Mercado tenta medir impacto de cota para importação de aço

Mercado tenta medir impacto de cota para importação de aço

As medidas anunciadas ontem pelo governo federal com vistas a conter o avanço das importações de aço, sobretudo da China, podem ter efeitos limitados sobre o mercado brasileiro, a depender do tipo de produto, e para as siderúrgicas instaladas no país.

Ao menos essa foi a percepção inicial de analistas e investidores, que ainda avaliavam a lista de produtos (NCMs) para entender como cada empresa será beneficiada. O tamanho da cota - de até 30% a mais sobre a média de 2020 a 2022 antes da incidência de tarifa de 25% - é um dos pontos de atenção neste momento.

Apesar de o aumento do imposto ter sido o grande pleito do setor há meses, as ações das principais usinas brasileiras encerraram o dia em queda na B3, com destaque para a Usiminas - que inicialmente poderá ser uma das mais beneficiadas. Para o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, as medidas são mais relevantes para aços planos, principalmente bobinas a quente, do que para os longos.

Ao ritmo atual, disse Sasson, é possível que a cota de importação do produto seja alcançada já na metade do ano, “o que significaria que as importações de bobina a quente no segundo semestre passariam a ser taxadas em 25%”. “Isso poderia ajudar os produtores a aumentar preços. Ou no mínimo diminui a pressão para que reduzam preços, em um cenário de demanda meio de lado”, afirmou.

Um dos autores dos pedidos de aumento da alíquota de importação, dos atuais 10,8% a 12,6% para 25%, o Instituto Aço Brasil disse que a adoção de um sistema de cota-tarifa demonstra o olhar atento do governo à indústria siderúrgica brasileira. “É uma decisão histórica e importante, porque sinaliza aos exportadores que o mercado brasileiro não é terra de ninguém, que há um governo que está atento ao que está acontecendo no mercado interno, e com um olho no sentido de proteger sua indústria”, afirmou o presidente-executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes.

“O detalhe da sistemática ainda não é conhecido e há nuances que precisamos entender melhor”, afirmou o executivo. “Mas o governo tem consciência dos prejuízos e agora é uma questão de operacionalizar”, acrescentou.

A Associação Brasileira de Embalagens de Aço (Abeaço), por sua vez, disse que foi acertada a decisão do governo de não elevar as alíquotas de importação de folhas metálicas de aço, usadas em embalagens de alimentos e produtos para a construção civil. Conforme a entidade, a majoração das importações desse tipo de produto teria impactos sobre os preços de alimentos, incluindo itens da cesta básica, como leite em pó.

Depois da confirmação das medidas, as ações ON da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) fecharam o dia com queda de 2,4%, a R$ 14,42. Já os papéis preferenciais da Gerdau caíram 4%, a R$ 18,83, enquanto as ações preferenciais classe A da Usiminas cederam mais de 14%, cotadas a R$ 9,10.

A Usiminas divulgou ontem os resultados do primeiro trimestre e, além de não entregar a redução de custos esperada com o religamento do alto-forno 3 da Usina de Ipatinga (MG), sinalizou que o desempenho do segundo trimestre não será muito diferente. Diante disso, e da expectativa de um primeiro semestre de resultados piores que o esperado, analistas avaliam revisar as projeções para os números anuais da companhia.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/04/2024