Vallourec negocia acordo para reativar mina de ferro

Vallourec negocia acordo para reativar mina de ferro

A francesa Vallourec, que produz tubulação de aço para a indústria de óleo e gás, negocia com órgãos públicos e a Agência Nacional de Mineração (ANM) um termo de compromisso, com medidas emergenciais para a reparação a danos socioambientais causados pelo transbordamento de um dique de água das chuvas da Mina Pau Branco, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. O ocorrido provocou o alagamento e a interdição da rodovia BR-040 por dois dias.

O objetivo do acordo é permitir a retomada das atividades da mina, que está paralisada desde sábado (dia 8) devido a uma decisão do Tribunal de Justiça. Em entrevista ao Valor, o vice-presidente da Vallourec na América do Sul, Alexandre Lyra, disse que não há previsão de quando as atividades serão retomadas na Mina Pau Branco. “Hoje a prioridade é concluir o termo de compromisso junto com os órgãos competentes. A diretoria na França acompanha as discussões. Concluindo essa etapa, vamos ter visibilidade de quando a atividade será retomada e o impacto no resultado do grupo no ano”, disse Lyra.

Presidente diz que não procede a informação de que empresa extrai minério ilegalmente. “Seguimos a legislação”

Em novembro de 2021, o grupo anunciou que faria a transferência das operações da Alemanha para Minas Gerais, com investimentos da ordem de R$ 1 bilhão nas plantas fabris de Belo Horizonte e Jeceaba (MG) nos próximos dois anos. Um aumento no risco da operação brasileira pode ter repercussões nos planos da matriz para o Brasil.

Por enquanto, a Vallourec tem compensado a paralisação da mina usando o estoque de minério que possui na operação de Jeceaba para produzir pelotas de minério. “Eventualmente vamos comprar minério de outras empresas para manter a operação de pelotização”, afirmou Lyra. O executivo disse que enviou uma carta aos principais clientes informando sobre o ocorrido.

Em relação ao transbordamento, Lyra disse que a Vallourec formou uma célula de crise, com gerentes e o vice-presidente para definir ações emergenciais. Nas 12 horas anteriores ao transbordamento do dique Lisa, choveu na região 190 milímetros, maior nível em 30 anos. Em 11 dias, o nível de chuvas foi o maior registrado desde 1966. “Foi uma situação inédita”, disse o executivo. De acordo com Lyra, devido às chuvas, a base da pilha de rejeitos Cachoeirinha deslizou, levando ao transbordamento do dique.

O comitê da empresa entrou em contato com a ANM, a concessionária Via 040 e órgãos públicos para informar sobre a interdição da rodovia. “Ao longo do sábado ficou claro que era preciso garantir a integridade do Dique Lisa. Primeiro, abrimos um sistema de manilhas por baixo da rodovia para viabilizar o escoamento da água. E abrimos um canal paralelo para fazer o escoamento”, informou Lyra.

No domingo, foi instalado um sistema de radar que informava qualquer deslocamento de terra na base da pilha de rejeitos à Vallourec e à Via 040, para interditar a rodovia. “A ANM elevou de zero para 3 o nível de emergência do Dique Lisa no sábado. No domingo reduziu para 2 depois das medidas implementadas”, afirmou.

Devido ao transbordamento do dique, a ANM determinou a interdição da operação da mina, até que a Vallourec faça uma sondagem na pilha de rejeitos e apresente laudo técnico comprovando sua estabilidade, além da segurança do Dique Lisa. Lyra disse que a segurança do dique já foi comprovada e a sondagem está sendo contratada. “A execução é algo rápido de ser feito. A liberação vai depender do compromisso com os órgãos ambientais, ANM e Ministério Público”, afirmou o executivo.

Em relação à multa de R$ 288,6 milhões que o governo de Minas Gerais aplicou, Lyra disse que vai tentar renegociar o valor. “Pediram que o valor ficasse congelado nas contas da empresa. Estamos negociando para que seja depositado um valor para ser usado nas ações de remediação de danos”, disse. O vice-presidente acrescentou que não é possível prever se haverá novos transbordamentos. Tudo vai depender do nível de chuvas na região no futuro.

Lyra negou denúncias recebidas pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, que apontam irregularidades na área em que houve o transbordamento. Segundo o deputado estadual Noraldino Junior (PSC), a Vallourec estaria extraindo minério sem licença na área onde fica a pilha Cachoeirinha, que carreou para dentro do dique, causando o transbordamento.

O executivo negou a acusação de que o transbordamento teria acontecido porque a empresa teria minerado sem licença no local onde está a pilha. “Não procede a informação de que estamos minerando em área indevida. Seguimos estritamente a legislação”, afirmou. Ele acrescentou que o processo de licenciamento ambiental para ampliar a Pilha Cachoeirinha durou quatro anos e passou por todos os trâmites e etapas legais.

O deputado Noraldino Júnior disse que a Vallourec deve ser convidada para uma audiência pública na Assembleia, em fevereiro, para explicar a situação apontada nas denúncias.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/01/2022