Mineradoras brasileiras devem investir US$ 50 bilhões até 2027 com foco em aço e baterias elétricas

Mineradoras brasileiras devem investir US$ 50 bilhões até 2027 com foco em aço e baterias elétricas

A perspectiva de aumento do consumo de aço e a transição energética, que estimula a demanda por baterias para carros elétricos, impulsionam os planos de negócios de mineradoras no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), as companhias planejam aportes de US$ 50 bilhões (ou quase R$ 250 bilhões) em projetos até 2027. O número significa alta de 23% em relação ao planejamento anterior.

O minério de ferro é o carro-chefe, com 34% dos recursos. Em seguida, minerais como níquel, cobre, lítio, vanádio, entre outros, são destaque por seu uso relacionado a fontes de energia limpa. No primeiro semestre, o faturamento do setor subiu 6% e somou R$ 120 bilhões. Para Julio Nery, diretor de Sustentabilidade do Ibram, há perspectiva de alta nos investimentos:

— Estamos consolidando os planos das empresas para o período de 2024 a 2028 e esperamos avanços em relação ao plano para 2023 a 2027. O minério de ferro vai continuar forte, não vai perder espaço, pois há demanda, sobretudo da China, que, mesmo reduzindo sua taxa de crescimento, ainda avança com força. Vemos projetos para aumento de capacidade de produção.

 

Economia de baixo carbono

Nery destaca os aportes previstos para níquel, de US$ 2,3 bilhões até 2027, com reservas localizadas em Pará, Bahia e Goiás. O titânio deve ter investimentos de US$ 2 bilhões, com reservas no Rio Grande do Sul e na Bahia. Ele menciona outros US$ 400 milhões em minas de vanádio na Bahia e US$ 433 milhões em lítio, em Minas Gerais.

— Há possibilidade de dobrar os investimentos em lítio em Minas Gerais e potencial para desenvolver cobre em Mato Grosso — disse Nery.

Rafael Marchi, sócio-diretor da área de Infraestrutura da A&M (Alvarez & Marsal), cita o investimento crescente de empresas no mercado de lítio, de cobre e ouro. Mas afirma que são necessárias mais iniciativas do governo para ampliar a diversificação de minerais no Brasil:

—Seria interessante promover maior conhecimento do território brasileiro através de pesquisas de minerais para elevar investimentos no setor.

A Vale pretende investir US$ 6 bilhões em 2023, mais que os US$ 5,5 bilhões de 2022. Segundo Eduardo Bartolomeo, CEO da empresa, a mineração é peça-chave para o Brasil liderar a revolução energética e a descarbonização global. Minério de ferro, cobre e níquel estão entre as prioridades:

— Investimos em ampliar a qualidade do minério de ferro, em inovações tecnológicas e em parcerias com clientes. A transição para uma economia de baixo carbono está fortemente ligada à oferta de minerais, com o crescente uso de fontes de energia mais limpas e dos veículos elétricos.

O executivo ressalta ainda a criação da Vale Base Metals, empresa focada em metais de transição energética, que deve acelerar seus investimentos no segmento.

Na Gerdau, diz Gustavo Werneck, CEO da empresa, serão R$ 3,2 bilhões entre 2023 e 2026 aplicados em uma nova plataforma de mineração em Minas Gerais, com a construção de um mineroduto em substituição ao transporte rodoviário. Ele diz que a nova mina vai eliminar a necessidade do uso de barragem, com um método chamado de empilhamento a seco:

— A nova capacidade anual de produção de minério de ferro na mina de Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto, de 5,5 milhões de toneladas, está prevista para entrar em operação no fim de 2025. O projeto vai permitir que a companhia aumente a competitividade e amplie futuramente sua produção de aço em Minas.

Também em Minas, a Cedro Mineração investiu R$ 200 milhões em pesquisa e tecnologia na Mina do Gama, em Minas Gerais, que estava desativada desde o início dos anos 2000. Desde 2018, quando iniciou a gestão, já elevou a produção de 1,3 milhão de tonelada para 3,9 milhões de toneladas. A empresa, que também atua em Nova Lima e Mariana, tem capacidade de produção de 6 milhões de toneladas por ano e quer atingir 20 milhões de toneladas de minério de ferro a partir de 2026.

— Após o licenciamento dessas operações, a produção anual colocaria a Cedro entre as cinco maiores mineradoras do país, sendo a primeira com capital 100% nacional— disse Lucas Kallas, presidente da Cedro.

De níquel a ouro

A Horizonte Minerals, empresa de níquel com ações nas Bolsas de Londres e do Canadá e controlada por La Mancha Investments, Glencore e Orion Resource, desenvolve dois projetos no Pará.

Em um deles, o Projeto Araguaia, a previsão é que a produção inicie no primeiro trimestre de 2024. A outra unidade (Projeto Vermelho) está em fase de estudo de viabilidade, diz Tiago Miranda, diretor financeiro da companhia. Quando os dois estiverem concluídos e entrarem em operação, a previsão é ter mais de 60 mil toneladas de níquel por ano.

A extração de ouro também está em expansão A Kinross, que atua em Minas Gerais, investe US$ 30 milhões para ampliar a produção, diz Rodrigo Gomides, vice-presidente de Operação. Em 2022, foram 577,4 mil onças (17,9 toneladas) de ouro, cerca de 22% da produção nacional:

— A previsão é aumentar a produção em 20 mil onças de ouro por ano. Para alcançar esse resultado, serão instalados novos equipamentos.

Na Mineração Morro do Ipê, controlada pela Mubadala e Trafigura, os investimentos somam R$ 1,270 bilhão entre 2022 e 2024. Cristiano Parreiras, diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da empresa, destaca que para os próximos anos vai desenvolver estudos para estender a vida útil da mina em Serra Azul, em Minas Gerais, por mais 30 anos.

A Anglo American, por sua vez, pretende investir R$ 7 bilhões nos próximos cinco anos no sistema Minas-Rio, de minério de ferro. Já em Goiás, com as operações de níquel, o investimento é da ordem de R$ 2 bilhões.

De janeiro a maio, o setor criou 5 mil vagas. Hoje, emprega 206 mil em postos de trabalho diretos. Segundo o Ibram, indiretamente, são mais de 2 milhões de vagas.

Fonte: O Globo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 29/08/2023