Reconstrução no Rio Grande do Sul deve levar uma década, avalia setor de infraestrutura e indústria de base

Reconstrução no Rio Grande do Sul deve levar uma década, avalia setor de infraestrutura e indústria de base

O desastre climático no Rio Grande do Sul deverá demandar ao menos uma década para a reconstrução da infraestrutura local, mas a priorização dos recursos para esse processo é inevitável, avalia Venilton Tadini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

A entidade ainda está formulando o diagnóstico final dos impactos na infraestrutura do Estado, mas a maior preocupação é com o “dia seguinte”, segundo ele. “A questão é o cenário de médio e longo prazo”, afirma.

Os cálculos sobre o custo dessa reconstrução ainda são incertos para a Abdib, mas Tadini destaca que são recursos que necessariamente terão que ser alocados, independentemente da situação fiscal. “Não há o que fazer. Os mais céticos em relação a questões fiscais sabem que esses recursos efetivamente vão ter que ser gastos”, diz ele.

“Agora, também isso não é da noite para o dia. Para recuperar aquilo vai precisar de uma década. O que é ruim, mas é assim, infelizmente. Não se refaz do dia para noite. O desastre provocado pelo [furacão] Katrina em Nova Orleans levou dez anos para se reconstruir, e isso na economia americana. Então isso é um problema grave que vai trazer sequelas e vai exigir recursos. Ninguém sabe quanto, mas vamos ter que fazer porque é uma situação inaceitável, e mais inaceitável é deixar que ocorra novamente daqui a um ano”, diz ele.

Além disso, Tadini afirma que os investimentos também trarão uma renovação da infraestrutura local e deverão gerar demanda para a indústria e para a cadeia de fornecedores como um todo.

Em relação à necessidade de mitigar impactos climáticos no restante do país, ele avalia que é preciso acelerar as ações. “Está um pouco tarde para resolver toda a questão, vamos ter sequelas de qualquer maneira, mas quanto mais tarde focarmos nisso, maior será o sacrifício e a dificuldade de retomada da economia”, afirma.

As novas necessidades de investimento deverão se somar às antigas demandas da infraestrutura brasileira. Em seu relatório anual de 2023, a Abdib estimou uma lacuna anual de R$ 249 bilhões nos investimentos em transportes, energia elétrica, saneamento e telecomunicações. O hiato representa a diferença entre o montante investido no ano passado (de R$ 213,4 bilhões) e o valor anual de investimento que a entidade calcula ser necessário para que os gargalos sejam mitigados (R$ 462,3 bilhões).

Questionado sobre como a emergência dos novos projetos de mitigação dos impactos climáticos podem impactar essa demanda anterior, em um momento de crise fiscal, Tadini afirma que a maior parte dos investimentos previstos no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deverá vir do setor privado, e não do orçamento.

Na quinta-feira (23), a Abdib deverá realizar seu fórum anual, em Brasília, no qual deverá debater o andamento e resultados dos programas federais de infraestrutura e de neoindustrialização. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá fazer a abertura do evento.

Fonte: Valor
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 20/05/2024