Notícias

Após medidas do governo, siderúrgicas revisam projeções

A decisão do governo federal de estabelecer cotas para importação de 11 tipos de produtos siderúrgicos, com alíquota de 25% sobre o volume excedente, trará melhorias, ainda que moderadas, para a indústria brasileira no decorrer do segundo semestre, avalia o Instituto Aço Brasil.

Embora as importações ainda tenham crescido até maio, em meio ao excesso de oferta no mercado mundial e às práticas de concorrência desleal adotadas por alguns países produtores, a expectativa da entidade setorial é que a partir da adoção das medidas, neste mês, 1,5 milhão de toneladas deixem de ser importadas no ano.

“Não é o melhor [acordo], nem aquele que queríamos inicialmente. Mas acreditamos que é um acordo que, funcionando, já vai melhorar muito a situação da indústria do aço no Brasil”, disse o presidente do conselho diretor do Aço Brasil e presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula.

De janeiro a maio, as importações de produtos siderúrgicos subiram 26,4%, para 2,3 milhões de toneladas, enquanto a produção nacional teve leve alta de 0,6% e 13,6 milhões de toneladas. Em todo o ano passado, as importações somaram 5 milhões de toneladas, a maior parte com origem na China, 50% acima do visto em 2022, e a produção doméstica encolheu 6%.

De acordo com o presidente executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes, o acréscimo de 30% à média das importações de produtos siderúrgicos entre 2020 e 2022 para definição das cotas não era exatamente o que buscava a indústria brasileira. “A cota é generosa, além daquilo que achávamos que tinha de ser dado para regularizar o mercado, por causa desse delta de 30%”, afirmou.

Representantes do setor vão se reunir na próxima semana com o governo para discutir os resultados da medida até o momento e eventuais correções, se necessárias - a indústria já detectou, por exemplo, um avanço nas importações de vergalhões, que não estão contemplados na lista inicial de produtos sujeitos às cotas.

Ainda assim, haverá ganhos e as siderúrgicas revisaram para cima as previsões para 2024. Agora, projetam expansão de 0,7% na produção de aço, a 32,2 milhões de toneladas, contra estimativa anterior de queda de 3%. Para as importações, a projeção, que ao fim de 2023 era de crescimento de 20%, passou para queda de 7%, a 4,7 milhões de toneladas. Já as vendas internas devem crescer 2,5%, para 20 milhões de toneladas, contra previsão inicial de retração de 6%.

Conforme De Paula, o consumo de aço não teve crescimento importante nos primeiros meses do ano, mas é possível que, em base acumulada, encerre 2024 com expansão de 1% a 3%. Essa leitura leva em conta o bom desempenho da construção civil, com mais obras no Minha Casa, Minha Vida e a retomada de lançamentos imobiliários, e o mercado automotivo, de leves e pesados, mais aquecido.

A expectativa é que, com o reflexo das medidas no mercado doméstico, o setor gradualmente reduza a ociosidade e mantenha o pacote de investimentos programados de R$ 100 bilhões para os próximos cinco anos. Questionado sobre aumentos de preço do aço no mercado interno, que já começaram a ser anunciados, o comando da associação recorreu à economia de mercado.

“Não foi dito que não haveria aumento de preços. Uma coisa era a alegação de setores consumidores de que a indústria queria alavancar preços. Especulação de preços não está no radar, mas numa economia de mercado, as empresas terão de fazer ajustes”, disse Marco Polo.

Uma comprovação de que as usinas brasileiras seguem o mercado internacional, conforme o Aço Brasil, é a queda de 12,7% no preço doméstico das bobinas a quente de janeiro de 2023 a meados de junho deste ano, em linha com o praticado em outros países.

“Nesses dez meses [de conversas com o governo], falou-se muito sobre preço. Mas o preço é definido pelo mercado e foi acordado que nossos preços serão os de mercado”, reiterou De Paula.

Diante do avanço do importado a partir do fim de 2022, a indústria pleiteava junto ao governo alguma iniciativa de defesa comercial. Em fevereiro deste ano, o Aço Brasil pediu a adoção do sistema de cota-tarifa para 18 tipos (NCMs) de produtos siderúrgicos e conseguiu para 9 deles. Duas NCMs referentes a tubos foram aprovadas também.

Agora, disse Marco Polo, a indústria e o governo estão monitorando outras 27 NCMs para evitar que as importações de produtos parecidos, e fora da lista sujeita a cotas, tentem driblar as regras.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/06/2024

Reciclagem de água se torna tendência nos setores de Mineração e Metalurgia

A gestão e a reciclagem de água são temas cada vez mais relevantes no setor mínero-metalúrgico, cujas atividades são intensivas no consumo do elemento essencial para o processo de fabricação do aço e para a refrigeração de máquinas e equipamentos. Estima-se que a mineração consuma cerca de 7% da água doce utilizada pela indústria global. No Brasil, um estudo do MapBiomas, realizado em 2021, revelou que o país perdeu 15,7% de superfície de água nos últimos 30 anos, uma área equivalente a 3,1 milhões de hectares.

Com o agravamento da crise hídrica, empresas desses setores estão adotando práticas de reciclagem de água para reduzir o impacto ambiental e garantir a sustentabilidade de suas operações. Práticas, inclusive, que já são consideradas na meta 6.3, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“Há diversas práticas para reduzir o uso de água na indústria, como a implementação de tecnologias de reciclagem de água, a otimização de processos para minimizar o desperdício e o reuso de água tratada. Há, ainda, o desenvolvimento de tecnologias de concentração magnética de minérios de baixo teor de ferro, que dispensam o uso de água”, afirma Lindaura de Souza Cândido d’Ávila, Engenheira Master na Vale e Vice-coordenadora da Comissão Técnica de Aglomeração de Minérios da ABM.

Redução do uso de água: estratégias eficientes

Entre os profissionais entrevistados, é unânime o fato de que é necessária a redução do uso de água, e isso envolve gestão eficiente, tecnologias inovadoras, manutenção adequada e reuso.

“Existem práticas que têm se apresentado altamente eficientes para diminuir uso de água. Talvez a principal delas seja a gestão eficiente, particularmente do consumo, em tempo real e por processo. A informação precisa ser consolidada, analisada e compartilhada para gerar compromisso com o objetivo global e identificar estratégias assertivas de implantação. As melhores práticas demandam ainda estabelecer um comitê multidisciplinar com áreas consumidoras para analisar e implantar otimizações nos processos, e manutenção adequada da infraestrutura, particularmente as redes de distribuição e instrumentação, garantindo qualidade nos dados”, indica Juan Manuel Yannaduoni, Gerente de Águas e Efluentes da Ternium.

Tecnologias inovadoras têm sido implementadas, a exemplo das que permitem o beneficiamento de minério de ferro a umidade natural, reduzindo o consumo de água e eliminando a necessidade de barragens de rejeitos. “Em termos de impacto, as principais iniciativas para a diminuição do uso de água na mineração nascem da redução do volume de água utilizado, com a opção pelo beneficiamento de minério de ferro à umidade natural, que não utiliza água no processo, reduzindo o consumo total em cerca de 93%. E, como outro ganho importante, não há a geração de rejeitos e, consequentemente, a necessidade do uso de barragens”, aponta Lindaura, da Vale.

Programas de recirculação de água e utilização do balanço hídrico para monitorar e melhorar o uso de água também são alternativas na siderurgia. “Investimos continuamente em programas de recirculação de água e destacamos o desempenho de uma importante ferramenta, na planta de Ouro Branco, em Minas Gerais, chamada balanço hídrico: volume de saída e entrada de água de um sistema em um intervalo de tempo serve para conhecer mais profundamente e melhorar o circuito hídrico. Após o levantamento desse balanço, a unidade apresentou queda na intensidade de consumo de água nos últimos quatro anos, de cerca de 30%”, revela Cenira Nunes, Gerente geral de meio ambiente da Gerdau.

Tecnologias de reciclagem de água: inovações e eficiência

As tecnologias de reciclagem de água variam conforme as necessidades específicas de cada indústria. “Aos fins práticos e industriais, a principal tecnologia para reutilizar água resulta da filosofia de reuso da mesma ao longo dos processos, controlando as alterações lógicas e esperadas em sua qualidade. Basicamente, ‘cascatear’ o consumo da água desde sua qualidade mais nobre – desmineralizada, por exemplo – até virar efluente líquido para logo ser tratado e virar água de reuso. Para exemplificar, a purga ou blowdown de um sistema de refrigeração indireto (sem contato) resulta na reposição ou make-up de um sistema de refrigeração direto (com contato). Desta forma temos atingido Índices de Recirculação de 98,3%, sendo referência nacional”, explica Juan, da Ternium, empresa que gera oito tipos de água, cada uma delas com suas próprias características.

O reuso da água também é uma realidade na Gerdau, que utiliza estações de recirculação de água dos processos, o reuso de água em cascata (makeup de sistemas diretos sendo feito com as purgas dos sistemas indiretos) e o tratamento e reuso de efluentes, como explica Cenira. “O maior desafio que enfrentamos é nos mantermos atualizados com o constante avanço das tecnologias relacionadas a esse processo. Isso requer um olhar cuidadoso para a pesquisa, assim como o acompanhamento do tema por especialistas no assunto. A Gerdau preza pela adoção de tecnologias modernas disponíveis em suas operações”, diz Cenira.

Outra solução que utiliza tecnologia de ponta é a filtragem de rejeitos. “Atualmente, são aplicadas algumas tecnologias para reciclagem de água. Nos casos em que o processamento requer o uso de água, gerando rejeitos, pode-se utilizar a filtragem, que retira água do rejeito, gerando até 90% de reaproveitamento desse importante recurso na cadeia de produção. No âmbito siderúrgico, os processos de recirculação de água industrial vêm aplicando o desenvolvimento de soluções de produtos químicos, que aumentam a eficiência de processos de separação e remoção de sólidos, tais como adensamento, clarificação, filtragem e outros, o que impacta positivamente o percentual de água recuperada e reciclada, a partir de lamas de processos de Aciaria, Alto Forno e Laminações”, explica Lindaura, da Vale.

Limitações e desafios na reutilização da água reciclada

Existem algumas limitações na reutilização da água reciclada em determinadas operações ou processos nas indústrias de mineração e siderurgia. De forma geral, os três especialistas apontam, especialmente, a composição química e a qualidade da água como uma barreira para a eficiência do processo. De acordo com Lindaura, da Vale, algumas das limitações incluem:

- Qualidade da água: alguns processos na mineração e siderurgia requerem água de alta qualidade, livre de certos contaminantes que podem estar presentes na água reciclada;
- Composição química: a composição química da água reciclada pode não ser adequada para certos processos específicos que exigem características particulares, como pH ou níveis de minerais;
- Restrições regulatórias: em alguns casos, regulamentações ambientais podem impor limitações à reutilização da água reciclada, estabelecendo padrões de qualidade que devem ser atendidos para determinadas operações;
- Viabilidade econômica: em certos casos, os custos associados ao tratamento da água reciclada para atender aos requisitos de qualidade podem tornar a reutilização impraticável ou economicamente inviável.

Em relação aos desafios na reciclagem de água em operações de mineração e metalurgia, os principais são a gestão de resíduos sólidos gerados durante o tratamento da água, a eficiência energética dos sistemas de reciclagem e a garantia da qualidade da água reciclada, conforme aponta Lindaura, da Vale. “Esses desafios são superados através de pesquisa contínua, investimento em tecnologias avançadas e conformidade com regulamentações ambientais. No caso dos resíduos gerados após a filtragem, tanto na mineração, quanto na metalurgia, há o desenvolvimento da aplicação desses materiais como matéria-prima em outras indústrias”, explica.

Benefícios econômicos e ambientais

A implementação de sistemas de reciclagem de água traz múltiplos benefícios. Ambientalmente, há uma significativa redução na extração de água dos ecossistemas naturais, preservando os recursos hídricos para outras finalidades. “A reciclagem de água contribui para a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental da operação ao reduzir a demanda por água nova, ou seja, a água que é captada de rios, lagos ou poços”, diz Lindaura, da Vale. 

Economicamente, as empresas reduzem os custos associados à captação e tratamento de água fresca, além de minimizar as taxas de descarte de efluentes. “A reciclagem de água contribui tanto para a menor captação, como para reduzir o volume de efluentes e o impacto ambiental do descarte. Além disso, o processo também pode reduzir custos relacionados a captação e descarte”, enfatiza Cenira, da Gerdau.

A redução da captação do meio ambiente também é um fator positivo destacado por Juan, da Ternium. Segundo ele, a gestão integral do recurso hídrico é fundamental para a implementação ocorrer corretamente e com benefícios ambientais e para a empresa. “Baseado no conceito de sustentabilidade como um equilíbrio entre a dimensão socioeconômica e a dimensão ambiental, produzir mantendo a integridade do recurso é prioritário. No final das contas, a utilização eficiente da água garante o equilíbrio e mantém as operações sustentáveis”, complementa.

Casos de sucesso

Empresas como Vale, Ternium e Gerdau vêm conquistando resultados positivos graças a novas iniciativas de sustentabilidade e reuso da água.

No caso da Vale, entre as empresas pioneiras na adoção de tecnologias de reciclagem de água, 82% do volume da demanda total são de água reutilizadas. De acordo com o balanço hídrico da empresa, em 2022, foram reutilizados 507 milhões de m?3; de água, captados 4,7 milhões de m?3; de água de chuva e utilizados 1,7 milhão de m?3; de água do mar dessalinizada.

Em relação à Ternium, o Gerente de Águas e Efluentes aponta a geração de oito tipos de água, com características específicas e de acordo com o processo consumidor. “O exemplo máximo é o Efluente Tratado, denominado ‘água de reuso’, que, já adequado à normativa ambiental, é reutilizado na aspersão das pilhas de matérias-primas, aspersão de ruas e reposição nos sistemas de tratamento dos coprodutos. Atualmente, estamos atingindo Índices de Reuso de Efluente Tratado em torno de 80%, um desempenho destacável na siderurgia”, cita Juan.

Por sua vez, a Gerdau obteve, globalmente, um reaproveitamento de 97,8% da água usada na produção, consequência dos sistemas de reuso e recirculação nas unidades da empresa. “Esse volume vem de um total de 1,97 bilhão de m?3; recirculados em 2023”, destaca Cenira.

O futuro da reciclagem de água na indústria

O futuro da reciclagem de água no setor mínero-metalúrgico está pautado por inovações tecnológicas e um compromisso crescente com a sustentabilidade. “As perspectivas incluem o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e sustentáveis, o aumento da conscientização sobre a importância da conservação da água e a implementação de políticas e regulamentações mais rigorosas relacionadas ao uso e descarte de água”, afirma Lindaura, da Vale.

Nesse sentido, diretrizes internas que estejam em conformidade com as tendências de sustentabilidade global são essenciais para o planejamento de ações e desenvolvimento de sistemas cada vez mais eficazes na reciclagem de água. “A operação brasileira da Gerdau possui metas anuais e um roadmap baseado em estabilidade de processos e alavancas de sustentabilidade do negócio. Temos um inventário de todas as demandas necessárias para mitigar os gaps existentes (visão interna e externa), medidos pela gestão do risco operacional e adicionados sistematicamente ao planejamento da operação e investimento para que as melhorias sejam contínuas e progressivas”, destaca Cenira, da Gerdau.

A minimização do chamado stress hídrico, que resulta na escassez hídrica na sociedade como um todo, deve ser um compromisso assumido pela indústria a partir das metas de sustentabilidade, destaca Yannaduoni, da Ternium. “Em nível industrial, temos a responsabilidade de gerenciar o recurso da forma mais eficiente possível, reduzindo o consumo mediante otimização dos processos e reutilizando a água ao máximo possível. As perspectivas futuras indicam maiores exigências ambientais e expectativas sociais para as indústrias em termos de reciclagem e reuso de água. A implantação de projetos específicos para gestão hídrica, principalmente no que tange ao reuso, será cada vez mais necessária e frequente”, enfatiza.

Fonte: ABM Notícias
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/06/2024

 

Produção e vendas de aço no Brasil sobem no ano até maio, diz Aço Brasil

A produção de aço bruto do Brasil de janeiro a maio deste ano subiu 0,6% sobre um ano antes, a 13,56 milhões de toneladas, enquanto as vendas internas no mesmo período subiram 1,9% ano a ano, a 8,32 milhões de toneladas, segundo dados divulgados nesta terça-feira pela entidade representativa do setor, Aço Brasil.

A exportação de aço neste período recuou 16% na comparação anual, a 4,24 milhões de toneladas, enquanto as importações do material no acumulado do ano até maio subiram 26,4%, para 2,31 milhões de toneladas, informou a entidade durante coletiva para apresentar os dados da indústria.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/06/2024

Apesar de estímulo, problemas no mercado imobiliário da China se agravam

O problemático mercado imobiliário da China não está respondendo a algumas das medidas de estímulo mais audaciosas adotadas pelo país até agora – pelo menos ainda não.

O governo chinês vem intensificando o apoio à habitaçãoe outros setores nos últimos meses, enquanto tenta revitalizar uma economia que continua decepcionando desde os primeiros dias da pandemia de covid-19.

Mas os dados de maio mostram que empresas e consumidores seguem cautelosos. Os preços das moradias continuam caindo em um ritmo acelerado e os investimentos em ativos fixos e produção industrial, embora em crescimento, perderam algum dinamismo.

“Os dados econômicos de maio sugerem que as autoridades têm muito a fazer para sustentar a frágil recuperação”, escreveu Yao Wei, economista-chefe do Société Générale para a China, em uma nota a clientes nesta segunda-feira (17).

O pior problema está no setor imobiliário, que vem lutando com um excesso de oferta e o fraco sentimento dos compradores desde 2021, quando um boom imobiliário de vários anos teve fim. O mercado parece não ter encontrado ainda um piso, mesmo depois que Pequimlançou, na metade de maio, suas medidas de estímulo mais agressivas até agora, na esperança de restabelecer a confiança.

Nas grandes cidades, os preços das novas moradias caíram 4,3% em maio, comparado ao mesmo período do ano passado, número pior que o de abril, quando houve uma queda de 3,5%, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Estatísticas da China. Os preços no mercado chinês de segunda mão caíram 7,5% comparado à queda de 6,8% em abril.

As vendas de moradias caíram 30,5% em termos de valor nos primeiros cinco meses deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. “Esses dados certamente são decepcionantes e poderão disparar alguns sinais de alerta, uma vez que o pacote de apoio político de maio ainda não se traduziu em um declínio mais lento dos preços das moradias, quanto mais em uma estabilização”, diz Lynn Song, economista-chefe do ING para a China.

Os economistas também esperavam ver uma recuperação mais ampla este mês, depois que Pequim iniciou uma emissão planejada de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões) em bônus soberanos de longuíssimo prazo em maio. Os recursos terão como destino ajudar no pagamento de projetos de infraestrutura imobiliária apoiados pelas autoridades. Os investidores abocanharam o primeiro lote desses bônus.

O conjunto dos novos dados, no entanto, demonstra como o país ainda não está a todo vapor. As vendas no varejo, uma medida importante dos gastos do consumidor, cresceram 3,7% em maio em relação ao ano passado, comparado com 2,3% em abril, segundo a Agência Nacional de Estatísticas. Embora a tendência esteja caminhando na direção certa, ela ainda se encontra em um ritmo de crescimento relativamente moderado e abaixo do que a maioria dos economistas acredita ser necessário para iniciar uma grande retomada dos gastos do consumidor.

A expansão na produção industrial – 5,6% em maio, comparado ao mesmo período do ano passado – foi inferior ao aumento de 6,7% de abril. O crescimento dos investimentos em ativos fixos, do qual 40% veio dos setores imobiliário e de infraestrutura, também desacelerou para 3,5% em maio, face a 3,6% em abril.

A chave para os dados fracos da atividade econômica em maio — e para as perspectivas futuras da China — é a crise no mercado imobiliário, que as autoridades vêm tendo dificuldades para resolver.

O pacote de maio de ajuda ao setor imobiliário incluiu permitir aos governos locais comprar moradias não vendidas, eliminando as taxas de juro mínimas sobre os financiamentos imobiliários e reduzindo os pagamentos a potenciais compradores de moradias. Também inclui, como peça central, um chamado programa de reempréstimo de US$ 41 bilhões lançado pelo Banco do Povo da China, o banco central chinês, que fornecerá financiamentos aos bancos chineses para apoiar as compras de moradias por empresas estatais.

A esperança é que ao intervir como comprador de última instância de milhões de propriedades, o governo consiga limpar o estoque habitacional não vendido e convencer os cautelosos compradores de moradias a retornar ao mercado. Por sua vez, os consumidores chineses, que têm a maior parte de sua riqueza ligada aos imóveis, sentiriam-se mais confiantes em voltar a gastar, estimulando assim a economia em geral.

Mas o tamanho do programa de reempréstimos não foi grande o suficiente para convencer os compradores de moradias, diz Larry Hu, economista-chefe do Macquerie Group para a China. “Enquanto isso, suas perspectivas de renda também permanecem fracas, diante da situação econômica atual”, afirma ele.

Para que o mercado imobiliário chegue ao fundo do poço e alcance um novo equilíbrio, as taxas de financiamento imobiliário, que estão em cerca de 3% a 4% na China, precisam ser tão baixas quanto o rendimento dos alugueis, que estão atualmente abaixo de 2% nas grandes cidades, segundo diz Zhaopeng Xing, um estrategista sênior da ANZ dedicado à China. Segundo ele, um grande corte nas taxas de financiamento imobiliário precisará ocorrer em algum momento.

Outra parte importante do esforço da China para revitalizar o crescimento gira em torno do setor industrial, com os líderes canalizando mais investimentos para as fábricas para aumentar a produção e reduzir a dependência do país dos fornecedores estrangeiros de tecnologias essenciais.

O resultado foi um aumento da produção. Mas com o consumo interno incapaz de absorver todos esses bens, muitas fábricas foram forçadas a reduzir os preços e buscar mais compradores no exterior.

Dados divulgados este mês mostraram que as exportações chinesas cresceram mais rapidamente em maio do que em abril.

No entanto, o esforço exportador está encontrando resistência, uma vez que governos do mundo todo temem o impacto da competição chinesa mais barata sobre mercados e indústrias internos.

Na semana passada, a União Europeia disse que vai impor novas tarifas de importação aos veículos elétricos chineses, descrevendo a indústria automobilística chinesa como altamente subsidiada pelo governo, ao ponto em que as montadoras de outros países não conseguem competir de forma justa.

Os EUA também aplicaram tarifas pesadas aos automóveis e outros produtos chineses, enquanto países como Brasil, Índia e Turquia abriram investigações antidumping sobre o aço, produtos químicos e outros produtos chineses.

Pequim diz que essas medidas são protecionistas e que suas indústrias competem de forma justa com os concorrentes globais.

Fonte: Dow Jones
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 18/06/2024

 

Siderúrgicas brasileiras intensificam barreiras contra aço chinês com processos antidumping

Além das medidas lançadas pelo governo federal em abril, visando estancar as importações de aço, principalmente da China, siderúrgicas brasileiras decidiram atacar o material chinês por outro flanco. Fabricantes locais decidiram abrir vários processos antidumping na Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As ações atingem, na maioria, produtos não incluídos no esquema de cotas-tarifas adotado nas medidas do governo, que passaram a vigorar no início de junho.

No início de março, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) obteve da Secex uma decisão para investigação das importações de folha metálica (estanhada e cromada) de origem chinesa. A CSN é a única fabricante desse tipo de aço no País, utilizado na fabricação de embalagens diversas, como latas de tintas. O pleito foi feito em novembro.

No mês passado, a Aperam South America, produtora de aços especiais inox, obteve decisão de direito definitivo antidumping contra importações de dois tipos de aço inox oriundos da China. A empresa entrou em julho do ano passado na Secex com pedido de extensão de medida aplicada em 2013, revalidada em 2019, indicando que os dois produtos sofreram alterações por parte de exportadores chineses para driblar o antidumping para continuar vendendo ao Brasil.

Outros pedidos de investigação estão a caminho. Segundo o Estadão apurou com pessoas ligadas às empresas, recentemente pelo menos três pedidos entraram na Secex. A China, maior produtor mundial de aço e maior exportador de produtos siderúrgicos, é o alvo dos pleitos. Estimativas apontam que os embarques do país ao exterior neste ano podem chegar a 113 milhões de toneladas, alta de 25% ante 2023. O Brasil, além de outros países da América Latina, são mercados em que as usinas chinesas vêm fazendo desova de excedentes devido à retração da demanda no mercado chinês.

Os novos pedidos envolvem desde aços galvanizados, galvalume, aços pré-pintados até os laminados a frio. Além da CSN, os pleitos são endereçados por Usiminas e ArcelorMittal, dois importantes fabricantes desses tipos de aço usados no setor automotivo, na indústria de linha branca e na construção civil.

No caso do aço pré-pintado, utilizado na fabricação de telhas e revestimentos de fachadas e em geladeiras, freezers e fogões, a petição conta com o apoio da Tekno, um grande produtor desse tipo de aço, conforme acesso do Estadão à petição. A maior fabricante no País é a CSN.

O consumo de pré-pintado no mercado nacional é da ordem de 300 mil toneladas por ano. Neste ano, de janeiro a maio, já entraram 99 mil toneladas, conforme dados oficiais. Mantido o ritmo, o volume totalizaria quase 240 mil toneladas em 2024 - cerca de 80% da capacidade de produção local, disse uma pessoa que atua nesse segmento.

Em março, um mês antes da divulgação das medidas, a Gerdau também avaliava entrar com pedido de medidas comerciais contra a entrada de vergalhões e outros tipos de aço. A empresa tomaria a decisão após a divulgação do “pacotaço de abril” de medidas contra o excesso de importações pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). CSN, Usiminas, ArcelorMittal e Gerdau não se manifestaram.

A invasão de aço estrangeiro ganhou dimensão nacional a partir do segundo trimestre de 2023, quando os volumes começaram a subir mês a mês e as siderúrgicas passaram a alertar o governo, em encontros com o ministro Geraldo Alckmin e depois com Fernando Haddad, da Fazenda. Ao final do ano, os desembarques somaram 5 milhões de toneladas, representando aumento acima de 40% sobre 2022 considerando apenas aços acabados. Quase dois terços do volume que entrou nos portos brasileiros tinha como origem a China.

As medidas de 23 de abril que entraram em vigor dia 1º de junho, após nove meses de negociações com produtores e consumidores de aço, definiram o sistema de cotas-tarifas pelo prazo de um ano, ao invés de uma sobretaxa direta de 25% para todas as origens como pedia as siderúrgicas. De 31 tipos de aços apresentados pelo setor, apenas 11 foram contemplados.

Foi uma saída salomônica do governo brasileiro, uma vez que a China, maior exportador de aço para o Brasil, é, ao mesmo tempo, o maior parceiro comercial do País, importando de minério de ferro a grãos e carnes, entre outros bens primários.

As cotas - média das importações de 2020 a 2022, acrescida de 30% - segundo informações do setor abrangem menos da metade (45%) do total de aço importado pelo País em 2023 de diversas origens: China, Rússia, Coreia do Sul, Japão, Turquia e outros países. A Gerdau, por exemplo, como informou em entrevistas o presidente, Gustavo Werneck, teve seu mix de produtos contemplado com apenas 25%.

O vergalhão, material usado em obras civis e de infraestrutura e na construção imobiliária, ficou de fora. A companhia está fazendo rearranjo de suas operações brasileiras em vários Estados para focar em produtos mais competitivos, paralisando usinas de custos mais elevados e investindo no aumento da escala de produção de outras para melhorar suas margens de ganho frente ao importado.

A Aperam também não teve produtos inox contemplados nas medidas, assim como a CSN não teve para folhas metálicas, chapas pré-pintadas e aço galvalume. A alternativa das empresas frente à competição com material chinês foi abrir ações antidumping, disse ao Estadão pessoas que atuam no setor.

Desvio de especificação para burlar o antidumping

O embate com produtos chineses, via antidumping, vem de longa data. Desde 2019, as ações envolvem mais de uma dezena de tipos de aço carbono, inox e tubos. As ações envolvem laminados planos de aços ao silício, tubos com costura de aços inoxidáveis, tubos de aço carbono sem costura e não ligados, chapas grossas, laminados planos a frio de aços inoxidáveis e carbono, tubos sem costura, cordoalhas, barras chatas de aço ligado, entre outros, de acordo com informações dos órgãos de comércio exterior do MDIC.

Segundo dados do MDIC e da indústria, em alguns casos, o volume importado já representa bem mais da metade do consumo interno do produto, o chamado “import penetration”. Em inox, por exemplo, fabricados pela Aperam, a participação do aço chinês no mercado nacional supera 40% em certos produtos.

A companhia aponta os dois casos de alteração na composição química do aço para driblar o antidumping que receberam do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) parecer favorável à revisão anticircunvenção - ou seja, contra atos para enganar, ludibriar ou burlar - com extensão do direito antidumping definitivo. Foi fixada penalidade (sobretaxa) de US$ 629,44 por tonelada, em despacho de 24 de maio.

Esses produtos de inox estavam entrando no País com desvios de especificações para burlar os direitos de proteção comercial adotados em 2013, pelo período de seis anos. Essas medidas foram estendidas, em 2019, e vão vigorar até o final deste ano, agora reforçadas pela revisão anticircuvenção.

Rodrigo Damasceno, diretor comercial da Aperam, disse ao Estadão que os volumes respondiam por 30% a 40% das importações totais de aço inox. Ele explica que exportadores chineses, mais produtores do país, fizeram modificações na composição de ligas do inox 304 - carro-chefe da empresa, que leva níquel e cromo, utilizado em 90% dos produtos fabricados com inox - e no 430, que leva cromo e outros elementos.

Os produtos são vendidos ao Brasil para as mesmas aplicações dessas duas ligas originais (304 e 430), configurando uma irregularidade para fabricação de bens diversos com uso de inox, informa Damasceno. “A medida do governo é uma correção, pois havia uma redução do porcentual de cromo e níquel no aço para entrar no País”.

Na época (2013 e 2019), a sobretaxa estipulada foi de US$ 200 a US$ 300 a tonelada, mas como não houve colaboração de nenhum produtor ou exportador chinês no processo de investigação de desvio de qualidade dos produtos mencionados, o governo brasileiro decidiu pela sobretaxa de US$ 629,44 a tonelada, explica o executivo da Aperam.

No final do ano será feita nova análise dos volumes importados. “Se esses volumes continuarem, o governo poderá fazer a renovação do direito por mais cinco anos”, ressalta o executivo da Aperam.

Investimento de R$ 600 milhões congelado

O aço inox é empregado na fabricação de utensílios domésticos diversos, na indústria alimentícia (tanques de leite, de cerveja), material hospitalar, escapamentos de automóveis e bens de linha branca. Segundo dados do MDIC, importações de aços inoxidáveis planos e não planos subiram de 113 mil toneladas em 2019 para 170 mil em 2022 e ficaram próximas de 160 mil toneladas no ano passado. O mercado nacional demanda cerca de 360 mil toneladas. Ou seja, um índice de penetração de quase 45%.

“A competição saudável, em bases leais de mercado, faz parte do jogo. Mas a depreciação e os artifícios de produtos chineses para tomar mercado não é uma disputa leal”, afirma Damasceno. Ele diz que a empresa teve de se esforçar para direcionar parte da produção a mercados de países da América do Sul.

Devido ao grande aumento das importações de aço, inchadas pelo material burlado, a empresa congelou um investimento de R$ 600 milhões programado para sua usina em Timóteo, no Vale do Aço, em Minas Gerais. “As medidas são um sinal positivo, mas vamos esperar para ver se vão dar resultado antes de tomar a decisão para retomada dos investimentos”, afirma o diretor.

Os recursos seriam aplicados em melhorias tecnológicas na usina e no enobrecimento do mix de produtos, com a instalação de novo equipamento de laminação a frio de aço em bobinas na usina.

Fonte: Estadão
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 18/06/2024

Indique

Reajuste de preços de pneus terá impacto no frete e inflação

A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) encaminhou ao Comitê de Alterações Tarifárias, órgão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), no último mês um pedido de aumento da tarifa de importação de pneus de carga e de passeio dos atuais 16% para 35%.

A ANIP alega um “surto de importações” de pneus de países asiáticos, principalmente originários da China, Vietnã, Malásia, Índia, Japão e Tailândia, as quais estariam prejudicando as fabricantes brasileiras de pneus associadas à ANIP. A decisão da Camex deve sair entre julho e agosto.

De acordo com a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip), a medida é temerária, pois coloca em risco empresas e empregos em um momento que o dólar está em R$ 5,43 e o frete marítimo internacional em U$$ 10 mil por contêiner, distante de sua média de U$$ 2 mil.

A Abidip diz que a tentativa de aumento de tarifa de importação "escamoteia o controle de mercado por um grupo de seis empresas estrangeiras que dominam o setor no país, caso o governo ceda à pressão desse grupo".

“A indústria nacional não tem capacidade de atender o mercado. As empresas de transporte rodoviário não estão vendo melhora na situação do país”, afirma Jean Carlos Rocha, proprietário da Elo Soluções Logísticas Integradas.

O presidente da Abidip, Ricardo Alípio da Costa, diz que os fabricantes querem forçar o reajuste de preços dos pneus importados para que eles aumentem o preço dos pneus nacionais.

“Os fabricantes já são protegidos por medidas antidumping e benefícios fiscais, mas sua sede de lucro é insaciável. Além disso, com o dólar nesse nível e os seguidos aumentos do frete marítimo sufocarão o mercado e o consumidor, que é quem paga a conta no final. O imposto de importação, base de cálculo em efeito cascata de todos os demais tributos, é o vetor que estimula ou aniquila a concorrência”, afirma

De acordo com empresários do setor de transporte, a ANIP já conta com o reajuste da tarifa de importação. Mesmo antes da decisão do governo, as empresas associadas à ANIP já anunciaram no início deste mês reajustes que vão até 5% no preço dos pneus.

O volume de importações de pneus de carga no Brasil subiu nos últimos anos. Segundo a Anip, entre 2020 e 2023, o crescimento foi de 295%, enquanto as vendas das empresas estrangeiras, que têm parte da produção no Brasil, estariam em queda.

No entanto, dos 20 maiores importadores de pneus, apenas um é distribuidor de pneus importados para o mercado de reposição. Os demais são empresas integrantes da própria ANIP, como Bridgestone, Michelin, Continental e Goodyear, além de montadoras de veículos como Fiat e BMW.

Além disso, a associação dos importadores diz que a ANIP vem trabalhando com baixa capacidade instalada. “Eles querem ter o controle do mercado sem aumentar sua capacidade de competitividade”, afirma Alípio.

De acordo com dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 65% do transporte de cargas no Brasil é feito por meio de estradas e rodovias. O mesmo estudo aponta que 67,5% das pistas estão em condições ruins, regulares ou péssimas, exigindo troca constante de pneus.

Dados da CNA mostram que o produtor brasileiro de soja gasta, hoje, para levar a produção da fazenda até o porto, em média, US$ 92/tonelada, quatro vezes mais do que na Argentina e nos Estados Unidos, por conta da deficiência da logística nacional. Esse valor representa aumento de 228% em relação à década passada, quando a quantia gasta era de US$ 28/tonelada. O custo do frete é de cerca de 30% do total do preço final do produto.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e de Carga do Estado de São Paulo (Setcesp), Adriano Depentor, diz que a possibilidade de ajuste é preocupante. “Os autônomos não têm essa capacidade de grandes negociações. As pequenas empresas também não. Causa apreensão e vamos acompanhar essa situação”, diz.

O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos e de Cargas em Geral do Estado de São Paulo, Norival de Almeida, diz que a possibilidade de aumento de imposto preocupa. “Já é difícil repassar os custos com 16%, imagina com 35%”, disse.

Fonte: Grandes Construções
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 14/06/2024