Setores da indústria têm cenários heterogêneos para o futuro, diz XP

Setores da indústria têm cenários heterogêneos para o futuro, diz XP

O processo de normalização da oferta e a demanda em expansão favoreceram o bom desempenho da indústria no segundo trimestre, especialmente da de transformação, afirma Rodolfo Margato, economista da XP.

Para o restante do ano, o cenário é heterogêneo para a indústria — setores dependentes de renda devem ter performance melhor do que aqueles que dependem de crédito, argumenta.

O PIB da indústria teve expansão de 2,2% no segundo trimestre frente ao primeiro, feito o ajuste sazonal, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esse crescimento é explicado pelos desempenhos positivos de 3,1% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, de 2,7% na construção, de 2,2% nas indústrias extrativas e de 1,7% nas indústrias de transformação.

“O dado do PIB em si foi bom, mas o que mais chamou atenção foram as aberturas. O consumo das famílias, o desempenho significativo do mercado de trabalho, a renda disponível e a reabertura indicam demanda interna sólida. Os componentes emites sinal ainda mais positivo do que o número geral [do PIB]”, afirma o economista.

Ele argumenta que os componentes da indústria que mais surpreenderam foram construção civil e serviços industriais de utilidade pública - no PIB, além do setor manufatureiro e extrativo, a indústria engloba construção civil e produção e distribuição de energia e gás.

A construção foi puxada pelo investimento público de governos estaduais, com formação bruta de capital fixo, e aumento da massa de renda real do setor, afirma. Já os serviços industriais de utilidade pública tiveram como contribuição relevante a produção de eletricidade.

“No ano passado, o valor adicionado desse componente havia caído bastante, por conta do acionamento das usinas termelétricas. Mas nos últimos dois trimestres, houve participação crescente das hidrelétricas, com normalização das chuvas”, argumenta.

Para o segundo semestre, contudo, Margato espera desaceleração da atividade, o que deve se refletir na indústria.

Ele prevê um cenário heterogêneo para a indústria no segundo semestre. Além de problemas de oferta de insumos, que ainda afetam setores como o automotivo, ainda que cada vez menos, a indústria deve se ver limitada por restrições de renda e crédito.

“Para os bens que são mais sensíveis a crédito, como móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, a desaceleração deve ficar mais clara daqui para frente, até porque houve antecipação do consumo desses bens nos últimos dois anos, embalado por juros baixos”, diz, ao prever que o aperto monetário pese para setores que dependem de crédito.

“Quando olhamos bens como alimentos, bebidas e vestuário, a renda ainda aparece em trajetória firme de crescimento até o fim do ano, por conta de estímulos fiscais e queda da inflação no curto prazo.”

Margato afirma que cenário projetado para a indústria adiante é, portanto, heterogêneo. “Setores mais sensíveis à renda, portanto, devem ter performance superior àqueles que dependem de crédito e investimento, que devem ter desaceleração”, conclui.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 02/09/2022