Pandemia e guerra na Ucrânia acendem debates sobre segurança energética global

Pandemia e guerra na Ucrânia acendem debates sobre segurança energética global

Os recentes episódios relacionados à invasão da Ucrânia pela Rússia jogaram luz sobre o setor de energia e, consequentemente, acendeu debates em torno da segurança energética em todo o mundo, o que pode abrir espaço para investimentos e oportunidades para outros players, entre eles o Brasil. Por outro lado, a crise sanitária global decorrente da pandemia, além das graves questões de saúde pública que acometeram todo o planeta, também trouxe instabilidade nas relações internacionais, causando uma desorganização das cadeias produtivas, que ainda estão em fase de recuperação.

É o que destacou o embaixador Marcos Caramuru, mediador do debate “Riscos geopolíticos, desafios e oportunidades para o Brasil” nesta quinta-feira (29), durante o último dia da exposição Rio Oil&Gas 2022, no Rio de Janeiro. “A grande herança [econômica] da Covid-19 é a alta inflação. Os países latino-americanos reagiram rapidamente, porque têm vivência passada com a inflação, mas as economias amadurecidas tardaram a reconhecer o impacto inflacionário nesse período”, disse ele.

Segundo o embaixador, está claro o cenário de altas taxas de juros nos Estados Unidos e em países da Europa, seguido por uma recessão econômica em algumas nações. “Com um crescimento muito baixo e taxas de juros elevadas, haverá um impacto sobre os fluxos de capitais internacionais e, com a recessão, um impacto sobre o comércio internacional”, ressaltou Caramuru, citando que, mesmo observando certo alívio na economia da China, ainda prevalece um período de grandes incertezas.

“O consumo ainda não se recuperou e a perspectiva de investimentos em infraestrutura também não está funcionando exatamente em consonância com os incentivos que têm sido dados. O crédito está disponível, mas o setor produtivo está muito relutante de tomar crédito. Portanto, as previsões econômicas sobre o crescimento são baixas e a importância da China no crescimento da economia internacional será menor”, apontou o embaixador.

Ele ainda comentou que, no topo de tudo isso, há a guerra na Ucrânia e o impacto no mercado energético na Europa, que vem trazendo reflexos para o mundo todo e, possivelmente, esse cenário também pode respingar nas negociações e nas ações relacionadas às mudanças climáticas.

“O setor de óleo e gás, que já tinha sofrido o impacto das crises de 20214-2015, sofreu com a recessão causada pela pandemia e agora sofre o impacto das novas realidades e da situação de guerra na Europa”, reforçou o embaixador, comentando que a situação traz efeitos na volatilidade de preços, nas incertezas dos investimentos e no alto grau de previsibilidade nesse mercado.

Convidado para o mesmo debate, Robert Johnston, diretor executivo do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia (EUA), comentou que a demanda diminuiu bastante, talvez por causa da situação da Covid-19 na China e em alguns outros lugares, como os Estados Unidos. “Nós estamos apertados em necessidades dessas fontes [de energia, óleo e gás], mas ainda há vários produtos saindo. De modo geral estamos bem, mas eu acho que a situação poderia voltar [ao normal], mas ninguém está construindo novas refinarias”, disse ele.

Johnston também destacou a questão da eficiência e da demanda de longo prazo para construir refinarias: “Aqui, no Brasil, estão inclusive fechando, de modo que o mercado de produtos finais permaneça irregular. Mas daqui a uns dez anos, talvez o Brasil possa estar exportando petróleo para a China e importando gasolina, por exemplo. Quando pensamos em setor de bioenergia, sempre pensamos no Brasil como um líder”.

Bioenergia
Outra convidada para o mesmo debate, Fernanda Delgado, diretora executiva corporativa do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e professora na Fundação Getúlio Vargas (FGV), relatou que o ambiente internacional para o setor de óleo, gás e energia ainda é bastante incerto. Mas para ela, o Brasil apresenta boas expectativas para a produção de petróleo e seus derivados. A executiva também acredita na perspectiva de aquecimento desses mercados e, no futuro, que o país possa ser mais amplo dentro do mercado de energia.

“O Brasil é o líder da bioenergia. Nós temos esses investimentos em direção ao uso maior de biocombustíveis e das biomassas também nacionais, que podem contribuir para esse setor. Nesse cenário, eu não vejo exatamente riscos, eu falo em oportunidades, pois acredito na abertura de novos mercados, inclusive porque o óleo nacional é de qualidade, é um óleo com baixo teor de enxofre, um óleo leve”, exemplificou.

Na visão de Fernanda, ao tratar do futuro do Brasil nesse cenário global, especialmente o da sustentabilidade, é possível falar em um futuro com menos emissões, de produtos com menores padrões de emissões de gases de efeito estufa, tendo o país como destaque. “A beleza do Brasil é, exatamente, sua matriz energética plural”.

Também presente no debate, Eirik Wærnessm, vice-presidente sênior e economista-chefe da Equinor (grupo responsável pelas análises de macroeconomia, energia e mercado de commodities), disse que há muitas oportunidades no setor de óleo, gás e energia. “O Brasil deveria buscá-las e pensar como parte dessa situação. Com a globalização, países como o Brasil podem se posicionar de maneira diferente em toda essa cadeia de fornecimento, com mais confiança, podendo se tornar um país mais industrializado. E isso é uma oportunidade”, disse ele, salientando que olhar para o Brasil é algo mais que necessário.

Fonte: Portos e Navios
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 30/09/2022