Notícias

Agricultura 4.0 marca “nova era”

A agricultura tradicional, caracterizada pela intuição e trabalho manual, deu lugar ao Agronegócio 4.0, marcando uma nova era na qual tecnologias digitais são integradas em todas as fases, desde o planejamento até a comercialização. Essa mudança impulsiona a produção por meio de dados e tecnologia, resultando em maior eficiência, sustentabilidade e competitividade.

Além disso,segundo Rodrigo Ribeiro, Sales Director, da NTT DATA, ela traz benefícios econômicos e sociais, como aumento da produtividade, criação de empregos qualificados e redução do impacto ambiental. A coleta e análise de dados são fundamentais nesse processo, com sensores, drones e máquinas agrícolas gerando informações sobre solo, clima, saúde das plantas e operações, fornecendo insights cruciais para decisões mais precisas e eficientes.

Softwares e plataformas digitais integram dados agrícolas, criando painéis de controle com informações em tempo real sobre a lavoura, permitindo monitoramento preciso da produção e análise preditiva para prever problemas. A conectividade em tempo real facilita a tomada de decisões. No entanto, desafios como infraestrutura inadequada afetam o transporte eficiente dos produtos agrícolas em um país de grandes dimensões. Investimentos públicos têm gerado resultados positivos, mas mais é necessário para atender à crescente demanda de exportação.

Com a transição para o Agronegócio 4.0, onde tecnologias digitais são integradas em todas as etapas da produção agrícola, a logística intermodal eficiente torna-se essencial. A coleta e análise de dados são fundamentais, proporcionando insights valiosos para decisões precisas. Essa revolução digital não só aumenta a produtividade e a sustentabilidade, mas também redefine a operação do setor, preparando o cenário para uma logística mais ágil e competitiva. A adoção dessas tecnologias traz benefícios como aumento da produtividade, sustentabilidade e redução de custos, contribuindo para uma produção de maior qualidade.

Fonte: Agrolink
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 28/05/2024

 

Brasil e Estados Unidos: 200 anos, novos horizontes

Por Marcelo Marangon e Abrão Neto

Neste mês, celebramos 200 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos. Em 26 de maio de 1824, o então presidente norte-americano James Monroe reconhecia de forma pioneira a independência brasileira, dando início a uma parceria próspera e duradoura.

Ao longo dos dois últimos séculos, as duas jovens nações se tornaram as maiores democracias e economias das Américas. Ao mesmo tempo, a relação entre elas se fortaleceu, oferecendo um terreno generoso para avanços mútuos em áreas como cultura, educação, ciência e meio ambiente. Uma verdadeira relação ganha-ganha.

Mas foram os interesses econômicos e comerciais que, desde o início e com maior intensidade, impulsionaram a aproximação bilateral. Como resultado, os Estados Unidos se tornaram o principal parceiro econômico do Brasil, considerado o conjunto das trocas em investimentos, bens e serviços.

A atração pelo mercado brasileiro levou centenas de empresas norte-americanas a se instalarem no país, com contribuição decisiva para o seu desenvolvimento econômico. A criação da Amcham Brasil, em 1919, reflete bem esse movimento. Desejosos de fomentar os laços bilaterais, empresas dos dois lados, entre elas o Citi, decidiram fundar aquela que se tornaria a maior Câmara Americana de Comércio do mundo, fora dos Estados Unidos, e a maior entidade multissetorial do Brasil.

Esse intenso fluxo empresarial fez dos Estados Unidos o país com o maior estoque de investimentos estrangeiros no Brasil, totalizando US$ 167 bilhões, segundo o Banco Central. Para cada quatro dólares investidos no Brasil a partir do exterior, aproximadamente um dólar vem dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos também são o principal destino para investimentos brasileiros. Seja pelo tamanho da economia ou facilidade de realizar negócios, as empresas brasileiras buscam o mercado norte-americano como vetor para internacionalizar os seus negócios, produzindo casos de sucesso nos setores de alimentos, moda, finanças, siderúrgico, tecnologia da informação etc.

No comércio de bens, a qualidade das trocas com os Estados Unidos não encontra paralelo no comércio exterior brasileiro, tanto sob a ótica da diversificação como da agregação de valor. Os Estados Unidos são o destino principal para as vendas externas de produtos industriais do Brasil e respondem por cerca de metade de suas exportações mundiais de bens de alta tecnologia.

Em serviços, o mercado norte-americano é o maior destino de vendas e origem de compras do Brasil, representando cerca de 40% de sua corrente de comércio. Predominam, nessas transações, setores sofisticados, como serviços financeiros, tecnologia da informação, manutenção de aeronaves e pesquisa e desenvolvimento.

Por detrás do comércio, não custa lembrar, estão as pessoas. De acordo com o governo norte-americano, as exportações dos Estados Unidos para o Brasil sustentam quase 130 mil empregos naquele país ao passo que as vendas brasileiras para os Estados Unidos mobilizam mais de meio milhão de empregos no Brasil.

Vale destacar, ainda, o rico histórico de cooperação bilateral. Como exemplo, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e do setor siderúrgico brasileiro bem como as origens do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Eletrobras e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) são fruto da colaboração entre os governos e entidades de ambos os países.

O marco dos 200 anos nos oferece muitos motivos para celebrar. Mas, sobretudo, nos convida a olhar para frente, com ambição e pragmatismo. O mundo passa por um momento crítico, com desafios sem precedentes, favorecendo uma maior aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos.

Ambos os países são cruciais para viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono e combater as mudanças climáticas. Brasil e Estados Unidos conduzem um diálogo bilateral promissor em energia limpa e, no ano passado, capitanearam a criação da Aliança Global para Biocombustíveis. O lançamento de uma parceria bilateral sobre energia limpa, incluindo iniciativas sobre combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), hidrogênio limpo e outras fontes renováveis, traria fôlego novo para a relação e serviria como um sinal firme para a atuação de investidores.

Ainda no campo ambiental, os dois países poderiam aprofundar a cooperação sobre financiamento sustentável, em apoio ao Plano de Transformação Ecológica do Brasil e na esteira da recente abertura, em São Paulo, do escritório do Development Finance Corporation (DFC), agência norte-americana de apoio ao desenvolvimento. A presidência brasileira do G20 e a realização da COP30 em Belém do Pará abrem janelas valiosas para produzir novos compromissos nessa área.

Os planos de neoindustrialização e a ambição de agregar maior valor nas exportações do Brasil também passam pela intensificação do comércio e dos investimentos com os Estados Unidos. No ano passado, as exportações brasileiras de bens industriais para aquele país, como aeronaves, aço, máquinas e equipamentos, bateram o recorde de US$ 29,9 bilhões, superando a União Europeia e o Mercosul - um lembrete poderoso do papel que os Estados Unidos têm a desempenhar nesse esforço.

No contexto atual de busca por resiliência na produção e por segurança alimentar e energética, os valores compartilhados por Brasil e Estados Unidos os tornam parceiros confiáveis para a diversificação de suas cadeias de fornecimento. A celebração de um entendimento bilateral para identificar oportunidades em setores como minerais críticos, baterias, semicondutores, saúde e fertilizantes atenderia aos interesses dos dois países. Esforços para reduzir a bitributação e outras barreiras ao comércio e aos investimentos, também.

A parceria e a amizade entre o Brasil e os Estados Unidos ao longo dos últimos 200 anos produziram conquistas econômicas e sociais valiosas para ambos os países. Inspirados por esse legado, é hora de mirar o futuro com ousadia e senso de oportunidade de forma a abrir novos horizontes. Um desafio à altura das duas nações.


*Marcelo Marangon é presidente do Citi Brasil e do Conselho da Amcham Brasil.
*Abrão Neto é CEO da Amcham Brasil.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 27/05/2024

 

Governo estende antidumping para mais dois tipos de laminados de aço

O governo brasileiro decidiu estender medidas antidumping para mais dois tipos de aço. A sobretaxa para esses produtos, de US$ 629,44 por tonelada, foi aplicada originalmente em 2013 e prorrogada em 2019. A partir da prorrogação, no entanto, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex-MDIC) constatou o uso de artifícios para burlar a medida: importadores passaram a comprar tipos diferentes de laminados, com pequenas alterações do nível de cromo e níquel presentes nas ligas do aço, mas que na prática se caracterizam como sendo o mesmo produto sobretaxado.

“O governo brasileiro está atento a possíveis manobras que possam prejudicar nossa defesa de comércio”, afirma o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin. “Temos de defender e sobretudo fortalecer a indústria do aço, tão relevante para nossa economia.”

A investigação da Secex durou seis meses e constatou que as importações dos aços modificados ocorreram somente com o objetivo de frustrar a eficácia da medida antidumping que estava em vigor, segundo relata a diretora do Departamento de Defesa Comercial (Decom), Rafaela Noman.

“As importações dessa variedade, quase inexistentes antes da aplicação do antidumping, subiram 500% nos últimos anos”, diz Rafaela Noman.

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, explica que o governo utilizou a legislação de combate à chamada circunvenção para aplicar também a esse ‘novo aço’ o antidumping existente. “A ação garante a eficácia das medidas aplicadas para proteger a indústria nacional do comércio desleal”, conclui.

Fonte: IPESI
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 27/05/2024

Taxação da UE retira aço brasileiro da lista de mais sustentáveis do mundo

O Brasil exporta para a União Europa o aço não europeu mais sustentável do mundo, de acordo com um estudo do Banco Mundial entregue à Folha.

Mas o país não terá vantagens na exportação do produto quando os europeus colocarem em efetivação o Cbam, a taxação de produtos importados com base nas emissões de CO2.

De acordo com o estudo, que considera dados de 18 países, o aço brasileiro exportado para a União Europeia emite 0,14 quilo de CO2 equivalente por dólar. O cálculo considera a matriz elétrica utilizada pela indústria, o chamado escopo 2 de emissões. O país só está atrás da Áustria, país da UE que emite 0,12 kg CO2/US$.

O Cbam, porém, considera apenas as emissões de CO2 oriundas de operações de dentro da fábrica, eliminando, portanto, a origem da eletricidade usada na indústria.

Nesse caso, o aço brasileiro, segundo o Banco Mundial, emite 0,37 kg CO2/US$, atrás de dez países, o que impacta a exposição do produto brasileiro à taxação europeia.

A base de dados utilizada para a comparação é de 2019.

"A maior parte das emissões [da produção de aço] vem do escopo 1. A a UE diz que até 50% das emissões seriam cobertas com as regulações atuais. Além disso, pouquíssimas empresas são hoje capazes de prover essa informação, até mesmo na UE, então ir para o escopo 2 seria ainda mais complicado, porque você teria que descobrir de onde vem a eletricidade que está sendo usada", diz Maryla Maliszewska, uma das autoras do estudo do Banco Mundial, ao tentar explicar a decisão dos europeus.

O Cbam visa cobrar do aço estrangeiro o mesmo que é exigido do aço europeu no mercado de carbono da UE. A medida, porém, é carimbada como medida protecionista por parte da comunidade global.

"Tem algumas incertezas em relação à regra, mas o fato é que qualquer empresa que exporta para a Europa produtos de aço vai ser impactada", diz Bruna Dias, gerente da Strategy&, do grupo PwC.

Na plataforma criada pelo Banco Mundial para apresentar o nível de exposição de produtos ao Cbam, o Brasil aparece pintado de uma mistura de vermelho com verde, enquanto Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia e Argentina estão pintados de verde.

O Brasil só não será mais prejudicado porque a quantidade de aço brasileiro que entra em solo europeu é pequena, apesar de significativa. De acordo com o Instituto Aço Brasil, 48,7% dos produtos siderúrgicos exportados pelo país em 2022 foram para os Estados Unidos, enquanto cerca de 9,5% foram para países da União Europeia e 9,4% para a Argentina.

Entre as grandes siderúrgicas brasileiras, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) é a que mais deve ser atingida. No ano passado, a empresa vendeu R$ 4,4 bilhões de produtos do setor de siderurgia para a Europa —o principal destino de exportação, segundo seu balanço de resultados.

A empresa considera o Cbam um "risco latente e de alta relevância" e o tamanho de uma eventual perda ainda está em estudo.

"As medidas do Cbam irão impactar todo o aço que a companhia exporta para a Europa, em particular o volume enviado para uma das nossas unidades em Portugal. Adicionalmente, existem impactos indiretos relacionados à entrada de um volume adicional de aço no Brasil produzido por países como China e Índia, por exemplo, e que teria como destino originariamente a Europa", diz Helena Brennand Guerra, diretora de sustentabilidade e meio ambiente da CSN.

Guerra analisa que o que torna o Cbam prejudicial para o aço brasileiro não é apenas o descarte do escopo 2, mas o financiamento público de siderúrgicas europeias em paralelo à taxação do produto feito em economias emergentes.

"A União Europeia tem disponibilizado recursos bilionários para que empresas de aço façam a sua transição para rotas de descarbonização. Muitos desses projetos entrarão em operação em 2026, justamente no ano em que o Cbam passará a taxar os produtos importados", afirma Guerra.

"Ou seja, taxam o aço produzido nos países em desenvolvimento, que historicamente menos contribuíram para a emissão de gases de efeito estufa, para financiar não apenas a transição energética mas principalmente a modernização do parque industrial europeu."

O estudo do Banco Mundial mede as emissões por quilo de gás carbônico por dólares de aço vendido, mas, quando a métrica é tonelada de CO2 por tonelada de aço vendido, a referência padrão, o Brasil também aparece como um dos produtores mais sustentáveis de aço.

Entre 2020 e 2022, o setor siderúrgico brasileiro reduziu suas emissões de 1,9 t CO2/t de aço bruto para 1,7, ante a média global de 1,89, de acordo com o Instituto Aço Brasil.

Segundo a Global Efficiency Intelligence, consultoria americana de energia, o Brasil está em sexto no quesito sustentabilidade na lista de 16 países produtores de aço. Quando o carvão vegetal utilizado pelas siderúrgicas brasileiras não é considerado neutro devido a origens ligadas ao desmatamento, o Brasil vai para 12º lugar.

Em 2022, 84% do aço brasileiro foi feito via rota integrada, quando se utiliza altos fornos a carvão —maior fonte de CO2 nessa indústria. Desses, em 11% foram usados carvão vegetal em alguma medida, o que reduz as emissões.

Os outros 16% foram produzidos por meio de forno elétrico e sucata, hoje a forma mais sustentável mundialmente de produzir aço. Em comparação, no mundo a média é de 70% e 30%, respectivamente.

A Gerdau, uma das siderúrgicas com maior grau de sustentabilidade do país, tem a produção inversa ao mundo: 70% via forno elétrico e sucata e 30% via carvão mineral. Esse número, porém, deve trazer pouca vantagem à empresa em um contexto de Cbam concentrado em escopo 1.

"O que nos traz as oportunidades no aço brasileiro é a energia elétrica renovável. Se eu comparar a produção da Gerdau, à base de sucata, considerando o escopo 1 e 2, na unidade no Brasil, com uma unidade nos Estados Unidos, a primeira emite metade da outra. Mas, se eu olhar só o escopo 1, é praticamente igual", diz Cenira Nunes, gerente-geral de meio ambiente da Gerdau.

O setor teme ainda que, com o mercado europeu concentrando o aço mais sustentável, aqueles países que não tenham regulações semelhantes, como o Brasil, sejam inundados de aço com maior pegada de carbono.

"Nós deveríamos ter um Cbam brasileiro. A China é 60% do mercado mundial; o mês de produção da China é a produção anual do Brasil. Ela está melhorando seu parque industrial, reduzindo a pegada de carbono daquela quantidade de aço que ela põe na Europa, para que não seja sujeita ao Cbam, em detrimento de colocar os demais no resto do planeta", diz Guilherme Abreu, gerente-geral de sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil.

Recentemente a empresa vendeu seu primeiro aço zero carbono para a Águia Sistemas, empresa de intralogística.

Stefania Relva, consultora sênior do Instituto E +, pensa de maneira semelhante: "[Com o Cbam], a gente vai ter que competir com muitos produtos não certificados no mercado internacional, então a gente perde o mercado do Cbam, perde espaço na competição internacional e provavelmente perde o mercado nacional. Porque esses produtos não certificados que flutuam no mercado internacional vão acabar no mercado doméstico também."

Sob o mesmo receio, o Reino Unido, por exemplo, está se articulando para criar sua própria taxação. Já o Brasil discute a introdução de um mercado de carbono para a indústria local.

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 27/05/2024

 

Agroindústria cresceu 1,6% no 1º trimestre, aponta pesquisa do FGVAgro

A pesquisa sobre agroindústria, do FGVAgro, revela que no primeiro trimestre de 2024, a produção agroindustrial registrou um crescimento de 1,6% frente ao mesmo período do ano passado. O resultado foi puxado, exclusivamente, pelo segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, que acumulou uma alta de 3,9%.

Em contrapartida, Produtos Não-Alimentícios acumulou uma contração de 1,7%, impactado, sobretudo, pelos setores de Insumos Agropecuários e Biocombustíveis.

Atualmente, o FGV Agro projeta um crescimento anual de 2%, em 2024, para a produção agroindustrial, no cenário base. Assim como em 2023, a expansão da agroindústria deverá vir, exclusivamente, por conta do segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, cuja estimativa de crescimento é de 4,2% no ano. Por outro lado, o segmento de Produtos Não-Alimentícios deverá registrar uma leve contração de 0,2% em 2024.

Vale destacar, contudo, que as projeções atuais foram realizadas com dados que ainda não contam com as consequências da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, o qual tem importante relevância na agroindústria nacional.

Dessa forma, explica o FGVAgro, as estimativas certamente serão revistas nas próximas edições do estudo.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 27/05/2024

 

Risco de gargalo e alta de preços são desafios na reconstrução no RS

A reconstrução do Rio Grande do Sul demandará investimentos bilionários nos próximos anos, mas a necessidade de recursos não é o único desafio. Uma das preocupações que já começa a surgir é o risco de gargalos na execução das centenas de obras que serão necessárias em todo o Estado nos próximos anos e que deverão mobilizar construtoras, fornecedores de diversos tipos de insumos, fabricantes de equipamentos, além de mão de obra de forma intensiva. Há um temor tanto de escassez quanto de disparada de preços desses serviços e produtos, segundo pessoas envolvidas no processo e especialistas em infraestrutura.

O tema já está no radar da Secretaria de Reconstrução Gaúcha. “Teremos de tratar de possíveis gargalos na execução do plano. Haverá muitas obras ao mesmo tempo, tem que ter atenção grande à questão de máquinas, matéria-prima, mão de obra, tudo isso vai ser mobilizado em uma intensidade que nunca se viu”, diz o secretário, Pedro Capeluppi.

Na visão de uma fonte que acompanha o processo, que pediu anonimato, o próprio plano de reconstrução terá de considerar esses gargalos na priorização das ações. Porém, a percepção é que será difícil controlar a pressão inflacionária sobre os custos da reconstrução, já que, além da demanda do poder público, a própria população e empresas locais têm obras a fazer.

Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, aponta que a falta de empreiteiros já é uma realidade no país, por exemplo, no setor de linhas de transmissão de energia.

No caso do Sul, diz ele, há um agravante devido à concentração das obras em território e em um curto espaço de tempo. “Se fosse em dez, 15 anos é uma coisa, mas o Rio Grande do Sul não pode correr o risco de estender a reconstrução. Há o risco econômico de o Estado entrar em depressão e o risco demográfico de a população jovem sair do Estado. Então o processo não pode se arrastar, o que traz esse desafio”, afirma.

Para Renato Correia, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), se houver planejamento não haverá escassez, mas o aumento de preço dos insumos e da mão de obra é algo inevitável e que deverá ser considerado na hora da contratação e da fiscalização das obras.

“É óbvio que o aluguel de máquinas estará mais caro, o custo dos materiais vai subir porque o acesso é difícil, muita coisa terá que vir de fora”, afirma. Ele defende que os órgãos de fiscalização, que são rigorosos em relação ao tema, precisam compreender a situação. “O custo precisa ser olhado com o entendimento da calamidade, porque vai ser acima das tabelas do poder público. Os materiais, o cimento, vão chegar, mas o preço não será o padrão. E vamos precisar contratar assim mesmo, pela emergência”, diz.

Para a construtora Tenda, outro gargalo pode ser a liberação de alvarás para obras de habitação, processo que costuma levar até dois anos na região. Segundo Welinton Costa, diretor regional Sul da empresa, é esperada uma “força-tarefa” nas prefeituras para encurtar o prazo para um ano.

Para ele, um encarecimento de materiais ainda não está no “top 5” de preocupações no momento. A lista é liderada pela disponibilidade de mão de obra, de insumos e de complementação de renda para as famílias atingidas.

Costa prevê aumento na demanda por novas habitações no Sul. No segmento econômico, onde a Tenda atua, isso deve ser potencializado por programas municipais, estaduais e federais, que devem elevar a capacidade de compra dos afetados pela enchente.

"Haverá muitas obras ao mesmo tempo, uma mobilização em intensidade que nunca se viu”
— Pedro Capeluppi

Já os fornecedores nacionais negam o risco de gargalos. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), Paulo Camillo Penna, diz não acreditar em uma futura “explosão de consumo” de cimento e afirma que, mesmo se houver alta de demanda, o país tem condição de fornecer o material, que poderia sair de outros Estados. Uma importação da Argentina ou do Uruguai não será necessária, segundo ele, destacando que as cimenteiras brasileiras trabalham com 35% de ociosidade.

A InterCement, que tem duas fábricas no Rio Grande do Sul, diz que as unidades estavam operando com 94% e 95% da capacidade antes da enchente, segundo Livio Kuze, CEO da empresa no Brasil. Ele também não acredita em uma explosão de consumo. “Todo aumento agressivo de demanda gera escassez e inflação. O que sentimos é que está sendo bem planejado, para não ter aumento desenfreado de demanda”, afirmou.

Uma das unidades do grupo no Estado fica em Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre, em um bairro atingido pela enchente. Kuze diz que não houve dano material à planta, que foi usada como abrigo no início das inundações. Depois de duas semanas com operações reduzidas, a empresa já conseguiu retomar 80% das vendas de antes do desastre. Enquanto a produção não voltava, clientes foram buscar cimento na fábrica do grupo em Candiota, 400 km ao sul de Porto Alegre.

A indústria de máquinas também nega que haja risco de escassez ou inflação. “A fabricação dos produtos de linha amarela [de equipamentos usados na construção] está normal, não foi interrompida. As máquinas são vendidas por distribuidores que têm estoque, não vejo problema no fornecimento, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Ele também diz que o setor tem grande capacidade ociosa na produção. No caso de máquinas rodoviárias, dados da Abimaq apontam que, em 2014, a produção mensal chegou a 5.200 equipamentos por mês e hoje o patamar está em torno de 3.300 mensais. Velloso também afirma que não há espaço para alta de preços porque o mercado tem muita concorrência, em especial de importações da Ásia.

A velocidade necessária para a construção de moradias pode incentivar a entrada da construção industrializada no Estado. Não seria a primeira vez que tragédias do tipo são remediadas dessa maneira. O governo paulista contratou a construção de prédios e casas de “wood-frame”, técnica de construção industrializada em madeira, para receber famílias atingidas pelas chuvas e desmoronamentos em São Sebastião (SP) no início de 2023.

A empresa Tecverde foi a responsável pela obra, que entregou 518 moradias em 9 meses. A Tenda tem uma marca de moradia em wood-frame, a Alea, e tem conversado com o poder público gaúcho. A SteelCorp, companhia que constrói em steel-frame, usando aço, está fechando um contrato privado para erguer 600 casas no bairro de Santa Cecília, em Porto Alegre. O custo será de R$ 92,4 mil por moradia, de 42 m2, abaixo do que é praticado normalmente pela empresa.

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 27/05/2024