Fim de sobretaxa para tubos de aço terá pouco efeito
Fim de sobretaxa para tubos de aço terá pouco efeito
Mesmo com uma política muito protecionista para sua indústria siderúrgica, em janeiro de 2024, os Estados Unidos revogaram a cobrança de uma sobretaxa de 103,4% sobre a importação de tubos de aço fabricados no Brasil. A notícia foi bem recebida, pois há uma projeção de aumentar em 25% a exportação desse produto, no entanto, os especialistas ouvidos pelo Valor acreditam que o incremento real será pouco relevante para o setor como um todo.
Para se ter uma ideia, no ano de 2023 o Brasil exportou para todo o mundo cerca de US$ 24 milhões em tubos de aço, e desse total, apenas 2% foram destinados aos Estados Unidos, algo em torno de US$ 500 mil, segundo os dados da Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Considerando todas as exportações do setor siderúrgico, o Brasil embarcou US$ 16,7 bilhões de produtos em ferro fundido, ferro ou aço em 2023, sendo 44% somente para mercado americano, valor que corresponde a US$ 7,3 bilhões. O Brasil é atualmente o nono maior produtor de aço bruto do mundo, com 21 usinas espalhadas pelo país.
Ou seja, as exportações globais dos tubos de aço brasileiro representaram 1,4% de todos os embarques do setor siderúrgico brasileiro em 2023, enquanto que a parcela destinada aos EUA representou apenas 0,003% do montante.
A medida antidumping sobre os tubos de aço vigorava desde 1992, no entanto, os EUA não retiraram as sobretaxas sobre os outros produtos do setor, como pelotas de aço e laminados. Mesmo assim o Brasil foi o único país a ter uma medida antidumping do setor revogada pelos EUA. Outros países ainda possuem sanções sobre esses produtos, como Índia, México, Coreia do Sul, Taiwan e Tailândia.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) afirmou ao Valor que a revogação da taxa configura um resultado positivo para a relação entre os dois países, no entanto, as exportações do produto seguem limitadas pelas cotas impostas pelo governo americano, de 2.865 toneladas por ano.
O diretor de relações governamentais da Amcham, Fabrizio Panzini, diz que a retirada da sobretaxa sobre os tubos brasileiros é uma medida importante a se reconhecer, pois uma taxa adicional de mais de 100% é um valor muito relevante e que acabava travando as exportações brasileiras. “No entanto, a exportação de tubos soldados de aço para os Estados Unidos nunca foi muito grande, o maior volume desse produto exportado foi de US$ 15 milhões no ano de 2007, então não dá para esperar que o incremento nas vendas de tubo de aço em 2024 seja muito relevante.”
Panzini ressalta também que a relação entre Brasil e EUA na siderurgia é longa e muito relevante para a indústria de aço brasileira, lembrando que foram os EUA, por meio do Ex-Im Bank, que financiaram a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941. “Além disso, a relação dos dois países nesse setor vem crescendo, em 2019, por exemplo, as vendas do Brasil para lá representavam 34% das exportações do setor, já em 2023 o número foi para 44%, um aumento de quase 10 pontos percentuais”, diz.
Outros analistas também não esperam um grande impacto com a medida anunciada em janeiro. “Não deixa de ser uma conquista do Brasil, mas foi apenas um item específico, não é sobre todo o mercado de aço, fizeram uma concessão sobre um item que não é tão importante assim”, afirma economista Igor Lucena, doutor em relações internacionais e CEO da Amero Consulting.
Segundo Lucena, é provável que as exportações de tubos de aço devam aumentar cerca de 25% em 2024, o que não é suficiente para impactar o mercado brasileiro de aço como um todo.
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/05/2024