Notícias

Crise cambial e juro alto: o que esperar para 3 setores da B3 no ano, segundo Goldman

As empresas brasileiras, especialmente aquelas com grande exposição ao câmbio e à dívida atrelada às taxas de juros, têm enfrentado pressão após o real perder 24% de seu valor em relação ao dólar, enquanto as taxas de juros de dez anos subiram mais de quatro pontos percentuais, segundo análise do Goldman Sachs.

O banco diz que as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ainda não foram ajustadas para baixo, apesar das flutuações cambiais e da elevação das taxas de juros. Contudo, as empresas que enfrentam essa realidade já começam a ver reflexos nas suas ações, à medida que o mercado ajusta as expectativas diante das condições econômicas mais difíceis.

Setores como utilities (energia e saneamento), infraestrutura, companhias aéreas e locadoras de veículos são os mais atingidos. É que com o aumento das taxas de juros e a desvalorização do real, essas empresas enfrentam custos mais altos. Embora algumas, como Energisa (ENGI11) e Equatorial (EQTL3), tenham certa flexibilidade para repassar aumentos por meio de tarifas reguladas, sua capacidade de ajustar os preços, observam os analistas, é limitada.

Entre as empresas de transportes, as companhias aéreas, como a Azul (AZUL4), precisam elevar tarifas em cerca de 3% para equilibrar uma desvalorização de 10% do real. O problema é que como essas empresas já venderam antecipadamente muitas passagens, esses ajustes podem ser demorados. Locadoras de veículos, como a Localiza (RENT3), também têm uma margem de ajuste nos preços para enfrentar as altas taxas de juros, mas isso pode retardar seu crescimento, de acordo com o Goldman Sachs.

Para os estrategistas, a demanda por energia e outros serviços essenciais tende a ser menos impactada pelas variações no PIB.

A Rumo (RAIL3), por exemplo, segundo eles, possui uma exposição reduzida ao custo do diesel, o que beneficia seu poder de precificação no longo prazo. Já as rodovias com pedágio são mais sensíveis ao desempenho econômico, com o tráfego de veículos crescendo em uma proporção superior ao PIB.

Nos últimos três meses, as ações de utilities caíram 13%, enquanto o Ibovespa teve queda de 8%. A conta demonstra uma diferenciação entre as empresas, com aquelas mais vulneráveis ao câmbio e à inflação sendo mais penalizadas. O banco diz que o mercado reage a essas diferenças de maneira clara, com investidores mais cautelosos em relação às ações de empresas com maior endividamento e maior exposição a variações cambiais.

O Goldman Sachs revisou as projeções para empresas brasileiras e ajustou as estimativas de acordo com as condições de juros altos e a valorização do dólar:

Óleo e gás

No setor de energia, petróleo, óleo e gás, a Petrobras teve sua previsão de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), que representa o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, reduzida para os anos de até 2026. O preço-alvo das ações preferenciais (PETR3) e ordinárias (PETR4) foi ajustado para R$ 48,30 e R$ 43,90, respectivamente, representando uma queda de 3% para ambos os papéis.

Para a PRIO, a revisão foi positiva em relação ao Ebitda de 2024, que subiu em 1%, embora o custo médio ponderado de capital (WACC) tenha sido elevado para 15,5%, impactando o preço-alvo das ações PRIO3, que passou a ser de R$ 60,30, um valor inferior aos R$ 61,90 anteriores.

A PetroReconcavo também teve suas estimativas de Ebitda para 2024 reduzidas em 1%, com o Wacc sendo ajustado para 17,2%, o que resultou em um novo preço-alvo de R$ 23,80 para as ações RECV3, abaixo dos R$ 25,20 projetados anteriormente.

A Brava Energia manteve suas previsões de Ebitda praticamente inalteradas para os próximos anos, mas o preço-alvo das ações BRAV3 foi reduzido de R$ 29,20 para R$ 27,40 devido a ajustes nas projeções de lucro.

Energia elétrica

No setor de energia elétrica, a Sabesp teve suas estimativas de lucro líquido para até 2026 revistas para baixo, com ajustes em sua taxa de WACC, que subiu de 7,3% para 7,6%. O preço-alvo para as ações SBSP3 passou a ser R$ 114,50, abaixo dos R$ 120,10 anteriores.

A Eletrobras também teve suas projeções de lucro líquido para 2024 e 2025 revistas para baixo, com um ajuste no Wacc para 8,7%. O preço-alvo para as ações (ELET3 e ELET6) foi ajustado para R$ 48 e R$ 53, respectivamente.

A Copel teve suas estimativas de lucro líquido revisadas até 2026, com um ajuste em sua taxa de Wacc para 7,9%. O preço-alvo para as ações (CPLE3 e CPLE6) permaneceu inalterado em R$ 11,20 e R$ 12,40.

A Equatorial viu suas estimativas de lucro líquido até 2026 revistas para baixo, com um ajuste em sua taxa de Wacc para 6,5%. O preço-alvo das ações EQTL3 foi ajustado para R$ 40,50, uma leve redução em relação ao valor anterior de R$ 40,69.

A Energisa também revisou suas estimativas de lucro líquido, com um ajuste em sua taxa de Wacc para 7,9%. O preço-alvo das ações ENGI11 foi reduzido de R$ 59 para R$ 56,80.

A Cemig revisou suas estimativas de lucro líquido para os próximos anos, com um ajuste em sua taxa de Wacc para 9,4%. O preço-alvo para as ações CMIG4 foi ajustado para R$ 8,90, uma queda em relação aos R$ 9,30 anteriores.

Logística e transporte

No setor de logística e transporte, a Localiza teve suas estimativas de receita líquida e Ebitda para 2024, 2025 e 2026 mantidas, mas o preço-alvo das ações (RENT3) foi ajustado para R$ 46,20, uma redução de R$ 7,20 em relação ao valor anterior de R$ 53,40.

A CCR viu suas estimativas de receita líquida e Ebitda para 2025 e 2026 revistas para cima, enquanto as despesas financeiras foram ajustadas para cima para os próximos três anos. O preço-alvo das ações (CCRO3) foi ajustado para R$ 12,30, um aumento em relação aos R$ 11,60 anteriores.

A Ecorodovias teve suas estimativas de receita líquida e Ebitda para 2025 e 2026 revistas para cima, mas suas previsões de lucro líquido para os próximos anos foram reduzidas, com um ajuste no preço-alvo das ações (ECOR3) para R$ 6,00, uma leve alta em relação aos R$ 5,90 anteriores.

Fonte: Infomoney
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 17/01/2025

Produção brasileira de aço fecha 2024 com alta de 5,3%

Segundo dado do Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto atingiu 33,7 milhões de toneladas em 2024, um crescimento de 5,3% em relação ao ano anterior, enquanto as vendas fecharam em 21,2 milhões de toneladas, 8,3% superiores na mesma comparação.

As importações cresceram 18,2% frente a 2023 e atingiram 5,9 milhões de toneladas no acumulado do ano, o maior volume já registrado na série histórica. As exportações caíram 18,1% na comparação com o mesmo período, para 9,6 milhões de toneladas, e o consumo aparente de produtos siderúrgicos fechou em 26,0 milhões de toneladas, aumento de 8,3%, reflexo da alta das importações.

Na comparação entre os meses de novembro e dezembro de 2024, alguns fatores devem ser levados em consideração, como o menor número de dias úteis e de manutenções programadas na indústria do aço, o que naturalmente impacta o volume de produção.

O segundo fator diz respeito às exportações, que, desde novembro de 2023, são registradas com atraso devido à dinâmica adotada pelos órgãos responsáveis, em especial pela Receita Federal no Porto de Pecém, o que gera variações e volatilidade nos dados.

Nesse contexto, a produção de aço bruto alcançou 2,6 milhões de toneladas, recuo de 7,2%, as vendas internas atingiram 1,5 milhão de toneladas, 15,5% a menos do apurado em novembro.

As exportações foram de 753 mil toneladas e tiveram incremento de 56,7%, enquanto o consumo aparente de produtos siderúrgicos chegou a 1,8 milhão de toneladas, diminuição de 16,2% na mesma comparação.

As importações recuaram 16,1% entre novembro e dezembro de 2024, com volume de entrada de 324 mil toneladas. O Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) caiu 7 pontos frente ao mês imediatamente anterior e atingiu 42,4 pontos.

O número de janeiro representa a terceira queda seguida do indicador, uma redução acumulada de 21,4 pontos no período.

Fonte: Brasil Mineral
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/01/2025

 

Produção de aço bruto cresce em Minas Gerais e no Brasil

No ano passado, Minas também apareceu no topo do ranking da fabricação de aços semiacabados para venda e laminados, com 9,4 milhões de toneladas | Crédito: Inda

Após dois anos consecutivos de retração, a produção de aço bruto voltou a subir em Minas Gerais e no País em 2024. Conforme dados do Instituto Aço Brasil, o resultado da indústria siderúrgica mineira foi 8,8% superior ao de 2023. O desempenho nacional avançou 5,3%.

No acumulado do exercício passado, as usinas do Estado produziram 10,2 milhões de toneladas de aço bruto. A siderurgia brasileira somou 33,7 milhões de toneladas. Em 2023, os respectivos volumes foram: 9,3 milhões de toneladas e 32 milhões de toneladas.

Minas Gerais, que abriga gigantes do setor, como ArcelorMittal, Aperam, Gerdau e Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), foi, mais uma vez, quem mais produziu aço bruto no Brasil entre as unidades da Federação. A produção mineira representou 30,1% da nacional, enquanto o Rio de Janeiro, segundo colocado, respondeu por 26,2%.

Em 2024, o Estado também liderou o ranking de fabricação de aços semiacabados para venda e laminados, com 9,4 milhões de toneladas e 28,7% de participação no total brasileiro, que chegou a 32,6 milhões de toneladas. Apesar da liderança, as usinas mineiras registraram recuo anual de 0,6%, ao passo que, no País inteiro, houve alta de 3,6%.

Vendas internas crescem e exportações caem

Entre janeiro e dezembro do ano passado, as vendas internas das produtoras de aço do Brasil somaram 21,2 milhões de toneladas, aumento de 8,3% em relação a 2023 – os números excluem as comercializações para dentro do próprio parque siderúrgico do País.

Por outro lado, as exportações do setor retraíram 18,1% no período, para 9,6 milhões de toneladas. Os Estados Unidos, que seguiu como o principal mercado de destino dos produtos, receberam 5,8 milhões de toneladas, o que representa baixa anual de 17,3%.

Importações de aço batem recorde apesar dos esforços do setor

Ainda segundo o Aço Brasil, as importações brasileiras de aço em 2024 subiram 18,2% na comparação com o exercício imediatamente anterior, para 5,9 milhões de toneladas. Esse foi o maior volume registrado em toda a série histórica da entidade, iniciada em 2013.

Como reflexo do crescimento das importações, o consumo aparente de produtos siderúrgicos, que soma as vendas internas do setor e a importação por distribuidores e consumidores, fechou o ano passado em 26 milhões de toneladas, avanço de 8,3%.

Novamente, o principal país de origem das importações foi a China, que vendeu para o Brasil 3,3 milhões de toneladas, 14,6% a mais do que havia negociado em 2023.

As importações bateram recorde mesmo com os esforços da siderurgia nacional para tentar conter a entrada dos produtos no País, especialmente os enviados pelos chineses, que são acusados de comercializar aço de forma predatória, subsidiando os preços.

Depois de quase um ano de negociações com o governo federal, o setor conseguiu que fosse adotado uma medida de defesa comercial, mas a ação não surtiu o efeito esperado.

O mecanismo, que entrou em vigor em junho de 2024, estabeleceu cotas de importação para 11 tipos de aço, com imposto de 25% sobre o excedente. A siderurgia brasileira diz que a iniciativa travou a escala das importações, mas não foi suficiente para reduzi-las, logo, pede mudanças, como a inclusão de outros quatro itens, além de uma cota mais realista.

Perspectivas do Aço Brasil para 2025

Para 2025, as estimativas do Instituto Aço Brasil são de quedas de 0,6% na produção nacional de aço e 0,8% nas vendas internas e altas de 2,2% nas exportações, 11,5% nas importações de laminados e 1,5% no consumo aparente de produtos siderúrgicos.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/01/2025

 

Relatório sobre futuro do trabalho, do Fórum Econômico Mundial, identifica potencial de crescimento da construção civil e impactos no Brasil

O ‘Future of Jobs Report 2025’ (Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025), publicado este mês pelo Fórum Econômico Mundial, oferece uma análise abrangente sobre as transformações no mercado de trabalho global, com destaque para o setor da construção civil e também sobre o contexto do cenário laboral brasileiro. O documento identifica tendências, desafios e oportunidades que moldarão o futuro das ocupações nos próximos cinco anos, impactando diretamente indústrias e economias ao redor do mundo.

De acordo com o relatório, a construção civil está entre os setores com maior potencial de crescimento em números absolutos até 2030 no planeta. Funções como trabalhadores de construção, carpinteiros e finalizadores estão previstas para crescer significativamente, impulsionadas por tendências demográficas e econômicas, como o aumento do custo de vida e a urbanização acelerada. Esse cenário destaca a construção civil como um dos setores-chave para a criação de empregos globais.

O ‘Future of Jobs Report 2025’ apresenta um panorama desafiador e ao mesmo tempo promissor para o setor de construção civil, tanto globalmente quanto no Brasil. Com investimentos em capacitação, adoção de tecnologias e criação de políticas públicas eficientes, o setor tem o potencial de liderar a geração de empregos e a transformação econômica nas próximas décadas. No país, iniciativas como o investimento em infraestrutura e modernização logística também são apontadas como fundamentais para sustentar o crescimento do setor.

O tema tem interface com a pauta do Grupo de Trabalho da CBIC ‘Desafios da Mão de Obra na Construção Civil’, que terá sua primeira reunião do ano no próximo dia 22 de janeiro, às 10 horas, de forma online. “Durante o encontro, discutiremos os principais desafios relacionados à mão de obra no setor e definiremos ações estratégicas para enfrentá-los”, adianta vice-presidente de Relações Trabalhistas da CBIC e presidente da Comissão de Políticas de Relações Trabalhistas (CPRT) da entidade, Ricardo Michelon.

Impacto no Brasil, além da construção

No contexto brasileiro, o déficit de competências no mercado de trabalho em geral é apontado como uma das principais barreiras à transformação empresarial. Funções como especialistas em transformação digital, inteligência artificial e aprendizado de máquinae especialistas em logística e cadeia de suprimentos estão entre as que devem crescer mais rapidamente no país.

O estudo também revela que quase 90% das empresas brasileiras nos diversos setores planejam requalificar sua força de trabalho nos próximos cinco anos, com foco em habilidades como pensamento criativo, alfabetização tecnológica e aprendizado contínuo. Para o Fórum Econômico Mundial, essa é uma resposta direta às demandas de um mercado cada vez mais impactado por tecnologias emergentes e transformações digitais.

A falta de mão de obra qualificada é destacada como desafio significativo comum. Para superá-lo, segundo o relatório, as empresas estão investindo em automação de tarefas, contratação de profissionais com novas competências e programas de requalificação e aprimoramento profissional. Essas iniciativas são apontadas como fundamentais para preparar a força de trabalho para um futuro marcado pela integração crescente de tecnologia e sustentabilidade.

Entre as competências mais valorizadas pelos empregadores para os próximos anos, destacam-se pensamento analítico; resiliência, flexibilidade e agilidade; liderança e influência social; criatividade; alfabetização tecnológica; empatia e escuta ativa; e gestão de talentos. Essas habilidades refletem as demandas de um mercado em constante evolução, que busca profissionais adaptáveis e inovadores, de acordo com o documento. O relatório também destaca que financiamento para requalificação (55%) e oferta de programas de aprimoramento profissional (52%) são as medidas mais necessárias para aumentar o acesso a talentos no período de 2025-2030.

- Clique e confira a íntegra do Future of Jobs Report 2025 aqui

Fonte: CBIC
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 16/01/2025

Preço dos combustíveis vai subir em fevereiro, mas não por causa do mercado internacional; entenda

Os preços da gasolina, etanol e diesel devem subir no mês de fevereiro. Apesar da defasagem dos combustíveis frente os preços internacionais, o motivo é outro: as novas alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) aprovadas no fim do ano passado.

“O ajuste de tributação a partir de fevereiro deve gerar efeitos no preço que é pago pelo consumidor final”, afirma Bruno Cordeiro, analista de inteligência de mercado na StoneX.

Em novembro, representantes das secretarias da fazenda dos estados brasileiros se reuniram no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e aprovaram o aumento de 7,1% na tributação da gasolina e etanol Para diesel e biodiesel a alíquota sobe 5,3%.

Petrobras resiste a alta do dólar e do petróleo

O aumento ainda não tem relação com cotação no mercado internacional.

A Petrobras (PETR4) não realizou intervenções no preço do diesel em todo o ano de 2024, enquanto a gasolina sofreu apenas um reajuste, em julho.

No entanto, o cenário internacional pressiona a petroleira a rever os preços praticados. Nesta semana, o petróleo atingiu os maiores níveis desde agosto, com novas sanções dos Estados Unidos ao petróleo russo. Além disso, o dólar se mantém acima dos R$ 6, encarecendo importações.

De acordo com o relatório da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis(Abicom), o preço doméstico está abaixo do que é praticado no mercado mundial. 

“Esse forte avanço do petróleo e derivados, somados a um câmbio que se mantém desvalorizado, contribuiu para um aumento da diferença entre os preços do produto comercializado pela Petrobras e dos que chegam do exterior”, diz Cordeiro.

Atualmente, a defasagem do óleo diesel é de -21%, com o Preço de Paridade de Importação (PPI) do combustível acumulando aumento de R$ 0,56/L desde o último reajuste da Petrobras. Já em relação à gasolina, a defasagem  é de -13%, com aumento de R$ 0,01/L no PPI.

Vale ressaltar que em 2023, a Petrobras abandonou a política de reajustes baseados exclusivamente no PPI. Para a atual composição dos preços, a empresa considera variáveis como a competitividade dos seus combustíveis em relação aos mercados interno e externo.

Para os acionistas, a questão pode não afetar significativamente os dividendos no curto prazo. O Goldman Sachs acredita que  as perdas nas operações de refino e venda de combustíveis (downstream) são compensadas pelos ganhos na exploração e produção de petróleo (upstream), desde que os preços da commodity permaneçam altos.

O que o consumidor pode esperar?

De acordo com o analista da StoneX, a variação do preço dos combustíveis tem um impacto maior no diesel do que na gasolina, já que o país importa menos, devido ao avanço do etanol hidratado e aumento da produção de gasolina por parte das refinarias brasileiras.

“As importações de gasolina representam de 5% a 10% de toda a gasolina que é consumida no país. No caso do diesel é de 20% a 30%, o que acaba por impactar uma parcela maior do diesel que circula no país e, consequentemente, impacta mais o consumidor”, diz Cordeiro.

Segundo analistas do Santander, a petroleira brasileira deveria reajustar entre 7% e 8% para equiparar os preços ao de importação. A empresa se manifestou publicamente no Broadcast, afirmando que observa o mercado, mas “por questões concorrenciais não pode antecipar suas decisões”.

De qualquer forma, enquanto a estatal resiste à pressão, segurando os preços abaixo dos praticados no mercado internacional, o consumidor deve sentir a alta nas bombas a partir do mês que vem.

Fonte: Money Times
Seção: Energia, Hidrogênio, Óleo & Gás
Publicação: 16/01/2025

 

Déficit nominal do Brasil dispara e se distancia do de países emergentes

O Brasil terá um dos maiores déficits nominais do mundo em 2024 e 2025, em um nível bem acima de outras economias emergentes. O déficit nominal considera o resultado primário (receitas menos despesas) mais os gastos com juros. Ele é importante porque é o que determina a trajetória da dívida pública, que está no foco dos investidores e por trás da forte piora nos preços dos ativos locais.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) compilados pelo BTG Pactual, além de informações do Banco Central e projeções do próprio banco, o Brasil deve fechar 2024 e 2025 com o segundo pior déficit nominal entre 23 países emergentes de renda média e economias desenvolvidas.

Os déficits nominais esperados pelo BTG para o Brasil são de 7,8% do PIB em 2024 e de 8,6% em 2025, atrás apenas da Bolívia, com déficits de 10,4% e 9,7%, respectivamente. Vale notar, porém, que a tendência da Bolívia é de desaceleração do déficit entre os anos.

“Focamos muito, nas análises, o resultado primário porque são os botões que estão na mesa de controle de quem está operando a política fiscal. As metas são desenhadas a partir dele. Mas, no fim das contas, é o déficit nominal que vai importar para a projeção de dinâmica da dívida”, diz Fábio Serrano, economista do BTG Pactual. “No Brasil, especificamente, em que o pagamento de juros é bastante elevado, faz todo o sentido olhar também para o déficit nominal.”

Em comparação com pares latino-americanos, o país será o único a passar por um aumento no déficit nominal entre 2024 e 2025, aponta o BTG. Países como México, Chile, Colômbia e Peru deverão registrar déficits abaixo de 4% do PIB neste ano. A Argentina, que tem promovido um ajuste duro, deve ter déficits ao redor de zero.

"Aos olhos dos estrangeiros, Brasil não está mais ganhando de W.O.”
— Fábio Serrano

“Pensando no investidor estrangeiro, a história que se ouvia dois anos atrás era que o Brasil, no comparativo com seus pares, ganhava mais pelos problemas dos outros do que por suas virtudes próprias, já que há países em conflito armado ou com desorganização macro muito maior. Agora, começamos a ver alguns pares do Brasil com histórias interessantes, como a Argentina, que tem feito um ajuste fiscal agressivo. Aos olhos dos estrangeiros, o Brasil não está mais ganhando de W.O. [por “walkover”, ou seja, quando o adversário nem pode competir]”, diz Serrano.

O déficit nominal esperado para o Brasil também deve ficar acima da média de economias emergentes (-5,7% do PIB em 2024 e -5,6% em 2025) e de economias desenvolvidas (-5% e -4,5% do PIB, respectivamente), aponta o BTG. “Não importa muito o subgrupo que pegamos para comparar, a conclusão é a mesma: temos um dos déficits nominais mais altos do mundo. A média da América Latina está em 4,2% do PIB”, afirma Serrano.

O déficit nominal do setor público brasileiro até pode desacelerar em 2024 dos 8,8% do PIB de 2023, porque o déficit primário do governo central deve ser menor, de 0,4% do PIB, ante 2,4% em 2023, quando houve antecipação de pagamentos de precatórios. Os gastos com juros, porém, devem passar de 6,6% do PIB em 2023 para 7,5% em 2024 e avançar a 8% do PIB em 2025, de acordo com o BTG.

“Tem uma história que vem da política monetária. Temos uma Selic que, pela nossa projeção, sobe até 15,25% e se mantém nesse patamar ao longo do ano inteiro. Isso acaba refletindo na conta de juros”, afirma Serrano. Além disso, o resultado primário do governo central também deve voltar a piorar neste ano, para um déficit de 0,8% do PIB, segundo o BTG. “No ano passado, teve uma espécie de vale no pagamento de precatórios, cujo ritmo deve se normalizar em 2025. Há também uma série de receitas extraordinárias previstas, mas, como estamos começando o ano, prefiro ter uma projeção mais conservadora e ir vendo como isso se mterializa”, afirma Serrano.

Economistas ponderam que não é possível “culpar” os juros elevados pelo déficit nominal alto e crescente no Brasil. “O Brasil é um dos emergentes com o maior estoque de dívida. Logo, a despesa de juros sobre essa dívida também é maior. Então, não é só uma questão de que o nível de juros hoje, a Selic, é maior. E uma coisa retroalimenta a outra. Se você tem dívida alta, é natural que seja um dos motivos para pagar juro mais alto. Isso vale para qualquer ente, pode ser pessoa física, jurídica ou setor público. Se tem dívida maior, tem mais risco”, diz Pedro Schneider, economista do Itaú.

Ele projeta déficits nominais de 7,9% do PIB em 2024, 9% em 2025 e 9,5% em 2026, com déficits primários de 0,4% em 2024 e de 0,7% neste e no próximo ano. Os gastos com juros devem ser de 7,2%, 8,3% e 8,8% do PIB, pela ordem.

A XP estima que o país fechou 2024 com um déficit nominal de 8,6% do PIB (0,4% do PIB de déficit primário e 8,2% de pagamento de juros). Para 2025, a expectativa é que o déficit nominal possa se aproximar de 10% do PIB.

“Até meados de 2024, tivemos um ciclo de afrouxamento monetário, o que, em tese, deveria reduzir o custo da dívida. Só que essa redução aconteceu em um prazo muito curto e não foi acompanhada da mesma forma pelo mercado, que continuou precificando uma taxa de juros alta”, diz Tiago Sbardelotto, economista da XP. “A visão do mercado de que a dívida vai continuar subindo faz com que o prêmio de risco aumente, especialmente para prazos mais longos, e o mercado começa a cobrar mais caro para financiar a dívida. Por outro lado, quando há um custo mais alto da dívida, faz com que ela cresça a taxas maiores. Gera um ciclo vicioso”, afirma.

O que é “particularmente preocupante”, segundo ele, é que os juros nominais “ainda refletem muito pouco o atual estágio de aperto monetário e de deterioração das expectativas”, afirma. “A perspectiva é que esses juros nominais continuem subindo em 2025. É um custo muito elevado”, afirma.

A Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado, espera que o déficit nominal passe de 8% do PIB em 2024 para 9,6% em 2025. A estimativa resulta tanto de um primário pior (de -0,4% para -0,7% do PIB) quanto de mais gastos com juros (de 7,7% para 8,9% do PIB).

Mesmo no cenário otimista da IFI, em que o déficit primário desaceleraria de 0,4% do PIB em 2024 para 0,1% em 2025, o déficit nominal seguiria aumentando, de 8,1% para 8,8% do PIB, porque as despesas com juros continuariam avançando, de 7,8% para 8,7% do PIB.

“A lógica do resultado primário é que você tem uma dívida que precisa ser atenuada como proporção do estoque do que o país produz. Para isso, precisa fazer poupança operacional e ter superávit. Senão, o país paga juros com mais dívida”, afirma Marcus Pestana, diretor-executivo da IFI.

Nesse sentido, ele se diz “estupefato” com o nível da discussão fiscal no Brasil. “Dizem que cumpriram a meta [de primário para 2024], porque o déficit foi de 0,4% do PIB, mas, com os descontos legais, vai para -0,1%. Tudo isso é irrelevante, porque estimamos que precisamos de um superávit primário de 2,4% do PIB”, afirma.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou que o governo deve fechar 2024 com um déficit de 0,1% do PIB, sem contar créditos extraordinários, por exemplo, com o socorro ao Rio Grande do Sul. A meta de primário do governo para o ano era zero, mas com tolerância para um déficit de até 0,25% do PIB. “Esse ‘desconto legal’ para a meta não interessa para a dívida. Para ela, gasto é gasto”, afirma Pestana.

Mesmo assumindo que o governo consiga cumprir o arcabouço fiscal e as metas de resultado primário, o país continuará com um déficit nominal médio de 8,2% do PIB no governo atual (2023 a 2026), resultando em um crescimento de 14 pontos percentuais da dívida pública, em porcentagem do PIB, no período, estima o BTG. Segundo o banco, a dívida bruta/PIB deve sair de 73,8% do PIB em 2023 para 86,1% em 2026.

A IFI projeta a dívida bruta/PIB chegando a 86,3% em 2026, último ano do atual mandato presidencial de Lula. Em 2027, no início do próximo governo, essa dívida estaria em 91% do PIB e, até 2030, superaria 100%, sem perspectiva de estabilização em todo o horizonte projetado pela IFI, até 2034.

“No fim, o déficit nominal é uma aproximação de quanto a dívida sobe. Países com ‘rating’ [nota de crédito] parecido ao do Brasil estão com déficit nominal menor. Então, se olhar só pelo fiscal - e sabemos que as agências de risco não fazem isso -, é difícil imaginar que movimentos de ‘upgrade’ vão continuar”, diz Schneider, do Itaú.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 15/01/2025