Principais entraves às exportações brasileiras estão relacionados à logística, mostra pesquisa da CNI

Principais entraves às exportações brasileiras estão relacionados à logística, mostra pesquisa da CNI

A competitividade das exportações brasileiras é prejudicada por uma série de entraves desde a origem, nas empresas, até o país de destino. Para subsidiar proposição de melhorias e recomendações de políticas públicas que solucionem esses problemas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou uma nova edição da pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras. Entre os 43 entraves avaliados, as questões relacionadas à logística de comércio exterior se destacam como as mais importantes, com quatro dos cinco principais obstáculos indicados pelos exportadores.

Entre os principais entraves estão o "custo do transporte internacional", as "elevadas tarifas cobradas pelas administrações portuárias", o "custo do transporte doméstico" e as "elevadas tarifas cobradas por aeroportos". Completam a lista dos cinco maiores gargalos "a volatilidade da taxa de câmbio". Para o ordenamento dos principais entraves foi considerada a soma dos percentuais de empresas que classificaram o item como “impactou muito” ou como “entrave crítico”. 

“A elaboração desse diagnóstico é fundamental para a orientar as prioridades da política de comércio exterior brasileiro. Esperamos que os resultados norteiem a estratégia de política comercial do Brasil e contribuam com respostas eficazes para ampliar a participação do Brasil no comércio mundial”, avalia a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri.

 

Custo do transporte internacional é principal obstáculo para todos os modais  

Principal obstáculo apontado pelas empresas exportadoras, o custo do transporte internacional é considerado crítico e de alto impacto por 60,7% das empresas participantes - percentual mais expressivo do que os 40,4% registrados na pesquisa anterior, em 2018. De acordo com o estudo, o entrave é considerado o mais importante, independente do principal modal de transporte utilizado na exportação: marítimo, rodoviário ou aéreo. A piora de percepção com o entrave é um reflexo da piora nos custos de transporte internacional nos últimos anos devido, sobretudo, aos efeitos da pandemia de Covid-19.

As elevadas tarifas cobradas pelas administrações portuárias também tiveram destaque no ranking geral e ocupam o segundo lugar, com avaliação de alto impacto ou crítico por 40% das exportadoras. E em terceiro na lista de principais obstáculos às exportações, de acordo com o levantamento, está o custo do transporte doméstico, avaliado nesses dois graus de impacto por 33,7% das empresas exportadoras.

“É importante destacar que os entraves às exportações considerados pelas empresas exportadoras como de alta relevância estão todos na esfera externa às empresas. De acordo com a avaliação das participantes, os entraves classificados como internos às empresas são todos de baixa relevância, ou seja, menos importantes”, ressalta Constanza Negri.

Dentre os 43 tipos de entraves avaliados pelas empresas, os 16 mais importantes (com percentual de assinalações em “crítico” ou “impactou muito” acima de 25%) foram considerados de alta relevância. No terço intermediário, ou seja, de relevância intermediária, estão os próximos 15 entraves; e no terço de baixa relevância estão os últimos 12 entraves em termos de importância.

Entraves de nove categorias foram avaliados

Esta edição do estudo dá continuidade ao trabalho de identificação e monitoramento dos principais entraves à exportação no Brasil, iniciado em 2002 pela CNI. A pesquisa dividiu os entraves nos seguintes grupos: macroeconômicos; institucionais; legais; burocracia alfandegária e aduaneira; acesso a mercados externos; tributários; mercadológicos e de promoção de negócios; logísticos; e internos às empresas. Na análise por categorias de entraves, além dos logísticos já destacados, aparecem em destaque entre aqueles de alta relevância os macroeconômicos, institucionais, tributários e legais.

ENTENDA AS CATEGORIAS DE ENTRAVES ÀS EXPORTAÇÕES

Logísticos:
infraestrutura brasileira e logística internacional
Os custos do transporte internacional pioraram desde a última pesquisa e é o desafio mais importante para os exportadores.

Macroeconômicos:
visão dos exportadores sobre a influência da taxa de câmbio e dos juros na exportação
A volatilidade do câmbio é o 4º maior dos 43 entraves.  Um a cada três empresários considera fator como “impacta muito” ou “crítico”. Comparado à última edição, houve melhora em relação aos juros para financiamento da produção e à exportação.

Institucionais:
estratégia, eficiência e transparência governamental nas políticas ligadas ao comércio exterior
Os mais importantes e indicados como de muito impacto ou críticos foram a falta de estratégia governamental de comércio exterior com objetivos, metas e prazos (30,5%) e a baixa eficiência governamental para a superação das barreiras existentes nos mercados externos (29,5%).

Legais:
complexidade das leis e normas do processo de exportação e suas interpretações
Foram destaques no grupo a proliferação de leis, normas e regulamentos de forma descentralizada (26%) e as múltiplas interpretações dos requisitos legais por parte dos diferentes agentes públicos (25,8%).

Burocráticos, alfandegários e aduaneiros: 
exigências de documentos, procedimentos alfandegários e aduaneiros, sistemas de informação do processo de exportação, custo e duração
Na comparação com a última pesquisa, as taxas cobradas por órgãos anuentes e os procedimentos para despacho e liberação das cargas melhoraram.

Burocráticos, alfandegários e aduaneiros:
o principal desafio na categoria é o excesso e a complexidade dos documentos requeridos para exportações, a não aceitação de assinaturas eletrônicas e exigências de documentos originais. Avaliados como um só entrave, os desafios foram considerados muito impactantes ou críticos em 23,9% das respostas.

Acesso a mercados externos:
barreiras tarifárias e não tarifárias aos produtos brasileiros e a capacidade do governo de promover acesso a mercados internacionais
80% dos exportadores enfrentaram pelo menos um obstáculo nos mercados de destino das exportações.

Tributários:
na categoria, o principal entrave é a alta e complexa carga tributária incidente direta ou indiretamente nos produtos exportados. Três em cada cinco empresas indicaram que pelo menos um tributo impacta muito ou é crítico na competitividade das exportações.

Mercadológicos e de promoção de negócios:
dificuldade das empresas de vender e promover 
suas mercadorias no mercado externo.
Nove em cada 10 empresas usaram pelo menos um serviço de apoio à internacionalização para entrar no comércio internacional.

Internos às empresas:
entraves ligados à capacidade das empresas de exportar
Nesta edição, as exportadoras ouvidas consideraram que as maiores dificuldades estão em fatores externos às empresas, por isso os obstáculos internos avaliados são de baixa relevância e não ganharam destaque.

Como foi feita a pesquisa

Às empresas exportadoras, foi apresentada uma lista de 43 entraves e solicitado que avaliassem o impacto de cada um deles nos respectivos processos de exportação nos últimos dois anos. Os obstáculos foram classificados em uma escala que variava de 1 a 5, sendo que 1 indica que o entrave não causou impacto, 2 indica que impactou pouco, 3 aponta que foi moderado, 4 que impactou muito e 5 que foi um entrave crítico.

Para facilitar a análise, a ordenação dos entraves em termos de impacto sobre as exportações foi baseada na soma dos percentuais de empresas que os classificaram nas opções “impactou muito” e “crítico”. Em seguida, os obstáculos foram divididos em três grupos:

- No primeiro, de alta relevância e composto por 16 entraves, aqueles cujo percentual de empresas que o classificaram como “impactou muito” e “crítico” supera 25%;
- O segundo grupo, de relevância intermediária, inclui 15 entraves, aqueles com percentual de “impactou muito” e “crítico” abaixo de 25% e acima de 18%;
- E o terceiro, de baixa relevância, composto pelos 12 entraves com percentual de “impactou muito” e “crítico” abaixo de 18%.

Fonte: CNI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 25/10/2022