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Lingote, tarugo, semiacabado, bobina, entenda como o aço é feito

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas contra todo tipo de aço que entra no país, inclusive aqueles produzidos no Brasil. Como reportado pela Folha nos últimos dias, o mercado americano é o maior comprador internacional de aço semiacabado das siderúrgicas brasileiras.

Mas como acontece a produção de aço e o que significa termos como "semiacabado", "placas" e "bobinas"? A Folha explica abaixo.

A principal matéria-prima do aço é o minério de ferro (no Brasil, encontrado majoritariamente em Minas Gerais e no Pará). Após extraído e beneficiado (aumento do teor), esse minério é enviado para siderúrgicas, que o colocam em um forno junto com calcário, em um processo chamado "sinterização".

Paralelamente, as siderúrgicas aquecem carvão mineral ou vegetal para produzir coque, que atua como agente redutor do minério de ferro sinterizado. Tanto o coque quanto o minério de ferro sinterizado vão para os alto-fornos, onde é produzido ferro-gusa. Após essa produção, as siderúrgicas injetam oxigênio ao ferro-gusa no forno e produzem aço.

Em seguida, o aço –ainda em seu estado líquido– é refinado. É nesse momento em que as siderúrgicas optam por colocar outros metais no aço para deixá-lo mais resistente, como nióbio e manganês.

Após essa mistura, o aço líquido é solidificado de forma contínua em moldes. O resultado desse procedimento são produtos de aço semiacabados, como blocos, tarugos e placas. Já quando a solidificação acontece em um molde fixo, o produto é chamado de lingote.

Esse tipo de aço é o produto mais vendido pelas siderúrgicas brasileiras ao exterior, mas as empresas também têm expertise para seguir na cadeia e fabricar produtos para o mercado interno. As exportações, geralmente, são de semiacabados porque os produtos posteriores da cadeia são feitos a partir dos pedidos dos clientes e, por isso, têm formatos menos padronizados, o que dificulta seu transporte.

Nesse caso, após a produção dos semiacabados, o aço é reaquecido e laminado, passando entre uma série de pares de cilindros. Esse processo reduz a espessura do aço, melhora as suas propriedades mecânicas e o acabamento superficial.

Os resultados desse processo são hastes, barras, seções, chapas e bobinas –esse último bastante usado pela indústria automobilística.

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/02/2025

ArcelorMittal: É cedo para avaliar impactos da tarifa de 25% imposta pelos EUA contra aço e alumínio

A ArcelorMittal divulgou um comunicado afirmando que considera que é cedo para avaliar os impactos da decisão do governo dos Estados Unidos de elevar para 25% a tarifa sobre a importação de aço.

A posição da empresa, que atua no setor siderúrgico, vem em um momento de crescente tensão comercial, à medida que o presidente Donald Trump reforça sua política protecionista para fortalecer a indústria doméstica.

A taxação pode afetar exportadores de diversos países, incluindo o Brasil, que é um dos principais fornecedores de aço para o mercado americano. “Medida semelhante foi anunciada pelos Estados Unidos em 2018 e, posteriormente, ajustada para o regime de ‘hard quota’ após negociação com o governo brasileiro, atendendo aos interesses tanto das produtoras de aço brasileiras quanto das americanas”, disse a empresa em nota.

O desafio do Brasil é mostrar ao governo americano que o aço brasileiro desempenha um papel complementar na indústria americana. A empresa diz confiar que Brasil e Estados Unidos encontrarão uma solução que seja benéfica para ambos os lados, levando em consideração a cadeia de suprimentos complementar que existe entre os dois países.

“Importante reforçar que a ArcelorMittal defende a adoção da ‘hard quota’ pelo governo brasileiro contra a concorrência desleal do aço importado no país. A empresa esclarece que o plano de investimentos no Brasil está mantido e nenhum dos projetos tem como foco o mercado norte-americano.”

O termo “hard quota” refere-se a um limite para a importação de um determinado produto, sem a possibilidade de flexibilização, como taxas adicionais ou ajustes conforme a demanda. Analistas do mercado, no entanto, têm dito que a multinacional pode ser afetada pela provável aplicação de tarifa, já que tem usinas no Brasil.

Fonte: Bloomberg News
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/02/2025

Tarifas dos EUA sobre aço impactarão cadeia global, diz associação chinesa

A Associação de Ferro e Aço da China disse que o aumento para 25% nas tarifas sobre as exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos terá um impacto adverso na cadeia de suprimentos da indústria siderúrgica global, incluindo a chinesa, informou a emissora estatal China Central Television nesta quinta-feira (13).

O presidente dos EUA, Donald Trump, elevou substancialmente as tarifas sobre as importações de aço e alumínio na segunda-feira (10) para 25% “sem exceções ou isenções”, em uma medida que ele espera que ajude o setor em seu país, mas que também pode desencadear uma guerra comercial de várias frentes.

“No curto prazo, o impacto sobre as exportações de aço da China é limitado. No entanto, a longo prazo, os Estados Unidos podem levar outros países a seguir o exemplo, reduzindo assim a competitividade das exportações de aço da China”, disse a associação.

A China exportou 508.000 toneladas líquidas de aço para os EUA no ano passado, ou 1,8% do total das importações norte-americanas de aço.

Zhang Longqiang, vice-secretário-geral da Associação de Ferro e Aço da China, disse que se opõe firmemente ao aumento das tarifas e disse que não é propício ao “comércio saudável e justo e à concorrência no mercado”.

“No médio e longo prazo, o aumento das tarifas terá um impacto adverso na cadeia industrial e na cadeia de suprimentos da indústria siderúrgica global, incluindo a indústria siderúrgica da China”, disse ele.

Embora a China exporte apenas pequenos volumes de aço para os EUA, o país é responsável por grande parte do excesso de capacidade de aço do mundo, de acordo com Washington.

Os EUA dizem que a produção subsidiada na China força outros países a exportar mais e leva ao transbordo do aço chinês através de outros países para os EUA para evitar tarifas e outras restrições comerciais.

Fonte: CNN
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/02/2025

Indique para um amigo do mercado

Fazenda vê "impacto limitado" de tarifas americanas sobre o aço. Efeito pode ser maior na cadeia metalúrgica

O Ministério da Fazenda avalia que as tarifas de importação sobre ferro, aço e alumínio impostas pelos Estados Unidos devem ter um "impacto limitado nas exportações brasileiras, se efetivamente implementadas".

Em relatório divulgado nesta quinta-feira (13), a Secretaria de Política Econômica da Fazenda explica que "as exportações brasileiras de produtos de ferro, aço e alumínio para os Estados Unidos corresponderam a apenas 1,9% do valor total exportado pelo Brasil em 2024".

Essas vendas, no entanto, representaram 40,8% de todo o valor de ferro, aço e alumínio exportado pelo país.

Por isso, a pasta reconheceu que os impactos podem ser limitados no valor total de exportações e no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, mas devem ser "relevantes na indústria de metalurgia".

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Por isso, receberam 12% de todo o valor exportado pelo país em 2024. E essas vendas foram limitadas a "alguns produtos, como petróleo, derivados de ferro e aço e aeronaves e peças", segundo a Fazenda.

Governo aposta no diálogo

A Secretaria de Política Econômica da Fazenda lembrou, por sua vez, que esse impacto só será sentido se as tarifas forem "efetivamente implementadas".

O governo brasileiro ainda não respondeu formalmente à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para 25% as tarifas americanas de importação de aço e alumínio, além de cancelar isenções e cotas de importação que favoreciam grandes fornecedores do produto, como o Brasil.

Segundo auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil não vai entrar em uma guerra comercial, mas procurar os Estados Unidos para negociar a questão.

Na quarta-feira (12), o vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou que "o caminho é o diálogo". Segundo ele, o reestabelecimento de cotas seria uma forma de o Brasil driblar os efeitos das tarifas.

Vale lembrar, no entanto, que o tarifaço de Trump não vai se limitar ao setor da metalurgia. O presidente dos Estados Unidos prometeu anunciar nesta quinta-feira (13) tarifas recíprocas. Ou seja, cobrar taxas iguais às que outros países impõem aos produtos americanos. A medida deve atingir diversos países, inclusive o Brasil.

Além disso, o diretor global de Relações Internacionais da Raízen (RAIZ4), Paulo Macedo, teria alertado o governo brasileiro sobre a possibilidade de o governo americano elevar as tarifas sobre o etanol.

Outros impactos

A Fazenda reconheceu, então, que a elevação das tarifas de importação americanas pode ter efeitos secundários na economia brasileira, como a alta do dólar e a redução da demanda chinesa por commodities.

Em relatório, a Secretaria de Política Econômica disse que a medida "tende a elevar a aversão global ao risco, contribuindo para o fortalecimento do dólar". Logo, "traz riscos para o cenário de atividade global resiliente e para o processo de desinflação".

"Se o saldo líquido das medidas de proteção tarifária levarem à alta na curva de juros americana e a maior inflação nos Estados Unidos, a perspectiva de flexibilização monetária e resiliência do crescimento global em 2024 tende a ser prejudicada, com potencial de afetar principalmente economias emergentes", afirmou.

Outro risco apontado pela pasta é a "desaceleração mais acentuada da economia chinesa" e a consequente redução da demanda chinesa por commodities, o que também poderia afetar as exportações brasileiras.

PIB em desaceleração

Vale ressaltar que a Fazenda já trabalha com a hipótese de desaceleração do crescimento econômico brasileiro neste ano de 2025.

A pasta calcula que o PIB do Brasil avançou 3,5% em 2024, mas crescerá 2,3% em 2025. A projeção para este ano era de 2,5%, mas foi reduzida nesta quinta-feira (13) devido ao aumento da Selic e ao cenário externo.

Além disso, a expectativa é de que a inflação continue acima da meta em 2025, em razão do dólaralto e do ritmo aquecido da atividade econômica.

A projeção do governo é de uma alta de 4,8% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2025. A meta de inflação, no entanto, é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Fonte: Investidor 10
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/02/2025

 

Entenda como o fenômeno La Niña pode impactar a construção e mineração brasileira

Já nos acostumamos a ouvir sobre o El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico que afeta o clima global. Mas há também o La Niña, de resfriamento das águas, que ocorre mais espaçadamente, em intervalos de dois a sete anos, alterando padrões de ventos, regime de chuvas e médias de temperaturas. Tudo isso impacta fortemente diversos setores da economia, incluindo a construção e mineração. Saiba mais no artigo a seguir, do Engenharia 360!

O que é La Niña?

O La Niña deixa as temperaturas da superfície do Oceano Pacífico mais frias do que a média. Vamos falar do Brasil? Por aqui, o fenômeno costuma provocar um aumento das chuvas na região Norte e Nordeste e um período mais seco no Sul durante o verão. Especialmente agora, entre 2024 e 2025, nosso país está sob o efeito do La Niña Modoki, uma variação do fenômeno que já trouxe chuvas intensas na primavera e vem apresentando uma redução na precipitação durante o verão.

 

Os impactos do La Niña na construção

A construção civil é uma área da engenharia bastante sensível às mudanças climáticas - não à toa é um dos setores da economia que mais vem sentindo os impactos do aquecimento global. Durante períodos de intensa precipitação, as obras ao ar livre geralmente precisam ser paralisadas, já que as chuvas prolongadas impedem a execução de serviços essenciais, como terraplenagem, concretagem e alvenaria.

Insumos como cimento, areia e gesso podem se perder se ficarem expostos à umidade excessiva, resultando em prejuízos financeiros. Terrenos inclinados, ainda sem o devido tratamento, podem desmoronar, impactando as estruturas de fundações. E as condições gerais de trabalho ficam arriscadas devido à incidência de raios durante as tempestades, exigindo medidas mais rigorosas de segurança.

Os impactos do La Niña na mineração

A mineração é outro setor da economia muito afetado com as mudanças climáticas, pois depende demais das condições ambientais. O excesso de chuvas compromete a segurança nas minas a céu aberto, alaga galerias subterrâneas - que podem desabar - e dificulta a extração de minérios. Aliás, a própria qualidade de minérios extraídos (como ferro e bauxita) é afetada, tendo a sua pureza reduzida - sem contar o valor de mercado. Ademais, rodovias e ferrovias utilizadas para o escoamento da produção podem acabar danificadas.

A saber, no Brasil, os estados do Pará e Minas Gerais são os que concentram a maior parte dos trabalhos de mineração e são justamente os que mais sentem os efeitos das chuvas intensas do La Niña.

As soluções para mitigar os efeitos do La Niña

Apesar dos desafios impostos pelo La Niña, algumas medidas podem minimizar seus impactos na mineração e construção civil:

Monitoramento meteorológico: Utilizar sistemas avançados de previsão do tempo, como o SMAC (Sistema de Monitoramento e Alerta Climatempo), pode ajudar empresas a se prepararem para condições climáticas extremas.
Drenagem eficiente: Investir em sistemas de drenagem adequados evita o acúmulo de água e reduz o risco de alagamentos e erosão.
Planejamento flexível: Adaptar os cronogramas de obras para priorizar atividades que possam ser realizadas em períodos de estiagem pode reduzir atrasos.
Treinamento de segurança: Garantir que os trabalhadores saibam como agir em situações de risco, como tempestades com raios e deslizamentos, é essencial para evitar acidentes.

Monitoramento meteorológico

Para que a indústria consiga se preparar para futuras mudanças no clima, o jeito é acompanhar em tempo real os alertas do Sistema de Monitoramento e Alerta Climatempo (SMAC). Isso pelo menos ajuda a minimizar os riscos para colaboradores e otimiza o planejamento de operações.

Como dissemos anteriormente, os efeitos esperados para o La Niña é chuva forte no Norte e Nordeste, beneficiando certas culturas agrícolas, mas danificando algumas infraestruturas. Já no Centro-Sul, eventos extremos ocorrem com mais frequência, como granizo; e no Sul há menos chuva - ainda que haja eventos pontuais de chuva forte por conta da complexidade das interações atmosféricas. O período mais crítico para as tempestades é entre outubro e março, com a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Fonte: Engenharia 360
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 14/02/2025

 

Mais severa, taxação ao aço pelos EUA pode incluir novos itens

Mais agressiva do que a tarifa sobre aço e alumínio estabelecida em 2018, a nova medida de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem como alvo um número maior de países, atingindo até mesmo os países fronteiriços, pode incluir novos itens na lista de derivados de aço sujeitos à tarifa de 25% e promete ser mais severa na fiscalização das importações americanas, obrigando as empresas do setor a suportar maiores custos de conformidade.

Especialistas apontam que o melhor caminho para o Brasil é a negociação diplomática até 12 de março, quando as medidas entram em vigor. Na incerteza do que acontece até lá, escritórios de advocacia têm recomendado tentar antecipar exportações de modo que a mercadoria chegue à aduana americana antes da vigência da nova tarifa, além de uma revisão das estratégias de exportação e cadeias de suprimento para identificar riscos e evitar interrupções quando a medida entrar em vigor.

Embora não tenham sido uma surpresa, as tarifas de Trump sobre aço e alumínio são vistas por especialistas com preocupação, porque podem ser o início de medidas que irão se espalhar a outros produtos e setores, afetando preços e com risco de deflagrar uma onda de taxações.

Em março de 2018, Trump colocou tarifa de 25% para aço e de 10% no alumínio, mas a medida não atingiu o México nem o Canadá e foi dada alternativa de negociação a alguns países. O Brasil conseguiu entrar em uma lista de exceção e negociou cotas.

William Roberto Crestani, sócio da área de comércio internacional do Pinheiro Neto Advogados, lembra que houve várias negociações de lá para cá. A medida de 2018, diz, teve alterações. Houve uma tentativa de tirar as cotas de alguns países, inclusive do Brasil, já em 2019, mas houve nova negociação. Em 2020, reduziu-se a cota que tinha para certos países, o Brasil entre eles. Somente em 2022, na gestão de Joe Biden, alguns ajustes foram feitos, lembra.

"É uma medida horizontal e ainda está em aberto como será aplicada”
— Felipe Rainato

Para as novas medidas de Trump, o melhor caminho ainda é a via diplomática, diz Crestani. “Existem poucos mecanismos jurídicos do ponto de vista da Organização Mundial do Comércio [OMC]. As regras gerais permitem aumento de até 35% das tarifas de importações e o órgão de soluções de controvérsia da OMC não tem funcionando muito bem.”

Enquanto isso, diz, a recomendação para as empresas do setor é, se possível, adiantar embarques para fevereiro, para que o produto chegue na aduana americana antes de 12 de março. O escritório, observa, também tem recomendado que as empresas levem ao Itamaraty dados sobre o setor que possam auxiliar na negociação diplomática com o governo americano. Os efeitos, lembra Crestani, são muito heterogêneos sobre as indústrias do setor, porque nem todas são atuantes da mesma forma na exportação.

O transporte de aço do Brasil para os EUA leva de 10 a 12 dias, mas a estratégia de antecipar embarques deve levar em consideração as cotas que estão em vigor, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A proclamação de Trump estabelece o fim do acordo de cotas com o Brasil a partir de 12 de março e encerra todos os acordos alternativos concedidos anteriormente a Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido. Todas as importações de aço e de produtos derivados de aço provenientes desses países voltam a ficar sujeitas à tarifa adicional de 25%.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio do escritório Barral Parente Pinheiro, destaca que a nova ordem permite a expansão da lista de derivados de aço sujeitos à tarifa de 25%. Segundo a proclamação, além de incluir os artigos de aço que já estavam sobretaxados anteriormente por outras medidas, incluindo a de março de 2018, o novo processo deverá permitir a ampliação da lista a pedido de um produtor do setor ou uma associação industrial que indiquem que as importações de algum derivado de aço aumentaram de maneira que “ameaça prejudicar a segurança nacional”.

A proclamação, diz Barral, também revoga o processo que permitia isenção de tarifa caso não houvesse produção em quantidade ou qualidade suficientes nos EUA. Com isso, diz Barral, Trump “zera” todas as negociações feitas pelo Brasil em relação ao aço, tornando necessários novos acordos.

Os Estados Unidos também prometem intensificar a fiscalização. Segundo a proclamação, serão aplicadas penalidades máximas para importações que tentem contornar ou evadir as tarifas. Entre as medidas que prometem maior escrutínio nas importações americanas, Barral destaca o “Melt and Pour” [Derreter e Despejar], critério que já existe para determinar a origem do aço e que deve ser aplicado com maior rigor pelos Estados Unidos.

O termo “melt and pour” refere-se ao local em que o aço é efetivamente derretido a partir de matérias-primas ou sucata e em que se dá o vazamento em sua forma primária. Por exemplo, lingotes ou blocos. Esse processo inicial de produção é o que determina a origem efetiva do aço, independentemente de quaisquer estágios adicionais de processamento ou acabamento em outro país.

Para Barral, essa fiscalização que foca na origem da matéria-prima e no local de derretimento do aço não afeta diretamente o fornecimento de países como o Brasil, que detêm a cadeia toda do aço, desde o minério de ferro. A medida, porém, deve afetar o México, que desta vez não ficou isento da tarifa de 25%. “O Brasil, porém, deve ser afetado de forma indireta porque será preciso ter novas medidas de compliance para fazer frente ao reforço do controle aduaneiro, o que requer certificações e outros documentos que devem elevar o custo.”

Para Felipe Rainato, advogado e gerente da área de comércio internacional do escritório Hondatar, essa é uma medida que deve afetar o Brasil independentemente do que o Itamaraty conseguir na negociação com Trump para amenizar a tarifa de 25%. “É uma medida horizontal e ainda está em aberto como será aplicada. Eles podem exigir, por exemplo, que uma autoridade certificadora no Brasil siga critérios extremamente rígidos.”

Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), diz que a medida de Trump não surpreende. Para ele, deve haver uma negociação do Brasil com os Estados Unidos porque a tarifa afeta muito a indústria americana que não é produtora de aço e que tem o aço e produtos derivados como insumos.

É difícil saber, diz, se a nova negociação trará situação mais desvantajosa ao Brasil no aço. “Trump deu um tiro geral para derrubar o sistema anterior. Isso deve levar a uma renegociação e não sabemos onde as coisas vão pousar. Mas a questão é que agora foram o aço e o alumínio. Qual será o próximo produto? No caso do aço, 15% do que entra nos Estados Unidos vem do Brasil. Não somos irrelevantes nesse setor. Mas pode haver outros segmentos onde tomamos um tiro do geral, uma bala perdida, e não temos tanta margem de negociação. Hoje não somente os setores que exportam de maneira significativa aos Estados Unidos devem ficar com pé atrás.”

Rainato, do Hondatar, diz que uma medida como a de Trump no caso do aço pode resultar em excedentes nas cadeias produtivas. “O Brasil pode ter excesso de produção e não pode ter muito como escoar essa produção. Esse é um mercado com margens na origem muito estreitas e num cenário de excesso de estoque ou com falta de escoamento de produção, as empresas privadas sofrem muito na formação do preço, porque não conseguem colocar uma margem minimamente adequada para sustentar a operação.” A produção chinesa de aço, porém, observa, pode ter condições de oferecer preços acessíveis. “Essa é uma das principais preocupações do Brasil.”

Para Ribeiro, a medida de Trump mostra que há risco de encadeamento de tarifas, num caso em que um país tenta se defender do deslocamento de exportações causado pela dificuldade de um segundo país de entrar em um determinado mercado que elevou suas tarifas. “Esse é um perigo e não acontece rapidamente. Podemos chegar num equilíbrio em que começam a sobrar produtos no mundo e aí as indústrias locais começam a querer se proteger.”

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/02/2025