Fundo financiado por Bill Gates pretende investir US$ 15 bilhões em tecnologias limpas

Fundo financiado por Bill Gates pretende investir US$ 15 bilhões em tecnologias limpas

Um fundo público-privado apoiado por Bill Gates se prepara para investir em projetos de tecnologia limpa no valor de até US$ 15 bilhões nos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido, com o objetivo de subsidiar sua operação em grande escala e ajudar os países a atingir a neutralidade de carbono.

O Breakthrough Energy Catalyst (BEC), que levantou US$ 1,5 bilhão em capital privado de firmas e entidades filantrópicas, investirá em quatro áreas principais: captura direta de ar, hidrogênio verde, combustível de aviação e tecnologias para armazenar energia.

O diretor-gerente do BEC, Jonah Goldman, disse ao “Financial Times” que o fundo mobilizará até US$ 15 bilhões, dez vezes o capital inicial, valendo-se de estruturas financeiras inovadoras e contratos de parceria.

“Somos o financiamento da fase final e, dessa forma, seremos o capital de maior risco dentro [do fundo]”, diz Goldman. “Estamos tentando demonstrar realmente quais dos caminhos tecnológicos serão os mais eficientes.”

O fundo é parte do grupo Breakthrough Energy, lançado pelo bilionário fundador da Microsoft em 2015. Um dos braços, o Breakthrough Energy Ventures, oferece capital de risco para startups de tecnologias verdes e inclui entre seus investidores outros fundadores destacados de empresas, como Mukesh Ambani, Jeff Bezos, Masayoshi Son e Chris Hohn.

O novo fundo BEC terá três tipos de capital - doações filantrópicas, investimentos levantados em mercados acionários alternativos e contratos de compra antecipada de produção futura - para financiar grandes projetos que, de outra forma, não seriam viáveis.

O foco estará em criar mercados para tecnologias e produtos verdes e em reduzir o custo de produção de materiais como o hidrogênio verde e o aço verde. O projeto atraiu o interesse do grupo siderúrgico ArcelorMittal e da montadora General Motors, que estão entre os primeiras financiadores da área empresarial.

Desde o início da pandemia, vem ocorrendo um grande aumento nos investimentos filantrópicos e privados em tecnologias limpas, segundo o professor Richard Templer, diretor de inovação do Grantham Institute, no Imperial College, em Londres.

“É um capital paciente, é um capital grande”, disse Templer. “No passado, os investidores em capital de risco diziam apenas, ‘este é um projeto [ainda na fase] de engenharia, não é para nós [...]’”. Mas isso está mudando e novos modelos de financiamento estão sendo desenvolvidos, disse Templer.

Um dos objetivos do BEC - que não almeja gerar retornos financeiros normais - é reduzir o “ágio verde” de produtos como o combustível de aviação sustentável. O ágio refere-se ao custo extra de um produto verde em comparação a seu similar não sustentável, como o combustível de aviação normal.

Um exemplo poderia ser financiar uma refinaria para produzir combustível de aviação sustentável, segundo Goldman, cuja tecnologia já está comprovada, mas cujos fundamentos econômicos não sustentam uma produção em grande escala. A American Airlines está entre as empresas que contribuíram para o fundo.

“Existem seis maneiras diferentes de produzir combustível sustentável para aviação, e sabemos que todas funcionam e todas têm desafios diferentes”, disse Goldman.

“Temos que apenas construir algumas delas para ver em quais podemos reduzir o ágio verde, por meio de processos como a engenharia de aprendizagem.”

Vários governos deram apoio ao fundo, incluindo os Estados Unidos, por meio do Departamento de Energia, o Reino Unido e a UE, via uma parceria de US$ 1 bilhão com a Comissão Europeia.

A incomum estrutura do fundo prevê que os projetos do BEC serão parcialmente custeados por meio de contratos de longo prazo para comprar produção futura, assinados com clientes dispostos a pagar por produtos sustentáveis - por exemplo, contratos fornecimento de aço verde ou e combustível de aviação sustentável.

“Esses projetos são projetos enormes, que vão requerer muito capital”, disse Goldman.

“Nós sabemos que é possível fazer isso. Você só precisa ver se é possível fazê-lo em escala e de maneira econômica”, disse Goldman. “Isso é o que todas essas coisas têm em comum. Todas precisam de intervenção para ser capazes de levá-las ao próximo estágio da demonstração comercial e começar de verdade a construir mercados.”

Fonte: Valor
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 11/01/2022