Com minério caro, IGP-10 tem maior alta desde junho

Com minério caro, IGP-10 tem maior alta desde junho

Após cair 0,14% em dezembro, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) subiu 1,79% em janeiro, a mais forte taxa desde junho de 2021 (2,32%), influenciada por minério de ferro mais caro no atacado, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV).

No entanto, para André Braz, economista da FGV responsável pelo indicador, a inflação do minério no atacado pode arrefecer ao longo do mês e contribuir para uma taxa abaixo de 2% nos Índices Gerais de Preços (IGPs) de janeiro. Caso ocorra desaceleração na variação do preço do minério até o fim do mês, esse fator poderá inibir, em parte, as influências de commodities, combustíveis e mensalidades escolares mais caros, no primeiro mês do ano, no cálculo dos IGPs, acrescentou ele.

Ao falar sobre o desempenho do IGP-10 de dezembro para janeiro, Braz detalhou que os preços atacadistas medidos pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo -10 (IPA-10) passaram de -0,51% para 2,27%, no período. Contribuíram para esse cenário aumentos em commodities como soja em grão (2,92%); milho em grão (2,86%), bovinos (2,73%) e minério de ferro (24,56%).

No caso do minério, o técnico comentou que, no IGP-10 de dezembro, esse produto mostrava recuo de 19,28%, e tem peso de 6% no cálculo total do IPA-10. Portanto, uma mudança brusca na trajetória de preço do item tem bastante impacto no cálculo total do IPA-10, observou ele.

“A alta do minério respondeu por quase 70% do IPA-10 [de janeiro]”, acrescentou. Braz explicou que o preço do item tem oscilado muito, a depender da demanda da China, maior comprador global do item. Ao mesmo tempo, problemas climáticos, principalmente no Sul do país, têm afetado perspectivas de oferta de commodities de origem agrícola, - soja e milho, por exemplo. Como esses itens também são usados para ração, isso também afeta, e eleva, preço de bovinos.

O impacto da alta de preços no setor atacadista foi tão forte que acabou por inibir, em parte, impacto favorável da desaceleração de preços no varejo, mensurada pelo Índice de Preços ao Consumidor -10 (IPC-10) que caiu de 1,08% para 0,40% entre dezembro e janeiro, favorecido por quedas de preços de gasolina (1,51%) e passagem aérea (4,37%).

No entanto, o técnico notou que o IGP-10 de janeiro não abrange o mais recente reajuste de preço de gasolina anunciado pela Petrobras. Braz calcula que a gasolina em janeiro deve ficar em torno de 2% mais cara, com contribuição de 0,12 ponto percentual no IPC do mês, dentro dos IGPs. “E teremos também mensalidades escolares”, lembrou, notando que janeiro é historicamente conhecido por reajustes em mensalidades, ainda não captadas no IGP-10 de janeiro.

Assim, em janeiro nos IGPs, ocorrerão dois tipos de pressões. As “para cima”, com combustível, commodities agrícolas e mensalidades mais caros; e provável pressão “para baixo”, que é a possibilidade de desaceleração na alta do preço do minério.

Braz comentou que, mesmo com maior número de pressões para cima, no cálculo dos indicadores do mês, o peso do minério é tão forte que, caso realmente desacelere, vai impedir que as taxas dos outros IGPs de janeiro atinjam 2% ao mês, segundo o especialista. “Não estamos esperando nenhum choque [inflacionário]”, resumiu.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 18/01/2022