Fabricante de implementos vê espaço para crescer até 10%

Fabricante de implementos vê espaço para crescer até 10%

As projeções pessimistas em relação aos principais indicadores da economia brasileira em 2022 não tiram o sono dos fabricantes de implementos rodoviários. Ontem a pesquisa Focus - que indica a mediana das projeções dos economistas de mercado - mostrou PIB de 0,29% para este ano e Selic ao fim de dezembro de 11,75%. Após crescimento de 33,47% em volume em 2021, com 162,7 mil implementos licenciados, as estimativas neste ano vão de expansão de 5% a 10%.

“Voltamos novamente a falar de ‘pibinho’, alguns até acreditam em queda do indicador. Também temos a alta de juros, que impacta os financiamentos. Segmentos de bens de capital são sensíveis a essa conjunção de PIB baixo e juros altos. Mas o PIB que conta no nosso caso não é o geral do país. Estamos confiantes porque o agronegócio, a construção civil e a infraestrutura indicam que terão bom desempenho e isso se reflete em nosso negócio”, afirma José Carlos Spricigo, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir).

Somente no agronegócio, Spricigo cita que serão mais de 30 milhões de toneladas de acréscimo na próxima safra e boa parte disso passa, em algum momento, pelos caminhões. Outro indicador importante é a estimativa das montadoras de caminhões que falam em altas nas vendas acima dos 10% neste ano. “Temos uma relação direta com cada caminhão vendido”, lembra o executivo. Em 2023 entra em vigor a nova legislação para emissão de poluentes, a Euro 6, e isso deve provocar uma antecipação da compra de caminhões neste ano já que a nova tecnologia tende a encarecer o veículo.

Quanto às taxas de juros, o presidente da Anfir explica que hoje a principal fonte de financiamento do setor são os bancos de montadoras, que tendem a oferecer condições melhores do que as do mercado. O BNDES, que já foi responsável por 80% dos recursos, não passa de 10%. Os bancos comerciais também tem uma participação menor.

O desempenho de 2021 foi uma surpresa para o setor. Desde o fim de 2020 os fabricantes já sentiam o aumento das consultas e fecharam muitos negócios. O resultado foi uma carteira de encomendas que beirou os seis meses e que se mostrou perigosa. No decorrer do ano, o reajustes e falta dos insumos e peças, com destaque para o aço e o pneu, as empresas foram obrigadas a apertar as margens para cumprir as entregas prevista. A receita total do setor ficou em torno de R$ 12 bilhões, crescimento real de 20% a 25%.

“Ganhamos em escala e perdemos em margem. Todos foram pegos de surpresa pela alta dos insumos. Hoje nossa situação é mais confortável. A carteira de pedidos está entre 60 e 90 dias, o que é um prazo razoável para poder precificar melhor o produto.”

A inflação de custos também tende a ser mais controlada neste ano. O dirigente não vê espaço para reajustes da mesma magnitude do ano passado para o aço. O que ainda deve continuar preocupando é a falta de pneus. O setor importa hoje cerca de 40% dos pneus usados nos implementos e uma melhora, se houver, “somente no segundo semestre”.

Caso o setor cresça os 10% previstos, alcançaria 178 mil unidades licenciadas. Isso colocaria 2022 como o segundo melhor ano em entregas, atrás de 2011 quando foram licenciadas 191 mil unidades. A capacidade de produção hoje é de 200 mil unidades, divididas igualmente entre pesados (reboques e semirreboques) e leves (no jargão do setor chamado de “carroceria sobre chassis”). Em 2021 foram entregues 90,3 mil pesados, alta de 34,03%. Na linha leve foram 72,3 mil implementos licenciados, expansão foi de 32,77%.

Spricigo garante que não há necessidade de grandes investimentos por parte da indústria em aumento de capacidade. Há espaço para crescer 10% nos pesados e ainda mais nos leves. “Historicamente os leves sempre venderam mais que os pesados, o que mudou nos últimos anos. Acredito que esse segmento deve apresentar crescimento maior em 2022.” Atualmente são cerca de 140 fabricantes de pesados e perto de mil na linha de leves, que empregam 70 mil pessoas.

Se o ano de 2022 parece bem encaminhado, Spricigo aponta os desafios para o setor no médio e longo prazos. Como outros dirigentes setoriais, o presidente da Anfir lamenta que as reformas não tenham avançado no governo de Jair Bolsonaro. Principalmente a tributária. “Pagamos mais impostos por desconhecer a legislação, depois temos de tentar recuperar o que foi pago a mais.”

Em um cenário de dez anos, ter tecnologia embarcada nos implementos rodoviários está ainda mais para sonho do que projeto. Spricigo diz que mesmo em países como Alemanha e EUA os produtos permanecem pouco tecnológicos, mas isso está mudando. Na Alemanha, conta, a legislação obrigou os implementos refrigerados a se comunicarem independentes do caminhão ao qual estejam atrelados. Caso seja detectada variação na refrigeração além da permitida, o comprador da mercadoria pode recusar a entrega.

“Isso exigiria uma mudança do nosso cliente, que precisaria enxergar valor na nova tecnologia. Hoje se preocupam muito com o caminhão e esquecem a carreta. Mas é no implemento que a mercadoria vai transportada.”

Fonte: Valor
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 25/01/2022