Níquel atinge maior preço em dez anos, puxado pela onda de carro elétrico

Níquel atinge maior preço em dez anos, puxado pela onda de carro elétrico

O níquel juntou-se à onda de valorização das commodities e alcançou sua maior cotação em dez anos, diante da queda nos estoques e da elevação da produção de veículos elétricos por grandes montadoras.

O metal, usado nas baterias mais potentes de veículos elétricos, chegou a valorizar-se 4% na quarta-feira, para US$ 22.745 por tonelada, maior cotação em dez anos, depois de os estoques em armazéns certificados pela Bolsa de Metais de Londres (LME) terem recuado pelo 51º dia consecutivo. Na China, os estoques de níquel nos armazéns oficiais são de apenas 4.859 toneladas, perto do menor patamar histórico.

“Com a política de resposta da China [de estímulos econômicos] ganhando vapor num momento de estoques seriamente baixos, as condições macro e micro começam a alinhar-se, provocando uma reavaliação dos preços dos metais numa condição de escassez”, disse Nicholas Snowdon, analista do Goldman Sachs.

Jeremy Weir, executivo-chefe da Trafigura, uma das maiores comercializadoras de commodities do mundo, segue a mesma linha. Em discurso no Future Minerals Forum, na Arábia Saudita, ele disse que os estoques em todo o mundo estão em níveis críticos e que os preços começam “a variar para refletir isso”. “Estamos começando a ver os consumidores acordarem e perceberem os problemas que existem”, disse.

O níquel subiu 12% nos últimos 30 dias, em meio ao aumento da demanda por veículos elétricos - de cada quatros carros novos vendidos no Reino Unido em dezembro um era movido a bateria - e a vários anúncios de novos projetos de mineração de níquel.

O aumento do preço do metal chega no momento em que o cobre, metal industrial mais importante do mundo, é negociado acima de US$ 10 mil a tonelada pela primeira vez desde outubro, diante dos sinais de que a China dará mais estímulos à economia.

O petróleo, por sua vez, atingiu a maior cotação em dois meses, de US$ 85 por barril [dia 12], uma vez que as preocupações quanto ao impacto a variante de coronavírus ômicron na demanda continuaram a perder força e os estoques de petróleo nos Estados Unidos caíram para os níveis mais baixos desde outubro de 2018. O índice de commodities da Bloomberg subiu 5% neste ano.

No início desta semana, a BHP, a maior mineradora do mundo, colocou seu peso a favor de um enorme projeto de níquel na Tanzânia, enquanto a montadora Tesla assinou seu primeiro acordo de fornecimento nos EUA, com um contrato para comprar 75 mil toneladas do metal provenientes do depósito Tamarack, em Minnesota.

“A recente pletora de anúncios em torno de projetos de desenvolvimento de níquel é uma prova da confiança nos fundamentos do mercado no futuro, sustentados pelos ‘motores’ gêmeos, das demandas por aço inoxidável por baterias”, disse Colin Hamilton, analista da BMO Capital Markets.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda por níquel precisará crescer 19 vezes até 2040 para que o mundo honre as metas do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

Por outro lado, acredita-se que, nesta década, a maior parte do aumento da oferta virá da Indonésia, onde as empresas chinesas constroem projetos de processamento de níquel e onde o mercado é alimentado essencialmente por eletricidade a carvão.

Em consequência desse cenário, o chefe da Tesla, Elon Musk, tem expressado receios quanto ao fornecimento futuro de níquel e prometido contratos gigantes, por longos períodos, para empresas que consigam minerar o metal de maneira sustentável e preocupada com o ambiente.

Apesar de todo o entusiasmo quanto ao aumento na demanda das montadoras por níquel, cerca de 70% da oferta mundial é usada para produzir aço inoxidável.

Com aumento da demanda por aço inoxidável após a pior fase das paralisações provocadas pela pandemia em 2020, o níquel teve um déficit de oferta de cerca de 180 mil toneladas diante da demanda de 2021 - o equivalente a cerca de 6% do tamanho total do mercado.

Para impedir que os estoques diminuam ainda mais em 2022, Hamilton calcula que a oferta de níquel precisaria aumentar em 200 mil toneladas. Tal elevação não é impossível, segundo ele, mas envolve “muitos fatores dando certo”. A opinião é compartilhada por Snowdon, para quem o aumento da oferta de níquel da Indonésia não será suficiente para evitar o esgotamento dos estoques.

“O ponto de partida do mercado neste ano, [com o lado da oferta] muito mais estreito, somado às fortes tendências dos veículos elétricos à frente, significa que provavelmente isso não é mais suficiente para gerar uma mudança agregada e voltar a um superávit claro [na oferta]”, disse Snowdon. Sua previsão de preços para daqui a 12 meses é de US$ 24 mil por tonelada de níquel - cerca de 6% acima do nível atual das cotações.

Fonte: Financial Times
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/01/2022