Solução sobre ‘tarifaço’ tem divergência na indústria
Solução sobre ‘tarifaço’ tem divergência na indústria
O discurso de empresas e governo, na busca de ações para tentar brecar a tarifa de 50% do governo Trump, conseguiu mostrar alinhamento entre as partes nesta terça-feira (15), apesar de existir questões em aberto nos bastidores que ainda são foco de divergências, apurou o Valor. Dezessete líderes de entidades e empresas estiveram com ministros na manhã de ontem, em Brasília.
No encontro, Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tratou de “puxar a fila” das apresentações, seguido de Josué Gomes, da Fiesp, a federação das indústria de São Paulo, na reunião com o ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento) e Fernando Haddad (Fazenda). As falas que se seguiam tratavam de repetir a questão da não retaliação imediata aos EUA, dita por Alban, e da saída técnica, e não política.
A ideia no encontro, assim como o ocorrido com o setor do agronegócio ontem à tarde, era reforçar o caminho da solução amparada em dados, e ir afastando o debate do viés político, que teria contaminado a pauta, diz o executivo de um grupo.
Além disso, foi comentado ontem sobre o nível de insegurança das empresas na produção que teria que ser destinada aos EUA neste mês, e como isso vai afetar os resultados, dizem duas fontes ouvidas.
Apesar desses aspectos em comum, há pontos do debate que já acionam o sinal amarelo: a questão de possíveis tarifas diferentes para cada segmento, e a hipótese de um adiamento de 90 dias para uma nova tarifação. Nesses temas, em conversas paralelas às falas oficiais, há discordâncias, dizem fontes.
Sobre variações nas alíquotas por setor, não seria um ponto defendido pelo MDIC, mas, sob condição de anonimato, entidades dizem ter conhecimento de que a hipótese tem sido colocada na mesa por algumas indústrias, mas não é uma unanimidade.
É algo que seria bem-recebido entre exportadores de laranja e carne, mas tem sido criticado por outros, como madeira e têxteis.
“Isso faria com que aqueles setores ‘no fim da lista’, menos estratégicos, corressem o risco de ficar desprotegidos numa negociação, porque você divide a indústria no meio. E os menores terão menos poder de barganha”, diz um interlocutor presente no encontro.
Dias atrás, surgiram informações no mercado de que alguns setores com alta demanda nos EUA iriam sugerir alíquotas diferenciadas nas conversas com o governo, e cotas com tarifas menores.
“Cada um ali tem a própria vida, as próprias pressões no envio de produtos. Então eu acho que, até para não parecer divisão, essa questão de cotas e alíquotas vão ter que ser tratadas nas negociações individuais. Até porque, os setores continuam acionando as suas interfaces para buscar acordo setorial”, disse um diretor de uma associação.
A respeito da hipótese de se definir 90 dias de trégua, parte dos empresários apoia a ideia, disseram ontem, pois isso daria tempo para se amarrar um acordo melhor, só que parte vê isso como um risco, pela possibilidade de não resolver a questão nesse intervalo. E ainda criar instabilidade nos negócios das empresas no período.
Alckmin teria essa segunda visão também. Um problema que pesa nisso são os efeitos já sentidos do anúncio da tarifação. Ao governo foi dito que há uma espécie de zona cinzenta de tarifação que já atrapalha os embarques de perecíveis do país aos EUA neste momento. Produtos que saem hoje do país já chegariam nos EUA custando mais.
“Em parte pela urgência do tema, e como um caminho do ‘meio’, a ideia divulgada pelo governo [ontem] foi de estender ao máximo a busca de uma solução agora, e só depois, se não tiver avanço, buscar novo prazo. Mas é pouco tempo, e não dá para fazer na correria”, disse um diretor da associação. A CNI também tem receio dos riscos de uma postergação e mencionou a questão ontem, segundo fontes.
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 16/07/2025