Reciclagem do aço recua no Brasil por causa das importações chinesas

Reciclagem do aço recua no Brasil por causa das importações chinesas

O uso de sucata ferrosa na setor de aço recuou no ano passado a reboque da queda na produção no Brasil. Em 2023, o total produzido foi de 32 milhões de toneladas, com 24% desse volume reciclado. Um ano antes, foram de 34 milhões de toneladas e 26,17%, respectivamente. Esse recuo reflete principalmente o salto em importações de aço, sobretudo chinês, impactando a cadeia de recicladores e reduzindo a disponibilidade de aço produzido com menor emissão de gases de efeito estufa.

— Com a produção mais baixa devido à concorrência com o produto vindo da China, o consumo de sucata também cai. Ainda não sentimos a melhora esperada pela sobretaxa imposta aos importados. Deve levar ainda algum tempo — diz Clineu Alvarenga, diretor executivo do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa).

A queda na produção de aço em 2023 resultou do aumento da importação de aço em 50%, além de paradas para manutenção em aciarias elétricas, explicou o Instituto Aço Brasil (IAB). Em junho e julho, a produção voltou a subir ante a igual mês de 2023. A alta acumulada desde o início do ano é tímida, de 3,3%, com 19,4 milhões de toneladas. Mas as importações subiram 23,7% no período.

Para o Aço Brasil, a maior disponibilidade de sucata no mercado é uma das alavancas de descarbonização do setor no curto e médio prazos. Alvarenga, do Inesfa, explica que cada tonelada de aço produzida a base de minério de ferro emite 2,4 toneladas de gases de efeito estufa, enquanto se for feita 100% com sucata, essa emissão cai a 0,6t de CO2.

— Usando sucata, a gente consegue produzir aço com uma emissão de gases de efeito estufa muito menor, numa escala de dez para um. Do ponto de vista de pegada de carbono, é muito melhor, traz um grande benefício, ainda mais num momento em que existe essa busca por acelerar a redução de emissão de gases em efeito estufa — diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, a maior produtora brasileira de aço. — Nossa média mundial, de emissão é de 0,93 tonelada de CO2, por tonelada de aço, menos da metade da média no mundo.

‘Infinitamente reciclável’

Globalmente, a companhia tem 75% de sua capacidade produtiva baseada em sucata. No Brasil, essa fatia é superior a 70%, enquanto nos Estados Unidos beira os 100%. Ontem, a brasileira anunciou que sua controlada americana Gerdau Ameristeel fechou a compra da Dales Recycling Partnership por cerca de US$ 60 milhões. Pela transação, vai assumir os ativos da empresa que opera, processa e recicla sucata ferrosa nos EUA.

A fatia menor de uso de sucata pela companhia no Brasil, explica Werneck, tem a ver com a usina de Ouro Branco (MG), em que a produção é feita com um alto-forno a minério de ferro. A ideia é manter essa unidade operando, mas fazer sua descarbonização, no futuro, usando novas tecnologias, como o hidrogênio.

— No Brasil, 70% da produção de aço é a carvão mineral. Há um percentual pequeno a base de carvão mineral e as aciarias elétricas, a sucata. É esta a que menos emite carbono. E seria oportuno ampliar essa rota — avalia Marco Polo Lopes, presidente executivo do Aço Brasil.

Para Werneck, a China tem praticado dumping no Brasil, ou seja, vendido aço abaixo do custo de produção. A Gerdau, diz ele, vem chamando atenção para o impacto econômico e ambiental do setor.

— Estamos deixando de produzir um aço de baixa emissão de carbono, o que os clientes já buscam. O aço é infinitamente reciclável. Pode estar no Palco Mundo do Rock in Rio hoje e, amanhã, ser transformado em outro — diz sobre a parceria com o festival desde 2022, em que a Gerdau montou a estrutura do palco principal de 200 toneladas de aço reciclado. — E a sucata é relevante em geração de emprego e renda.

O Brasil tem cerca de 5,5 mil de empresas atuando com sucata ferrosa e cinco milhões de pessoas na cadeia de reciclagem de todos os materiais, segundo Alvarenga.

A indústria também está envolvida. A Gerdau tem acordos com montadoras, absorvendo o resíduo gerado na fabricação de veículos. Arrematou ainda duas plataformas aposentadas pela Petrobras. E afirma poder usar a sucata que ficou das enchentes no Sul.

Fonte: O Globo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 19/09/2024