Minério de ferro deve ficar estável em 2023

Minério de ferro deve ficar estável em 2023

As expectativas para o mercado de minério de ferro são de estabilidade entre agora e o fim do primeiro trimestre de 2023. Não vai terminar o ano tão mal, apesar de o preço de referência da commodity ter batido em US$ 79,90 a tonelada em 1º de novembro, na avaliação do especialista no setor, José Carlos Martins. Atualmente, o executivo é presidente da Cedro Mineração, produtora de ferro de pequeno porte de Minas Gerais.

Para o especialista e executivo, que chefiou a divisão de metais ferrosos da Vale por dez anos, até 2014, o cenário da commodity vai se manter parecido com agora até final do primeiro trimestre.

O preço, prevê, ficará na faixa de US$ 90 a US$ 100 a tonelada, com oscilações pontuais a depender de fatos nos principais mercados consumidores, caso da China. Na sexta-feira (18), o produto, referência nas transações do mercado transoceânico - sinter-feed com 62% de ferro - foi negociado no norte da China a US$ 99,10 (ver infográfico).

“Após o fim de março, eu vejo uma recuperação, mas nada parecido com a corrida ao ouro dos últimos anos”, afirma o executivo. Para ele, não há uma crise tão crítica no mercado de minério de ferro como se preconiza. “Muita gente ainda está com a cabeça no patamar de US$ 160 a tonelada. Isso não tinha como durar para sempre”, comenta.

Segundo Martins, não há excesso de oferta nem retração exagerada de demanda no mundo. A China continua com consumo forte neste semestre. “O que houve foi uma desaceleração de demanda no Ocidente, principalmente na Europa, levando a um desvio de embarques de minério para o mercado chinês, o maior do mundo. Como lá se faz a formação do preço, vimos essas fortes baixas”.

O executivo informa que a previsão é de o consumo global de minério cair em torno de 2% (50 milhões de toneladas) neste ano, para 2,35 bilhões de toneladas, enquanto a produção de aço deve registrar recuo de 2,3%, segundo projeções da World Steel Association, que reúne as companhias siderúrgicas do mundo.

“A queda do preço foi concentrada no segundo semestre”, diz, lembrando que o minério com 62% de ferro fechou o primeiro semestre com média de preço de US$ 141 a tonelada. No fim de junho já estava em US$ 120 a tonelada. “Vimos que o preço começou a ceder desde maio, pois o grande problema foi a queda de demanda nos países do Ocidente, consequência da guerra na Ucrânia e da recessão em alguns países”, observou o executivo.

Martins elenca alguns fatores que se destacaram no mercado este ano, atingindo o preço. Na China, o programa covid zero, que teve, a seu ver, mais influência psicológica do que efetiva na demanda, e a retração do mercado de properties (construções imobiliárias) do país. Esse segmento, que representa 25% da demanda de aço na China, teve um retração de 30%.

Mesmo com isso, afirma que a siderurgia chinesa deve fechar o ano com produção de aço bruto na casa de 1,03 bilhão de toneladas, semelhante à do ano passado. O segundo semestre vem se mostrando forte na produção de aço, com demanda por minério parecida à de 2021.

Um terceiro fator foi a guerra da Ucrânia com recessão econômica e pressão inflacionária na Europa, EUA, Japão e Coreia do Sul, entre outros. Se a guerra da Ucrânia terminar, terá de ser feita uma grande reconstrução do país, com muita obra de infraestrutura, o que demandará aço e minério, afirma. “Olho muito, para 2023, esses três fatores”.

No geral, afirma o especialista, o próximo ano tende a ser parecido com 2022. Com viés de alta. “O governo chinês já começa a flexibilizar a questão da covid e a estimular mais o setor imobiliário”. Diz que o primeiro semestre tende a ser mais fraco e o segundo mais forte, principalmente se a guerra na Ucrânia terminar.

A estimativa de preço médio do minério de ferro para 2023 é de US$ 110 a US$ 115 a tonelada. Em 2022, informa, ainda beneficiado pelo primeiros cinco meses de alta, deverá ficar entre US$ 118 e US$ 120 a tonelada, bem inferior aos US$ 161 por tonelada registrados no ano passado.

“O minério de ferro é um mercado com uma situação de equilíbrio instável”, afirma o executivo. Sofre algumas oscilações, principalmente no período janeiro a abril, devido a muita chuva no Brasil e tufões na região dos portos australianos.

“São oscilações que acabam se ajustando no decorrer do ano, com acertos entre oferta de minério - que está 70% concentrada no Hesmisfério Sul - e o consumo pela siderurgia, cuja produção de aço está 95% situada no Hemisfério Norte”, destaca.

Martins avalia que vai ser o cenário de preços será balanceado em 2023, porém dependente de decisões mais efetivas na China - covid e investimentos no setor imobiliário - e num possível final da guerra na Ucrânia.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 21/11/2022