Parte significativa dos custos do setor automotivo sofre influência do dólar, assim como o IPA, Índice de Preços ao Produtor Amplo, que representa 60% da composição do IGP-M, Índice Geral de Preços – Mercado, calculado pela FGV, Fundação Getulio Vargas. Diante de uma cotação como há meses não se via, abaixo dos R$ 5, na casa de R$ 4,75, houve impacto positivo nas operações dos fabricantes de veículos e em sua cadeia.
“O câmbio trouxe certo alívio na estrutura de despesas das montadoras com relação aos custos dos fornecedores”, afirmou o economista e especialista no setor automotivo Adriano Oliveira. Um dos responsáveis foi o minério de ferro, que deflacionou 1,21% em março – ante um avanço de 5,49% nos preços em fevereiro – e contribuiu para puxar para baixo o IPA, que desacelerou de 2,36% para 2,07% nesses dois meses, e consequentemente o IGP-M, de 1,83% para 1,74%.
O arrefecimento dos preços só não foi maior devido a fatores como a disparada de combustíveis e lubrificantes, de 5,40% para 8,02% na comparação mensal, refletindo as altas do óleo diesel, de 5,53% para 8,89%, e da gasolina automotiva, de 3,49% para 6,69%.
Sendo assim, a desaceleração dos custos não chegou na ponta, ao contrário, houve um aumento da pressão, de acordo com a inflação dos bens intermediários, que compreendem componentes como aço, borracha e plástico, de 1,50% para 2,06%, e dos bens finais, onde estão as máquinas e os veículos, de 1,21% para 2,75% – o que eventualmente se traduziu em desconto ficou na conta do impacto da redução de 18,5% do IPI, em vigor desde o mês passado.
“É preciso ponderar que saímos de um dólar batendo na casa dos R$ 6 desde o início da pandemia para este de R$ 4,75, que nem a B3 soube explicar a maior entrada de dólares no País e que alguns economistas justificaram como sendo busca por juros altos e oportunidades em mercados emergentes. Discordo, pois se colocarmos nessa conta a inflação de 14% ela engole a taxa básica de 11,75% e o ganho fica negativo. De qualquer maneira, a queda é importante, mas demora a refletir de forma mais consistente depois de uma alta abrupta e que se sustentou em patamar elevado por tanto tempo.”
Adriano Oliveira
No acumulado dos 12 meses encerrados em março o IGP-M variou 14,7%, enquanto que o IPA, 16,5%. Ainda assim na comparação com o cenário de um ano atrás, o IGP-M acumulava 31,1% e, o IPA, 42,5%.
Oliveira pontuou que a matéria-prima, por ser uma commodity tem um caráter especulativo e, portanto, uma subida muito mais severa do que o seu produto semiacabado, o aço, e o mesmo ocorre quando há uma redução.
No fim do ano passado, a tonelada do minério de ferro era vendida por US$ 83 e, desde o início do ano está por volta de US$ 150. Mas a conversão em R$ 6 leva o valor real a R$ 900, enquanto que em R$ 4,75, fica R$ 712,50. Portanto, a oscilação maior se explica pelo câmbio.
Ao mesmo tempo, ao analisar o comportamento dos preços de um dos produtos oriundos do aço, o vergalhão, vê-se que a tonelada é negociada hoje a 5,1 mil yuans na bolsa de Shangai, enquanto que no fim do ano passado estava em 4,3 mil yuans.
Também houve aumento, mas em menor escala: “Cada degrau da cadeia de produção acaba absorvendo um pouco do impacto do degrau anterior, o que vai amortecendo essa oscilação que é mais natural da matéria-prima. É preciso considerar também que a indústria não compra isso em balcão”.
O especialista ponderou que dificilmente as empresas conseguem repassar toda essa variação para os clientes, até porque os contratos costumam ser pré-definidos e menos elásticos. “Do lado da demanda não vemos isso arrefecendo no mundo todo, que está em recuperação, e o Brasil não é exceção.”
Fonte: Autodata
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/04/2022
08-04-2022 Indústria e Comércio
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