Minérios da Bahia são estratégicos para energias renováveis e veículos elétricos

Minérios da Bahia são estratégicos para energias renováveis e veículos elétricos

O futuro da indústria automobilística, em boa parte do mundo, está na chamada eletromobilidade. Nesse sentido, o setor da mineração, que atua como base de sustentação da sociedade moderna tem muito a contribuir, uma vez que as baterias elétricas dependem de minérios para a sua produção.

Segundo levantamento recente realizado pela consultoria AlixPartners, as vendas de carros elétricos podem chegar a 33% de participação no mercado global até 2028 e 54% até 2035. Para lidar com essa demanda crescente, as montadoras e os fornecedores têm planos para investir US$ 526 bilhões no desenvolvimento de novos veículos e baterias até 2026 - mais que o dobro do valor investido entre 2020 e 2024.

Atualmente, a Atlantic Nickel é a única empresa no Brasil a produzir o níquel sulfetado, que atende à crescente demanda mundial por níquel classe I para produção de baterias dos veículos elétricos. Depois de passar por um processo de refino, o produto está pronto para abastecer o mercado.

Toda a produção do concentrado de níquel da planta de Itagibá, na região sul da Bahia, é exportada para os mercados asiático e europeu, com predominância da China. Os embarques são realizados a partir do Porto de Ilhéus. “A indústria da mineração e? que vai viabilizar que todos nós tenhamos um futuro melhor. Viver em um mundo com menos emissões de gases de efeito estufa, em um mundo onde as coisas são mais eficientes”, destaca o CEO da Appian Capital Brasil, Paulo Castellari.

Descoberta da CBPM

Estudos realizados pela CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) no período entre 1989 e 2000 já estimavam um depósito de níquel na região de Itagibá com recursos da ordem de 40 milhões de toneladas de minério, fator que motivou o interesse da Mirabela e, posteriormente, da Atlantic Nickel, em tornar a Bahia o maior produtor deste mineral no Brasil.

“Há algum tempo, os gestores do setor minerário têm ciência de que o segmento não pode fechar os olhos para questões como o aquecimento global e para a obrigatoriedade de se produzir de forma responsável, no que diz respeito aos recursos naturais e, principalmente, no cuidado com a vida das pessoas. O uso de todo potencial da energia renovável deve fazer parte desse processo, assim como o aproveitamento de resíduos da mineração, que é considerada uma ação estratégica do ponto de vista econômico e sustentável”, defende o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm.

Importância do vanádio

O vanádio, minério do qual a Bahia é a única produtora na América Latina, também é de suma importância para a produção de baterias elétricas. A empresa responsável é a Largo Vanádio de Maracás (LVMSA), que atua no município de Maracás – em áreas igualmente descobertas pela CBPM.

Dois anos depois de ter adquirido a tecnologia para a produção de baterias de vanádio, a Largo anunciou, em janeiro de 2023, a implantação da primeira unidade do produto, na Ilha de Mallorca (Espanha). Como diferencial, além de possibilitar o armazenamento de energia produzida a partir de matrizes renováveis, como eólica e solar, a bateria se destaca também por ser totalmente reciclável.

Outro minério importante para o desenvolvimento do mercado de eletromobilidade é o cobre, que é utilizado em condutores elétricos e tem a Bahia como um dos seus três maiores produtores no Brasil. A substância é produzida pela Ero Brasil (antiga Mineração Caraíba) nas cidades de Jaguarari, Juazeiro e Curaçá, sendo exportada para África do Sul, Canadá, China e Índia.

Da Bahia para o mundo

Em março deste ano, representantes da SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico) estiveram presentes na Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC), evento mais importante de prospecção mineral e de mineração do mundo, realizado em Toronto. Na ocasião, o potencial do setor na Bahia foi apresentado.

“Tenho dito que países desenvolvidos buscam novas matrizes energéticas, diante das mudanças climáticas e da pressão por medidas para conter o colapso ambiental e nós somos uma grande alternativa. É de grande importância apresentar as nossas oportunidades minerais, em particular aquelas descobertas pela CBPM”, destacou o secretário da pasta, Angelo Almeida.

O superintendente de Atração de Investimentos e Fomento ao Desenvolvimento Econômico da SDE, Paulo Guimarães, relatou que a apresentação foi muito bem recebida pelo público presente, que elogiou o trabalho desenvolvido pela CBPM, em particular no cenário da transição energética. “O mundo precisará cada vez mais de minerais estratégicos voltados à produção de baterias para mobilidade e armazenamento de energia das fontes eólica e solar”, declarou.

Energia eólica

Já no campo dos investimentos em energias renováveis, destaque para a Ferbasa, que adquiriu, em 2018, o Complexo Eólico BW Guirapá, situado em Caetité. Com sete parques e capacidade instalada de 170 MW, o empreendimento será capaz de fornecer eletricidade limpa para a companhia a partir de 2036, quando se encerra o atual contrato de fornecimento celebrado com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).


Mineração baiana investiu R$ 3,2 bi, atraiu novas empresas e gerou empregos nos últimos anos

A Bahia tem vivenciado um verdadeiro boom no setor da mineração nos últimos anos. Não à toa, o estado saltou da quinta para a terceira posição em faturamento de produção no País, atrás apenas de Pará e Minas Gerais. Tamanho crescimento contou com R$ 3,2 bilhões de investimento da iniciativa privada, geração de 14 mil empregos diretos e 150 mil indiretos, além da atração de novas empresas.

Mesmo sob os impactos da pandemia e recessão econômica, o setor tem acumulado recordes significativos, chegando a representar, pela primeira vez, 3% do PIB (Produto Interno Bruto) baiano, segundo dados da SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico). Outro fator importante para este cenário foram as licitações de áreas descobertas pela CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) no período.

“Quando nós assumimos, em 2019, a Bahia estava há cinco anos sem realizar licitações de pesquisa mineral e nos últimos quatro anos nós tivemos a oportunidade de fazer 14 licitações”, destaca o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm. Cada licitação apresentada representa mais uma nova mina em potencial, algo que tem o poder de dinamizar a economia de municípios no interior do estado.

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ângelo Almeida, ressalta o grande potencial baiano no setor. “A Bahia é o estado mais bem estudado geologicamente do Brasil, o que lhe confere o status de estar sempre entre os principais alvos de pesquisa do país. Importantes indutoras do crescimento da mineração na Bahia são as descobertas da CBPM, disponibilizadas para Licitação Pública e repasse à iniciativa privada. Foi assim, com as áreas arrendadas para a produção de vanádio, níquel, bentonita, areia de alta pureza, argilas e o ouro de Santaluz”, pontua.

Campeã nacional em pesquisa

Para o presidente do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), Raul Jungmann, os investimentos em pesquisa realizados pelo estado, nos últimos anos, têm sido fundamentais. “A Bahia hoje é a campeã nacional em pesquisa mineral. Estamos falando de um em cada três reais aplicados. Nós precisamos ampliar, reconhecer o papel, a importância da pesquisa mineral e, nesse sentido, quero dar parabéns, particularmente, à CBPM.”

Presente em mais de 200 municípios baianos, o que representa mais de 50% do estado, a mineração da Bahia tem a diversidade como um de seus principais diferenciais. Hoje, a unidade federativa lidera a arrecadação em 19 tipos de minérios e metais preciosos, como quartzo, magnesita e diamante. Além disso, é a única a produzir vanádio (Maracás) e urânio (Caetité).

Novas empresas

Tamanha vocação minerária estimulou o ingresso de 120 empresas do setor em operação na Bahia entre 2018 e 2022, duas das quais por meio de atração direta do Estado, através da CBPM: Equinox Gold (ouro) e BF4 Minerais do Brasil S.A. (sienito). De parte da iniciativa privada, destaque para as chegadas da Tombador Iron (Sento Sé) e da Colomi Iron – ambas dedicadas ao minério de ferro. Foi também durante esse período que a BAMIN realizou o seu primeiro embarque de minério de ferro.

“As cidades onde estão situadas as empresas da mineração são beneficiadas tanto com o dinheiro da CFEM [Compensação Financeira pela Exploração Mineral] que retorna para o município, quanto pelos empregos gerados, que normalmente pagam três vezes a mais do que em outros setores, beneficiando toda a economia da região”, observa o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm.

Como funciona a CFEM

Os maiores beneficiários com a CFEM são os municípios, que recebem 60% dos recursos de compensação financeira. Os estados e os municípios afetados ficam com 15% do montante, cada. Os outros 10% vão para a Agência Nacional de Mineração, IBAMA, Centro de Tecnologia Mineral e Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

A Bahia é o terceiro maior estado em arrecadação de CFEM, com mais de R$ 182 milhões em 2022, ficando atrás, apenas, de Minas Gerais e Pará. “O crescimento da mineração baiana tem sido muito significativo, sobretudo nos últimos dois anos, muito por conta de sua diversidade mineral. “Continuaremos na luta para que os números de títulos publicados e a arrecadação do Estado da Bahia aumentem a cada ano”, projeta a gerente regional da ANM (Agência Nacional da Mineração) no Estado da Bahia, Carla Ferreira.

Para saber o quanto o seu município recebe por conta da CFEM, basta acessar o infográfico interativo disponível no site da CBPM: http://bit.ly/cfembahia

Perspectivas para o futuro

As perspectivas para o futuro da mineração baiana são as melhores possíveis, quando se leva em conta as descobertas recentes da CBPM acerca das áreas potenciais para a ocorrência de depósitos minerais a 100 km de distância de cada lado dos trilhos da FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste).

“Ao longo deste e dos últimos 50 anos, a CBPM esteve à frente de várias descobertas e lutas que ajudaram a mineração da Bahia a alcançar o patamar hoje vivido. Com certeza todo esse trabalho e esforço levará a mineração baiana para uma nova etapa de modernidade e prosperidade”, enfatiza Tramm.

Mineração baiana em números:

R$ 3,2 bilhões de investimento da iniciativa privada*;
Geração de 14 mil empregos diretos e 150 mil indiretos*;
Terceiro maior estado em arrecadação de CFEM em 2022;
Atração de novas empresas;
Líder em 19 tipos de minérios e metais preciosos.


Fonte: Correio 24horas
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 10/04/2023