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Veja o que o Brasil importa e o que exporta para os Estados Unidos

Os Estados Unidos perderam em 2009 o posto de maior comprador de produtos brasileiros para a China, mas ainda continuam a ser um parceiro comercial relevante para o país: 12% das exportações brasileiras em 2024, ou US$ 40,3 bilhões, tiveram como destino a principal economia mundial.

Nas importações, o cenário é semelhante: a última vez que os Estados Unidos foram líderes das compras brasileiras foi em 2017. Em 2024, o Brasil importou US$ 40,6 bilhões, ou 15,5% do total.

A corrente bilateral de comércio (soma de importações e exportações) entre Brasil e EUA foi de US$ 80,9 bilhões em 2024, alta de 8,2% ante 2023. É o segundo maior valor da série, abaixo apenas de 2022 (US$ 88,7 bilhões). Os EUA seguem como segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.

As exportações brasileiras aos EUA cresceram de maneira disseminada em todos os setores em 2024: indústria de transformação (5,8%), extrativa (21,1%) e agropecuária (36,9%). Em todos os casos, os desempenhos foram superiores aos observados nas vendas do Brasil para o mundo: 2,7% para indústria de transformação, 2,4% para extrativa e -11% para agropecuária.

O Brasil, assim como o resto do mundo, está à espera dos decretos do presidente americano, Donald Trump, impondo tarifas às importações dos EUA de produtos e países diversos. O Brasil não tende a ser um alvo preferencial, como a China, até porque sua balança com os EUA é superavitária para os americanos. Mas esse superávit é cada vez menor, e Trump pode querer barganhar vantagens para setores específicos, como aconteceu com o aço no seu primeiro mandato.

No fim do ano passado, Trump prometeu retaliar países como Brasil e Índia pelas tarifas impostas a produtos americanos. Já nesta segunda-feira (20), após sua posse, o presidente americano afirmou que o Brasil e a América Latina precisam "mais dos EUA do que os EUA precisam deles". "Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós", respondeu Trump após ser questionado sobre se iria falar com o presidente Lula e como seria a relação com o Brasil e com a América Latina.

 

Exportação

O principal produto exportado pelo Brasil para os EUA é o petróleo. Foram US$ 5,8 bilhões, valor que só fica abaixo dos US$ 20 bilhões vendidos para a China no ano passado.

Em segundo lugar estão os produtos semimanufaturados de ferro ou aço, com vendas somando US$ 2,8 bilhões. Os EUA são disparados os maiores clientes, com o Canadá em segundo lugar, com US$ 238 milhões.

Os aviões foram em 2024 o terceiro produto mais comprado pelos americanos no Brasil: US$ 2,4 bilhões. Mais uma vez, a participação americana é muito maior que a dos demais. O segundo maior importador de aeronaves brasileiras em 2024 foi o Canadá, com as compras totalizando US$ 497 milhões.

Uma das novidades na lista de importações dos Estados Unidos foi o ingresso da carne bovina congelada entre os dez primeiros colocados (US$ 883 milhões). A liderança desse produto foi da China em 2024, com US$ 6 bilhões.

O ranking dos principais produtos vendidos pelo Brasil aos Estados Unidos conta ainda com itens como sumos de frutos, café e pastas químicas de madeira.

 

Importação

Do lado da importação, o produto mais vendido pelos americanos para o Brasil em 2024 foram turborreatores (US$ 6,2 bilhões). O principal destino delas foi a cidade de Petrópolis, no Rio, que abriga unidade da americana GE. Gavião Peixoto, em São Paulo, está em segundo lugar. O município é uma das bases da Embraer.

O grupo formado por óleo diesel e nafta para petroquímica está em segundo lugar nas compras brasileiras dos Estados Unidos, com US$ 4 bilhões.

O terceiro lugar é do grupo liderado pelo gás natural liquefeito (GNL, usado como combustível em veículos, indústrias e em estufas de secagem). Esse ramo foi responsável por importação brasileira de US$ 2,2 bilhões.

Os dez primeiros colocados nas vendas dos EUA para o Brasil contam com produtos como petróleo, aeronaves, medicamentos e sangue.
 
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 23/01/2025

 

Com Trump, EUA podem limitar compra de carnes, sucos e siderúrgicos do Brasil, diz FGV/Icomex

A promessa de elevação de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve aumentar as restrições para as exportações brasileiras não apenas de produtos siderúrgicos, mas possivelmente também de sucos e de carnes. A avaliação é do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado nesta quarta-feira, 22, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

"Nesse cenário, além de produtos de siderurgia, lobbies protecionistas podem demandar restrições para sucos e carne. No caso de petróleo, não é claro se a promessa de aumentar a exploração do petróleo no território dos Estados Unidos será acompanhada de restrições, pois o preço aumentaria. A imprevisibilidade de Trump cria um cenário desfavorável para as transações comerciais", apontou a FGV.

No ano passado, as principais commodities brasileiras exportadas para os Estados Unidos foram: o petróleo bruto (participação de 14% no total das exportações brasileiras para o país); semimanufaturados de ferro ou aço (8,8%); café (4,7%); óleos combustíveis (4,3%); celulose (4,2%); ferro gusa (4,4%); sucos (3%) e carne (2,3%).

A FGV lembra que o governo Trump ainda não anunciou o pacote de tarifas de importações, mas uma elevação tem potencial para pressionar a inflação e valorizar o dólar. Para o Brasil, um eventual tarifaço americano poderia "trazer mais dificuldades" para o controle da inflação e da desvalorização do real ante o dólar.

"Ademais, como já mencionado, a imprevisibilidade do presidente Trump em relação à questão do pacote tarifário traz custos para o comércio internacional. Quanto à China, é preciso esperar para observar quais serão as medidas protecionistas que além de tarifas devem incluir restrições às empresas", observou a FGV.

A balança comercial brasileira encerrou o ano de 2024 com um superávit de US$ 74,6 bilhões, ante um saldo positivo de US$ 98,9 bilhões em 2023. O superávit mais brando foi resultado de um recuo de 0,8% no valor exportado acompanhado de um aumento de 9,0% no valor importado. O volume exportado cresceu 2,8% em 2024 ante 2023, enquanto os preços caíram 3,4%. Já o volume importado aumentou 15,8% em 2024 ante 2023, enquanto os preços encolheram 5,8%.

Na passagem de 2023 para 2024, o volume exportado pela indústria extrativa cresceu 6,8%, o da indústria da transformação avançou 3,2%, e o da agropecuária caiu 1,4%. O volume importado da agropecuária cresceu 31,6% em 2024, o da indústria de transformação aumentou 16,3%, e o das extrativas expandiu 5,9%.

"O aumento no volume importado de máquinas e equipamentos e de bens intermediários na indústria de transformação comparado com os resultados para a agropecuária atesta a melhora do desempenho da indústria, em 2024", ressaltou a FGV.

Fonte: Notícias ao Minuto
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 23/01/2025

 

Mesmo com desafios, novo governo Trump também abre oportunidades ao Brasil

O primeiro dia do novo mandato do presidente americano Donald Trump deu a letra de como serão os próximos quatro anos nos Estados Unidos: uma administração mais voltada para as questões internas e impondo barreiras tarifárias às demais nações. Ainda que o Brasil possa ser afetado com a mudança de gestão, especialistas ouvidos pelo Valor avaliam que o país pode ficar de fora das primeiras levas das novas tributações e pode até mesmo se beneficiar do novo cenário.

O momento ainda é de incerteza, já que Trump ainda não assinou nenhuma ordem presidencial definindo as sobretaxas que o republicano promete desde a campanha à Casa Branca. Nesta segunda-feira, o ato do presidente americano para a área comercial externa direciona apenas as agências federais para estudar as relações dos EUA com a China e com os vizinhos do continente americano.

“Em princípio, [Trump] torna o cenário internacional mais hostil, mais imprevisível. Mas, ao mesmo tempo, abre oportunidades também”, pontua Oliver Stuenkel, professor da FGV e pesquisador-visitante da Kennedy School da Universidade Harvard.

Na visão do especialista, o novo governo Trump terá uma atuação americana mais transacional, menos comprometida com o sistema multilateral e com o combate às mudanças climáticas — o que pode sim, diz Stuenkel, complicar o Brasil. Contudo, o professor aponta que há espaço para o país se sobressair.

“O Brasil está muito bem posicionado para resistir a essas posturas mais agressivas do Trump. Também não está na primeira linha de fogo, ou seja, está um pouco longe do radar dele, o que é algo positivo. O Brasil tem laços fortes com a Europa e com a China, além de ter potencial de ampliar as relações com seus vizinhos, com a Índia e com o Oriente Médio”, afirma.

A avaliação da diretora do Brazil Institute no Woodrow Wilson Center em Washington, Bruna Santos, vai ao encontro do professor da FGV. A especialista em relações internacionais avalia que na política internacional o Brasil é visto como um “parceiro importante em algumas agendas”.

Entretanto, Santos acredita que é necessário que o Brasil tenha mais “clareza na definição dos contornos". Para a diretora, para manter sua posição, o país deve identificar prioridades estratégicas, manter um posicionamento coerente, reconhecer capacidades e limites reais, equilibrar interesses domésticos e internacionais, e comunicar-se de maneira transparente com parceiros globais.

Segundo o cientista político Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência brasileira, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dado indicativos de que seguirá o caminho para manter um posicionamento estratégico diplomático, inclusive com os Estados Unidos.

“O Brasil tem três caminhos a adotar na relação com a administração Trump 2.0: o pragmatismo, o distanciamento ou o antagonismo. Isso depende muito de como o Trump irá traçar a sua estratégia para o Brasil. O governo brasileiro tem dado demonstrações de boa vontade e inclinações claras pelo pragmatismo. Contudo, isso precisa ser correspondido”, afirma Kalout.

O ex-secretário continua: “Há uma relação profunda de interdependência econômico-comercial e interesses estratégicos mútuos. O Brasil não é inimigo e tampouco é adversário dos EUA nas relações internacionais”.

O presidente da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), Abrão Neto, reforça o argumento de Kalout ao destacar que o comércio bilateral é “muito favorável” tanto para os brasileiros como para os americanos. “Nós tivemos, em 2024, o recorde das vendas brasileiras de bens industriais para os Estados Unidos, mais de US$ 31 bilhões, o que consolidou o país como o principal mercado de exportações brasileiras de bens industriais”, diz.

Sobre as promessas do presidente Trump de revisar a política comercial americana, Neto ressalta que, embora o tema seja uma prioridade para empresas que mantêm comércio com os EUA, ainda é cedo para avaliar o impacto de possíveis tarifas.

“Para se fazer uma avaliação dos principais setores que poderiam ser afetados, é importante aguardar a definição do formato e do conteúdo dessas medidas”, diz. Ele observa que os EUA é um dos parceiros comerciais com os quais o Brasil tem a maior diversificação setorial, desde o setor siderúrgico, máquinas e aeronaves até celulose, café, carne e suco de laranja.

Apesar das incertezas, Neto é otimista sobre a possibilidade de um diálogo construtivo entre os dois países. “Nossa avaliação e expectativa é que se tenha um espaço para discussões entre os dois governos, buscando uma solução negociada. Há diversos mecanismos bilaterais consolidados entre Brasil e Estados Unidos para se discutir questões comerciais”, diz.

Feliciano Guimarães, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, avalia que os principais alvos de Trump no momento são China, México e Canadá, com quem os Estados Unidos têm os maiores déficits. Segundo o especialista, o presidente americano tem vários instrumentos à mão para aplicar tarifas, desde a lei de comércio de 1974 e as mudanças feitas nela depois, até mecanismos de emergência econômica — sendo um deles o tamanho do déficit comercial com outros países. “Se o déficit for muito alto, Trump pode aplicar o instrumento, e o déficit que os americanos têm com a China, com o México e com o Canadá é muito alto”, afirma.

Já o Brasil, diz o professor da USP, é um dos poucos países do mundo com os quais os americanos têm um superávit. “Foi um pequeno superávit comercial esse ano, mas ainda assim é um superávit. Isso diminui o incentivo para o governo americano aplicar tarifas contra setores específicos brasileiros, mas os mais sensíveis são os de aço e de motores”.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 22/01/2025

Indústria manufatureira da China consome maior parcela de aço em 2024

A proporção de aço usado na indústria manufatureira da China aumentou para 50% em 2024, ante 42% em 2020, disse Yao Lin, chefe da Associação de Ferro e Aço da China, em uma conferência nesta segunda-feira.

Impulsionadas pela crescente demanda por aço nos setores de nova energia e nova infraestrutura, as siderúrgicas melhoraram seus portfólios de produtos e aumentaram seu desenvolvimento e produção de peças siderúrgicas especiais e de ponta, disse Yao.

Olhando para 2025, espera-se que a demanda por aço no setor manufatureiro continue crescendo, impulsionada em parte por renovações de equipamentos em larga escala e substituição de bens de consumo, de acordo com Yao.

Observando que a demanda por aço de alta resistência em setores como máquinas de construção e equipamentos de mineração deve se recuperar em 2025, Yao enfatizou a necessidade de aprofundar os mecanismos de cooperação entre os produtores de aço e as principais indústrias derivadas, incluindo construção civil, construção naval e transporte.

Fonte: Xinhua Newswire
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/01/2025

 

Protecionismo de Trump vai afetar Brasil, alertam especialistas

Com discurso protecionista na cerimônia de posse, o novo presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou expectativas de que pretende taxar o comércio com outros países. Especialistas avaliam que novas tarifas aplicadas sobre importações americanas podem afetar o Brasil, como ocorreu no primeiro mandato do republicano. Dizem, no entanto, ser cedo para saber o tamanho do impacto.

Questionado por repórter da TV Globo sobre se falaria com o presidente Lula e como seria a relação com o Brasil e a América Latina, Trump respondeu ontem que são os brasileiros que precisam da economia americana. “A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós”, afirmou enquanto assinava decretos.

Pouco antes, em seu discurso, havia dito que reformará o sistema comercial dos EUA e que vai “impor tarifas e tributos sobre países estrangeiros para enriquecer os cidadãos americanos”. Na avaliação do ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador em Washington Rubens Ricupero, é possível que o Brasil sinta os efeitos das futuras sobretaxas a curto prazo.

“No primeiro mandato, Trump aplicou tarifas às exportações brasileiras de aço e alumínio. Então, não seria surpresa se renovasse isso”, afirma Ricupero. “[As medidas] terão repercussões internacionais muito graves, por causa da importância da economia americana no mundo. Precisamos ver qual o impacto que isso vai ter. Qual vai ser a dimensão das tarifas que ele vai adotar e quais produtos vão ser visados”.

Segundo o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, que foi chefe da diplomacia em Washington, mesmo que Trump não tome medida diretamente direcionada ao Brasil, o país poderá ser afetado com eventuais ações que o americano promete contra a China no âmbito comercial. Para ele, os efeitos colaterais podem se dar sobretudo no setor agrícola - maior mercado entre Brasil e o gigante asiático.
“Trump disse que vai à China nos próximos dias. A gente não sabe o que eles vão combinar. Na área agrícola, o Brasil tem os próprios canais de exportação. Não estamos competindo com os americanos diretamente, eles têm os deles. Agora, se os EUA implicarem com quem exporta para a China, aí indiretamente o Brasil pode ser afetado”, disse Barbosa.

O Brasil é um dos países com os quais os EUA têm superávit comercial - o que, em tese, deixaria o país fora das novas tributações. Os primeiros afetados seriam, avalia Barbosa, aqueles que estejam exportando mais para os americanos e que, na perspectiva de Trump, “estejam causando problemas para a indústria americana”.

Ainda assim, segundo Ricupero, o governo brasileiro terá que ter cautela para evitar desgastes, tanto com os EUA quanto nos Brics. Trump já ameaçou sobretaxar os países do grupo se avançarem nas negociações por alternativas ao dólar nas transações comerciais. “Quando houver a reunião de Cúpula do Brics, tenho a impressão que o Brasil vai tomar cuidado e não voltar a falar em moeda comum. Vai haver prudência para evitar atritos [com os EUA]”, diz Ricupero. O encontro dos líderes do bloco está marcado para julho deste ano, no Brasil.

Sob outra ótica, uma política dura do presidente americano também pode abrir caminho para negociações comerciais do Brasil com México e Canadá. É o que diz Welber Barral, sócio da BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior. “A instabilidade comercial que Trump pode provocar é ruim para o mundo inteiro, sem dúvida. Mas o Mercosul tem negociação com o Canadá que está mais ou menos parada, e existe também uma negociação Brasil-México para expandir o acordo bilateral. Eventualmente, essa situação pode levar os dois países a ter mais interesse nessas negociações”, diz.

O acordo Brasil-México, diz Barral, é antigo e trata principalmente do setor automotivo. “Existe uma proposta de expansão, para inclusão de mais produtos, mas um dos obstáculos é o protecionismo mexicano em relação à sua agricultura”, afirma o ex-secretário.

 
A diretora do Brazil Institute, no Woodrow Wilson Center, em Washington, Bruna Santos, também aponta que, mesmo com os embates entre EUA e China, retaliações comerciais americanas ao gigante asiático também podem ser uma oportunidade para o Brasil. O mesmo pode ocorrer, diz, se Pequim decidir reagir a Washington. “Mais uma vez a gente vê o quanto no tema competição global entre China e EUA o Brasil acaba se beneficiando”, afirma.

Para o ex-chanceler Aloysio Nunes, que estava à frente do Itamaraty na primeira gestão Trump, independentemente do que acontecer em relação às políticas comerciais americanas, o Brasil deverá manter o pragmatismo e buscar pontos de convergência. É necessário, diz, encontrar pontos em que “as agendas se somam” para não haver desgaste ainda maior entre os dois países.

“A relação dos EUA com o Brasil é uma relação de interesse recíproco e está baseada não apenas em 200 anos de história, mas em laços econômicos concretos. Portanto, não é algo que possa ser simplesmente tratado no plano meramente ideológico. É preciso levar em conta a realidade”, afirma Nunes.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 21/01/2025

 

Posse de Trump: quais setores devem ganhar e perder com as políticas do republicano

A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (20), gera grandes expectativas para o mercado sobre os efeitos de suas políticas na economia global, com atenção especial para o Brasil. Especialistas ouvidos pelo InfoMoney projetam 12 setores brasileiros que devem ser impactados diretamente pelas propostas econômicas do republicano.

Eles apontam que enquanto algumas empresas se beneficiam de políticas protecionistas e valorização do dólar, outras enfrentam empecilhos com o aumento dos custos e a pressão sobre suas margens de lucro. A adaptação do mercado a essas mudanças, segundo os especialistas, será determinante para garantir a competitividade no novo cenário internacional nos próximos quatro anos.

O setor de aço, por exemplo, já sente os efeitos das propostas de Trump, que prevê aumentos nas tarifas sobre produtos importados, inclusive o aço. Empresas brasileiras como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) podem ser impactadas negativamente, com o risco de perda de competitividade no mercado americano. Já a Gerdau (GGBR4), que tem uma forte presença nos Estados Unidos, pode se beneficiar de um aumento na demanda interna por aço, favorecida pelas políticas protecionistas de Trump.

O analista Felipe Papini, da One Investimentos, alerta que empresas dependentes de insumos importados ou com dívidas em moeda estrangeira são as mais vulneráveis a esse cenário. Entre elas estão os varejistas Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), que podem ver suas margens de lucro pressionadas devido à alta do dólar. A valorização da moeda americana, além de aumentar o custo das importações, também encarece o pagamento de dívidas em dólar, fator que afeta diretamente essas empresas.

O aumento no preço do dólar também pode afetar negativamente o setor de aviação. Com o aumento do custo do querosene de aviação, cotado em dólar, empresas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), diz ele, enfrentam uma pressão adicional sobre seus custos operacionais. Além disso, a possível alta nos preços das passagens aéreas para cobrir esses custos pode reduzir a demanda.

Quem deve se dar bem

Nem todos os setores do Brasil estão em risco, observam os especialistas. O agronegócio, por exemplo, tende a se beneficiar com a posse de Trump.

Segundo relatório da XP Investimentos da época da eleição, setores de exportação de commodities, como o agronegócio, tendem a se beneficiar com a vitória de Trump. Esse segmento foi favorecido durante a guerra comercial com a China em sua presidência anterior, quando a demanda chinesa se voltou ao mercado brasileiro como alternativa aos produtos americanos. A lista da XP inclui empresas como SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3), que podem observar aumento na demanda por grãos brasileiros.

João Piccioni, analista da Empiricus Gestão, também aponta que as tarifas mais altas sobre os produtos chineses podem afetar o mercado americano, mas a demanda da China por produtos como soja e carne pode crescer, abrindo novas oportunidades para os exportadores brasileiros, citando também SLC Agrícola e BrasilAgro entre as que podem se beneficiar com o aumento da demanda por commodities.

Outro setor que deve aproveitar o cenário de alta do dólar é o de exportação de commodities, como petróleo. A Petrobras (PETR4) se encontra em uma posição favorável, já que grande parte de sua receita vem da exportação de petróleo, que é cotado em dólares. No entanto, a política energética de Trump pode gerar volatilidade. Enquanto as políticas de estímulo à produção de petróleo nos EUA podem aumentar a oferta global e pressionar os preços para baixo, as empresas exportadoras brasileiras podem ser beneficiadas pela alta do dólar.

A Braskem (BRKM5), por sua vez, com suas operações nos Estados Unidos e estrutura de receita em dólar, é vista como uma das empresas que mais pode se beneficiar da alta do câmbio. Seu posicionamento no mercado global de petroquímicos permite uma proteção contra as pressões das tarifas protecionistas, além de ter custos mais baixos em reais.

Oportunidades e riscos

Por outro lado, o setor industrial brasileiro, com empresas dependentes de insumos importados, pode sentir uma pressão maior. Rafael Weber, estrategista de ações da RJI Investimentos, diz que setores como alimentos e vestuário, que dependem de matérias-primas dolarizadas, enfrentam dificuldades. Empresas como a Intelbras (INTB3), por exemplo, que depende de componentes eletrônicos importados, podem sofrer com o aumento dos custos de produção.

O setor financeiro brasileiro também deve sentir os impactos das políticas de Trump. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha os juros elevados por mais tempo, com o aumento da inflação nos Estados Unidos. Isso atrairia investidores para ativos americanos, tornando os mercados emergentes, como o Brasil, menos atraentes. Com o fluxo de capital externo diminuindo, o valor do real tende a cair frente ao dólar, tornando mais difícil a gestão de ativos para empresas com dívidas em moeda estrangeira.

Em relação ao setor de energia, a Petrobras pode ter um alívio momentâneo com o fortalecimento do dólar. Porém, o aumento da produção interna de petróleo nos Estados Unidos pode gerar uma pressão sobre os preços globais. Assim, a empresa brasileira precisaria ajustar suas estratégias para manter sua competitividade no mercado internacional, uma vez que a margem de lucro pode ser reduzida se os preços do petróleo caírem.

O analista Jeff Patzlaff, especialista em investimentos, também aponta que a política energética de Trump, que favorece o setor de óleo e gás nos EUA, pode trazer oportunidades e riscos para o Brasil. Embora a Petrobras possa se beneficiar inicialmente da alta do petróleo, a maior produção americana pode aumentar a oferta global, pressionando os preços e afetando as margens de lucro.

Além disso, o aumento das tarifas comerciais propostas por Trump deve afetar diretamente as exportações brasileiras de produtos agrícolas, especialmente se os Estados Unidos implementarem barreiras mais severas. No entanto, o aumento da demanda por commodities brasileiras por parte de mercados como a China pode compensar essa perda de competitividade.

Patzlaff diz que, no setor de consumo interno, o aumento dos custos operacionais devido à alta do dólar torna as varejistas vulneráveis porque a inflação gerada pela valorização da moeda americana pode reduzir o poder de compra do consumidor, prejudicando as vendas no mercado interno e afetando a rentabilidade dessas empresas.

Enquanto isso, empresas do setor de tecnologia, como WEG (WEGE3), podem se beneficiar com a valorização do dólar, uma vez que suas operações internacionais proporcionam uma vantagem cambial. A Embraer (EMBR3), com forte presença global, também está bem posicionada para tirar proveito das condições favoráveis, com sua receita predominantemente em dólar.

O mercado de commodities também tende a se beneficiar da valorização da moeda americana, com empresas exportadoras como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) se beneficiando da alta do dólar. Essas empresas possuem operações globais que ajudam a mitigar os impactos das flutuações cambiais.

No entanto, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode elevar os custos de financiamento para empresas brasileiras endividadas em dólares, o que aumenta ainda mais a pressão sobre setores vulneráveis, como o varejo. Por isso, empresas como Lojas Renner e Magazine Luiza precisam considerar alternativas para mitigar os riscos, como a utilização de hedge cambial e a renegociação de dívidas.

Outro cenário

Com a perspectiva do novo governo Trump, muitas análises indicam um fortalecimento do dólar, o que poderia resultar em um enfraquecimento do real. Mas Paulo Feldmann, professor da Fia Business School, discorda dessa visão. Para ele, embora um fortalecimento inicial da moeda americana seja possível, as políticas implementadas por Trump podem gerar problemas para os Estados Unidos. A restrição à imigração, por exemplo, poderia aumentar os custos com mão de obra, o que impactaria a produção e geraria inflação.

Além disso, a postura desrespeitosa de Trump em relação a diversas instituições norte-americanas, segundo Feldmann, poderia gerar instabilidade interna, afetando negativamente a confiança na moeda americana.

Em relação às tarifas que Trump prometeu durante a campanha, o professor acredita que não haverá um tarifaço tão expressivo como muitos imaginam. Embora as tarifas sejam uma ameaça para países como a China, que pode reagir com a desvalorização do yuan, esse movimento pode neutralizar o impacto das medidas.

Empresas beneficiadas

Agronegócio e commodities

SLC Agrícola (SLCE3): beneficiada pela possível alta da demanda por produtos agrícolas devido às tarifas mais altas sobre produtos chineses.
BrasilAgro (AGRO3): aumento da demanda por soja e carne pode favorecer os exportadores brasileiros.
Petrobras (PETR4): beneficiada pela alta do dólar, já que parte de sua receita vem da exportação de petróleo.
Braskem (BRKM5): aumento da demanda por petroquímicos e sua receita em dólar favorecem a empresa.

Tecnologia e exportação

WEG (WEGE3): a valorização do dólar pode beneficiar empresas com operações internacionais como a WEG.
Embraer (EMBR3): beneficiada pela valorização do dólar, com forte presença global e receita predominantemente em dólar.
Suzano (SUZB3): a valorização da moeda americana favorece empresas exportadoras de commodities como a Suzano.
Klabin (KLBN11): operações globais ajudam a mitigar os impactos das flutuações cambiais.

Empresas que correm riscos

Setor de aço

CSN (CSNA3): pode ser impactada negativamente pelas tarifas de Trump, afetando sua competitividade no mercado americano.
Usiminas (USIM5): enfrenta risco de perda de competitividade devido às políticas protecionistas dos EUA.

Varejo

Lojas Renner (LREN3): pode sofrer pressão sobre as margens de lucro devido à alta do dólar, que aumenta o custo das importações e o pagamento de dívidas em dólar.
Magazine Luiza (MGLU3): enfrenta os mesmos desafios que Lojas Renner com o aumento do custo das importações e da dívida em dólar.

Setor de Aviação

Gol (GOLL4): pode enfrentar uma pressão adicional sobre seus custos operacionais devido ao aumento do preço do querosene de aviação cotado em dólar.
Azul (AZUL4): também enfrenta os mesmos problemas de aumento de custos com o querosene de aviação.

Setor industrial e financeiro

Intelbras (INTB3): pode ser impactada pela alta nos custos de componentes eletrônicos importados.
Setor financeiro: empresas com dívidas em moeda estrangeira podem enfrentar desafios com a alta do dólar, tornando mais difícil a gestão de ativos.

Outros impactos

Petrobras: apesar do alívio momentâneo com a alta do dólar, pode enfrentar volatilidade no setor de energia com o aumento da produção interna de petróleo nos EUA, que pode pressionar os preços globais.
Fluxo de capital externo: o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode diminuir o apetite por ativos emergentes, tornando o mercado brasileiro menos atraente. Isso afetaria o valor do real e tornaria mais difícil para empresas brasileiras com dívidas em dólar gerenciar seus custos.

Fonte: Infomoney
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 21/01/2025