Mudança para carro elétrico ameaça 500 mil empregos na Europa, dizem fabricantes

Mudança para carro elétrico ameaça 500 mil empregos na Europa, dizem fabricantes

Os planos da União Europeia (UE) de proibir os veículos movidos a combustão interna até 2035 colocam em risco meio milhão de empregos, segundo afirmam fornecedores europeus de autopeças, no mais recente de uma série de duras advertências sobre os custos da rápida transição para uma tecnologia livre de emissões.

Mais de dois terços dessas 501 mil funções desapareceriam nos cinco anos anteriores a essa data, segundo uma pesquisa feita entre quase 100 companhias da Associação Europeia de Fornecedores Automotivos (Clepa), tornando difícil amenizar os “impactos sociais e econômicos” causados pelo desemprego em massa.

Mas a pesquisa feita pela PwC também constatou que 226 mil novos empregos serão criados na fabricação de peças elétricas, reduzindo o número líquido da perda de empregos para aproximadamente 275 mil nas próximas duas décadas.

Este ano, a Comissão Europeia anunciou sua intenção de eliminar 100% das emissões de CO2 dos novos automóveis até 2035. A política efetivamente proíbe a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis depois dessa data.

Embora a comissão não tenha ordenado que esses veículos sejam substituídos por outros movidos a bateria, montadoras como a Volkswagen (VW), a maior do continente, descartaram outras tecnologias como o hidrogênio.

A Clepa, que representa mais de 3.000 fornecedores automotivos, há muito afirma que o uso de tecnologias provisórias amorteceria o golpe da transição para um transporte mais limpo.

“As necessidades da sociedade são muito mais diversificadas do que uma abordagem única”, disse a secretária-geral da organização, Sigrid de Vries. “O uso de tecnologias híbridas, hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis renováveis possibilitará a inovação na medida em que formos redefinindo a mobilidade nas próximas décadas.”

Transição problemática

Carlos Tavares, presidente executivo da Stellantis, disse, em um seminário da “Reuters” na última quarta-feira (1º) que a velocidade da transição para os carros elétricos está “colocando o setor no limite”, acrescentando que os custos do desenvolvimento de novas tecnologias poderão levar a uma grande perda de empregos.

Seu alerta segue-se a uma afirmação parecida do maior fornecedor de autopeças de capital aberto da Alemanha, a Continental, que alertou que a “harmonia social será ameaçada” se as políticas climáticas não forem acompanhadas de programas para a criação de novas oportunidades de emprego para aqueles que trabalham nas indústrias que dependem dos combustíveis fósseis.

“Podemos transformar, mas não podemos ter nenhuma descontinuidade”, disse Ariane Reinhart, membro do conselho de relações humanas e sustentabilidade da companhia sediada em Hanover.

“Criar as condições necessárias para a proteção climática significa não só acelerar a transformação, mas também evitar o desemprego em grande escala”, acrescentou ela.

No ano passado, um relatório sancionado pelo governo alertou que, aproximadamente, 400 mil empregos poderão ser perdidos na Alemanha por causa da transição para os veículos elétricos. Mas Herbert Diess, presidente executivo da VW, disse que esses cenários apocalípticos “provavelmente estão sendo um pouco exagerados”.

“Muita coisa dos carros continua igual. Eles ainda têm bancos, pintura, carroceria, interiores, rodas, eixos. Para alguns, se você trabalha em sistemas de injeção de combustível ou caixas de câmbio, provavelmente será uma transição maior. Eu diria que para 70% a 80% da indústria de autopeças não haverá transição.”

Fonte: Financial Times
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 07/12/2021