Notícias

Imposto do pecado sobre extração de minérios pode prejudicar competitividade do setor

Representantes da mineração afirmam que a incidência do Imposto Seletivo sobre o setor pode diminuir a competitividade das empresas brasileiras no comércio internacional e encarecer a fabricação de bens consumidos internamente. 

Novidade do novo sistema tributário, o chamado "imposto do pecado" tem o objetivo de desestimular o consumo de produtos ou serviços que sejam considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. 

A regulamentação do tributo está prevista para ocorrer este ano, mas, no texto base que o Congresso aprovou no ano passado, há a previsão de incidência do imposto sobre a extração de recursos naturais, como é o caso dos minerais. 

Presidente da Frente Parlamentar Mista da Mineração Sustentável, o deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG) afirma que a incidência do imposto sobre o setor é um "equívoco". 

Segundo ele, o novo sistema tributário é contraditório ao propor a não oneração das exportações e, ao mesmo tempo, permitir a cobrança do IS sobre a extração de minérios, que têm participação na balança comercial brasileira.  

"Eu vejo conflito. Países da América Latina, da OCDE, do BRICS, que cobram imposto seletivo não cobram sobre a mineração, exatamente porque há esse entendimento no mercado global de não exportar impostos", explica. 

Ele diz que a experiência internacional de cobrança do imposto do pecado se dá sobre itens como cigarro e bebida alcoólica, por exemplo, ao passo em que a mineração é preservada por conta de seu papel estratégico para a economia. 

Zé Silva afirma que onerar a extração de minérios não prejudicará apenas a competitividade das empresas do setor externamente, mas as atividades econômicas que dependem dessas matérias-primas. 

"51% do aço produzido no Brasil é consumido em construção civil, indústria automobilística, bens de consumo, utilidades domésticas, ou seja, vai para o cidadão comum. Não vai onerar só o setor e tirar a competitividade. Vai criar também um problema para o cidadão, porque, no final, quem vai pagar a conta é ele", destaca. 

Lei complementar vai definir o que será taxado pelo "imposto do pecado"

Mais um tributo

O Ibram defende que o Imposto Seletivo não deveria incidir sobre a mineração porque a atividade já é tributada no país por meio da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Trata-se de um tributo que as empresas mineradoras pagam à União, aos estados e aos municípios pela exploração dos recursos minerais.  

Além disso, a entidade afirma que cobrar IS sobre os minerais vai na contramão das tendências globais de incentivo à busca por minerais críticos e estratégicos, sobretudo na chamada transição energética e economia de baixo carbono. O argumento é de que as fontes de energia limpa, como a solar, precisam desses materiais. 

"A energia solar precisa de onze elementos químicos que vem da mineração. Então, ela é importante na transição energética, na redução da dependência brasileira de fertilizantes e na produção de alimentos", completa Zé Silva. 

Articulação

Entidades representativas, especialistas e parlamentares ligados ao setor têm se reunido para elaborar propostas sobre o imposto do pecado e sua incidência na mineração. A ideia é apresentá-las ao Grupo de Trabalho do governo que está desenhando a regulamentação do imposto. 

Fonte: Brasil 61
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/02/2024

Apesar da concorrência chinesa, ArcelorMittal retoma produção em Tubarão

O início de 2024 tem sido positivo para a ArcelorMittal Tubarão. Depois de se ver obrigada - por conta da conjuntura internacional do mercado de aço - a reduzir em algo perto de 20% a produção de placas, no último trimestre de 2023, e até a cogitar o abafamento um de seus três alto-fornos, a siderúrgica voltou a trabalhar dentro da normalidade em janeiro e fevereiro. O número exato de utilização do parque não foi divulgado, apenas que a produção está "próxima da capacidade nominal". Tubarão pode produzir 7,5 milhões de toneladas de placas por ano, é a maior siderúrgica do Brasil.

Para driblar a concorrência do aço chinês aqui dentro do Brasil, a ArcelorMittal, conglomerado com atuação em todo o planeta, usou de um conhecido expediente dentro da companhia: fornecimento de placas de aço para outras unidades do próprio grupo. Tubarão conseguiu retomar a produção porque passou a vender para unidades da ArcelorMittal localizadas na América do Norte e na Europa. Algo semelhante foi feito em 2008 e 2009, em plena crise do subprime norte-americano. Sem ter para onde vender na época, Tubarão passou a fornecer placas de aço para a usina do grupo em Calvert, no Alabama, Estados Unidos.

O setor siderúrgico do Brasil, assim como o de outros países, enfrenta dificuldades por causa da baixa demanda chinesa. Além de não comprar aço, a China está mandando para fora um produto a valores bem baixos (boa parte da produção chinesa é subsidiada pelo Estado). "A empresa mantém o entendimento de que o ano de 2024 será desafiador por conta do crescimento da importação de aço estrangeiro no Brasil. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, em dezembro de 2023 a taxa de penetração das importações brasileiras de produtos siderúrgicos em aços planos atingiu 26,7%, maior índice do ano. O indicador reforça o posicionamento do setor para que o Brasil eleve a tarifa de importação para 25% (hoje está em 10%), como já adotado em outros países", informou a ArcelorMittal por meio de nota. 

Fonte: A Gazeta
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/02/2024

Minério de ferro cai à medida que estoques em alta e margens fracas do aço confundem perspectiva de demanda

Os preços futuros do minério de ferro caíram na segunda-feira, com os traders adotando uma postura cautelosa após o aumento dos estoques e as fracas margens do aço terem sido neutralizadas com esperanças de que a demanda aumentaria no principal consumidor, a China, após uma pausa de uma semana no feriado do Ano Novo Lunar.

O contrato de minério de ferro mais negociado para maio na Bolsa de Commodities de Dalian, da China, reverteu o curso do início da sessão, fechando as negociações diurnas com queda de 0,52%, a 951,5 iuanes (US$ 132,20) por tonelada.

O minério de ferro de referência para março (SZZFH4) na Bolsa de Cingapura caiu 2,91%, para US$ 127,45 a tonelada, a partir das 07h06 GMT, em parte devido ao enfraquecimento das apostas de cortes antecipados nas taxas dos EUA em meio a preços ao produtor norte-americanos mais fortes do que o esperado em janeiro.

A fraqueza no índice de referência de Singapura ocorreu depois de este ter subido mais de 3% durante as férias, quando as bolsas chinesas foram fechadas.

“Uma queda tão acentuada nos preços está fora da minha expectativa, pois pensávamos que os preços iriam se consolidar hoje; as quedas acentuadas no mercado de carvão podem ter prejudicado a confiança do mercado, arrastando também para baixo os preços do minério”, disse Cheng Peng, da Sinosteel Futures.

Os estoques de minério de ferro nos principais portos chineses pesquisados ??aumentaram 4% durante o feriado, para 136,76 milhões de toneladas em 18 de fevereiro, enquanto a lucratividade entre as usinas pesquisadas caiu para 25,54%, a menor desde meados de novembro, mostraram dados da consultoria Mysteel.

Os preços do minério de Dalian subiram no início do dia, impulsionados pela perspectiva de mais estímulos a serem implementados após o primeiro-ministro da China, Li Qiang, ter instado no domingo os departamentos sob o gabinete a trabalharem mais para aumentar a confiança e as expectativas do público, informou a mídia estatal.

Outros ingredientes siderúrgicos no DCE também registraram perdas, uma vez que o sentimento piorou depois que algumas siderúrgicas em Hebei, no norte da China, e em Shandong, no leste da China, reduziram seus preços de aquisição de coque entre 100 iuanes e 110 iuanes por tonelada a partir de segunda-feira.

Carvão coque NYMEX:ACT1! e coque (DCJcv1) caíram 4,6% e 3,2%, respectivamente.

Os benchmarks do aço na Bolsa de Futuros de Xangai foram mistos. Vergalhão caiu 1,07%, bobinas a quente caiu 0,88%, enquanto o fio-máquina (SWRcv1) adicionou 0,52% e o aço inoxidável avançou 0,55%.

 
Fonte: ADVFN
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/02/2024

 

Panatlântica ganha força para crescer na distribuição de aço com reorganização societária

Concluída a reorganização societária que envolveu cerca de R$ 500 milhões, a Panatlântica S.A., uma das maiores distribuidoras e centro de serviços de aços planos do país, pavimenta o caminho para novo ciclo de crescimento, buscando outros mercados. Com atuação concentrada na região Sul, a empresa planeja avançar mais na região Sudeste e atingir o Centro-Oeste, na rota do agronegócio.

Com a saída de dois sócios do bloco de controle, a distribuidora passou a ter como principais acionistas o empresário Raul Maselli, um dos fundadores e com longa vivência nesse negócio, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Benjamin Steinbruch. De 11,3% das ações desde 2010, a CSN passou a deter 29,9% do capital da Panatlântica e direito a assentos no conselho, além de renovar contrato exclusivo de fornecimento de aço.

Com o novo acerto societário, assinado no fim de outubro e concluído em 15 de janeiro, Maselli passou a ter o controle integral da holding L.P. Aços Participações, que agora detém 65,14% do capital total da Panatlântica. O empresário, pelo novo acordo, continuará na presidência do conselho de administração. As duas empresas firmaram um acordo de acionistas e o contrato exclusivo de fornecimento de aço, ambos pelo prazo de dez anos. 

Maselli, que começou a trabalhar com o pai Nicola aos 15 anos, na década de 1950, tem uma rica história de atuação no mercado de distribuição de aço no país. Juntos, em 1959, fundaram a Limasa S.A., que foi uma das maiores do segmento de distribuição. “Fui o primeiro cliente da Usiminas, em 1960”, diz o empresário, que, aos 88 anos, mantém uma rotina normal e diária de trabalho. Muitos anos depois, em 1974, incorporou a gaúcha Panatlântica, fundada em 1952 em Porto Alegre. Maselli foi também um dos fundadores do Inda, entidade ligada à distribuição de aços planos, e seu presidente em 1970.  

Na reorganização societária, a CSN comprou 18,61% de um dos sócios de Maselli, que detinha as ações por meio da Talavera Administração e Participação após rearranjo de saída no fim de outubro. A CSN vai desembolsar R$ 150 milhões no negócio, em seis parcelas: uma foi no ato do acordo final e cinco anuais, conforme comunicado ao mercado. O processo de reestruturação demorou nove meses. Maselli adquiriu o restante das ações na L.P. Aços, envolvendo o segundo sócio.

Maselli contou com financiamento do banco XP, da ordem de R$ 280 milhões, parcela em cinco anos, e completou pequena parte com imóveis rurais (fazendas) que tinha em conjunto com os sócios. A companhia é listada em Bolsa há quase 53 anos e adotou o nome Panatlântica S.A. em 1987. Atualmente, 4,95% das ações (a maioria preferenciais) estão no free float. O valor de mercado é de R$ 805 milhões e o patrimonial está em torno de R$ 1,2 bilhão. 

Maselli ressalta a importância de reforçar a parceria com a CSN, que vem de 2010. Diz que optou na época pela siderúrgica por ela dispor de um leque amplo de produtos siderúrgicos e por abrir as portas para a Panatlântica fazer a logística de material de terceiros. Além do mais, conta com suporte de um grande grupo. “Hoje somos o maior cliente da CSN, com cerca de 10% do aço vendido no país; contamos com mais de 2 mil clientes ativos”. Por meio da Açolog, que faz logística, chega a transportar 48 mil toneladas de aço por mês. 

Sobre a ampliação no capital da distribuidora, a siderúrgica afirmou, em nota: “O aumento da participação da CSN na Panatlântica consolida a estratégia da CSN de avançar na cadeia de valor da siderurgia, aumentando a competitividade ao reforçar seus canais de distribuição”. Atualmente, a siderúrgica atua por meio da Prada Distribuição em processamento e distribuição de aços planos e longos, atendendo os setores automotivo, de construção civil, de utilidades domésticas e de embalagens. No Sul e Nordeste, está presente como CSN Distribuição. Tem ainda uma base em Mogi das Cruzes (SP). 

Agora, afirma Rinaldi Maselli, filho que está à frente da Açolog e cuida da gestão da distribuidora junto com o empresário, a parceria permitirá discutir novas alternativas daqui para frente para a Panatlântica, reforçando sua atuação atual e abrindo outros mercados. Isso poderá envolver aquisições, fusões, novos produtos e construção de novas unidades de centros de serviços e distribuição. 

A Panatlântica tem sua principal operação em Gravataí (RS), a 25 km de Porto Alegre, para onde mudou-se em 1976. Lá montou um centro de serviços (e onde passou a ser a matriz da companhia),  considerado um dos mais amplos e mais modernos do país, ressalta o empresário. No todo, a empresa tem sete unidades operacionais, que distribui bobinas e chapas e faz perfis, telhas, tubos, painéis, entre outros itens beneficiados. Três dessas unidades estão no Rio Grande do Sul, duas em Santa Catarina, uma em São Paulo e outra, de menor porte, em Minas Gerais.

A operação de Campo Limpo Paulista (SP), na Grande São Paulo, foi adquirida da Usiminas em 2022. É uma fabricante de tubos que se encontrava fechada. A compra do ativo marcou a entrada da Panatlântica no mercado paulista. Foram feitos investimentos de modernização e expansão, ganhando capacidade de fazer até 10 mil toneladas de tubos ao mês, informa Rinaldi.

No ano passado, a distribuidora movimentou em torno de 320 mil toneladas, volume próximo das 330 mil de 2022 (de acordo com balanço financeiro daquele ano), quando também fez serviços diversos de cerca de 140 mil toneladas para empresas metal-mecânicas da região Sul. A previsão da empresa é de comercializar cerca de 10% mais neste ano, prevendo atingir ao menos 360 mil toneladas, impulsionada pela unidade de São Paulo. “Queremos voltar ao volume recorde de 2021”, afirma Raul Maselli. 

O balanço de 2023 da Panatlântica ainda não foi finalizado: está na fase final da auditoria, informam os empresários. Em 2022, a receita líquida foi de R$ 2,33 bilhões, gerando Ebitda de R$ 114,4 milhões e lucro líquido de R$ 55,7 milhões. A dívida financeira total de R$ 620 milhões era quase coberta pelo saldo de caixa de R$ 598 milhões, conforme o balanço publicado. Segundo fontes do setor, a empresa se destaca por ter alavancagem quase zero, com caixa pouco abaixo da dívida financeira bruta. 

No ano passado, todo o setor do aço no país viveu um ano difícil. As siderúrgicas e distribuidoras de aço enfrentaram aumento da competição de produto importado, recuo de vendas no mercado doméstico e queda de preços. A Panatlântica não foi exceção nesse mercado, onde disputa com concorrentes de peso. Alguns são controlados por siderúrgicas como Usiminas, ArcelorMittal, Gerdau e a própria CSN. Outros são grupos independentes, caso de Aço Cearense, Soufer, Paulifer e Açotubo.  

Na avaliação da equipe do Banco XP que participou do processo de reorganização societária, concedendo suporte financeiro aos Maselli, a operação torna a empresa mais robusta para crescimento, tendo o peso da acionista CSN. A estrutura de capital familiar ficou mais clara, afirma. E, por ser uma empresa pouco alavancada financeiramente, vão poder quitar a dívida com fluxo de dividendos. O time do Strategic Transaction Group (STG) do banco destaca dois outros pontos: a Panatlântica tem garantia de 90% de fornecimento de aço pela CSN e não pode se endividar mais que duas vezes a geração de caixa. Para a siderúrgica, acrescenta, fez todo sentido ampliar a participação acionária na distribuidora.  

Paulistano do Bom Retiro e neto de imigrantes italianos, Maselli, além dos negócio com o comércio de aço, enveredou na poesia nas suas horas vagas. Em 1988 publicou “Tarde Demais”, livro de poemas que reuniu seus escritos acumulados ao longo de muitos anos. Mas não parou por aí. “No momento, diz o empresário, há outro pronto para ser editado e um terceiro em fase de elaboração. “Ele é irrequieto. Está o tempo todo em atividade, se informando e participando de todas as decisões na empresa”, afirma Rinaldi.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/02/2024

Sucessão na Vale chega ao impasse e mostra conselho rachado

A Vale, uma das maiores empresas brasileiras e concorrente de peso entre as grandes mineradoras mundiais, vive situação inusitada para definir quem vai comandar a companhia nos próximos anos. Hoje uma reunião extraordinária do conselho de administração da mineradora terminou em impasse sobre o processo sucessório.

O Valor apurou que houve um empate na votação do conselho.

Na pauta, havia a opção de reconduzir o atual CEO, Eduardo Bartolomeo, ou de abrir processo competitivo para selecionar um executivo a partir de uma lista, com Bartolomeo nela. Esse trabalho seria feito por uma empresa especializada em recrutamento de executivos. Nesse processo, forma-se uma lista com três nomes e, a partir dela, é escolhido o nome do presidente da empresa.

O desfecho da reunião confirma um “racha” no colegiado.

De um lado estão conselheiros favoráveis à recondução do atual CEO. De outro, figuram os que preferem a abertura de um processo competitivo para selecionar um novo presidente.

De acordo com apuração do Valor, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e a Bradespar, empresa de participações do Bradesco, votaram favoráveis à abertura de um processo competitivo.

Até poucos dias atrás a Bradespar seria favorável à recondução de Bartolomeo, mas teria mudado de ideia, apurou a reportagem. Procurada, a Bradespar não retornou até o momento. O Bradesco também não se manifestou.

Fontes a par do assunto negaram, porém, a versão segundo a qual o Bradesco teria mudado de posição.

A Cosan, do empresário Rubens Ometto e que tendia a apoiar a recondução de Bartolomeo, se absteve de votar, segundo apurou o Valor. Procurada, a Cosan não se manifestou sobre o tema.

A japonesa Mitsui, por sua vez, teria apoiado a recondução do atual CEO.

O conselho da Vale é formado por 13 integrantes, sendo 12 eleitos em assembleia de acionistas e um representante pelos empregados.

Os acionistas de referência, caso de Previ, Mitsui e Cosan, têm peso, mas não decidem sozinhos. A Bradespar, que hoje tem menos de 5% da Vale, é acionista histórica da mineradora e por ser do Bradesco também tem muita influência.

Mas há um grupo de oito conselheiros considerados independentes no colegiado da mineradora cujos votos valem o mesmo dos acionistas de referência. Entre eles, há três estrangeiros e cinco brasileiros.

Entre os brasileiros, um dos independentes é Luis Guimarães, ligado a Rubens Ometto, e apontado como um possível CEO da Vale no futuro.

Os estrangeiros votaram todos pela recondução. São eles a canadense Vera Marie Inkster, o português Manuel Oliveira e o australiano Douglas Upton.

Agora caberá ao presidente do conselho da Vale, Daniel Stieler, que é indicado pela Previ, buscar uma saída para o impasse. O nó terá que ser desatado pela negociação e ela terá que envolver necessariamente Eduardo Bartolomeo.

Privatizada em 1997, a Vale se transformou em empresa sem controle acionário definido em duas etapas graduais e consecutivas, em 2017 e 2020. Se antes havia um bloco de controle coeso, formado por Previ, Bradespar, Mitsui e BNDES, que tomava as decisões sem muita discussão no conselho, a partir de 2017, no formato de “Corporation”, a situação mudou.

No governo Bolsonaro, o BNDES vendeu todas as ações que ainda detinha na Vale e a influência direta do governo na empresa passou a ser via Previ. Mas esse tipo de articulação política não é mais suficiente para conseguir interferir na empresa diretamente como ficou demonstrado no caso em que o governo tentou, sem sucesso, fazer o ex-ministro Guido Mantega presidente da mineradora.

A Vale informou hoje, em comunicado, que uma nova reunião do conselho, ainda sem data, seguirá discutindo o tema sucessório.

Será preciso esperar agora pelos próximos capítulos nessa sucessão, uma das mais complexas no mundo corporativo brasileiro recentemente.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/02/2024

Análise: Um aceno tímido do governo às siderúrgicas brasileiras

As siderúrgicas instaladas no país seguem negociando com o governo a elevação das alíquotas de importação de aço a níveis similares aos adotados pelas grandes economias globais, num esforço de proteger seus mercados da abundante oferta de produtos siderúrgicos chineses. A pretendida tarifa de 25% ainda não veio, mas Brasília deu sinais concretos nesta semana de que está atenta às dificuldades da indústria.

Na quinta-feira, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) aprovou a recomposição das tarifas de importação de cinco produtos de aço que haviam sido reduzidas em 2022. Com a medida, barras e tubos de aço importados voltam a entrar no país pagando imposto de 12% a 16%, alinhado à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, atendendo parcialmente ao pleito do setor.

Na prática, a decisão do Gecex traz pouco alívio ao setor siderúrgico e incide, considerando-se volumes de 2023, sobre 227 mil toneladas de 5,7 milhões de toneladas importadas. “[A medida] é absolutamente insuficiente. A expectativa é que se consiga colocar taxas que permitam criar isonomia e equilíbrio, porque é desleal a concorrência que estamos enfrentado. A preocupação é com o desenvolvimento industrial do Brasil”, disse ontem o presidente da Usiminas, Marcelo Chara.

A Usiminas investiu R$ 2,7 bilhões na reforma do alto-forno 3, o maior da siderúrgica, cujas operações foram retomadas há poucos dias. A primeira consequência desse movimento foi o desligamento do alto-forno 1, também em Ipatinga (MG), que era menos eficiente. Conforme Chara, a decisão também levou em conta o crescimento exponencial das importações de aço, em condições desleais de competição. No ano passado, as importações brasileiras de aço chinês saltaram cerca de 50% e podem subir outros 20% em 2024, conforme estimativa do Instituto Aço Brasil (IABr).

Na cerimônia de religamento do alto-forno 3, a Usiminas indicou que poderá tomar novas medidas drásticas para fazer frente ao avanço dos importados, e suspender as operações também no alto-forno 2. Na teleconferência para comentar os resultados financeiros de 2023, realizada ontem, Chara não voltou a abordar essa possibilidade.

O que a indústria classifica como invasão do aço chinês deixou marcas negativas não apenas na produção doméstica de aço, mas em emprego e investimentos. Entre novembro e dezembro de 2023, além da Usiminas, ao menos outras três siderúrgicas adotaram medidas duras para preservar seus negócios.

A Aperam South America, maior produtora de aço inoxidável da América Latina, suspendeu novos projetos de investimento no país, que ultrapassariam a casa de R$ 500 milhões. A Gerdau reduziu a produção em usinas e demitiu cerca de 700 trabalhadores. A ArcelorMittal adotou paradas técnicas e concedeu férias coletivas a cerca de 400 funcionários.

Embora insuficiente, o restabelecimento das alíquotas de importação para barras e tubos indica que o governo não fechou completamente as portas para a reivindicação da indústria do aço. Contudo, a forte oposição de setores que consomem aço, em particular a indústria de máquinas e equipamentos, à elevação da tarifa também está no radar das autoridades e, nesta primeira rodada de revisão de alíquotas em 2024, foi justamente esse lado que saiu mais satisfeito (ou menos insatisfeito).

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/02/2024