Selic eleva temor sobre qualidade de dívida
Selic eleva temor sobre qualidade de dívida
A perspectiva de aumento da Selic neste ano tem elevado a preocupação do mercado com a qualidade dos títulos de dívida. O esperado impacto nas despesas financeiras das emissoras, aliado ao movimento recente de saída de recursos de fundos de crédito, tem levado gestoras a rever suas carteiras e posições, disse Ana Luísa Rodela, diretora da Bradesco Asset.
“Neste momento, costuma pesar até para os emissores que são muito grandes e recorrentes e que acabam tendo posições muito grandes nas casas”, afirmou durante painel na Latin America Investment Conference, do UBS.
Vivian Lee, gestora e sócia da Ibiuna, também acredita que o cenário inspira a redução da exposição a alguns nomes específicos. “É o momento de uma análise ainda mais no micro, considerando a preocupação com os juros e até a necessidade dos acionistas aportarem equity”, afirmou no painel.
Para Daniela Gamboa, líder de crédito privado e imobiliário na SulAmérica Investimentos, 2025 será um “ano com muito menos clareza e tendência de movimento dos spreads” e com o fluxo do recurso dos fundos indo para ativos “high grade” (com menor risco). “Vamos ter que ser muito seletivos. Será importante conhecer ainda mais os papéis, acompanhar os nomes e ver de perto se os ativos estão com preço correto”, disse.
A redução dos spreads (as taxas dos títulos) no mercado primário vista no fim de 2024 fez o mercado de crédito começar 2025 de forma mais saudável, disse Rodela. “Era uma correção que precisava acontecer após um ano inteiro de fechamento. Notamos os clientes com certa preocupação se é para reduzir ou não a posição em crédito, mas respondemos que não. Começamos o ano em um nível mais saudável de spreads e a redução vista não foi provocada por causa de um movimento de liquidez, de gestor precisando de caixa”, apontou a diretora da Bradesco Asset.
Segundo Lee, da Ibiuna, o aumento das taxas visto em dezembro devolveu, de certa forma, a queda ocorrida ao longo de 2024. Para ela, a demanda por novas operações em 2025, com esse novo nível de taxas, vai depender do perfil das companhias. “Empresas que já fizeram a troca de spread no ano passado eventualmente não vão ter tanto apetite porque já fizeram parte da lição de casa”, apontou. As que ainda não conseguiram fazer a gestão de passivos podem encontrar certa dificuldade em um mercado menos pujante. “O mercado pode secar para alguns nomes”, disse Lee.
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 29/01/2025