Sucessão na Vale chega ao impasse e mostra conselho rachado

Sucessão na Vale chega ao impasse e mostra conselho rachado

A Vale, uma das maiores empresas brasileiras e concorrente de peso entre as grandes mineradoras mundiais, vive situação inusitada para definir quem vai comandar a companhia nos próximos anos. Hoje uma reunião extraordinária do conselho de administração da mineradora terminou em impasse sobre o processo sucessório.

O Valor apurou que houve um empate na votação do conselho.

Na pauta, havia a opção de reconduzir o atual CEO, Eduardo Bartolomeo, ou de abrir processo competitivo para selecionar um executivo a partir de uma lista, com Bartolomeo nela. Esse trabalho seria feito por uma empresa especializada em recrutamento de executivos. Nesse processo, forma-se uma lista com três nomes e, a partir dela, é escolhido o nome do presidente da empresa.

O desfecho da reunião confirma um “racha” no colegiado.

De um lado estão conselheiros favoráveis à recondução do atual CEO. De outro, figuram os que preferem a abertura de um processo competitivo para selecionar um novo presidente.

De acordo com apuração do Valor, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e a Bradespar, empresa de participações do Bradesco, votaram favoráveis à abertura de um processo competitivo.

Até poucos dias atrás a Bradespar seria favorável à recondução de Bartolomeo, mas teria mudado de ideia, apurou a reportagem. Procurada, a Bradespar não retornou até o momento. O Bradesco também não se manifestou.

Fontes a par do assunto negaram, porém, a versão segundo a qual o Bradesco teria mudado de posição.

A Cosan, do empresário Rubens Ometto e que tendia a apoiar a recondução de Bartolomeo, se absteve de votar, segundo apurou o Valor. Procurada, a Cosan não se manifestou sobre o tema.

A japonesa Mitsui, por sua vez, teria apoiado a recondução do atual CEO.

O conselho da Vale é formado por 13 integrantes, sendo 12 eleitos em assembleia de acionistas e um representante pelos empregados.

Os acionistas de referência, caso de Previ, Mitsui e Cosan, têm peso, mas não decidem sozinhos. A Bradespar, que hoje tem menos de 5% da Vale, é acionista histórica da mineradora e por ser do Bradesco também tem muita influência.

Mas há um grupo de oito conselheiros considerados independentes no colegiado da mineradora cujos votos valem o mesmo dos acionistas de referência. Entre eles, há três estrangeiros e cinco brasileiros.

Entre os brasileiros, um dos independentes é Luis Guimarães, ligado a Rubens Ometto, e apontado como um possível CEO da Vale no futuro.

Os estrangeiros votaram todos pela recondução. São eles a canadense Vera Marie Inkster, o português Manuel Oliveira e o australiano Douglas Upton.

Agora caberá ao presidente do conselho da Vale, Daniel Stieler, que é indicado pela Previ, buscar uma saída para o impasse. O nó terá que ser desatado pela negociação e ela terá que envolver necessariamente Eduardo Bartolomeo.

Privatizada em 1997, a Vale se transformou em empresa sem controle acionário definido em duas etapas graduais e consecutivas, em 2017 e 2020. Se antes havia um bloco de controle coeso, formado por Previ, Bradespar, Mitsui e BNDES, que tomava as decisões sem muita discussão no conselho, a partir de 2017, no formato de “Corporation”, a situação mudou.

No governo Bolsonaro, o BNDES vendeu todas as ações que ainda detinha na Vale e a influência direta do governo na empresa passou a ser via Previ. Mas esse tipo de articulação política não é mais suficiente para conseguir interferir na empresa diretamente como ficou demonstrado no caso em que o governo tentou, sem sucesso, fazer o ex-ministro Guido Mantega presidente da mineradora.

A Vale informou hoje, em comunicado, que uma nova reunião do conselho, ainda sem data, seguirá discutindo o tema sucessório.

Será preciso esperar agora pelos próximos capítulos nessa sucessão, uma das mais complexas no mundo corporativo brasileiro recentemente.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/02/2024