mas os impactos para as pessoas e para a economia são bastante significativos.

Este evento climático extremo já desencadeou discussões em torno do quadro fiscal e se poderia alterar as perspectivas de crescimento do Brasil. Para a inflação, a equipe de economia da XP mantém a projeção do IPCA em 3,7% para 2024, com viés de alta limitado (em torno de 0,1 p.p.), com desafios em torno da capacidade de medição do IBGE devido à suspensão da coleta de dados. A projeção de crescimento do PIB também foi mantida em 2,2% para este ano, embora reconhecendo os efeitos negativos e incertos das cheias.

Neste artigo, estimamos o impacto nas empresas brasileiras listadas na Bolsa. Consolidamos as perspectivas dos nossos analistas sobre as consequências do evento nos seus respectivos setores, apontando quais seriam os mais impactados e os menos afetados pelo desastre.

Maior impacto

Propriedades comerciais

Todas as operadoras de shopping centers de nossa cobertura possuem ativos localizados na região afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A Iguatemi tem a maior exposição, com três ativos (Iguatemi Porto Alegre, Praia de Belas e I Fashion Outlet Novo Hamburgo), que juntos representam 14% da ABL própria e 18% da receita total (aluguel + estacionamento). A Multiplan possui dois ativos na região (BarraShoppingSul e ParkShoppingCanoas), representando 13% da ABL própria e 8% da receita. A Allos tem a menor exposição, apenas com Villagio Caxias do Sul, representando 2% da ABL própria e 1% da receita. Todos os ativos estão funcionamento parcialmente no momento, para apoiar os esforços humanitários, o que acreditamos pode resultar num potencial impacto nas vendas dos inquilinos. Por fim, a Multiplan suspendeu temporariamente a construção do Golden Lake (projeto de incorporação imobiliária da Companhia em Porto Alegre), o que acreditamos que poderá impactar potencialmente o reconhecimento de receitas no trimestre, dependendo da duração da suspensão.

Saneamento & Elétricas

A CPFL teve impactos em seus segmentos de distribuição, transmissão e geração. Devido ao evento climático, sua controlada RGE está com 250 mil clientes sem energia (dos 3,1 milhões de clientes atendidos). No segmento de geração, a UHE 14 de julho teve sua barragem parcialmente rompida (valor patrimonial de R$ 580 milhões), vale ressaltar que suas instalações estão seguradas. Em transmissão, a empresa teve problemas em uma de suas linhas na região da Candelária, e algumas subestações foram inundadas, e o ONS solicitou o desligamento. Assumindo que os 250 mil clientes da RGE vão permanecer sem energia por cinco dias, estimamos que o impacto na receita da empresa seria de aproximadamente R$ 15 milhões – não incluímos estimativas de danos à rede – (vs. R$ 38 bilhões market cap).

A Equatorial foi afetada por meio de sua distribuidora CEEE. Segundo a empresa, cerca de 188 mil clientes ficaram sem energia (de um total de 1,9 milhão de clientes atendidos). Pelas nossas estimativas, a CEEE representa apenas 6% do EBITDA anual projetado da Equatorial em 2024. Assumindo que esses 150 mil clientes vão permanecer sem energia por cinco dias, estimamos que o impacto na receita da empresa seria de aproximadamente R$ 10 milhões – não incluem estimativas de danos à rede – (vs. R$ 36 bilhões de market cap).

Ativos da Eletrobras na região foram afetados pelo evento climático. A subestação Nova Santa Rita, pertencente à sua subsidiária CTG Eletrosul, foi totalmente paralisada devido ao alagamento de extensa área ao longo do canal do Rio Caí, que ocasionou alagamentos do pátio, casa de controle e demais instalações da subestação. Contudo, ressaltamos que a paralisação foi realizada em coordenação com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

É importante ressaltar que outras empresas do setor possuem ativos de geração e/ou transmissão no estado, como Engie (UHE Passo Fundo), AES Brasil (Complexo Eólico Cassino), Serena (Complexo Eólico Chuí), Alupar (UHE Ijuí), Taesa (Saíra, STE, Sant’ana, ETAU), CTEEP (IESUL). Todas estas empresas afirmaram que, até ao momento, não houve qualquer impacto nas operações dos ativos em questão.

Mineração & Siderurgia

Vemos impactos diretos das fortes chuvas para as empresas com instalações industriais no estado, incluindo Gerdau, CSN eUsiminas (embora esperemos que os impactos potenciais sejam limitados a implicações de curto prazo).

Vemos uma maior exposição em termos de produção da Gerdau. A Gerdau informou que suspendeu as operações nas unidades Riograndense (unidade de aços longos) e Charqueadas (unidade de aços especiais) devido às fortes chuvas no Rio Grande do Sul. As operações representam cerca de 5% da capacidade total de produção de aço da empresa e cerca de 10% da capacidade siderúrgica brasileira (incluindo o BD do Brasil e o BD de Aços Especiais). A Gerdau também indicou que as operações serão suspensas até que possam ser retomadas com segurança.

Além disso, a CSN possui uma unidade de energia (CEEE-G) na região, enquanto a Usiminas tinha ~10% do volume de vendas da Soluções Usiminas localizado no estado do RS (2022).

Impactadas

Construtoras

Melnick, Tenda e MRV são as empresas de nossa cobertura com exposição nas regiões afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Melnick tem a maior exposição com ~100% de seus empreendimentos localizados no RS, o que acreditamos que poderá impactar no reconhecimento de receita dada a suspensão das atividades nos canteiros de obras, além de um possível impacto no desempenho líquido de vendas contratadas. Acreditamos que Tenda e MRV deverão sofrer efeitos semelhantes na região (ambas as empresas tiveram suas obras paralisadas devido às condições climáticas), embora ressaltemos que ambas as empresas têm exposição relativamente baixa à região.

Alimentos & Bebidas

No setor de Alimentos, todas as empresas poderão ser impactadas, principalmente pela importância do RS na produção de alimentos. Em termos de abate, o estado é responsável por 17% do volume de carne suína, 13% do volume de aves e 5% do bovino. Além disso, também é responsável por cerca de 60% da produção de arroz do Brasil, além de ser um importante produtor de soja, conforme discutido na seção “Agronegócio”. Contudo, em nossa opinião, as empresas em nossa cobertura que podem ser mais diretamente afetadas são BRF, JBS e Camil. A BRF possui 5 fábricas (de um total de 35) no estado, além de centros de distribuição, poucas unidades de ração animal e pet food. Segundo informações públicas, algumas usinas tiveram suas operações suspensas ou afetadas negativamente pelas enchentes.

A companhia não fornece a capacidade total afetada, mas acreditamos que é justo usar uma proxy da produção nacional, o que significa que cerca de 10-15% da capacidade pode ter sido afetada. A Seara não divulga o detalhamento, mas, segundo a ABPA, pelo menos uma usina teve sua operação suspensa. Também não temos o detalhamento da capacidade de abate, mas acreditamos que seja justo utilizar a proxy nacional (cerca de 10-15% da produção total).

Para os frigoríficos, acreditamos que o principal desafio continua sendo a logística, tanto no transporte de animais e rações, como nas vendas internas e externas. É plausível imaginar que possa haver algum impacto nos preços da carne. Assim, acreditamos que empresas com mais usinas e maior poder de arbitragem, como BRF e Seara, podem mitigar os impactos ou até mesmo se beneficiar de potenciais aumentos de preços. Em relação à Camil, estimamos que 15% da colheita de arroz da região Sul do estado (a mais afetada pelas chuvas) ainda estava pendente. As fábricas da Camil estão localizadas nas regiões Oeste e Leste do estado, que já concluíram a colheita, e a Camil continua operando suas fábricas normalmente. Dada a importância do estado na produção de arroz, vemos um impacto plausível dos aumentos de preços, que historicamente beneficiam a Camil, traduzindo-se em melhores margens.

Bens de capital

Vemos impactos diretos (mas esperados de curto prazo) das fortes chuvas para as empresas com instalações industriais no estado, incluindo Marcopolo, Randoncorp, FrasleMobility, WEG e Kepler Weber.

Vemos uma exposição maior em termos de produção para Marcopolo (POMO4), já que grande parte de seus volumes nacionais são produzidos em suas plantas de Caxias do Sul (RS) (2 das 3 plantas no Brasil, com produção local representando ~70% de vendas) – que foram suspensas temporariamente por alguns dias, mas desde hoje segunda-feira retomaram a produção. Na semana passada, durante a teleconferência de resultados do 1T24, o CEO da Marcopolo, Sr. Armaganijan, garantiu que a empresa tinha estoques suficientes de matéria-prima para garantir a produção em meio ao cenário infeliz.

A Randoncorp (RAPT4) e a FrasleMobility (FRAS3) também anunciaram a suspensão temporária de suas fábricas de Caxias do Sul (RS) desde a última terça-feira (2), com retomada parcial da produção a partir de segunda (6), conforme divulgado em nota ao mercado. No 4T23, a cidade representava 50% da produção da Randon. Embora a WEG (WEGE3) também tenha suspendido temporariamente suas operações nas plantas de Gravataí e Bento Gonçalves (RS) (que produzem respectivamente redutores e transformadores), vemos uma relevância muito menor dessas instalações industriais em termos de volumes de produção consolidados. Por fim, no caso da Kepler Weber (KEPL3), embora a empresa possua uma unidade industrial em Panambi (RS) (até o momento funcionando normalmente), vemos impactos indiretos das perdas na produção de soja e milho na região, provavelmente prejudicando a rentabilidade dos produtores.

Por enquanto, o estado do RS anunciou o bloqueio de 58 estradas, aeroporto e porto. Se essas restrições perdurarem, veremos riscos aumentados em termos de logística e cadeia de suprimentos para os nomes.

Agronegócio

Estimamos que o RS represente 14,5% da produção brasileira na safra 23/24. Cerca de ~25% da soja ainda precisava ser colhida. Levando em consideração as regiões mais afetadas, estimamos que o impacto poderá representar uma perda de colheita de aproximadamente 5% no estado. Dito isto, acreditamos que a oferta total de soja do Brasil não deve ser afetada materialmente. Em relação à saúde financeira dos agricultores, podemos ter alguns casos específicos de inadimplência em agricultores localizados nas regiões mais afetadas, que deverão enfrentar dificuldades devido às perdas de safra, embora a safra 23/24 seja a maior da história do estado.

Na nossa opinião, a companhia dentro de nossa cobertura que poderia ser mais afetada é a 3Tentos, já que ~80% de sua receita de insumos agrícolas vem do RS, enquanto duas das três esmagadoras de soja estão localizadas no estado. Nessas duas unidades, acreditamos que o impacto na continuidade das operações e na economia não é material. O segundo trimestre é sazonalmente fraco para o negócio de insumos.

Além disso, os agricultores já estavam adiando as suas decisões de compra tanto quanto possível, portanto o nosso cenário base não muda. Em relação à esmagamento de soja, as duas fábricas estão operando normalmente, pois não estão localizadas nas regiões mais afetadas. Reforçamos a nossa visão de que o principal gargalo está relacionado à logística, com estradas fechadas ou inoperantes, o que é difícil de quantificar e pode afetar potencialmente as vendas de biodiesel e farelo de soja.

A Rumo (veja mais detalhes na seção Transportes) comunicou em Fato Relevante que embora sua Operação Sul tenha sido parcialmente impactada, não espera impacto material suficiente para alterar seu guidance financeiro. Além disso, a 3Tentos poderia até se beneficiar com a compra de soja mais barata e de qualidade inferior, o que reduziria o custo médio de moagem, embora esta seja uma suposição difícil de quantificar. Em nossa opinião, o fraco movimento do preço das ações constitui um ponto de entrada interessante, especialmente porque estimamos que o 1T24 seja forte, o que deve ajudar a endereçar as preocupações do mercado em relação aos resultados da companhia.

Papel & Celulose

Vemos uma maior exposição em termos de produção para a Irani. Embora não tenhamos recebido nenhum fato relevante da empresa, antecipamos um potencial impacto no segmento de Resinas (5-10% da Receita Líquida da empresa), pois está localizada no RS.

Para a Klabin esperamos impactos moderados a neutros. A empresa possui uma pequena unidade de embalagem (fábrica São Leopoldo) que pode ser potencialmente impactada pelas fortes chuvas (com riscos potenciais caso fortes chuvas atinjam os estados de SC e/ou PR, onde a empresa mantém operações florestais).

Observamos que as informações são baseadas em dados disponíveis publicamente e não recebemos quaisquer fatos relevantes sobre possíveis suspensões da Irani (RANI3) e da Klabin (KLBN11).

Varejo

Também mapeamos a exposição do varejo na região, sendo Panvel (67% da presença no RS) e Lojas Renner (11%) as mais impactadas. Notamos também riscos ascendentes para os preços do arroz e da carne, especialmente carne de porco e de frango, dadas as perturbações na oferta na região. Se isso se confirmar, deverá impulsionar a inflação alimentar para cima, embora se torne potencialmente um obstáculo para a recuperação do poder de compra dos consumidores.

Óleo & Gás

É provável que o setor de petróleo e gás não seja afetado de forma muito material, uma vez que a maioria das operações do setor não estão localizadas na região afetada (particularmente à montante). Braskem foi a mais afetada. A Braskem possui uma parcela significativa de sua capacidade em sua unidade industrial em Triunfo-RS, cerca de 30% da capacidade da Braskem para produtos químicos de 1ª geração (por exemplo, eteno) ou cerca de 20% de 2ª geração (por exemplo, PE). Contudo, esperamos que o impacto financeiro seja muito menos relevante do que o que a participação da capacidade industrial pode sugerir.

Existem iniciativas que a Braskem pode implementar para mitigar eventuais impactos das condições climáticas adversas. Petrobrastambém opera plantas industriais no Rio Grande do Sul, notadamente a refinaria REFAP, que representa pouco mais de cerca de 10% da capacidade de refino da PBR. Além disso, a refinação representa cerca de 15% do EBITDA consolidado da Petrobras. O impacto potencial, se houver, deverá ser inferior a 1% do EBITDA do trimestre, na nossa opinião. Não prevemos qualquer impacto nas operações upstream da Petrobras. Da mesma forma, acreditamos que os outros players à montante (os óleos juniores, PRIO, RECV, etc.) também não serão impactados.

A distribuição de combustível também foi interrompida nas áreas afetadas. O estado do Rio Grande do Sul representa cerca de 7,2% do volume acumulado no ano da Ipiranga, cerca de 6,4% do volume da Raízen e cerca de 5,9% do volume acumulado no ano da Vibra. Nem todas as áreas do estado foram afetadas pelas cheias, por isso acreditamos que os volumes reais afetados deverão ser cerca de metade ou menos do total do estado. Também para a distribuição de combustíveis acreditamos que o impacto financeiro não será muito material (ou seja, um dígito baixo do EBITDA do trimestre).

Menores impactos

Financeiro

No setor financeiro, na perspectiva dos bancos incumbentes, espera-se que o impacto seja limitado, com efeitos apenas marginais nas taxas de inadimplência nas regiões afetadas. Considerando que o Rio Grande do Sul representa aproximadamente 6% do PIB nacional, prevemos um impacto limitado tanto na originação de crédito quanto nas taxas de inadimplência. Para as empresas de pagamentos, espera-se também que o efeito no volume total de pagamentos (TPV) seja limitado. No entanto, no setor dos seguros (sem cobertura), o impacto deverá ser ligeiramente mais significativo, uma vez que as companhias de seguros poderão registar um aumento pontual nos sinistros durante o segundo trimestre. Entretanto, entendemos que parte dos riscos pode ter sido transferida através de resseguro.

Transportes

No setor de Transportes, apesar da grande relevância para a comunidade, vemos impactos financeiros limitados das chuvas excepcionalmente fortes no sul do Brasil. Destacamos: (i) CCR e Rumo em Infraestrutura, com impactos temporários na rodovia ViaSul e na Operação Sul, respectivamente (ambas representando 5% ou menos do resultado global); (ii) Localiza e Movida no Aluguel de Carros, que poderão ter impactos limitados decorrentes de (a) menor demanda (parcialmente mitigada por restrições de tráfego aéreo e substituição de seguros), e (b) danos/perdas parciais de ativos/frota; e (iii) Azul nas Companhias Aéreas que deverá enfrentar restrições aeroportuárias na região de acordo com a mídia local (também limitada a ~5% de exposição ASK para a região).

Saúde

Não esperamos que as empresas de saúde sob nossa cobertura sofram significativamente com as chuvas e inundações na região Sul do Brasil. A maioria delas tem uma pequena parte de seus negócios no RS e, mesmo que houvesse um grande impacto nas operações localizadas naquela região, o efeito em bases consolidadas provavelmente seria insignificante. A exceção pode ser a Viveo, que tem cerca de 45% de sua força de trabalho no Sul. Contudo, ainda estamos avaliando a extensão do impacto causado aos negócios da empresa.

Baixo impacto

TMT

Esperamos um impacto limitado para as grandes operadoras que têm presença nacional, como TIM e Vivo. Estimamos que cerca de ~3% da receita venha do RS. Ambas as empresas sofreram danos em alguns locais, afetando as operações nas cidades. As três operadoras oferecem roaming gratuito para clientes de outras operadoras, a fim de criar uma única rede para compensar as perdas. Já houve um esforço coordenado durante alguns dias para ativar as redes.

Entre os ISPs, esperamos um impacto maior para a Unifique,  que possui 178 mil clientes no RS (25% de sua base de acesso total). A empresa estima que aproximadamente 15% das operações no RS estão sendo afetadas, o que representa 3% do total da Unifique. A empresa está trabalhando ativamente para restaurar os serviços nas áreas afetadas e está totalmente mobilizada para retomar as operações. Embora possa haver algum impacto limitado nas operações da empresa, eles acreditam que o impacto deve ser gerenciável. No entanto, esperamos alguns efeitos negativos no churn de clientes e na PDD durante o segundo trimestre de 2024 para a Unifique.

Educação

Não esperamos que as empresas de educação sob nossa cobertura sejam significativamente impactadas pelas chuvas e inundações no Sul do Brasil, uma vez que a maioria de suas operações não está localizada nessa região.

Fonte: Expert XP
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/05/2024