Mercado de aço perde força desde abril e siderúrgicas seguram parte do reajustes de preços

Mercado de aço perde força desde abril e siderúrgicas seguram parte do reajustes de preços

O mercado brasileiro de aço mostra fortes sinais de desaceleração desde abril, e a perspectiva não é muito promissora para os próximos meses. O cenário é de um mercado bastante morno.

As vendas no segmento de distribuição de aços planos — um termômetro importante de avaliação da demanda — tiveram queda de 11,8% em abril, na comparação anual, e de 27,7% contra o mês anterior (março deste ano), segundo números do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).

A previsão para maio das empresas da rede, compiladas pelo Inda, era de retração de 5%, mas esse índice já foi reavaliado para cima no fim do mês. “A projeção é que ficará bem acima de 5%”, disse um executivo do setor. No quadrimestre, as vendas fecharam com uma queda de 1,6%.

Um forte sinal foi o decréscimo de quase 28% nas compras da rede em abril junto às siderúrgicas. Assim, conseguiram estabilizar os estoques em 2,5 meses de vendas, um patamar saudável.

Com esse desaquecimento doméstico, aliado a um recuo dos preços do aço no mercado externo, as siderúrgicas que atuam no país decidiram rever o reajuste de 20% anunciado em abril e aplicado em duas parcelas. As empresas, segundo informação obtida pelo Valor, congelaram a segunda parcela, que era de 5% a 8%.

Os preços cederam muito lá fora, explicou uma fonte, com a placa caindo cerca de US$ 200 a tonelada, para o patamar de US$ 750 a US$ 770 a tonelada. Na China, o valor da bobina a quente (BQ), material de referência, segundo informação da S&P Global Commodity Insights na sexta-feira (dia 27), estava em US$ 743 a tonelada.

Dessa forma, o prêmio do produto brasileiro frente ao importado, já internalizado, vinha variando entre 25% e 30%. No caso especifico da BQ, com o câmbio de R$ 4,74% no dia 27, o cálculo do prêmio atingia 35,2%. Isso favorece as importações, mas há receios com a volatilidade do câmbio no país e com a logística travada na China por causa da covid — o material tem demorado até 180 dias para desembarcar no país.

Os números de todo o setor, divulgados pelo Instituto Aço Brasil, corroboram esse comportamento do mercado. As vendas internas, somando aço plano e longo, registraram recuo de 8,7% em abril, na base anual, e de 15,2% no quadrimestre, ante mesmo período de 2021. Sobre março, a queda foi de 4,9%.

“Houve uma acomodação de demanda depois da euforia vista até julho de 2021. O mercado ficou superabastecido com grande entrada de importações até o início do ano”, disse um executivo da área de aço longo. “Agora, o mercado está encharcado de aço”, afirma.

Conforme o Aço Brasil, o consumo aparente de produtos siderúrgicos em abril — último dado disponível — ficou 5,3% abaixo do verificado em março. Na comparação com abril do ano passado, o recuo foi de 10,4%. E de janeiro a abril, retração de 14,2%.

A desaceleração se verifica tanto em aços planos — usados pela indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, bens eletrodomésticos e bens de capital — quanto em aços longos, que têm grande aplicação nos setores da construção civil e industrial.

Esse cenário de menor demanda interna, somado aos problemas causados globalmente pela guerra da Rússia na Ucrânia e pelos lockdowns da China, levou as empresas locais a intensificar exportações. Os embarques de abril tiveram alta de 58,3% em volume — 1,2 milhão de toneladas de laminados planos e longos mais semiacabados (placas e tarugos).

Por sua vez, as importações recuaram 37,4% em volume no mês. De janeiro a abril, a queda foi de 25,2%.


Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/06/2022