Queda da produção de aço na China deve pressionar preços no Brasil
Queda da produção de aço na China deve pressionar preços no Brasil
A produção de aço está em queda na China. O país que mais produz o metal no mundo – e o que mais consome – enfrenta uma baixa na demanda intensificada pelo momento negativo da atividade de construção. Especialistas apontam que a situação deve pressionar o preço do produto siderúrgico, que vem em declínio há um tempo, e impactar diretamente a dinâmica do mercado.
Dados da National Bureau of Statistics mostram que os chineses produziram, em agosto, 77,9 milhões de toneladas de aço bruto, o menor volume para o mês desde 2017. Ante agosto do último ano, o montante caiu 10,4%. No acumulado dos primeiros oito meses de 2024 frente ao mesmo período de 2023, o setor amargou um declínio de 3,3%, para 691,4 milhões de toneladas.
O aço produzido na China é destinado, principalmente, para a construção civil. Embora ainda exista um déficit habitacional no país, não há demanda efetiva, de fato, e o preço do metal está caindo regularmente desde 2021, acentuado pela crise imobiliária desencadeada pelo caso da Evergrande, conforme ressalta o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira. Na avaliação dele, a tendência é de que o valor do aço continue em queda daqui para frente.
Com a produção chinesa diminuindo, a oferta global de aço também deve cair devido ao peso do país, já que outros players, como a Índia, estão registrando crescimento nos volumes, analisa Oliveira. No Brasil, os efeitos disso tendem a ser benéficos, segundo ele, visto que as siderúrgicas vinham enfrentando problemas relacionados a um excesso de oferta no mercado internacional.
Para o sócio-diretor da Belo, naturalmente, por consequência, os preços do minério de ferro – insumo para a produção de aço – serão impactados. Entretanto, a perspectiva é de que o cenário não reverta o processo atual de expansão do nível produtivo das mineradoras brasileiras.
Oferta global deve diminuir em caso de baixa nos preços
O especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, afirma que a oferta global de aço poderá diminuir dependendo do nível de preço do aço. Ele explica que o foco das siderúrgicas chinesas está em conter despesas e fortalecer o caixa, logo, se o valor cair muito, o custo produtivo pode se tornar inviável, o que levaria as empresas a reduzirem a produção. Com esse movimento da oferta e a desaceleração da demanda, os preços, consequentemente, tendem a ser impactados, ele avalia.
Luives acredita que, em alguma medida, também pode haver impacto da redução na produção de aço na China nas mineradoras brasileiras. Os chineses são os maiores consumidores de minério de ferro do mundo e importam a maior parte do volume produzido pelas empresas no Brasil.
Assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau sublinha que o mercado trabalha para equilibrar a oferta e demanda por meio do ajuste de preços. E quando o valor baixa muito, de forma natural acontecem cortes produtivos, uma vez que as empresas não querem reportar prejuízos. Contudo, ele ressalta que uma intervenção governamental pode influenciar esse movimento.
De acordo com Sharau, se o governo intervém para tentar controlar os preços, os efeitos podem parecer positivos a curto prazo, ajudando a resolver problemas imediatos e reduzir preços para os consumidores. No entanto, mais adiante, tendem a ocorrer consequências econômicas negativas, como inflação e problemas fiscais, quando o governo precisar compensar a perda de receita.
Sobre a oferta global, ele ressalta que, permanecendo ou reduzindo, vai afetar tanto a produção de aço quanto do minério de ferro – na opinião do assessor, as mineradoras do Brasil podem ser afetadas. “Quando há uma queda na demanda pelo aço, naturalmente terá uma diminuição na oferta do próprio produto para que não tenha uma continuidade na redução dos preços”, pondera.
Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 18/09/2024