Saiba se a quebra da Evergrande pode afetar a Vale

Saiba se a quebra da Evergrande pode afetar a Vale

O volume das exportações de minério de ferro pela Vale para a China, protagonista na produção de aço, pode ser impactado pela liquidação da Evergrande, decretada em Hong Kong nesta segunda-feira (29), segundo analistas ouvidos pelo Valor. A dimensão desse impacto, porém, depende de quais ações o governo chinês irá tomar para segurar o efeito dominó no setor imobiliário do país — e as expectativas são positivas neste sentido.

A recuperação judicial do China Evergrande Group, que já foi a maior incorporadora imobiliária da China, se arrastava há dois anos. Nesta segunda, acabou o prazo para a elaboração de um plano de reestruturação do pagamento de cerca de US$ 332 bilhões em passivos, incluindo dinheiro devido a fornecedores, projetos incompletos e outras obrigações de empréstimos. Sem acordo com os credores, a Justiça de Hong Kong determinou a liquidação.

Após o decreto de liquidação, as ações da companhia despencaram 20,9% na Bolsa de Hong Kong, onde é listada, o que elevou as perdas nos últimos 12 meses para 90%. As ações da China Evergrande New Energy Vehicle, braço da companhia, caíram 18%. Em seguida, as negociações na bolsa foram interrompidas.

Com uma das maiores dívidas do país, o problema da Evergrande se espalhou pelo setor imobiliário da China, um dos pilares da segunda maior economia do mundo, levando a uma série de inadimplências e casas não acabadas em todo o país.

Setor tem alta demanda por aço

A China é protagonista na produção mundial de aço, respondendo por quase 55% da demanda global e importação de 1,1 milhão de toneladas de minério de ferro anualmente, conforme dados da World Steel Association. A incorporação imobiliária da China consome cerca de 40% dessa demanda, tornando o setor um dos maiores compradores de aço do mundo.

Com uma possível crise no setor, as exportações de minério de ferro da Vale para a China podem ser comprometidas indiretamente. Isso poderia acontecer em um efeito dominó que parte da liquidação da Evergrande. Com uma demanda menor por construções, a demanda sobre o aço cai, o que impacta diretamente em seu preço. Nessa leva, o minério de ferro também sofre impacto, muito embora o preço hoje tenha subido 1,1% no Porto de Dalian.

Os dois anos em que a Evergrande arrastou a recuperação judicial fizeram com que a liquidação desta segunda-feira não fosse uma surpresa para o mercado, de acordo com a análise de João Daronco, da Suno Research. Por conta disso, o impacto sobre a Vale deve ser mais brando, em sua avaliação. "É difícil avaliar o grau de impacto que possa ter na Vale, mas vejo como sendo algo pontual e que não deve interferir de forma material nos resultados da empresa", diz.

Apesar de a notícia sobre a liquidação da Evergrande, por si só, não ter sido capaz de causar grandes alterações nos índices da B3 nesta data, as consequências negativas devem ser sentidas a partir do desaquecimento no mercado de aço em específico e, também, na economia chinesa em geral, segundo Thiago Guedes, analista e diretor de negócios da Bridgewise. "Como somos exportadores, qualquer desaquecimento na economia da China pode impactar nossa bolsa e nossos investimentos", diz.

"A expectativa dos grandes investidores brasileiros não é de um impacto muito grande, mesmo com os problemas na China. A gente pode crescer um pouco menos, mas nada muito forte para a gente ter uma crise na economia", diz Guedes.

Caso o governo chinês não adote medidas para impedir o desaquecimento do setor, Hugo Queiroz, sócio-diretor da L4 Capital, aponta que margens mais baixas para a venda do minério de ferro resultarão em geração de caixa mais fraca na Vale, grande exportadora de minério de ferro no Brasil. "Naturalmente, você piora o seu EBITDA e aumenta seu risco financeiro por questão de endividamento frente uma geração de caixa menor e distribui menos dividendos", analisa.

"Os reflexos na Vale são essa sequência: perde faturamento, reduz EBITDA, sua geração de caixa fica mais fraca, seu risco financeiro e diminui dividendos. Tudo isso consequência de se contaminar o mercado imobiliário chinês", resume Queiroz, da L4 Capital.

Não é só a Vale deve se preocupar com o cenário que ainda se desenrola na China. A Gerdau, CSN e Usiminas também podem ser impactadas. O analista acredita, porém, que a economia chinesa deve tomar medidas adicionais para segurar o efeito da liquidação da Evergrande.

Procurada pelo Valor, a Vale optou por não se manifestar sobre o assunto.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/01/2024