Prioridade da CSN é estancar expansão da dívida financeira

Prioridade da CSN é estancar expansão da dívida financeira

Há uma meta bem clara a todos na Companhia Siderúrgica Nacional(CSN): reduzir até o final do ano o nível de alavancagem financeira da companhia, que atingiu no fim de junho 2,78 vezes na relação de geração operacional (Ebitda) e dívida líquida. O objetivo é baixar esse nível para 1,95 vez, informou nesta quinta-feira (03) o presidente da empresa, e também acionista, Benjamin Steinbruch.

A afirmação foi feita durante reunião virtual com analistas de bancos, após a divulgação do balanço financeiro e operacional do segundo trimestre, que trouxe resultados não tão alvissareiros como os vistos em 2021 e até parte de 2022. A dívida líquida atingiu R$ 31,45 bilhões, 50% acima do mesmo trimestre do ano passado.

Um dos problemas no negócio de aço, desde o início do ano, ocorreu na usina em Volta Redonda (RJ), impactando a produção e obrigando a empresa a comprar placas de aço de terceiros. elevando custos, além de gastos para correções dos equipamentos. Segundo Steinbruch, a empresa conseguiu estancar o problema, retomando a normalização desde o início de julho.

“Começamos o ano bastante atrapalhados e tivemos de trabalhar muito para corrigir o problema”, disse Steinbruch. “Agora estamos retomando o crescimento da produção de aço, levando a uma redução de custos, que se somará com a queda dos preços de matérias-primas. A empresa consome, entre outros insumos, minério de ferro, carvão, zinco e estanho.

A divisão siderúrgica, devido a esse impacto, viu sua margem do Ebitda recuar para 9,3% no trimestre e o montante a R$ 553 milhões. A empresa disse que conseguiu manter os preços do aço, mesmo com a pressão de baixa, local e mundialmente, forte.

No negócio de minério de ferro, o empresário disse que espera melhora nos preços com o plano previsto de reaquecimento da economia chinesa. “Batemos recordes de produção e vendas no segundo trimestre. Fomos afetados pela queda de preço. Agora, vamos tirar proveito dessa melhora que deverá vir [planos na China]”, disse.

Steinbruch comentou que a segunda parte do ano (julho a dezembro), historicamente, é de maior geração de caixa nos negócios da empresa e que isso vai contribuir para a desalavancagem. Ele justifica que a CSNdesembolsou R$ 13 bilhões com as aquisições da cimenteira Lafarge-Holcim no país, os ativos de energia da CEEE e pagamento de R$ 2,7 bilhões em dividendos - tudo entre setembro passado e maio deste ano.

“Nosso objetivo é manter um caixa na empresa na casa de R$ 15 bilhões, como uma forma de seguro para o momento [mais difícil] das finanças mundiais. Vamos retornar aos nossos objetivos traçados, trabalhando para ter neste trimestre as margens históricas”.

Perguntado quando e como a companhia vai dar partida a novo plano estratégico de crescimento, Steinbruch afirmou: “Nada mudou”. O empresário ressalvou, no entanto, que no meio do caminho foram feitas as aquisições em cimento e energia, além de uma remuneração mais robusta aos acionistas. “Essas aquisições e esforços foram válidos. Agora, até o final do ano é fazer a desalavancagem [financeira] e recuperação de caixa”.

Segundo o empresário, a estratégia está mantida, inclusive com compra de ativos no exterior, mas esse caminho passa antes por algumas premissas e pilares. Ele cita atenção da CSN para ESG e inovação, foco na desalavancagem, estrutura de capital sólida e operação ajustada da siderúrgica em Volta Redonda. Garantidas essas prioridades, afirmou, abre-se espaço para oportunidades de crescimento, porém nos próprios negócios, aproveitando sinergias.

Steinbruch disse que várias iniciativas estão sendo tocadas na empresa. E não descartou buscar novamente a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da CSN Cimentos (agora robusta, vice-líder do mercado, e operando ao nível de 13 milhões a 14 milhões de toneladas ao ano) e um sócio para a empresa energia adquirida no Sul. O desenho inicial previa ir ao leilão da CEEE meio a meio com a EDP.

Sobre ter ativos no exterior, vê como prioridade, mas observa: “Sem sacrificar a geração de Ebitda e o endividamento da CSN”.

Provocado por um analista sobre a saída da Nippon Steel do capital da Usiminas - principal concorrente da CSN -, tornando controlador da siderúrgica o grupo Ternium, Steinbruch disse que só confirmou o que a CSN sempre disse internamente, e agora é público: que o grupo ítalo-argentino sempre esteve à frente da gestão, desde que entrou na Usiminas, em 2012. A CSN é detentora de ações da rival mineira e foi à Justiça, sem sucesso, contra a Ternium, pedindo uma oferta pública de ações.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 07/08/2023