Máquinas e equipamentos: inovação para produzir mais

Máquinas e equipamentos: inovação para produzir mais

 

Os fabricantes de máquinas e equipamentos estão atravessando a primeira metade do ano com um cenário de perdas de receita, mas não sinalizam que vão tirar o pé do acelerador quando o assunto é o lançamento de soluções. Para as propriedades em busca de inovação, com aplicações de precisão e automação de plantio e colheita, a lista inclui pulverizadores gigantes, destinados a cobrir extensas áreas de cultivo, como de soja e milho, além de “combos” de tratores e plantadeiras que garantem a distribuição inteligente de sementes em terrenos irregulares.

Do lado das finanças, na comparação anual até o fim de abril, os fornecedores de maquinário acumulam uma queda de 21,2% na receita líquida total em 2024. No primeiro quadrimestre, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o faturamento líquido do setor cravou R$ 74,9 bilhões.

Somente em abril, a diminuição na receita foi de 20,1% sobre o mesmo mês de 2023, com R$ 18,5 bilhões faturados. Parte do derretimento dos números seria resultado da redução das exportações em 2,6% – a previsão anterior era de alta de 0,6% – e de decréscimo de 8,3% nas vendas internas, quando o esperado era um avanço de 5,5%. As inundações no Rio Grande do Sul também pressionam a fatura para baixo: o Estado responde por cerca de 10% das vendas internas do segmento.

Na avaliação de Marina Pereira, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, o mercado de equipamentos tem tudo para dar a volta por cima ainda em 2024. “Quarenta e três por cento das fazendas demonstram interesse de investir em tecnologia para otimizar processos”, diz. “A maior intenção de investimentos está na agricultura, com equipamentos de controle de plantações, pulverizadores e irrigação sustentável.”

 

A análise da executiva é baseada na pesquisa Índice Agrotech GS1 Brasil, finalizada no início do ano. O estudo, obtido com exclusividade pelo Valor, ouviu 449 profissionais da alta gestão de fazendas em todo o país, sobre os equipamentos mais utilizados e as previsões de compras nos próximos meses. “A maior proporção de aportes está concentrada nas operações de grande porte. Mais de 30% delas pretendem aplicar de 3% a 5% do faturamento bruto em novas máquinas e soluções”, afirma Pereira.

São essas cifras que animam o planejamento de Eduardo Kerbauy, vice-presidente da fabricante New Holland Agriculture para a América Latina. “Os dois últimos anos têm sido desafiadores, mas repletos de novas tecnologias para o produtor, independentemente do tamanho da operação”, diz.

Recentemente, a marca, conhecida no Brasil desde os anos 1970 pelas linhas de colheitadeiras, ampliou o portfólio com o pulverizador Guardian SP310F, destinado ao cultivo de soja, milho e algodão. “Com uma barra de pulverização frontal de 36,6 metros ou 40,2 metros, faz com que o produto aplicado atinja imediatamente o alvo”, explica. Munida de um tanque de 4.500 litros em aço inox e um sistema que monitora as aplicações, a máquina promete vida mansa para o operador.

“Ao fim da pulverização, somente com um toque na tela, o Guardian recolhe para o tanque o produto que restou na tubulação, faz o enxágue com água limpa e injeta ar no sistema para deixá-lo livre de resíduos”, detalha Kerbauy, acrescentando que o equipamento foi uma das atrações da Bahia Farm Show, feira de tecnologia agrícola realizada em junho, em Luís Eduardo Magalhães (BA). “Os Estados que mais demandam esse tipo de solução têm terrenos menos acidentados, como Mato Grosso, Bahia e Tocantins.”

Fábio Dotto, diretor de marketing de produtos Valtra e Fendt, marcas que pertencem à gigante americana AGCO, aposta nos novos tratores Valtra da Série Q5, veículos sem troca de marcha, com velocidade de até 40 km/h. Indicados para lavouras de grãos e de cana-de-açúcar e atividades florestais, custam a partir de R$ 1,5 milhão e saem da loja com um pacote de tecnologia embarcada. “Incluem recursos de piloto automático, que otimiza as manobras, sem a ação do condutor”, explica.

Sobre a demanda de encomendas, Dotto diz que a cultura da cana está “bastante aquecida”, com produtores em busca de máquinas. “Além do segmento de grãos, em especial soja e milho, que sempre busca inovação para produzir mais com menos [esforço]”, diz.

Na opinião de Marcelo Traldi, vice-presidente da Fendt e Valtra na América do Sul, a agricultura vem buscando mais precisão nas ferramentas de olho na sustentabilidade das operações. O intuito é aplicar o insumo certo no local certo, reduzir a demanda por mão de obra e ampliar a conectividade das máquinas para uma melhor gestão, analisa. “Todas as inovações de hoje e as que serão incorporadas nos próximos anos seguem o caminho da precisão”, resume.

Na Fendt, um dos destaques é o Combo Suplantar, que reúne a nova série de tratores Fendt 700 Vario e a plantadeira Momentum (de 18 a 24 linhas de plantio). Os equipamentos executam o plantio em zonas planas ou irregulares, com o depósito de sementes sempre na mesma profundidade, garante. “É feito na medida para lavouras de média escala.”

Apesar do movimento de baixa nas vendas indicado pela Abimaq, Traldi diz que a Fendt, marca alemã centenária que chegou ao Brasil apenas em 2019, segue expandindo negócios com a abertura de lojas. “A recente expansão para o Paraguai e a nomeação de concessionários para atender os Estados do Sul do Brasil, onde ainda não estávamos presentes, são importantes para a nossa estratégia”, conta. A fornecedora lançou ainda um programa de pós-vendas com garantia de três anos para algumas linhas de tratores e pulverizadores, fabricados a partir de 2024.

Para Rodrigo Junqueira, gerente-geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson América do Sul, há 30 anos trabalhando no agronegócio, alguns aspectos que influenciam o mercado, como o clima e o preço das commodities, podem não estar favoráveis para o setor de grãos. Mas outros cultivos, como o da cana-de-açúcar, cítricos e café, mostram margens positivas, com atração de investimentos. “Outro segmento que vem crescendo é o de feno e forragem, que atende pecuaristas e criadores de cavalos”, acrescenta.

Um dos carros-chefes da Massey Ferguson neste ano oferece também uma solução combinada, formada pelo trator MF 8S e plantadeira, indicada para produtores de grãos do Sul e Sudeste, e plantações de média dimensão de algodão no Cerrado e no Norte. “O trator vem com uma cabine que isola a vibração do motor, permitindo mais conforto para o operador, enquanto a plantadeira é dobrável, o que facilita o deslocamento entre as lavouras”, detalha.

O conjunto, de acordo com as configurações escolhidas, custa cerca de R$ 3 milhões. “Mas o retorno do investimento é alto”, ressalta Junqueira. “Temos um cliente que reduziu o número de linhas de plantio em 42% com a solução, com um incremento de produtividade na soja de 1,56 saca por hectare.”

O ganho de produtividade, principal motivo que faz um fazendeiro investir em aparatos de maior porte, também é o atrativo da nova colheitadeira de grãos X9, da John Deere. É capaz de colher mais de 100 toneladas por hora, com menos de 1% de perdas e um consumo de combustível 30% menor do que unidades similares, relata Marcelo Lopes, diretor de vendas da John Deere Brasil. “O novo motor permite o trabalho por até 14 horas, sem reabastecimento.”

Lopes, há 35 anos no setor, não abre os números de entrega da colheitadeira lançada em abril, mas afirma que a novidade já pode ser vista nas plantações. “Foram vendidas desde a fase de pré-venda na Agrishow 2024 [feira internacional de tecnologia agrícola em Ribeirão Preto (SP), finalizada no início de maio].”

Segundo o executivo, a indústria de maquinário caminha para uma nova etapa de adoção de tecnologias, que ele chama de “sensoriar e agir”. “O que inclui soluções autônomas, aplicações de precisão e de automação de plantio e colheita”, explica. “E não é somente nas grandes propriedades que vemos demanda por inovação. Quem investe hoje em tecnologia, independentemente do porte da produção, sabe o retorno que terá.”

Em novembro de 2023, a John Deere anunciou a construção do Centro Brasileiro de Desenvolvimento de Tecnologia, em Indaiatuba (SP), com previsão de inauguração no fim de 2024. A ideia é que o complexo, com investimentos de R$ 180 milhões, seja voltado para a agricultura tropical.

O objetivo é promover sinergia entre os times de pesquisa dedicados à concepção de tecnologias para sistemas de produção, como grãos e cana-de-açúcar, diz Lopes. “Serão testadas em território brasileiro, considerando variáveis locais como solo e clima.”

Fonte: Valor
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 30/07/2024