Preço do minério dispara com a guerra na Ucrânia

Preço do minério dispara com a guerra na Ucrânia

As consequências dos conflitos instalados no Leste europeu a partir da invasão russa à Ucrânia continuam impactando a cotação do minério de ferrono mercado internacional. Adicionalmente e também em virtude da guerra, a China – maior consumidor global da commodity – tem aumentado os estoques do insumo siderúrgico nas últimas semanas e estuda adotar medidas de estímulo econômico nos próximos meses. Os impactos nos preços já são contabilizados pelo mercado: valorização de 13,8% e alta de 33% no trimestre. Já no primeiro dia de abril, a tonelada chegou a US$ 150,84.

Especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO afirmam que a tendência, no curto prazo, é de manutenção da alta. E que, de certa maneira, a oscilação tem surpreendido o mercado. Para a líder regional da XP Inc. em Minas Gerais, Jéssica Oliveira, o incremento tem se descolado dos fundamentos, pois os números recentes de produção de aço e importação de minério na China (e no mundo) não são tão positivos.

“Houve queda na produção de aço na China e na maioria dos países, o que refletiu na diminuição das importações de minério. Agora, o que vem impactando é a recuperação econômica destes países e a esperança de que a demanda por minério melhore daqui para frente, inclusive com o encerramento dos lockdowns em algumas cidades como Tangshan, uma das principais produtoras de aço daquele país”, explica.

Segundo a especialista, no curto prazo é difícil prever qual será o comportamento dos preços, principalmente porque, por se tratar de commodity, “há muito overreaction / underreaction”. “Qualquer notícia mais positiva já seria motivo de alta, e o contrário também é verdadeiro. Porém, no longo prazo, a expectativa é de que o preço caia para valores mais saudáveis. Nossa projeção é de uma cotação próxima a US$104 a tonelada no fim do ano”, completa.

O analista de investimentos da Mirae Asset Corretora Pedro Galdi, acredita que o movimento de alta dos preços do insumo siderúrgico deve continuar no curto prazo. Ele também avalia que, quando for encontrada uma solução para a guerra na Ucrânia, os preços das commodities possivelmente sofrerão ajustes para baixo. Mas pondera que visualizar um preço de minério de ferro a US$ 100/tonelada, no pós-guerra, seria aceitável.

“Muito desta alta observada até aqui reflete a crise do Leste europeu, mas temos como fator que minimizou um aumento ainda maior, a China, já que o país continua sendo o principal cliente das mineradoras brasileiras e do mundo. Aquele país passa por um movimento de desaceleração, afetado também por uma nova onda de Covid, que impôs novas restrições. O que podemos esperar é que o governo chinês aplique programas de estímulos para gerar melhora da economia e aumento da demanda”, diz.

Neste sentido, economistas do JPMorgan disseram, em nota, que, para sustentar a economia, Pequim deve lançar medidas políticas, incluindo apoio fiscal para projetos de infraestrutura, por meio de títulos especiais do governo local, e para o setor corporativo, por meio de reduções de impostos e taxas. Também são esperados cortes na taxa básica de juros e no índice de compulsório.

E isso já está movimentando o mercado, comenta o sócio da Belo Investment Research Paulino Oliveira. “O mercado se move na expectativa e responde muito rápido. Os anúncios de intervenções do governo chinês ocorreram na quarta-feira (30) e os efeitos seguiram no decorrer da semana. Temos que acompanhar de perto, pois os próximos passos da China vão continuar impactando na demanda e nos preços no curto prazo. Para um período mais longo, o que vai determinar é a expectativa sobre grandes construções e o déficit habitacional daquele país”, explica.

Por fim, o vice-presidente do Conselho Empresarial de Mineração e Siderurgia da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Rowan Pedro de Araújo, analisa que o aquecimento da economia global e a recuperação das siderurgias e a construção civil da China – principalmente após a liberação de lockdowns em algumas cidades -, pressionam a movimentação da indústria de minério de ferro e siderúrgica. “A tendência é de alta nos preços devido ao aumento do consumo e a nítida recuperação da economia e de setores consumidores do mineral”, conclui. 


Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/04/2022