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Desligamento temporário da Usiminas indica mercado difícil, diz BTG

As perspectivas não parecem favoráveis para o mercado da Usiminas (Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais), que definiu pela diminuição da sua capacidade produtiva, visando reduzir custos e melhorar a competitividade.

Em comunicado ao mercado, a empresa anunciou o desligamento temporário do Alto-Forno 1 da Usina de Ipatinga assim que o Alto-Forno 3 chegar a um ritmo pré-estabelecido de produção, o que tende a se dar no curto prazo, segundo a empresa.

Depois do anúncio, em relatório divulgado aos clientes e ao mercado, o BTG afirma que o desligamento da capacidade era esperado, mas que a medida indica que as condições do mercado estão difíceis.

Segundo os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, a indústria siderúrgica local sofre com a alta da concorrência externa. Além disso, os analistas mencionam “o baixo poder de fixação de preços e uma política mais branda”.

Os analistas mencionam ainda que a medida pode ter sido tomada para chamar atenção sobre uma eventual necessidade de elevar as tarifas de importação sobre os produtos de fora.

O BTG tem recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 8. Às 13h41 (de Brasília), as ações PNA da Usiminas recuavam 0,12%, a R$ 8,49.

 
Fonte: Poder 360
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/12/2023

Número de barragens em situação de emergência cai pela metade, aponta ANM

Em 2023, o número de barragens em situação de emergência cadastradas na Agência Nacional de Mineração (ANM) caiu praticamente pela metade neste ano, chegando a 32 estruturas, ante 62 no fim do ano passado. Das estruturas avaliadas, 31 estão em Minas Gerais.

A ANM possui 911 barragens cadastradas no país. Os números foram apresentados em reunião à Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig).

Três barragens permaneceram em nível 3 de emergência, quando o rompimento é considerado iminente ou em curso. Todas ficam em Minas Gerais. Duas delas pertencem à Vale: Forquilha III, em Itabirito (MG), e Sul Superior, Barão de Cocais (MG). A outra barragem em nível 3 de emergência é a barragem da Mina de Serra Azul em Itatiaiuçu (MG), da ArcelorMittal.

A Vale informou que 20 barragens da empresa possuem algum nível de emergência, mas isso não constitui necessariamente alto risco de rompimento. Em relação às barragens em nível 3 de emergência, a Valeafirmou que a zona de autossalvamento (ZAS) dessas duas estruturas já foram evacuadas preventivamente e as duas barragens contam com estruturas de contenção à jusante com declarações de condição de estabilidade “vigentes e aptas a cumprirem seu propósito de proteger as pessoas e o meio ambiente em caso de rompimento”.

Segundo a Vale, as estruturas das duas barragens estão em processo de eliminação. “A barragem Sul Superior está em obras, em fase de remoção dos rejeitos do reservatório. A conclusão da descaracterização da estrutura está prevista para 2029. A Barragem Forquilhas III está em fase de desenvolvimento da engenharia, com obras previstas para serem finalizadas em 2035”.

Ainda de acordo com a mineradora, todas as barragens de rejeito a montante — mesmo modelo das barragens de Fundão, em Mariana (MG), e de Brumadinho (MG), que se romperam em 2015 e 2019, respectivamente — estão inativas. A Vale se comprometeu a eliminar suas 30 barragens a montante até 2035. Até o momento, 13 estruturas foram completamente descaracterizadas.

“Desde 2019, foram investidos cerca de R$ 7 bilhões no programa de descaracterização. A previsão é não ter nenhuma estrutura em condição crítica de segurança (nível de emergência 3) até 2025”, acrescentou a mineradora.

A Vale informou ainda que desde o ano passado 11 estruturas da mineradora deixaram o nível de emergência, graças à adoção de medidas de segurança.

A ArcelorMittal, por sua vez, informou que a barragem da Mina de Serra Azul está desativada e não recebe rejeitos desde 2012. Segundo a companhia, todos os indicadores de segurança da barragem seguem inalterados desde o acionamento do plano de ação de emergência de barragens de mineração (PAEBM), em fevereiro de 2019.

A ArcelorMittal acrescentou que as obras da estrutura de contenção a Jusante - uma barreira instalada para reter o rejeito na hipótese de rompimento da barragem - estão em curso e devem ser concluídas em setembro de 2025.

Essa estrutura permitirá fazer a descaracterização da barragem, que será a retirada de todo o material contido em seu interior e seu desmonte. Além disso, a estrutura deve garantir a segurança do Sistema Rio Manso, já que está dimensionada para conter 100% dos rejeitos.

Essa estrutura, segundo a ArcelorMital, está sendo construída com tubos de aço cravados no solo juntamente com enrocamento (pedra de mão). “Esse modelo foi escolhido com base em rigorosas normas, melhores práticas na área e pensando na mitigação de impactos ambientais, redução do número de empregados na obra e garantia de segurança de todos os envolvidos”, informou a empresa.

A ANM possui uma plataforma de monitoramento em tempo real do nível de emergência e dano potencial de cada barragem. De acordo com a agência, as barragens em nível três são vistoriadas presencialmente a cada três meses.

O consultor de Desenvolvimento Econômico e Institucional da Amig, Waldir Salvador, ressaltou que houve melhora no monitoramento das barragens, graças a uma ação do Ministério Público Federal, que obrigou o governo federal a equipar a agência para fazer uma fiscalização mais efetiva. Recentemente, a agência recebeu mais 25 servidores para fazer a fiscalização das estruturas.

“Os municípios estão razoavelmente tranquilos porque agora há de fato um monitoramento”, disse Salvador. O executivo criticou, no entanto, a falta de recursos da ANM para realizar todas as atividades. Ele observou que o repasse da Cfem, por exemplo, era para ter sido feito no dia 5 aos municípios, mas está atrasado. Também há atrasos nos processos de novas outorgas, pesquisa e lavra de minas. A ANM, por lei, deveria ter 2,1 mil servidores, mas opera hoje com um terço desse número. Os servidores da agência têm remuneração 46% menor que os das outras agências. A instituição também possui um passivo de cerca de R$ 20 bilhões em autuações não avaliadas pelo colegiado por falta de pessoal, entre outros problemas.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/12/2023

Futuro em pauta na COP 28: “A sociedade não vai se desenvolver sem o aço”, diz Mauricio Metz, diretor industrial da Gerdau

Mal pousou em Dubai, sede da COP28, Mauricio Metz, diretor industrial da Gerdau, tinha a agenda tomada de reuniões, participação em painéis importantes para o setor e uma viagem ao Emirado vizinho, Abu Dhabi, para um evento sobre novas tecnologias envolvendo o celebrado hidrogênio. A transição energética – tema que mobiliza a maior e mais importante reunião de clima da ONU – tem sido chave nos planos de negócio da companhia líder em produção de aço no Brasil, que busca estar na vanguarda quando o assunto é produção com baixa emissão de carbono do aço, metal essencial para a indústria e onipresente na vida moderna.

Atualmente, a companhia possui uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa, da ordem de 0,86 toneladas de CO2e por tonelada de aço, segundo dados de 2022 da World Steel Association. Isso representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 toneladas de CO2e por tonelada de aço. A busca por eficiência e fontes alternativas de energia garantem, por tabela, a redução da pegada de carbono da empresa: em 2031, as emissões da Gerdau devem diminuir para 0,83 t de Co2e por tonelada de aço. Para 2050, a aspiração é de ser carbono neutra.

Uma projeção positiva que deve se consolidar ao mesmo tempo que a empresa crescerá seu negócio, na esteira da expansão do consumo nacional de aço – que deverá dobrar em 10 anos –, e da própria transição energética mundial, que exigirá mais metal para produzir novas linhas de transmissão, torres eólicas, painéis solares e outras tecnologias para as mais diversas atividades da economia verde.

“O consumo per capita de aço no Brasil hoje é de 120 kg/ano. Em países mais desenvolvidos, chega a 1 tonelada por pessoa ao ano. A sociedade não vai se desenvolver sem o aço”, afirmou o executivo durante um painel sobre descarbonização promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) no sempre movimentado stand da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), na Blue Zone da COP28. Com mais de duas décadas de atuação na Gerdau, Maurício tem, nos últimos dois anos, focado na construção de um “roadmap” para o futuro combinando tecnologia e sustentabilidade que entregue crescimento com menor impacto.

Além da rota primária de produção desse recurso, a partir do minério de ferro, o aço também é produzido via produção secundária, que utiliza basicamente sucata. Maior recicladora da América Latina, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: 71% do aço que produz é feito a partir desse material. Anualmente, 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em produtos da empresa. “Utilizar mais sucata é uma alavanca para recircular a economia e reduz a pegada de carbono da produção de aço. Mas outra alavanca importante e onde também estamos bem posicionados é no acesso à energia limpa”, diz.

Sucata pós-petróleo

Com a transição energética necessária para o mundo combater a emergência climática, gigantescas estruturas que servem à atual indústria de petróleo precisarão ser descomissionadas e recicladas levando em conta a cartilha da boa gestão ambiental. Após vencer, em julho, a licitação para desmantelamento e reciclagem verde da plataforma de petróleo P-32, da Petrobras, que operava no campo de Marlim, na Bacia de Campos (RJ), a siderúrgica também venceu no final de novembro o leilão para o desmantelamento sustentável da plataforma P-33.

Com a sucata metálica, a Gerdau produzirá aço enquanto outros materiais não metálicos serão descartados corretamente. “Isso é reduzir emissões na veia”, afirma Metz, ressaltando que a empresa tem trabalhado com instituições representativas, como os governos, para facilitar ao máximo e desburocratizar esse processo e sua logística, que gera emprego, movimenta a economia e ajuda a reduzir o risco de passivo ambiental associado ao setor petroleiro.

Fonte: Época
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 12/12/2023

MG: Ouro Preto é a cidade com maior número de barragens de rejeitos em risco do país

Atraindo uma média de 500 mil turistas por ano para suas ladeiras e distritos bucólicos, segundo dados do Ministério do Turismo, Ouro Preto é considerada a principal cidade histórica do Brasil. Entretanto, o que muitos destes visitantes não sabem é que cachoeiras que refrescam seus passeios e até alguns bens tombados que os transportam ao passado são ameaçados todos os dias pelo grande número de barragens de minério existentes na região, impactando a vida de quem vive ali e precisa conviver com o medo, a poeira e a destruição de seus bens naturais. A cidade é a com maior número de estruturas de rejeitos com algum nível de alerta, o pior cenário do país. 

O medo e apreensão devem continuar fazendo parte da vida de quem vive abaixo destas barragens por ao menos mais uma década. Isso porque, segundo as empresas, a previsão é que a eliminação das estruturas dure pelo menos até 2035. Em 2019, uma lei obrigou a descaracterização de todas essas barragens, porém, ao fim do prazo (em 2022), apenas 10 delas tinha sido desmontadas, de acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Até dezembro de 2023, existiam 15 barragens desmanchadas e 39 que ainda passavam pelo processo.

Um levantamento feito por O TEMPO no Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração (SIGBM), da Agência Nacional de Mineração (ANM), indicou que, em dezembro de 2023, existiam 51 barragens com algum nível de alerta em Minas Gerais, sendo que 26 delas sequer têm a estabilidade comprovada pelas empresas. Em todo o Brasil são 88 barragens sob algum alerta, ou seja, Minas tem quase 60% de todas as barragens que demandam alguma atenção do país.

As barragens com algum nível de risco estão distribuídas em 16 municípios mineiros, porém Ouro Preto é a cidade que aparece no topo do ranking negativo, com dez barragens sob risco, sendo cinco delas nos dois níveis de emergência mais altos (2 e 3). Além disso, seis destas barragens não tiveram a estabilidade comprovada pelas empresas. 

De todas as estruturas em “alerta” em território mineiro, 28 pertencem à mineradora Vale, considerada uma das maiores do mundo. Para se ter ideia, a segunda mineradora com mais barragens sob algum nível de alerta é a Emicon, com quatro estruturas, todas nos níveis mais baixos. 

Para explicar como funcionam esses níveis de alerta das barragens, o engenheiro hidráulico e especialista nessas estruturas Carlos Barreira Martinez as compara ao corpo humano. “Quando você fala que a barragem está em Nível de Alerta, isso significa que ela inspira cuidados, segurança. Já no nível 1, indica que ela está com um problema que pode trazer uma dor de cabeça enorme, mas ainda não tem que retirar a população”, detalha. 

Quando esse “problema inicial” sofre uma piora, é acionado então o Nível 2, fase em que as empresas passam a ser obrigadas a fazer simulados, colocar um plano de evacuação em ação e a fazer o acionamento de sirenes. Já o nível 3, ainda segundo o especialista, “é um desastre” em andamento. 

“Se eu puder fazer uma comparação para que o pessoal possa entender, o Nível de Emergência é quando os exames apontam alguma alteração. O nível 1 já é quando você sente dor no peito, passando para o nível 2 quando ela se torna tão forte, tão incômoda, que você fala: ‘olha, eu vou ter que ir para o hospital’. Já o nível 3 seria quando você está indo para a mesa de cirurgia”, exemplifica o professor.

Richard Guerra, vice-presidente do Instituto Guaicuy, entidade que luta pela revitalização da bacia do rio das Velhas – que, por sinal, nasce em Ouro Preto -, explica que são várias as barragens preocupantes no município, mas, talvez, o caso mais grave seja do complexo da Mina de Fábrica, onde existem cinco barragens e um dique em diferentes níveis de emergência, sendo uma delas no mais alto de todos. 

O vice-presidente do Guaicuy também cita a barragem Doutor, da Vale, localizada no distrito de Antônio Pereira, que fica a 25 quilômetros de Ouro Preto. A estrutura já esteve em nível 2 de emergência e, após o início das obras de descomissionamento, passou para o nível 1. Em caso de rompimento, além de atingir imóveis no distrito, que já teve diversas famílias removidas de suas casas, a lama tomaria conta da Cachoeira do Pinguela, de um sítio arqueológico chamado “Fazenda Gualaxo”, e, até mesmo, da Ermida (capela) de Nossa Senhora Aparecida de Bento Rodrigues, distrito que seria engolido pelos rejeitos pela segunda vez.

Até mesmo o novo Bento Rodrigues, reconstruído pela fundação Renova após a destruição do distrito de Mariana, poderia ser afetado pelo rompimento, já que uma das estradas que dá acesso ao local poderia ser soterrada.

Três barragens no nível mais alto

Entre as 51 barragens em nível de alerta, as três que estão com maior risco (nível 3) são a Sul Superior, localizada em Barão de Cocais, e a Forquilha III, em Ouro Preto, ambas da Vale. A terceira estrutura em pior estado é a barragem da Mina de Serra Azul, da ArcelorMittal, localizada em Itatiaiuçu. Todas as cidades estão na região Central de Minas Gerais, no chamado “Quadrilátero Ferrífero”.

Para Martinez, o grande número de barragens sob alerta é consequência da velocidade que a atividade minerária tem avançado em Minas. “Toda obra de engenharia a gente sabe que vai haver um risco, o problema é que eles estão muito altos. E isso ocorre porque o processo de mineração está sendo muito rápido, nós estamos tirando muito minério. A quantidade de resíduo que é gerado da mineração é muito elevado, portanto, o risco cada vez mais alto. A questão é que a atividade minerária é necessária, ela cria empregos, e tudo que a gente olha em volta é feito a partir de processo de mineração, ou quase tudo. O problema é que a gente tem que fazer direito”, conclui o especialista.

Procurada pela reportagem, a ANM informou, por nota, que atualmente a sua Superintendência de Segurança de Barragens de Mineração conta com 76 fiscais “dedicados exclusivamente à segurança de barragens e distribuídos em cinco unidades”. “A ANM divulga em seu site os boletins mensais que tratam das vistorias realizadas e alterações no cadastro de barragens. De janeiro a novembro deste ano a equipe realizou 340 vistorias”, completou o órgão.

Por fim, o órgão federal destacou ainda que a importância do SIGBM – sistema que foi usado por O TEMPO para fazer este balanço da situação atual das barragens de Minas Gerais. “O compromisso com a transparência de informações pela agência, corroborado pelo SIGBM, é um incentivo para que os empreendedores se comprometam com a segurança das barragens”, concluiu a ANM.

Previsão de verão “muito chuvoso” é preocupante

Ainda conforme Martinez, a população que vive abaixo destas barragens deve ficar atenta durante o período chuvoso, especialmente após as fortes ondas de calor que atingiram a região Sudeste neste ano. “Temos a possibilidade de ter um verão muito chuvoso. Pode ser que não, mas há uma perspectiva e, se isso acontecer, essa é uma situação para as pessoas ficarem preocupadas, atentas”, alerta.

À medida que as chuvas se intesificam, a água penetra e enchaca o solo, chegando até as barragens de rejeito. Com isso, segundo Julio Cesar Nery Ferreira, engenheiro de minas e Diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), aumenta-se o volume e o consequente transbordamento, que pode danificar a “parede” das estruturas e levar a um rompimento.

O meteorologista Lizandro Gemiacki, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que a teoria das mudanças climáticas, discutida desde os anos 90, alerta que, com a temperatura global aumentando, o mundo vai experimentar eventos extremos, o que já vem ocorrendo nos últimos anos, com ondas de frio e calor muito intensas.

“O que é mais provável de acontecer, quando a gente tiver temperaturas mais altas, é uma maior frequência de eventos extremos, portanto, chuvas mais intensas e em um menor período de tempo, alternando com secas mais intensas”, completou o especialista.

Risco ao abastecimento de BH e região

Não são apenas os moradores das regiões mais próximas destas barragens que podem ser afetados. Assim como o rompimento de Brumadinho afetou o abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte ao contaminar o rio Paraopeba, de onde era retirada boa parte da água que alimenta a região, essas 51 barragens colocam em risco inúmeros rios do Estado.

A barragem da Mina de Serra Azul, em Itatiaiuçu, por exemplo, que se encontra no nível mais alto de emergência, poderia atingir o reservatório Rio Manso, o maior da Grande BH e que abastece grande parte das cidades. Além disso, segundo o vice-presidente do Instituto Guaicuy, Ronald Guerra, a bacia do rio das Velhas também é fortemente ameaçada por estas estruturas.

“O rio Itabirito, da bacia do Rio das Velhas, está na região do complexo de Fábrica, onde a gente tem as Forquilhas, que são cinco barragens e um dique em níveis diferentes de segurança. Essas barragens estão com reparo por equipamentos remotos, em processo de descomissionamento”, detalha.

Segundo Guerra, o rompimento dessas e outras estruturas da região poderia causar um dano muito grande na chamada cabeceira do Rio das Velhas, que nasce em Ouro Preto. “Cerca de 60% do abastecimento da região metropolitana é correlacionado com a bacia do rio das Velhas. Então existe um risco muito grande para a segurança hídrica, o impacto pode ser muito grande”, pontua.

Respostas

Procurada pela reportagem de O TEMPO, a Vale informou, por nota, que vem aprimorando a gestão de suas barragens, “realizando uma profunda análise técnica do histórico e das condições atuais e de performance de cada uma das suas estruturas”.

“Como resultado desse avanço contínuo, 11 estruturas da empresa deixaram o nível de emergência desde o início de 2022, tendo a sua estabilidade atestada. É importante reforçar ainda que apenas duas barragens da empresa estão em nível 3 de emergência: as barragens Sul Superior, em Barão de Cocais, e Forquilhas III, em Itabirito. A Zona de Autossalvamento (ZAS) dessas duas estruturas já foram evacuadas preventivamente e as duas barragens contam com suas respectivas Estruturas de Contenção a Jusante (ECJs) com Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) vigentes e aptas a cumprirem seu propósito de proteger as pessoas e o meio ambiente em caso de rompimento”, completou a empresa.

A mineradora afirma ainda que monitora todas suas estruturas 24h, sete dias por semana. Questionada sobre o descomissionamento de suas barragens a montante, a Vale explicou que se comprometeu a eliminar as 30 estruturas existentes até 2035.

“Até o momento, 13 estruturas foram completamente descaracterizadas, o que equivale a mais de 40% do total. Desde 2019, foram investidos cerca de R$ 6,2 bilhões no Programa de Descaracterização. A previsão é não ter nenhuma estrutura em condição crítica de segurança (nível de emergência 3) até 2025”, detalha.

Já a mineradora ArcelorMittal, responsável pela barragem de Itatiaiuçu, detalhou que a estrutura está desativada e não recebe rejeitos desde 2012, sendo acompanhada 24h por dia desde 2019.

“Em relação à descaracterização, a empresa informa que as obras da Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), que é uma grande barreira com capacidade para reter todo o rejeito na hipótese de rompimento da barragem, estão em curso e tem previsão de conclusão em setembro de 2025. Essa estrutura permitirá o início dos trabalhos de descaracterização da barragem, que será a retirada de todo o material contido em seu interior e seu desmonte”, explicou.

Já sobre a ameaça ao sistema Rio Manso, que abastece a Grande BH, a empresa argumentou que a construção da estrutura de contenção vista, justamente, garantir a segurança do reservatório, já que conteria 100% dos rejeitos.

A reportagem também tentou contato com a Emicon, mas, até a publicação, a empresa ainda não tinha se manifestado.

Fonte: O Tempo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 12/12/2023

O Brasil na era das terras raras, por Luís Nassif

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos,  essenciais para a produção de uma ampla gama de produtos tecnológicos, como:

– Eletrônicos: Os ímãs de terras raras são essenciais para a fabricação de dispositivos eletrônicos, como celulares, computadores e TV’s.

– Aeroespacial: As terras raras são usadas na fabricação de motores de aeronaves, foguetes e satélites,

– Automotivo: As terras raras são usadas na fabricação de catalisadores, motores elétricos e baterias.

– Energia: As terras raras são usadas na fabricação de turbinas eólicas, painéis solares e conversores de energia.

O Brasil tem grandes jazidas de terras raras, sendo o segundo maior detentor de reservas mundiais, ao lado do Vietnã. As principais jazidas brasileiras estão localizadas em:

– Areias monazíticas do litoral

– Jazidas próximas a vulcões extintos, como Poços de Caldas

– Elevado Rio Grande, em pleno mar.

As principais terras raras encontradas no Brasil são:

Lutécio: O lúteo é um elemento químico utilizado na fabricação de lasers, vidros especiais e pigmentos.

Praseodímio: O praseodímio é um elemento químico utilizado na fabricação de ímãs, vidros especiais e catalisadores.

Neodímio: O neodímio é um elemento químico utilizado na fabricação de ímãs, vidros especiais e lasers.

Samário: O samário é um elemento químico utilizado na fabricação de ímãs, vidros especiais e catalisadores.

Gadolínio: O gadolínio é um elemento químico utilizado na fabricação de ímãs, vidros especiais e lasers.

A questão central é que o país está se transformando em um exportador do minério bruto – com exceção do litio, trabalhado pela CBMM em Araxá. Especialista no tema, ex-presidente da Usiminas, Marco Antonio Castelo Branco defende a necessidade urgente de um trabalho de industrialização das terras, ao invés da venda em bruto.

Trata-se de um investimento pesado, que não pode ser bancado unicamente plo setor privado. Hoje em dia, o país está coalhado de mineradoras australianas, canadenses e brasileiras, mas com pouco poder de fogo. E a exploração desses minérios exige a soma de todas no aproveitamento das enormes jazidas existentes.

Sua proposta é a criação de consórcios, nos quais o Esado participaria inicialmente, através do BNDESPAR, garantindo o investimento mais pesado – e, obviamente, sendo remunerado. Depois, gradativamente deixando as empresas privadas assumirem a iniciativa.

Hoje, as regiões mais ricas do país em terras raras são aquelas com os menores índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O governo Lula tem em mãos a possibilidade de montar políticas de investimento e inclusão social.

Fonte: Jornal GGN
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 11/12/2023

Mineradora Inglesa recebe aval da ANM para seguir com exploração de ferro no município de Piatã

A mineradora inglesa Brazil Iron recebeu aprovação da Agência Nacional de Mineração (ANM) para dois relatórios que confirmam a presença de jazidas de ferro no município de Piatã. O aval não regulariza as atividades de extração do minério devido à falta de autorização do órgão ambiental do governo baiano. No entanto, ações da empresa já comprometem recursos naturais e a qualidade de vida de moradores da região.

Há aproximadamente quatro anos, a região tornou-se palco de conflitos devido aos impactos sobre as comunidades quilombolas locais. Conforme divulgado pela Repórter Brasil em maio do ano passado, residentes alegam que as atividades de prospecção da mineradora causaram danos significativos, incluindo rachaduras em residências, destruição de plantações e assoreamento da nascente do córrego Bebedouro, crucial para o fornecimento de água durante a estação seca.

Desde outubro, a Brazil Iron enfrenta um processo na Justiça da Inglaterra movido por um escritório de advocacia britânico, representando 80 famílias das comunidades de Bocaina e Mocó, localizadas na zona rural de Piatã.

Uma liminar emitida pela Justiça inglesa, como decisão provisória, proibiu os representantes da mineradora de se comunicarem com os moradores. Advogados britânicos alegam que funcionários da empresa assediaram e intimidaram os quilombolas para que desistissem da ação judicial.

No ano passado, a Defensoria Pública da União (DPU) ingressou com outra ação buscando a suspensão das atividades da Brazil Iron, processo que está atualmente em tramitação na Justiça Federal, na capital Salvador. Gabriel César, defensor regional dos Direitos Humanos da DPU na Bahia, afirma: “Vamos notificar as autoridades e tomar as medidas necessárias” em relação à aprovação da ANM.

A ANM, ao ser contatada, esclarece em comunicado que “a avaliação e decisão sobre os relatórios finais de pesquisa não estão condicionadas à obtenção de licença ambiental”. Enquanto isso, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão ambiental estadual, não forneceu respostas às indagações da reportagem.

Detonações da mineradora causam rachaduras em residências da região | FOTO: Reprodução/Fernando Martinho |

A Brazil Iron, por meio de sua assessoria de imprensa, emitiu uma nota na qual “nega categoricamente todas as acusações feitas pelo escritório Leigh Day” e alega que os advogados britânicos estão “se aproveitando do interesse questionável de duas ou três pessoas na região e da boa fé de dezenas de famílias”.

A mineradora ainda classifica a ação movida pelo escritório como “abusiva e repugnante”, argumentando: “Isso representa um ataque contra uma região que tanto necessita de investimento e emprego”, conforme declarado no comunicado enviado à reportagem.

Denúncias de assoreamento de nascente
As duas aprovações concedidas pela ANM referem-se a uma área que impacta a nascente do córrego do Bebedouro, essencial para o abastecimento de água pela comunidade durante a estiagem. Durante a fase de pesquisa, a movimentação de terra realizada pela Brazil Iron teria causado o assoreamento da nascente, conforme relatam os moradores. Catarina Silva, líder quilombola, detalha: “Eles [Brazil Iron] começaram a degradar no topo do morro, e o rejeito de minério desceu até a nascente.”

Em março do ano passado, Catarina conduziu a equipe da Repórter Brasil até o local para evidenciar os efeitos do assoreamento causado pela mineração, conforme documentado em um vídeo. Esse problema foi também confirmado pelo departamento técnico do Inema e utilizado como uma das razões para a interdição das atividades da Brazil Iron pelo órgão ambiental em abril do mesmo ano.

A Repórter Brasil teve acesso à íntegra da ação judicial movida pela Defensoria Pública da União contra a Brazil Iron. No documento, a DPU se baseia em um estudo solicitado pelas comunidades, denominado “Impactos nos Recursos Hídricos do Alto Rio de Contas pela Mineradora Brazil Iron em Piatã-Bahia”. Concluído em junho de 2022, o estudo documenta, com fotos e depoimentos da comunidade, os impactos na nascente.

Em sua resposta, a Brazil Iron afirmou compreender a preocupação da comunidade em relação aos relatórios de pesquisa aprovados pela ANM, mas “assegura” que não haverá impacto sobre a nascente do Bebedouro. A empresa afirma manter um “programa ativo de conservação das nascentes do entorno do empreendimento”.

O texto também destaca: “Qualquer atividade futura obrigatoriamente seguirá a legislação vigente, que é cuidadosa com esse tipo de corpo hídrico, e respeitará todas as instruções dos órgãos reguladores, o que garante a preservação da nascente.”

Rachaduras e poeira excessiva
Além da nascente assoreada, os quilombolas relataram impactos em várias frentes durante os anos em que a mineradora inglesa conduziu perfurações e explosões para explorar a existência de minério na região.

As comunidades expressaram preocupações com o barulho gerado pelo uso de dinamites, as rachaduras nas paredes das casas e a excessiva poeira resultante da movimentação de caminhões — fatores que teriam contribuído para problemas respiratórios em algumas pessoas.

Em março do ano passado, os jornalistas da Repórter Brasil, durante sua visita a Piatã, dirigiram-se à sede da empresa para solicitar uma entrevista com um representante da mineradora sobre as queixas dos moradores.

Entretanto, em vez de dialogar com a equipe de reportagem, o então gerente de logística e atual vice-presidente da Brazil Iron chamou a polícia. Esse incidente gerou protestos de diversas entidades, incluindo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).

Após a tentativa de intimidação da reportagem, o Inema realizou uma fiscalização nas instalações da mineradora e optou por interditá-la em abril do ano passado. A medida foi justificada por pelo menos 15 irregularidades, incluindo a falta de previsão de recursos para a recuperação das casas rachadas na comunidade.

Em resposta, a Brazil Iron minimiza os impactos em comunicado, afirmando que apenas três casas podem ser afetadas pela poeira da mineração, devido à topografia da região. O texto destaca: “A empresa disponibiliza frequentemente caminhões-pipa para umedecer as vias, tornando essa tese ainda mais implausível”.

‘Eles controlam o que acontece na Bahia’
A Justiça inglesa estabeleceu um prazo até abril do próximo ano para que seja apresentado um relatório abrangente com todos os danos que a Brazil Iron teria causado às comunidades quilombolas na Chapada Diamantina, explicou o advogado Jonny Buckley, do escritório Leigh Day, que representa as comunidades no processo. Somente após essa avaliação será possível determinar o montante de uma eventual indenização, caso o processo prossiga.

Buckley destaca que a ação judicial está em curso na Justiça da Inglaterra devido à sede das empresas controladoras da Brazil Iron estar no país britânico. “Elas controlam o que acontece na Bahia”, argumenta o advogado. Outro motivo, segundo Buckley, é a dificuldade de os quilombolas conseguirem acesso à Justiça no Brasil. “São comunidades rurais e remotas, e a mineradora tem muito poder, pois é a principal fonte de renda da região”, avalia.

Duas quilombolas, Ana Joana Bibiana Silva e Leonisia Maria Ribeiro, entrevistadas pela Repórter Brasil em 2022, faleceram nesse intervalo de tempo sem acesso a qualquer tipo de indenização. Leonisia compartilhou seu medo da casa desabar devido às explosões de minério, enquanto mostrava as rachaduras na parede.

A Brazil Iron é a subsidiária brasileira da holding inglesa Brazil Iron Trading Limited. Fundada após a aquisição de direitos minerários na Chapada Diamantina em 2011, a empresa tem 45 pedidos de pesquisa mineral protocolados na ANM, abrangendo diversos municípios da Chapada Diamantina.

Antes da interdição pelo Inema, a companhia tinha autorização para extrair 600 mil toneladas de minério por ano, ainda no estágio de pesquisa e exploração. Em relação ao processo movido pelo escritório inglês, a empresa considera a ação desproporcional, destacando que está sem operar há mais de um ano.

Caso retorne às atividades, a Brazil Iron possui planos ambiciosos, incluindo a construção de uma planta de pelotização com capacidade para processar 10 milhões de toneladas por ano. Além disso, pretende estabelecer uma ferrovia até o litoral baiano para exportação do minério. A estimativa da empresa é investir cerca de R$ 16 bilhões, gerando aproximadamente 50 mil empregos diretos e indiretos, segundo sua assessoria de imprensa.Jornal da Chapada com informações do portal Repórter Brasil.

Fonte: Jornal da Chapada
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 11/12/2023