Minério cai em abril, mas ciclo de alta ainda não acabou

Minério cai em abril, mas ciclo de alta ainda não acabou

Embora abril tenha sido mês de correção, os preços do minério de ferro devem encerrar 2022 em níveis acima dos US$ 80 a US$ 90 por tonelada vistos no mercado à vista antes da pandemia de covid-19. Analistas ouvidos pelo Valor avaliam que a principal matéria-prima do aço não deve cair abaixo da marca de US$ 100 por tonelada neste ano.

A commodity encerrou o mês negociada a US$ 142,35 a tonelada no norte da China, alta de 0,25% sobre a véspera, conforme índice Platts para o minério com teor de 62% de ferro, da S&P Global Commodity Insights. Assim, em abril, a queda acumulada ficou em 10,2%. No ano, o desempenho ainda é positivo, com valorização de 19,6%.

 

Para o analista Rafael Barcellos, do Santander, o ciclo de alta ainda não acabou e é sustentado pela oferta global, que já há algum tempo não cresce. “Por isso os preços têm ficado perto do território de pico”, disse, acrescentando que o minério deve se sustentar acima de US$ 100 por tonelada neste ano. Para 2023, a tese também é positiva.

O banco revisou no início de março a estimativa para o preço médio da commodity neste ano, de US$ 105 por tonelada para US$ 120 a tonelada. Nesse cenário, explica Barcellos, já estão considerados potenciais efeitos da política ambiental mais rigorosa na China sobre a produção doméstica de aço. “Os riscos estão mais associados a uma escalada da covid-19 no país e dados mais fracos de atividade”, ponderou.

No relatório mensal “Iron Ore Dashboard”, de 26 de abril, o Santander aponta ainda que as margens das siderúrgicas chinesas entraram em terreno negativo recentemente, refletindo o enfraquecimento da demanda, também na esteira dos lockdowns, e a maior pressão de custos. Por outro lado, a expectativa é de retomada da demanda entre maio e junho, ao mesmo tempo em que o crescimento da oferta deve ser marginal em 2022, ressaltou Barcellos.

Já o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, avalia que a demanda, mais especificamente a da China, maior importadora de minério no mundo, não tem dado sinais efetivos de fraqueza e também contribui para que os preços se sustentem nos níveis atuais, em torno de US$ 140 por tonelada, ainda considerados elevados.

“Por enquanto, não vimos dados concretos de produção de aço desacelerando na China. Na realidade, os últimos dados da Cisa, de 11 a 20 de abril, são até mais fortes que os de 1º a 10 de abril”, afirmou. Durante teleconferência de resultados, lembrou Sasson, a Vale informou que os altos fornos chineses estão operando a 86% da capacidade, patamar “bastante alto”.

Além disso, segue o analista, o governo chinês demonstra estar elevando a aposta em medidas de estímulo aos setores de infraestrutura e construção civil para entregar o crescimento almejado, de 5,5%, do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. “Isso poderia trazer ainda mais suporte para produção de aço e demanda por minério”, explicou.

Do lado da oferta, a percepção é que deve haver aumento gradual ao longo do ano. A própria Vale, comentou Sasson, indicou estar confortável quanto ao guidance de produção para o ano, de 320 milhões a 335 milhões de toneladas de minério, apesar da queda de 4 milhões vista no primeiro trimestre, na comparação anual.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 02/05/2022