Importação de máquinas desequilibra a balança comercial e gera déficit

Importação de máquinas desequilibra a balança comercial e gera déficit

O arrefecimento da pandemia no Brasil tem gerado um sentimento de confiança para a indústria. Até o final de outubro deste ano, o setor investiu mais de US$17 bilhões em importações de máquinas e componentes para a produção industrial. O índice é o mais elevado desde dezembro de 2019, quando foram gastos US$18,3 bilhões, conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). 

Entretanto, apesar do aporte intenso em importações, o saldo é negativo com o balanço de exportações ainda abaixo do nível de insumos adquiridos de mercados externos. Até outubro, o déficit acumulado em 2021 foi de US$9,9 bilhões. O prejuízo ocorre mesmo com as arrecadações com exportações tendo atingido o maior patamar no Brasil desde o início da pandemia da Covid-19.

Entre os setores que mais importaram máquinas e componentes desde o início do ano está o de bens de capital e consumo. Juntos representam 65,7% do maquinário comprado fora do país. Outros setores de destaque são o de máquinas para logística e construção civil, agricultura e indústria de transformação.

A diretora do departamento de economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, ressalta que os principais parceiros do Brasil para a importação no setor industrial são a China, Estados Unidos e Alemanha. 

Ela destaca que o déficit é histórico, já acompanhado desde 2010. “Sempre em períodos em que a economia brasileira tem possibilidade de expansão, e exige mais investimentos, tende a consumir mais máquinas e é natural que eleve o déficit”, observa. Zanella destaca, ainda, que o cenário não é exclusivo do Brasil. “A Alemanha, por exemplo, é a principal produtora de bens de capital e também importa em grande quantidade”, acrescentou.

O maquinário importado, conforme a Abimaq, é utilizado para incrementar a linha de produção das indústrias no país, para revenda a outros países e no mercado interno. Para reduzir o déficit, sugere Zanella, o Brasil precisaria oferecer condições de desenvolvimento ao setor industrial, permitindo que maquinários e componentes importados sejam produzidos em escala no país. “Dar condições tributárias para o setor industrial se desenvolver e ganhar escala e competitividade com outros mercados”, diz. 

Mestre em economia e professor do Ibmec/MG, Hélio Berni pondera que o déficit é natural após um período de restrições intensas em função da pandemia. Com a retomada das atividades, o docente afirma que as empresas tendem a implementar planos de investimentos que foram paralisados. “A literatura nos mostra que em períodos de recuperação econômica acontece uma deterioração da balança comercial, pois as empresas precisam produzir mais e, assim, vão comprar mais máquinas, insumos, pressionando as importações”, avalia. 

Alta do dólar favorece exportações, mas pesa consumo interno

Vista com bons olhos pelo setor industrial, o dólar comercial, que atualmente está em torno de R$5,50, faz com que os produtos exportados para outros mercados sejam valorizados. Porém, segundo Hélio Berni, há um impacto para o consumidor final nos produtos comercializados no Brasil. “Somos domesticamente afetados, principalmente se olharmos para setores da indústria mais intensivos em tecnologia. Um celular, por exemplo, quando está finalizado para venda tem insumos de diversos países que vão elevar o valor final”. 
O economista prevê que em 2022, com as movimentações em torno das eleições presidenciais no Brasil, as taxas de câmbio devem passar por um cenário de incerteza. “Certamente vamos ter muita oscilação. Particularmente não acredito em um recuo em 2022”, opinou. Em Minas Gerais, o cenário segue a tendência nacional, segundo o consultor de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado (Fiemg), Alexandre Brito. 

Na avaliação dele, a taxa de câmbio é positiva para exportação. No entanto, Brito queixa-se  do chamado “custo Brasil”, de pagamento de impostos e encargos, como empecilho para o amplo desenvolvimento da indústria. “A carga tributária é pesada e isso afeta a competitividade da nossa indústria. É uma questão que deve ser revista para que a indústria possa se modernizar e competir melhor”. Questionado sobre o assunto, o Ministério da Economia não se posicionou. 
Fonte: O Tempo
Seção: Máquinas & Equipamentos 
Publicação: 13/12/2021